McKinnon escrita por Maju


Capítulo 1
O pesadelo favorito de Sirius Black




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773319/chapter/1

Marlene McKinnon.

A primeira vez que ouvira aquele nome Sirius Black estava sentado à mesa de sua recém Casa, a sensação de alívio ainda percorria seu corpo pela escolha do Chapéu Seletor, havia sido Grifinória e não Sonserina.

Talvez não estivesse tão fadado ao destino do sobrenome que carregava.

Quando o nome foi chamado, a menina saiu da multidão de alunos novos que esperavam ansiosos por sua seleção, tinha passos firmes e olhos azuis que pareciam desafiar todos os alunos que a assistiam, Sirius sabia que ela estava mostrando confiança, mas um segundo antes do chapéu ser colocado em sua cabeça, viu-a engolir em seco.

E o nome Grifinória foi gritado pelo Chapéu.

A mesa novamente explodiu em palmas e gritos, James cutucou Sirius no ombro para falar alguma coisa sobre a comida, ele desviou os olhos da garota que agora vinha para juntar-se aos grifinórios, com um sorriso grande e bochechas coradas.

Mas, naquela idade, as únicas coisas que realmente importavam para um garoto eram seus novos amigos: um menino de cabelos despenteados por quem ele poderia seguir por toda sua vida, um com uma misteriosa cicatriz no rosto e sorriso tímido que o faria alguém muito melhor do que um dia pôde pensar ser, e um outro, franzino e com nariz de rato a quem Sirius não poderia negar ter-lhe tirado gargalhadas.

E Sirius a esqueceu tão rápido quanto a conhecera.

 

Entre os corredores cheios de alunos e no Salão Comunal sentadas nas poltronas com livros no colo, ela estava sempre ao lado de uma garota ruiva, a qual tinha chamado a atenção de James Potter assim que colocou os olhos nela.

Lily e Marlene. Marlene e Lily.

Com os poucos onze anos e um mundo totalmente desconhecido para Lílian Evans, Marlene McKinnon tomou para si a responsabilidade de contar e mostrar tudo o que sabia sobre o mundo bruxo. Ela apontava para todos os lados explicando esbaforidamente e acrescentando comentários que sempre faziam surgiu um sorriso nos lábios da outra.

Eram acompanhadas por outros, por Mary McDonnald e Dorcas Meadowes e às vezes por um garoto de nariz comprido da Sonserina. Tempos depois, ele seria um dos garotos a enfrentar a fúria de McKinnon.  

Sempre juntas, uma dupla improvável, mas decididamente grandiosa.

Enquanto a menina ruiva e com sardas na ponta do nariz era doce e discreta como uma brisa de outono, a de cabelos que formavam um emaranhado de cachos e ondas em suas costas era o início de uma tempestade de verão, intensa e imprevisível. Uma sempre fazia as pessoas verem o que havia de melhor nelas próprias, a outra fazia os outros verem coisas que não queriam, mas precisavam. Um gostava de seguir regras, a outra estava sempre tentando nadar contra a correnteza.

Completavam-se de sua maneira e formavam uma dupla que chamava a atenção nos corredores cheios de alunos e dos professores a procura de destaques.

Lily era nascida trouxa, Marlene, uma mestiça de uma família de gerações de sangues puros.

Ao final, ambas pagariam por isso.

 

Marlene McKinnon aceitava desafios tão facilmente quanto um bêbado aceitaria uma garrafa de firewiskey e foi isso que a fez inscrever-se no Clube de Duelos, quando um garoto mais velho lhe disse que ela era muito menininha para aquele tipo de coisa, e estava feito o estrago, ela mandou-o calar a boca e encorajou mais garotas a assinarem seus nomes.    

Ela foi líder do time da Grifinória por todos os anos seguintes. Era determinada, falava alto quando precisava e estava sempre disposta a quebrar expectativas.     

Sirius não se lembrava exatamente quando a percebeu. Se foi naquele momento ou depois. O importante é que o tinha feito.

