Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 64
Vergonha atrás de vergonha


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo!

Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775280/chapter/64

Luciano só tinha um trabalho: entregar folhetos vestido com a fantasia do Senhor Raposo. Infelizmente, em uma situação de extremo aperto em que chegar ao banheiro a tempo era impossível, teve que usar a moita e, assim que terminou o que precisava fazer, percebeu que não tinha papel higiênico. Sua cueca era o único recurso disponível e teve que sacrificá-la. Isso não seria um problema tão grande se, devido ao calor, ele não estivesse SÓ DE CUECA dentro da fantasia. O problema também não seria tão grande se, assim que tivesse tentado fechar a fantasia de novo, ela não tivesse rasgado bem na parte de trás.

“Como é que eu vou sair por aí com o traseiro de fora?”, pensou o pobre Luciano, ainda escondido ali na moita. Olhou para um lado, olhou para o outro, viu que não tinha ninguém por perto e resolveu correr para a árvores mais próxima vestindo sua fantasia, ficando de costas para a árvore na mesma hora. 

Luciano suspirou e voltou para os seus pensamentos. “Tá, calma”, pensou ele. “Só preciso andar de costas para as coisas e não terei problema nenhum”

Foi o que ele pensou. Era uma saída. Sua fantasia havia rasgado, mas foi só em uma parte. A situação não estava tão ruim isso. Além disso, como poderia ficar pior?

Luciano resolveu correr para a próxima árvore, mas, infelizmente, ele não viu que um dos galhos mais baixos da árvore em que estava havia enganchado em sua roupa de Senhor Raposo. O resultado é que a fantasia rasgou mais ainda. Não poderia ser tão ruim assim, poderia? Bem, o problema é que ele saiu de perto da árvore muito bruscamente e a roupa rasgou feio dessa vez, feio o bastante para todos verem que ele estava...sem nada dentro da fantasia.

—Aaaah! Agora eu tô pelado mesmo! - gritou o pobre Luciano, correndo tampando suas partes até uma outra moita nas proximidades. É, agora ele estava escondido, mas por quanto tempo?

É, Luciano não teria como sair dali tão cedo. Sua roupa foi destruída e agora as pessoas começavam a aparecer cada vez mais. Que situação terrível! Seria bom se ele tivesse trazido seu celular, mas...infelizmente, não foi o caso. Nem avisar seu pai ele poderia. Por um lado isso até seria bom, afinal, seu pai não ficaria muito contente se soubesse o que aconteceu com o Senhor Raposo.

—Bom, pelo menos não pode ficar pior - Luciano balbuciou para si mesmo, mas assim que essas palavras terminaram de sair da boca dele, o rapaz olhou para o lado e deu de cara com Anne e Briana, retornando de suas compras - Ai, caramba. Elas vão passar por aqui.

—Luciano? - perguntou Anne, vendo só a cabeça do garoto atrás do matinho.

—Oi - disse ele.

—O que você tá fazendo aí? - perguntou Briana.

—É uma longa história - disse ele.

—Você não deveria estar panfletando? - perguntou Anne.

—Devia, né? - respondeu o garoto - Por que será que eu não tô lá?

—Fala logo o que aconteceu - ralhou Anne.

—Tá bom, vai...olha, tudo aconteceu quando…

Ao ouvir tudo, Anne apenas arregalou os olhos, enquanto Briana não conseguiu disfarçar uma risadinha.

—Espera...você tá pelado?

—Não olha! - disse Anne, tampando os olhos da sua irmã - Não vou deixar você se traumatizar pelo resto da vida!

—Mas eu nem tô vendo nada - disse Briana.

—E você, Luciano? - falou Anne, furiosa - Não tem vergonha, não? Ficar pelado no meio da cidade? 

—Você fala como se a culpa fosse minha! - reclamou ele.

—Ninguém mandou vir para cá fantasiado só de cueca - disse Anne - Era melhor ter passado calor!

—O que aconteceu, aconteceu - falou Luciano - Vai ficar me enchendo a paciência ou vai me ajudar?

—Mas como podemos te ajudar? - perguntou Briana.

—Só preciso de alguma roupa. Qualquer uma - disse Luciano, quase chorando.

—Nossa, você tá com sorte então, heim? - disse Anne - A gente foi no mercado, mas eu não resisti e dei uma passadinha na loja de roupas e..

—Você tem uma roupa aí? - perguntou Luciano.

—Ter eu tenho, mas…

—Por favor, me empresta - disse ele - Eu prometo que te entrego lavada e passada, mas só me entrega. Pelo amor de tudo que você mais ama.

Anne apenas suspirou. Sim, ela tinha uma roupa disponível, mas não era bem o que Luciano estava pensando.

—Um vestido - disse Luciano, com uma expressão claramente decepcionada, com sua nova vestimenta: um vestido roxo. Simples, básico, mas ainda um vestido feminino. Pelo menos ele foi capaz de sair da moita.

