Clarice escrita por Hirobelana


Capítulo 16
Capítulo 16




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ENQUANTO ISSO NA CASA DE FERNADA

Fernanda tinha acabado de deixar Clarice perto da entrada da escola, e estava inerte em pensamentos, como tinha conseguido mentir tão descaradamente para Clarice. Como pode não escolher ter coragem e ser sincera com a pessoa na qual ela dizia ser amiga e importante para ela.

Quando menos percebeu já estava em frente a sua casa, entrando dentro dela de forma automática achando estar sozinha como de costume. Mas se assustando ao se deparar com a sua mãe arrumando a casa tão alegremente.

Sua mãe se surpreende com a chegada dela naquele instante

— Filha! Você não deveria estar na escola? – a questiona sorrindo alegremente, segurando o pano que ela estava anteriormente limpando o móvel de estar da sala.

— Ao que parece está sem água na escola, então decidiram que seria melhor cancelar as aulas que teriam hoje – Fernanda inventou rapidamente uma mentira, soando convincente demais para a mãe, que não questionou, apenas acreditou de imediato

— Bom... Então tudo bem – disse sorrindo voltando a limpar - O seu pai me ligou e disse que vai vir para casa almoçar, isso não é ótimo? – ela disse mais para si mesma do que para Fernanda

— É.. acho que sim! – disse olhando para a escada em sua frente pensando se realmente tentaria dormir, ou ficaria ali embaixo esperando o seu pai - Faz muito tempo que eu não o vejo – dizendo baixinho mais para si mesma do que para sua mãe

— Ó, querida! – a mãe largou o pano que estava em suas mãos, se aproximando de Fernanda e abraçando ela em um aconchego que foi muito bem vindo para ela - Eu também sinto saudades do seu pai. Mas o trabalho dele fica muito longe daqui, você entende, certo? – a mãe continuava dizendo abraçando ela.

Fernanda sabia que não era por isso, e também sabia que a sua mãe também sabia da verdade. Mas que nunca iria admitir em voz alta. Apenas balançando sua cabeça em confirmação abraçando sua mãe de volta com mais força. Pensando consigo mesma que nunca poderia julgar ela por isso, pois fazia a mesma coisa, com as inúmeras mentiras que já havia contado, e continuava contando.

— Eu vou te ajudar, mãe! Só vou trocar de roupa e te ajudo – decidindo que iria aproveitar esse momento raro que teria, se apressando em trocar de roupa e descendo rapidamente. Ajudando na arrumação, e também no preparo da comida, junto com a sua mãe. Pensando que iria precisar ir comprar novos pratos e copos, mas observando que já não era necessário, pois sua mãe já havia feito isso, possivelmente assim que descobriu que seu marido iria aparecer naquele dia.

Quando o almoço estava ficando quase pronto o seu pai apareceu em casa. Como se nada daquilo fosse estranho. Como se não tivesse ficado longe mais tempo do que de costume. Como se apenas tivesse vindo dedicar um pouquinho do seu tempo, pelo seu trabalho ser longe. Coisa que não era, e todos ali sabiam da verdade, mas ninguém dizia a verdade em voz alta.

Antes mesmo de arrumar a mesa ele começou a dizer para elas

— Tenho uma surpresa para contar – ele dizia ajudando a pôr os pratos e os copos na mesa onde iriam almoçar.

— Qual? – mãe e filha o questionaram com a mesma pergunta e ao mesmo tempo, parando o que estavam fazendo, que era verificando as panelas, se a comida já estava pronta

— Fui transferido! – disse olhando para elas - Isso quer dizer que as coisas vão voltar a serem como que era antes. – ele dizia sorrindo para elas. Sua mãe sorrindo de felicidade, sem dizer nada, somente indo em direção ao marido e o abraçando fortemente, que a correspondeu prontamente.

Fernanda permanecia em choque com o que tinha acabado de ouvir, pensando o que seria "voltar a ser como era antes". Como era antes? Ela não conseguia se lembrar, ou identificar o que seria isso. Apenas ficando com um semblante de que estava muito confusa.