Talvez espíritos selvagens se reconheciam, ela soltava faíscas de sua juventude tanto quanto aqueles quatro garotos que andavam por Hogwarts quebrando regras, beijando algumas bocas e deixando outras abertas em surpresa por tantas peças que pregavam pelos corredores e pelas regras que não ligavam nem um pouco em quebrar. Marlene gostava de contrariar, de fugir às expectativas, era facilmente irritável e impaciente. Porém, ao contrário dos recém-nomeados “Marotos”, não fazia nada para impressionar ou para marcar pontos em um tipo de meta pessoal. Ela era assim, só se precisava um pouco mais de atenção para notar.

Ardia como eles, mas internamente.

E Sirius adorava brincar com o fogo para vê-lo queimar mais.

— Srta. McKinnon, será que não conseguiria parar com sua incrível capacidade de perder todos os pontos que ganha comprando as provocações do Sr. Black? — Minerva McGonagall havia dito.

Ele gostava de irritá-la apenas para receber um de seus comentários sarcásticos por sua boca rosada e um rolar de olhos. Era um tipo de jogo pessoal em que apenas ele jogava, Marlene o ignorava facilmente, embora às vezes lhe mostrasse que estava prestando atenção, jogando-lhe alguma azaração quando ele estava se exibindo por Hogwarts, apenas para provar que ele não era um jovem deus.

Ou, talvez, para mostrar que ele não estava sozinho em seu reinado.

— Você não devia brincar com o perigo, Sirius – Seu amigo Remo Lupin lhe murmurara em meio ao riso enquanto o ajudava a levantar-se de um feitiço de pernas presas, enquanto a garota ria, guardando a varinha nas vestes e desaparecendo pelo corredor como se nunca estivesse estado lá.

 

O tapa de uma menina um ano mais nova a qual Sirius não se dera o trabalho de guardar o nome ardeu em seu rosto.

Com o passar de alguns anos, em que a relação entre meninos e meninas começou a tornar-se mais interessante, Sirius descobrira outra coisa que era tão bom quanto ficar aprontado por aí e cumprindo detenções. Garotas. 

— Você é um cafajeste, Black — comentou a garota atrás dele, sentada numa das poltronas do Salão Comunal da Grifinória com um livro da Sessão Proibida da qual ela provavelmente conseguira com um pouco de persuasão.

E você é uma intrometida, McKinnon — respondeu ele, sem virar-se para trás, acariciando a bochecha dolorida.

A garota que lhe dera o tapa era apenas mais uma das várias que Sirius Black tivera por uma noite. Alguns beijos em cantos escuros, debaixo de escadas e em armários de vassouras. E apenas isso, ele logo estaria com outra no final de semana seguinte. Injustiça. Ele nunca prometera nada mais do que algumas escapadelas, muito menos exclusividade. Talvez esse fosse o problema para algumas, certamente era para aquela que acabara de sair. Garotas criavam expectativas demais e esperavam que se entendesse o que se passava em suas cabeças cheias de fantasias ilusórias e melosas. Se apaixonavam fácil demais. Bem, a maioria.

Não conseguia compreender como funcionava. Paixão. Amor. Tentara entender quando perguntou a James porque ele não podia querer outra ao invés de Lílian Evans, mas o amigo não soube responder, e eles logo mudaram para um assunto menos dramático. Peter, sem querer, lançaram em si mesmo um feitiço do riso enquanto fazia o dever, o dormitório encheu-se com sua risada histérica, como os guinchos. Sirius esqueceu o assunto, não importava.

 

Sabe, eu estava me perguntando quando é que você iria me contar que é um lobisomem — Marlene entrara na enfermaria e se aproximara da cama onde Remo estava, os quatro Marotos viraram-se imediatamente para ela, com as bocas abertas em surpresa.

Havia sido uma noite agitada para o garoto com cabelos cor de areia, suas costas e braços tinham novos e profundos arranhões, olhando para eles, Sirius perguntava-se o quão pior teria sido se eles não tivessem descoberto como se transformarem em animagos.

Agora eram Aluado, Pontas, Almofadinhas e Rabicho.

A garota tinha o semblante impassível, os olhos azuis calmos, como espuma do mar. Sirius sentiu uma estranha irritação ao vê-los. Não, ela não fazia parte daquilo, era um segredo deles, dos Marotos.  

