Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 176
O sofrimento de Luís




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775280/chapter/176

Aquela manhã foi uma manhã diferente para Luís. O garoto estava realmente arrasado e furioso. Seus passos na direção da escola nunca foram tão pesados.

—E aí, Luís? Beleza? - cumprimentou Carioca, em um raro momento no qual chegava cedo ao colégio.

—Não! - falou ele, sem nem mesmo olhar na cara do colega. Luís apenas continuou seguindo em frente com uma expressão de poucos para nenhum amigo.

—Que mau humor - falou Carioca consigo mesmo - Será que o preço da carne aumentou de novo?

O motivo do mau humor de Luís tinha mais a ver com o coração do que com a barriga. Ao desativar Anne 2.0, a robô que Luís construiu baseada em Anne para treinar sua comunicação com ela, o garoto cientista descobriu que quando ela escapou acabou se encontrando com Luciano e teve uma conversa bastante reveladora com ele. Naquele momento, tudo que Luís queria era encontrar com Luciano para tirar satisfações.

—Ah, aí está você! - disse Luís, ao ver Luciano tomando água do bebedouro.

—Ah, e aí, Luís? Tranquilo? - Luciano cumprimentou amigavelmente.

—É com você mesmo que eu queria falar. Em particular. Agora - disse Luís, com uma cara nada amigável.

—Eita, parece sério - exclamou Luciano, começando a ficar preocupado.

Os dois foram para um canto mais afastado do pátio e Luciano finalmente perguntou.

—O que aconteceu? O que você quer falar comigo? - perguntou ele.

—Por que você não me diz? - perguntou Luís - Por que você não me diz o que aconteceu, Luciano? E eu achando que você era meu amigo!

—Não estou entendendo. Dá para explicar?

—Você e a Anne - disse Luís - Aquilo que aconteceu entre você e ela. É disso que eu estou falando!

Luciano não conseguiu esconder o corar do seu rosto.

—N-Não sei de nada - gaguejou Luciano.

—Não se faça de desentendido! Eu ouvi tudo da Anne 2.0! - exclamou Luís - Ou melhor, quando olhei os arquivos dela.

—Como é que é?

Luís contou tudo sobre a robô e Luciano não tinha mais para onde correr. O cientista já sabia de tudo.

—Peraí, então era uma robô? Ah, por isso ela estava agindo de um jeito tão estranho… - foi tudo que Luciano disse (o fato de estar falando com um robô muito semelhante a um humano fica totalmente em segundo plano, mas se você chegou até esse capítulo também já devia ter se acostumado com isso).

—E então? O que você tem para me dizer? Beijo, Luciano! Você beijou a minha Anne! Meu amigo, meu próprio amigo!

—Epa, calma aí. Ela nunca foi sua para começo de conversa - disse Luciano.

—Isso é só uma questão de tempo.

—E depois, bem, tem coisas que a gente não escolhe…

—Como pode ser tão cara de pau? - reclamou Luís - Você, justo você, que vivia insinuando que não gostava dela. No fim, foi justo você que beijou a Anne! Você é um traidor!

Luís tentou socar Luciano, mas ele era tão lento e baixinho que Luciano conseguiu segurá-lo facilmente com a mão na cabeça dele.

—Quer se acalmar? - disse ele - É verdade que eu nunca fui com a cara da Anne, mas as coisas mudam.

—Mudam como? - falou Luís, ainda tentando socar, mas só conseguia dar socos e socos no ar - Você sabia o tempo todo que eu gostava dela e ainda assim…

No fim, Luís só desistiu e começou a chorar.

—Ei, cara, não precisa chorar - disse Luciano - A Anne também nunca disse que gostava de você desse jeito. No fundo, você sabe, não sabe?

—Cala a boca! - Luís só pegou sua mochila e caiu fora.

—Luís! Luís! - chamou Luciano, inutilmente - Mas que droga!

Luís continuou correndo pelo pátio até esbarrar em Márcia. Claro que a garota bronqueou na hora.

—Ei, tá cego, Luís? - reclamou ela.

Luís ainda estava com os olhos cheios de lágrimas.

—Não me enche! - disse ele.

—Ei, volta aqui - falou Márcia, puxando Luís pela camisa.

—Quero ficar sozinho! Quer me deixar em paz? - reclamou ele.