— O que foi filha, não está feliz? – seu pai a questionou tirando de seu transe de confusão

— Como assim voltar a ser como era antes? – apenas conseguiu formular essa dúvida que pensava mas não conseguia compreender

— Voltar a estar mais tempo com vocês, minha filha. A dormir aqui também – dizia olhando nos olhos dela - Vou voltar a estar mais presente.

E no momento em que dizia ela compreendia agora perfeitamente o que o seu pai estava querendo dizer. Ele não iria mais embora, de alguma forma seria possível que deixou a outra mulher com quem ele estava vivendo?

Ela queria tanto o questionar sobre isso. Sobre tantas coisas.. e sem perceber começou a chorar, tentando secar as lágrimas que escorriam de forma involuntária.

— Minha filha – seu pai se surpreendeu a ver sua filha chorando daquele jeito, e quando ela percebeu, estava sendo abraçada pelo seus pais de forma tão afetuosa e carinhosa, que não lembrava qual foi a última vez que recebeu aquele aconchego vindo por eles. Ainda mais estando juntos.

De certa maneira se sentia emocionalmente feliz, porque por alguma razão, estava sentindo que foi a melhor decisão que tomou em ter acabado qualquer possibilidade de magoar a Clarice contando a verdade, e decidindo ficar com o Guilherme. Se sentindo que estava sendo recompensada pelo universo por ter sido uma boa garota.

Experimentando desde tanto tempo a sensação de estar com sua família, sem pensar quando o seu pai iria embora. Até assistiram filmes juntos durante a tarde. E quando ia escurecendo os seus pais subiram para o quarto, percebendo o quanto se beijavam furtivamente enquanto subiam. Sorria consigo mesma, decidindo que era melhor deixá-los sozinhos porque com certeza não queria ouvir o que iriam fazer no quarto deles.

Saindo de casa somente para dar uma volta pelo quarteirão, talvez tomar um sorvete para depois voltar para casa. Pensando que seria um tempo muito relevante para se estar fora de casa, pois pela primeira vez depois de tanto tempo, queria estar em casa e não fora dela.

O que a fez parar de andar ao se deparar com Guilherme, que estava entrando na casa dele, que fica de frente para a sua casa. Os dois se olhando, de forma silenciosa sem pronunciarem qualquer coisa. Ela pensando que aquele dia foi um grande e intenso dia, pois tinha acontecido tantas coisas.

Decidindo andar em direção a casa de Guilherme, ela tinha prometido que não iria falar mais com ele, se quer ir em sua casa novamente. Mas ao ver ele deu passos automáticos na direção dele. Pensando consigo mesma que ele provavelmente iria virar as costas para ela e entrar dentro de casa, mas não foi o que fez. Ao contrário disso, andou até a calçada da frente da casa dele, sentando e esperando por ela, ainda a olhando.

— Oi – ela disse para ele um pouco insegura do que estava fazendo

— Oi, Fernanda – ele disse olhando para ela - Não te vi na escola hoje – continuou dizendo, agora olhando para o chão

— Eu não estava me sentindo muito bem.. – ela o respondeu, e por uns bons instantes ficaram em silêncio. No fim ele decidiu também se sentar na calçada ao lado dele - Meu pai voltou pra casa hoje – disse olhando em direção a sua casa, como se estivesse o confidenciando um segredo

— Você acha que ele vai ir embora hoje mesmo? – ele a questionou bem baixinho olhando em direção para a casa dela também

— Você não me entendeu.. ele voltou pra casa.. ele voltou – dizia lentamente enfatizando para que ele entendesse também - Ele foi "transferido" – continuou dizendo, mas fazendo um sinal de aspas com as mãos para que ele entendesse o que ela estava dizendo - E as coisas vão voltar a ser como eram antes, palavras dele, não minhas – terminou dizendo olhando para ele

