Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 175
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—Não tenho nada para falar com você! - reclamou Anne 2.0, a robô que Luís fez baseada em Anne, para Luciano, alguém que ela, acidentalmente, esbarrou no meio do caminho - Além disso, estou atrasada. Tenho que trabalhar.

—Ora, essa… - retrucou Luciano, não tendo a menor ideia de que estava falando com uma andróide - Você não mudou nada mesmo.

—Por que eu deveria ter mudado? - rebateu a robô.

—Ora, você sabe muito bem - falou Luciano - Depois de tudo que aconteceu.

—Do que você tá falando? - disse Anne 2.0, simulando a personalidade de Anne que Luís programou nela com as informações que ele tinha (e isso significava que Anne 2.0 não tinha qualquer memória do que rolou entre Anne e Luciano nos momentos em que eles estavam a sós).

—Vai mesmo se fazer de desentendida? - disse Luciano, já ficando nervoso - Só estamos nós dois aqui. Você sabe muito bem.

—Não, não sei - disse a andróide - E já perdi tempo demais com você. Preciso ir.

—Deixa de ser mentirosa! Claro que você sabe! Sabe muito bem do nosso beijo!

—Beijo? - repetiu Anne 2.0, após varrer sua memória procurando algo nesse sentido - Não me lembro de nada disso. Acho que o mentiroso aqui é você.

—Quer mesmo esquecer de tudo? Duvido. Você mesma disse que nunca esqueceu! - falou Luciano, já se sentindo mal com aquilo e quase chorando.

—Eu realmente não tenho a menor ideia do que você tá falando - insistiu a robô. Luciano a segurou pela mão.

—Então você quer mesmo deixar isso pra lá? - falou ele.

—Me solta - reclamou a robô.

—Se você quiser, tudo bem. Mas isso tá muito estranho, depois de tudo que você falou comigo durante a corrida - disse Luciano - Você falou com todas as letras que nunca esqueceu do nosso primeiro beijo e até nos beijamos de novo naquele dia. Já decidiu então que não quer nada mesmo comigo?

—Eu nunca quis nada com você! - Anne 2.0 pegou Luciano com um braço só e o jogou para longe - Agora me dá licença. Como eu falei, já estou atrasada!

Luciano foi parar na árvore mais próxima que, por sinal, era uma mangueira. Várias mangas caíram na cabeça dele.

—Que esquisito. Ela ficou mais forte - reclamou ele, depois da última manga ter caído - Quando ela teve tempo de treinar?

Anne 2.0 se dirigiu ao restaurante e, ao cruzar a porta, foi logo recebida por Carla.

—Anne? - disse ela - O que você tá fazendo aqui? Achei que tinha ido até à cozinha pegar mais arroz.

—Mas eu acabei de chegar - falou a robô.

—Como? - estranhou Carla - Acabei de ver você entrando na cozinha. E onde está seu avental e a sua touca? Isso é alguma brincadeira? Anne, se for…

—Eu juro que não sei de nada - disse Anne 2.0 - Acabei de chegar.

Nisso, a Anne verdadeira entrou no hall do restaurante trazendo a porção de arroz para colocar no self-service e quase a deixou cair ao olhar para sua réplica ali.

—Misericórdia! O que é isso?! - Anne arregalou os olhos.

—Eu é que pergunto! - falou Anne 2.0 - Que tipo de impostora é você?

—Duas Annes? - falou Carla - Isso só pode ser brincadeira!

—Como pode? Eu tinha uma irmã gêmea e ninguém me falou nada? - perguntou Anne para sua mãe.

—Nem ferrando! - disse Carla - Só tive uma Anne. Eu lembro muito bem. Foi uma só! Só não sei como explicar isso!

Uma coisa não podemos negar. O trabalho de Luís é extremamente realista. Ninguém conseguia distinguir entre a Anne robô e a Anne original. Especialmente Gustavo que, distraído com os pedidos, confundiu a robô com a Anne de verdade.

—Anne, pode ver se tem quiabo e...ei, qual de vocês é a Anne? Você tinha uma irmã gêmea e não falou?

—Não! - as duas falam juntas.

—O que está acontecendo aqui? Quero uma explicação agora! - disse Carla.

—Só consigo pensar em uma pessoa responsável por isso - falou Anne, pegando seu celular e ligando para Luís na mesma hora. O garoto ainda estava procurando pela andróide, mas uma ligação de Anne era mais importante do que qualquer outra coisa.