— O quê? Acharam que ninguém perceberia as cicatrizes e o fato de o Salão Comunal ficar estranhamente calmo sem a presença de vocês em noites de lua cheia?

Eles continuaram a encará-la, espantados. Aluado abrira a boca, mas não emitira som algum. Rabicho engasgara, Pontas arrumou os óculos, não parecia tão surpreso quanto os outros. Almofadinhas estava pronta para xingá-la.   

Sou uma boa observadora — disse ela, por fim, dando de ombros – Se você achou que seu probleminha mudaria em alguma coisa nossa amizade, você é um idiota, Remo Lupin. Lembre-me de te passar as anotações de Transfiguração amanhã.

E saiu.

Maldita McKinnon.

Ele a odiou.

Odiou que ela fosse amiga de infância de Pontas e às vezes lhe sussurrasse dicas para conquistar a garota por quem James sempre se exibia.

Odiou que ela sempre estivesse estudando com Aluado na biblioteca.

Odiava seus estúpidos brincos de argola e suas bandas de rock trouxas que ela vivia fazendo as pessoas ouvirem. E suas estranhas conversas sobre direito de elfos e sereianos e outras coisas que ele não entendia ou não se preocupava.

Ela, de alguma forma, estava sempre por perto.

Odiou-a por estar invadindo seus pensamentos. Quando olhava o céu em uma tarde ensolarada deitado sobre a faia e azul o recordava daqueles olhos que estavam sempre se revirando para ele. Quando beijava outra garota que muito se parecia com a última e a de duas semanas passadas e ele de repente era atacado por um sentimento de insatisfação.  

Às vezes pegava-se procurando por seu nome no Mapa do Maroto.

— Cuidado, Almofadinhas, ou eu vou começar a achar que você realmente gosta dela. Sabe, ela não é tão durona quanto parece, basta um pouco de charme e as palavras certas – James dissera a ele em seu dormitório em um dia que ele deixara escapar, de maneira nada natural, que Remo estava passando muito tempo com ela.

Mas não bastava.

Entre eles era uma guerra sem alarde, fria, tensa, iminente. Uma troca de olhares e quem conseguiria sustentá-los por mais tempo. Sobrancelhas arqueadas que desafiavam o quão próximo o outro chegaria. Nenhum dos dois se aproximava. Talvez ela gostasse de provocar tanto quando Sirius. E ele, orgulhoso demais para admitir de que de todas as garotas com quem ele tocara os lábios, aquela, a única em quem ele não encostara, era a que fazia algo em seu âmago aperta-se, ansiar.

Era divertido, era um jogo infinito.

E Sirius Black era medroso demais para saber o que aconteceria se chegassem ao fim.

 

A Guerra havia chegado.

Ela tentava entre um copo e outro esquecer que havia acabado de deixar a família escondida em um vilarejo na Irlanda. Era perigoso para eles, perigoso para Warren McKinnon que se casara com uma trouxa e cuidava da diplomacia entre os dois mundos. Não, aquilo era assinar a sentença de morte em tempos sombrios como aqueles.

O único irmão, mais velho, também ficara, o dever do primogênito era permanecer ao lado da família, pareceu magoado quando ela negou seguir com eles.

Marlene escolhera a Ordem da Fênix, fora uma das primeiras a dizer sim ao grupo que Alvo Dumbledore estava montado, havia sangue quente e pulsante demais percorrendo suas veias, ela não fugiria de uma luta, um ideal. Em seu último ano, quando a situação estava ficando mais séria e alunos estavam sendo retirados das salas de aula para serem avisados que algum parente estava morto, era ela quem se levantava e dizia que precisavam reagir.

Tinha o ímpeto de alguém que nunca estava satisfeito se não estivesse em alguma aventura.

Exatamente como ele.

E Sirius se pegou sorrindo para essa semelhança entre os dois.

Porém a inveja também o acompanhava, por mais que sua Casa fosse a Grifinória, tivesse fugido de casa e ido morar com os Potters e escolhido lutar ao lado da Ordem, nunca sentiria que suas mãos estavam limpas. Não quando se carregava seu sobrenome. Não quando seu irmão mais novo era um Comensal da Morte. O sentimento de culpa era constante. 

— Posso te contar um segredo, Black?