—O que aconteceu? Você tá chorando? - falou ela.

—Sim, tô. Sei que homem não chora, mas não tô nem aí! - rebateu ele.

Márcia apenas suspirou e falou com ternura.

—Vai. Conta logo o que aconteceu - disse ela - Se você não me contar, não vou conseguir te ajudar.

—Por que não pergunta para o Luciano? Ele é o culpado de tudo! - ralhou Luís.

—O Luciano?

—Foi ele que beijou a Anne. Aquele traíra! - resmungou Luís, ainda irritado.

—Que história é essa? - perguntou Márcia, com uma expressão mais séria. Como tinha um pessoal olhando, Márcia praticamente levantou Luís com a mão e foi para um canto mais isolado do pátio. Lá, apesar do estado de nervos que ainda se encontrava, Luís contou tudo. Márcia ficou chocada, mas nem tanto.

—É, eu já imaginava - falou ela.

—Isso é tudo que você tem a dizer? - disse Luís.

—Odeio admitir, mas...Luciano e Anne, no fundo, sempre se gostaram - disse Márcia - Ainda assim, eu achava que conseguiria mudar isso.

—Droga. Eu não vou admitir isso! Não vou! Deve ter um jeito de fazer ela desistir dele! Já sei! Vou fazer outra pílula do amor, mas dessa vez vai funcionar!


—Luís… - balbuciou Márcia.

—Melhor que isso! Vou criar um fortificante instantâneo. Se eu tiver músculos além de cérebro, ela com certeza vai gostar mais de mim do que do Luciano e…

Márcia finalmente deu um tapa na cara de Luís. O garoto ficou perplexo.

—Márcia? O que você…

—Luís. Aceita a realidade - disse ela, já começando a chorar como ele - A Anne não gosta de você do mesmo jeito que você gosta dela. Ela não é a pessoa certa para você. A sua paixão por ela é admirável. Todo o seu esforço e as suas invenções para ela te notar são incríveis, mas...não adianta. Amor não é uma coisa que você consegue com ciência ou tecnologia. Não importa o que você invente, não importa o que você crie, se ela não tiver sentimentos sinceros por você, nada vai adiantar!

—O que eu faço, então?! - exclamou Luís - Ela foi a menina que eu mais amei na vida!

Pelo visto, a fixação de Luís era simplesmente o jeito dele expressar o que sentia. Era um jeito bem errado, mas era o jeito dele. Márcia, empática como sempre, entendia isso.

—Chora.

—O quê? - estranhou Luís.

—Só chora - repetiu ela - Em certos momentos da vida, o que você precisa fazer é sentar e chorar mesmo. Chora, põe para fora, porque era isso que você está sentindo. Depois de chorar tudo que você tiver para chorar, só levanta e segue em frente.

—Sou macho demais pra chorar! - ralhou Luís.

—Luís, você já tá chorando e não tem mais ninguém aqui - falou Márcia.

—Droga! - Luís só encostou no ombro de Márcia e continuou a chorar. A garota tentava se manter forte, mas também estava abalada com a notícia. Ainda assim, ela precisava ouvir da boca do próprio Luciano. Era o que ela pretendia fazer ainda naquele dia.

Depois de algum tempo, Luís se recompõe e decide enfrentar a situação.

—Tá bom. Chega de chorar - falou ele - Pelo jeito, não vou conseguir nada com a Anne mesmo.

—Lembra do que eu falei - disse Márcia - Segue em frente.

Nisso, o sinal tocou. Os dois foram para a sala e Luís acabou se encontrando com Anne, na entrada.

—Ah, bom dia - falou ele, secamente.

Anne já estava em guarda para dar uma bordoada em Luís caso ele a abraçasse do nada, mas o garoto apenas a cumprimentou normalmente. Claro que ela estranhou.

—Ué? O que aconteceu com ele? Está passando mal? - indagou Anne.

Enquanto isso, Luciano também entrava na sala. Ele pretendia falar com Anne sobre o que Luís descobriu, mas Márcia foi mais rápida. Ela colocou a mão no ombro de Luciano e disse.

—Na hora do intervalo, a gente precisa conversar - disse ela.

“Alguma coisa me diz que essa conversa não vai ser das melhores”, pensou Luciano.

É, finalmente está na hora dessa turma colocar os sentimentos em pratos limpos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vila Baunilha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.