Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 23
Sem dor, sem ganhos


Notas iniciais do capítulo

Em inglês, o título do capítulo ficaria "No pain, no gain", mas achei melhor colocar em português mesmo. Hauhauha.

Postando hoje para compensar o capítulo curto de domingo. Boa leitura! :)



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Ali, bem no portão da casa de Kelly, Gustavo, o garoto que ganhou o coração dela, estava desmaiado. Enquanto Kelly parecia preocupada, Dr. Renato, o pai da garota, parecia bastante calmo.

—Ele tá bem? - perguntou Anne, a convidada de Kelly naquele dia.

—Claro que não - disse Kelly - Pai, faz alguma coisa.

—Ei, garoto. Pode acordar - disse ele, estapeando a cara de Gustavo sem nenhuma cerimônia. Anne achou o método um pouco irresponsável para um médico, mas acabou funcionando. Não demorou para Gustavo abrir os olhos.

—Oh...Doutor...Doutor Renato! - disse ele - Finalmente, eu cheguei.

Dr. Renato apenas riu da situação.

—Parece que a viagem foi longa, heim? Há quanto tempo você saiu? Uns dois meses?

—Dois meses e três semanas, desde que terminei o ensino médio - corrigiu Gustavo - Quase três meses.

—Puxa, como o tempo passa - disse Dr. Renato rindo.

Anne não estava entendendo nada, mas logo todos estavam na mesa do quintal. Incluindo Edna, a mãe de Kelly, que serviu o lanche da tarde.

—Pode trazer mais um copo de suco para o Gustavo, amor - disse Dr. Renato - Ele parece bem cansado depois da viagem.

Edna apenas voltou para a cozinha suspirando e balançando a cabeça negativamente.

—Afinal, para onde ele foi? - perguntou Anne.

—Bom, é uma longa história - disse Kelly - Primeiro, deixa eu apresentar vocês com mais calma. Gustavo, essa é a minha amiga da escola, Anne. Ela se mudou para a cidade há umas duas semanas.

—Prazer - disse ele - Meu nome é Gustavo, sou...pretendente da Kelly.

—Isso mesmo - disse Dr. Renato - Pretendente. Nada além disso, por enquanto.

—É. Foi por isso que fiquei fora por tanto tempo - disse Gustavo.

—Estou tentando entender - disse Anne.

—Eu já vou explicar - falou Kelly, pegando um dos salgadinhos servidos no lanche - Como eu falei, o Gustavo é um conhecido nosso. Ele é três anos mais velho e terminou a escola ano passado.

—Sim, meu plano era ajudar no sítio do meu pai aqui perto - disse Gustavo - Até eu descobrir que havia algo mais destinado para mim do que trabalhar para sempre com as tarefas do sítio.

—O que era? - perguntou Anne.

—A Kelly - disse Gustavo, olhando admirado para ela - Nunca tinha reparado nela até aquele dia do ano passado em que fui ao posto de saúde e você entrou no consultório com a marmita do seu pai. Foi ali que percebi o quanto você era linda.

—Como esquecer daquele dia? - disse Dr. Renato - Você foi ao posto por estar se queixando de diarreia, não era?

—Pai! - reclamou Kelly - Não envergonha o pobre do Gustavo.

—Sim, eu confesso que estava com o intestino desarranjado naquele dia - reconheceu ele - Mas logo esse problema passou e comecei a me sentir doente de amor.

“Outro dramático...”, pensou Anne.

—Não é doença, não - interrompeu Dr. Renato - Não tem nada disso em manual de medicina nenhum.

—Pai, deixa ele ser romântico - reclamou Kelly.

—Eu estava meio receoso, mas aquela sua amiga Ema me encorajou a seguir em frente - disse Gustavo.

“Tinha que ser”, pensou Anne.

—Eu lembro - disse Kelly - A gente marcou um encontro na lanchonete do pai do Luciano e ele me pediu em namoro lá.

—O primeiro encontro de vocês foi lá? - perguntou Anne.

—É - disse Kelly - A comida era ruim, mas foi divertido.

—Gaguejei muito - disse Gustavo - Mas consegui pedi-la em namoro.

—E o que você disse? - perguntou Anne.

—Falei que ele deveria pedir permissão para o meu pai antes - explicou Kelly.

—Sério? - estranhou Anne.

—É claro - disse Dr. Renato - Não deixaria minha única filhinha com qualquer um.

“A Ema tinha razão quando disse que esse lugar é bem mais conservador com essas coisas”, pensou Anne.

—E foi o que eu fiz. Marquei um jantar e vim pedir a mão da Kelly em namoro - disse Gustavo.