Ela sussurrou com os lábios tão próximos como nunca estiveram, abertos em seu típico sorriso, como se a qualquer momento fosse retirar um Ás da manga. Os olhos azuis escuros, intensos, iluminados por aquela luz fantasmagórica cor magenta, vorazes como um furacão no meio do oceano.

Estavam em pub trouxa, podia-se ouvir a música ressoando aos fundos.

— Eu acho que você bebeu demais, McKinnon.

Ele também. Não devia, mas tinha.

Estavam embriagados demais para se importarem. 

— Estou com medo.

Houve um segundo de silêncio, ela nunca havia soado tão aberta para ele.

Você... Você não vai morrer – disse ele sério, categórico, nunca usara aquele tom com a garota a sua frente, geralmente usava um provocador e divertido (às vezes irritado), mas aqueles eram tempos de guerra.

Ela deu-lhe um sorriso mordaz e infeliz, desviando os olhos para longe dele. E, Sirius sentiu uma queimação no estômago, não podia acreditar que logo Marlene estava desistindo, uma dos integrantes da Ordem que havia saído das situações impossíveis com maestria. E pensar que tinham acabado de sair de uma emboscada de Comensais da Morte e ele lhe disse que se saíssem vivos, eles tomariam um drink juntos.

E ali estavam.

— É uma das bruxas mais incríveis que eu conheço. Porra, McKinnon, você é a queridinha do Moody.

Os olhos azuis voltaram-se para ele novamente, surpresos por um segundo, e Sirius sentiu uma súbita vontade de mergulhar neles.

Eu não tenho medo de morrer, Black, tenho medo de ficar para trás.

Imaginara errado, é claro, Marlene não era uma garota previsível, não teria o simples medo da morte com a maioria. Queria dizer que ela era como todas as outras, seria confortável. Porém, ela era muito mais e ele sabia disso há muito tempo.  

A eletricidade era torturante. O azul, hipnotizante.

Os lábios dela tinham gosto de tequila barata e licor. Beijá-la era cruzar o limite da galáxia, era como andar em câmera lenta e voar na velocidade da luz, tudo ao mesmo tempo. Rodopiavam em constelações distantes que caiam ao seu redor, eles descobriam novos planetas e infinitos. Tudo, por um instante, era possível.  

Quando os lábios descolaram, o garoto apenas viu um emaranhado de ondas indo embora, com os sapatos em uma das mãos, negando com a cabeça e sussurrando aos ventos de que aquilo era um erro.

Sirius temia saber que ela tinha razão.   

 

Ela cantarolava Bowie e fazia feitiços quando ninguém estava prestando atenção.

Passarinhos dourados voavam a sua frente, agrupavam-se e tornavam-se um redemoinho de folhas secas de outono e quando estavam prestes a cair no chão, levantavam voo e eram pássaros novamente.

Parava assim que percebia que alguém a observava, exceto quando era Lily, as duas costumavam fazer aqueles encantamentos em Hogwarts, em tardes de verão perto do lago.

Hogwarts.

Os anos escolares pareciam estar num passado muito distante.  

Sirius a espiava sem deixar-se ser pego. Apenas aproveitava aqueles pequenos momentos em que a garota essa desarmada, sem o rosto tomado pela preocupação e seriedade.

— McKinnon!

O feitiço cessou em um segundo e ela já estava de pé encaminhando-se para a cozinha onde o grupo debatia sobre mais um plano. Mais uma reunião da Ordem. Havia tensão no ar e uma mistura de medo e euforia que apenas jovens como eles com uma determinação furiosa transmitiam.

Eram um grupo considerável, se não houvesse pelo menos vinte inimigos para cada um deles. O embate com os Comensais da Morte ficava cada vez mais perigoso, já sabiam da existência do grupo. Fenwick havia sido morto dois dias atrás.   

A maior preocupação era com o mundo dos trouxas que estavam em conflito entre eles próprios, Estados Unidos e URSS. Qualquer coisa, a mínima faísca, poderia colocá-los em guerra novamente, e Voldemort sabia disso. Um bairro atacado cuja a culpa fora atribuída aos comunistas, uma ponte desmoronando e matando várias pessoas na Áustria... Tudo fora evidentemente um ataque dos Comensais, mas como os trouxas poderiam saber?