— Nossa! – Guilherme não sabia o que dizer, o que pensar sobre isso

— É como eu me senti quando ouvi ele falando isso – dizia olhando nos olhos dele

— Você acha que ele largou da outra mulher? – Guilherme a olhava questionando bem baixinho para ela

— Eu não sei.. acho que sim? – dizia mais em tom de dúvida do que de esclarecimento - Acho que para ele ter dito sobre "a transferência", quer dizer que sim, certo? – dizia olhando para Guilherme, sem desviar o olhar

— Você está feliz! – foi a única coisa que Guilherme conseguiu dizer para ela

— Eu estou – ela disse sorrindo em resposta, mesmo que aquilo que ele tenha dito não tenha sido uma pergunta - Nunca cogitei a possibilidade que ele pudesse largar dessa mulher, e sim, que ele pediria o divórcio em algum momento.. principalmente depois que ele ficou tanto tempo longe dessa última vez, sem voltar como antes. – continuou dizendo olhando para as suas mãos e voltando a olhar para Guilherme

— Mesmo que a gente tente algo diferente, novo. Fugindo daquilo que sabemos que independente de onde estivermos, aquilo sempre fará parte da nossa vida. Fica difícil se manter longe, ou até mesmo não querer recuperar isso de alguma maneira – ele dizia olhando para Fernanda com tanta convicção, que fez com que ela acreditasse profundamente em suas palavras. O que foi algo que a fez sorrir mais abertamente dessa vez, e Guilherme tocou nos dedos das mãos dela suavemente, quando perceberam estavam olhando um para mão do outro - Quando vejo você sorrindo, sinto algo diferente dentro de mim.. eu gosto de te ver sorrindo – continuou dizendo, dessa vez olhando para ela, os dois se olhavam intensamente - Isso quer dizer que você não vai mais ficar sem falar comigo? – a questionou, o que a fez sorrir mais ainda, olhando para sua mão entrelaçada junta a dele.

— Eu não quero ficar sem falar com você, Guilherme! – disse sorrindo apertando a mão dele, e recebendo um aperto em resposta da mão dele na sua.

— Isso me deixa feliz – disse sorrindo olhando para ela

— Bem.. – ela ia começar a falar sobre o que aconteceu no dia anterior e na discussão que tiveram mais cedo, mas ele a interrompeu

— Fê, eu realmente preciso entrar, porque.. eu tenho algo já marcado para fazer e.. – Guilherme começava a dizer sendo meio vago nas palavras, e Fernanda apenas concordou com a cabeça também lembrando que era apenas um pouco que queria estar fora de casa, e aquele tempo teria sido o suficiente já

— Eu também preciso entrar para a minha casa, eu só ia dar uma volta, mas queria voltar logo – dizia já se levantando junto com Guilherme, se lembrando que queria aproveitar o máximo da atmosfera diferente que irradiava dentro da sua casa

— Fê – Guilherme a chamou por estar olhando na direção da sua casa e não para ele, e quando ela o olhou, ele a beijou de forma que a surpreendeu, os dois se abraçando e se beijando profundamente

— Gui.. – ela disse separando lentamente a boca dela da dele, quando ele mordeu os lábios dela

— Depois nos falamos, Fê.. – ele apenas disse isso para ela, dando um último beijo nela, e ela prontamente o beijando também

— OK.. depois nos falamos! – ela disse quando finalmente pararam de se beijar, e seguindo em direção para casa. Quando já estava na porta e olhou para trás, ele ainda estava ali, os dois se dando um aceno, e ela entrando vez dentro de casa.

Guilherme parado no mesmo lugar ainda olhava Fernanda fechando a porta e pensando consigo mesmo, o que tinha acabado de fazer. Quando o seu celular toca, e era uma ligação de Clarice, respirando lentamente atendeu a ligação e indo em direção para entrar dentro de casa, pois deveria se arrumar logo, para voltar para a casa de Clarice, onde tinha ficado a tarde inteira junto com ela.

 


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