—Alô? Anne? Você ligando pra mim? Que honra e…

—Vem aqui para o restaurante AGORA! - falou ela, desligando o celular na mesma hora. Por sorte, Luís estava perto e não demorou muito para chegar ali. Infelizmente, Anne não estava com uma cara muito boa.

—Ah, acho que...vocês já se conheceram, né? - disse Luís.

—Luís! - disse a Anne original - O que diabos você fez agora?

—Calma, Anne. Eu posso explicar - disse ele - Fiz uma robô baseada na sua aparência e personalidade para treinar minha comunicação com você.

—Uma robô baseada em mim? - disse a garota, assustada - Isso é demais até pra você. Bizarrice tem limite. Você fez tudo baseado em mim?

—Implantei memórias do que sei sobre você e do seu comportamento comigo - disse Luís - Fiz tudo com a melhor das intenções!

—Ei, eu não sou um robô - falou a Anne robô - Ela é que é a impostora!

—Cala a boca, aberração! - gritou a Anne humana.

—Ai, e agora? Qual é qual? - disse Luís, coçando a cabeça.

—Não sei o que você fez, garoto - disse Carla - Mas eu não vou sustentar mais uma filha marmanjona dessas. Vai ter que levar uma delas.

—Preciso chegar mais perto - disse Luís - Mais perto…

As Annes ficaram paradas. Luís se aproximou, se aproximou e finalmente tirou sua conclusão.

—Já sei quem é a verdadeira - disse ele - É você.

Luís abraçou a Anne de verdade.

—Seu calor humano é inconfundível. De longe não conseguia perceber, mas, de perto, só pode ser você - disse Luís, terminando suas palavras com um belo tapa na boca que o jogou para longe. A melhor parte é que os fregueses do restaurante não estavam dando a mínima para a confusão. Não era mais fácil apenas olhar para a nuca de cada uma e ver qual tinha um botão?

—Tenho um jeito melhor de provar - disse a Anne de verdade - Se eu entendi bem, você tem as memórias do que contei para o Luís ou do que ele acha que sabe sobre mim. Então me responde: o que aconteceu no meu aniversário de nove anos?

—Ora, essa...essa é fácil...aconteceu...aconteceu... - a Anne 2.0 travou.

—Não sabe, não é? - disse Anne - Mãe, isso prova tudo.

—Sem dúvida - falou Carla - Ei, garoto!


—Eu… - Luís se levantou fraco e se dirigiu até ela.

—Essa aqui é a sua. Pode levar - falou Carla.

—Como a senhora foi convencida tão fácil? - perguntou Gustavo.

—Porque a Anne nunca esqueceria aquele dia - disse Carla, sorrindo para a filha - Naquele dia, tínhamos combinado de passar o dia fora em um parque para comemorar, mas a Anne acabou ficando muito doente e não podia sair da cama. Passei o dia todo cuidando dela, mas foi o dia que mais ficamos juntas. Ela sempre me diz que foi o melhor aniversário que teve.

Anne e Carla se abraçaram, em um momento raramente fofo entre essas duas. Enquanto isso, a robô...

—Eu não sou uma robô! - falou Anne 2.0 para Luís - Eu sou uma humana e…

Mas Luís desligou a robô apertando o botão na nuca.

—Era ela mesmo - disse ele - Era só apertar o botão na nuca para desativá-la e…

Anne deu outro soco que jogou Luís para longe.

—Se era tão fácil, por que não fez isso desde o começo?! - retrucou Anne.

—No nervosismo, acabei esquecendo - falou Luís - Ai, estou começando a acostumar com isso…

Como alguém disse por aí, se for para apanhar que seja de mulher bonita.

De qualquer maneira, Luís levou a robô para casa e decidiu desativá-la de vez. Antes disso, ele fez questão de colher os dados da robô do período em que ela esteve fora. As memórias da robô estava em arquivos de vídeo e áudio que ele jogou no computador e viu o que tinha de útil ali.

—Tá, ela saiu do laboratório e depois falou com o Luciano, hmm…

E nessa conversa com o Luciano, finalmente o segredo foi revelado.

—Eles O QUÊ?! - Luís quase cuspiu o café que estava tomando no monitor. Sim, Luís. Anne e Luciano se beijaram. E agora? O que você vai fazer?

 


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