—E o que o senhor respondeu? - perguntou Anne.

—Ora, o que eu poderia dizer - falou ele - Neguei na hora.

—Infelizmente - comentou Kelly.

—Mas, calma, não me coloca como o vilão da história, não - disse o pai de Kelly - Apenas disse que não daria minha filhinha para namorar qualquer um. Ele precisava mostrar o valor dele.

—Como assim? - perguntou Anne.

—Eu disse que era um grande admirador de pássaros raros e falei que o respeitaria se ele conseguisse encontrar uma pena de codorna rosa selvagem - disse Dr. Renato, mostrando uma foto no celular dele.

—Nunca ouvi falar desse pássaro - disse Anne.

Certamente você também não, afinal, é um pássaro que só existe no universo dessa história...

—Por isso é raro - disse Dr. Renato - Mas havia boatos de que alguns deles aparecem nessa região.

—E foi o que eu fiz - disse Gustavo - Prometi ao Dr. Renato que iria encontrar uma pena desse pássaro. Treinei por meses, fiz um curso de sobrevivência por vídeos do YouTube, peguei minha mochila e saí em viagem para procurar a pena do passarinho.

—Então você estava esse tempo todo viajando por aí só para conseguir encontrar essa pena? - perguntou Anne admirada.

—Exatamente - disse ele - Acampei em lugar inóspitos. Passei calor e fome. Tive que caçar e pescar para comer. Tive que enfrentar onças e cobras. Mas, depois de tudo isso, finalmente consegui a tal pena!

—Conseguiu mesmo? - disse Dr. Renato admirado.

—Sim! - exclamou Gustavo, com uma expressão de vitória, tirando a pluma de sua mochila - É a pena de uma codorna rosa selvagem.

De fato, era uma pena cor-de-rosa.

—Deixa eu ver - disse Renato, pegando a pena e a examinando.

—E então? É linda, não é? - perguntou Gustavo, animado.

—Infelizmente…

—O quê? O que tem de errado?

—A pena de uma codorna rosa selvagem tem um formato diferente dessa - disse o médico, mostrando outra foto em seu celular - O que você achou foi a pena de uma galinha anã rosa. É muito parecida com uma codorna rosa selvagem e também é rara, mas não é uma codorna rosa selvagem.

“De novo, nunca ouvi falar de uma criatura dessas”, pensou Anne.

Gustavo ficou desolado e quase desmaiou de novo.

—N-Não pode ser - Gustavo estava com as mãos trêmulas enquanto dizia isso - Eu memorizei tão bem a foto. Como pode?

—Bem, são espécies parecidas, né? - disse Dr. Renato - Mas, relaxa. Você sempre pode tentar de novo.

As memórias de acampamento na mata, mosquitos, solidão noturna, luta contra onças e cobras, voltaram à mente de Gustavo na mesma hora. Porém, a visão de Kelly ali, olhando para ele com pena, o fizeram recuperar suas forças.

—O senhor vai ver! - disse ele - Vou treinar mais e conseguir essa pena. Vou provar que mereço o coração da sua filha, Dr. Renato. Aliás, vou fazer melhor que isso: vou trazer uma codorna rosa selvagem de verdade para o senhor.

—Você é mesmo um jovem esforçado - disse Renato - Se conseguir uma, certamente vai ganhar o meu respeito.

E assim Gustavo se despediu, pronto para reiniciar seu treinamento e investir em outra caçada para encontrar um pássaro raro.

—Precisa mesmo de tudo isso para namorar a Kelly? - perguntou Anne para Dr. Renato, depois que Gustavo saiu.

—Na verdade, era só uma brincadeira - disse ele - Mas ele estava tão empenhado que não tive coragem de impedir. Não se preocupe. Um rapaz forte desses certamente vai continuar se esforçando não importa o que aconteça.

“Mas isso não é maldade?”, pensou Anne.

Kelly meio que adivinhou o que Anne estava pensando.

—Parece louco, né? - disse Kelly - Mas o Gustavo realmente quer mostrar ser forte. É isso que admiro tanto nele. Quando o meu pai permitir, é certeza que vou namorar e casar com ele.

“Quando penso que já me acostumei com tudo que vi nessa cidade…”, pensou Anne. 

Mas ainda tem muito mais coisas para ela ver...


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Notas finais do capítulo

Gustavo é um exemplo de perseverança, não é? Bem, pelo menos temos Kelly e Gustavo como um casal oficial na história. Hauhauha.

Mas não se assustem. Se você ler outras fics minhas vai ver que sou sádico com muitos personagens (geralmente maltrato os que gosto mais)

Obrigado por ler e acompanhar. Até mais! :)



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