—Você tem que levantar as mãos para o céu e agradecer por poder sair daí com roupa - disse Anne - Mas se quiser, eu levo ele de volta.

—Não! Nem pensar! - disse Luciano - Eu...fico com ele.

—Quero ele lavado e passado como você prometeu, heim?

—Tá - disse Luciano para Anne.

Briana não conseguiu disfarçar uma risadinha.

—Você...tá engraçado - riu ela.

—Até tu, Briana? Vai mesmo ficar zoando com a minha cara?

—Desculpa - disse Briana - Mas é que é bem...diferente, né?

—Boa sorte, Luciano - disse Anne - Afinal, você ainda tem que voltar pra casa, né?

Bem lembrada. Luciano tinha ainda que voltar para sua casa e atravessar a cidade usando um vestido. Não seria bom se alguém o reconhecesse, mas aí ele teve uma ideia. A cabeça do Senhor Raposo ainda estava intacta. Era só ele voltar para casa com ela e ninguém o reconheceria, simples assim. 

Parecia um bom plano. Anne e Briana saíram de cena e Luciano foi correndo para onde tinha abandonado sua fantasia. Ele colocou a cabeça do Senhor Raposo e pronto. Agora era apenas uma pessoa, de vestido, usando a cabeça de um personagem.

Isso até não seria tanto problema, se, ao voltar para casa, não desse de cara justamente com o amigo de seu avô, seu Euclides, aquele que o havia reconhecido antes, ainda dando uma volta na pracinha com sua filha e neta. Parece que eles ainda estavam procurando um lugar para almoçar.

—Lucianinho? - perguntou Euclides.

—Olha, o seu Raposo é dona Raposa! - apontou a netinha.

—N-Não é nada disso que o senhor está pensando, eu…

Seu Euclides apenas pigarreou.

—Acho que...estamos vivendo em tempos bem diferentes hoje, não é? - disse ele - Os jovens mudaram bastante, mas, se você gosta de usar vestidos, ninguém tem nada a ver com isso.

—Não é que eu goste, eu…

—Nós respeitamos as suas escolhas - disse Euclides - Acho que preciso rever seu pai mesmo. Ele deve estar querendo conversar. Mas, vamos deixar isso para outro dia. Vamos.

—Tchau, Dona Raposa! - falou a menininha.

Luciano estava quase chorando de raiva. Ele só queria ir para casa e esquecer tudo isso. Pegou seu rádio, o que sobrou dos panfletos e iniciou seu caminho de volta. Pena que, ao andar meio distraído, Luciano acabou esbarrando em duas senhorinhas também distraídas que acabavam de sair da igreja do centro da cidade, local onde ele estava passando bem naquele momento.

—Valei-me, Nossa Senhora! - disse uma delas - O que é isso?

A outra velhinha também fez o sinal da cruz, abismada.

—E-Espera...não é nada do que a senhora está pensando…

—Onde já se viu? Uma pouca vergonha dessas na frente de um lugar sagrado! É o fim do mundo! O mundo tá acabando! 

—Chama o padre, Ritinha. Não, chama a polícia - disse a outra, enquanto enchia o pobre Luciano de guarda-chuvadas.

“Preciso sair daqui!”, pensava o pobre Luciano que, com muito custo, conseguiu escapar das senhoras e sair correndo em direção à sua casa. Finalmente, ele estava ali, seguro.

—Nem acredito que cheguei - disse ele, tirando sua cabeça de raposa. Nessa hora, seu pai chegou.

—Que porcaria é essa? - falou Abílio, espantado em ver seu filho com um vestido roxo.

—É uma longa história - disse Luciano.

—Quando...você começou a gostar de usar vestidos? - perguntou Abílio, mal ouvindo o que seu filho tinha a dizer.

—Gostar? Nunca! - esbravejou Luciano - Eu vou contar tudo.

E toda a confusão foi contada.

—Menos mal - disse Abílio - Ainda posso ter esperança de que você se case com a Anne.

—O quê?! - falou Luciano, não ouvindo bem a última parte.

—Seja como for...é muita gentileza da Anne ter te dado esse vestido, não acha? Você deveria agradecer. Podia chamar ela para sair, não acha?

—Bom, devo uma para ela, mas...chamar para sair já é demais, né? Vou só lavar e passar esse vestido mesmo.

—Escuta, Luciano - disse Abílio - Sabe...a fantasia do Senhor Raposo era uma herança de família, então...vou ter que descontar o estrago dela do seu pagamento, só para avisar, tá?

Luciano apenas suspirou.

—Que seja…

Foi um dia e tanto, não é, Luciano? Apenas descanse bem. Amanhã será um novo dia com novos desafios. Será que isso serve de consolo?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se tem uma coisa que podemos aprender algo com essa fic é que "alguma coisa pode dar errada" e "sempre dá para piorar". Kkk

No próximo capítulo, começamos um novo arco. Até lá! :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vila Baunilha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.