Eles se esforçavam. Protegeram o primeiro ministro trouxa de um ataque, salvavam os trouxas que podiam. Armavam um plano para libertar os nascidos trouxas que haviam sido presos em Azkaban.

Tudo estava no maior caos. Segredos. Desconfianças. Sempre sob o medo de algum deles estar os traindo, de estar sob a Maldição Imperius.

Marlene estava sempre conversando com Dumbledore, sumindo por dias em missões a qual evitava falar, nem mesmo para Lily que sempre tentava arrancar algo da amiga.

Mas já sabiam que uma das razões era a garota ser uma exímia Legilimente.

Eles nunca comentavam sobre aquela noite.

 

No outono de 1978, James e Lily se casaram.

Sirius era o padrinho e Marlene, a madrinha.

Ninguém deveria se casar aos dezoito anos de idade, mas aqueles eram tempo insanos.

Fora um dos dias mais felizes da vida de Sirius, vendo o melhor amigo rodopiar a nova esposa nos braços gritando, ligeiramente bêbado, que finalmente havia conseguido após longos anos de “nãos” da ruiva. Até Remo sorria e Peter tentava dar em cima de uma das primas de James.

E havia Marlene McKinnon, encostada na parede com uma taça de champanhe nas mãos e sibilando para Lily que não acreditava que a amiga havia se casado com o idiota do Potter. Um meio sorriso nos lábios.

Sirius jurava que aquela era a cena mais bonita que ele já havia visto.

Convidou-a para uma dança.

Ela aceitou.

— O que vocês estão fazendo? — James perguntara.

Sirius não entendeu.

— Você e Lene.

— Nós somos assim.

— Escute, Almofadinhas, não há tempo para isso.

Segurando seu braço firmemente, Sirius sabia o que o amigo queria dizer, era razão para um casamento tão apressado. Eles poderiam estar mortos a qualquer momento.

Do outro lado do salão, a garota evitava a pergunta:

— Nós não somos como você e James, Lily.

 

Eles eram forças da natureza, atraídos um para o outro. Se encontravam nas noites atormentadas, atônitas, dando-lhes um ar de inconsequência. Talvez para tentar provar que seus espíritos continuavam livres. Provocavam uma tensão magnética.

Continuavam jogando. Presos em um quebra-cabeça, tentando encaixar algumas peças e esconder outras.

Orgulhosos demais para admitir, assustados demais com o destino.  

Tinham finalmente encontrado Voldemort frente a frente. Marlene duelara diretamente com ele. Sirius pensou que aquela seria a última vez que ele a veria viva. Porém ela conseguira, novamente.

Esconderam-se em uma das casas de refúgio no norte da Escócia. Desesperados para saber se os outros estavam bem. A garota batia com a varinha no pequeno rádio procurando algum sinal na frequência clandestina. Ele afagou seus cabelos, sentindo a textura deles em seus dedos, enquanto lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto da garota.

Sussurravam à noite coisas que não poderiam ser ditas pela manhã.

Minta mais um pouco.

Diga que vai ficar tudo bem.

Quando olhava para ela, Sirius tentava captar o máximo de detalhes, com medo de esquecê-los. Era tomado pelo medo de estragar aquilo, tinha a súbita impressão de que iria magoá-la como fizera com todas as outras. Mas ele não conseguia pensar em mais nenhuma garota senão ela. Queria que usasse Legilimência nele, assim ela saberia de certos segredos que nunca eram revelados em voz alta. Ela saberia que era seu pesadelo favorito.

— Acho que nós dois sabemos que não fomos feitos para finais de contos de fada.

Ela tinha razão, eles eram assim. Soltavam faíscas. Gritavam sua rebeldia.

Eram Sirius e Marlene. Ele de sorriso debochado e ela de sorriso enigmático, feitos de escapadelas noturnas e de mãos que se seguravam instintivamente.  

Prometa que isso durará para sempre.

 

Os McKinnon estavam mortos. Pai, mãe, filho. Todos inertes sob a Marca Negra.

Lily e Sirius tentavam conter a filha que se debruçava sobre seus corpos sem vida. Incapaz de aceitar o que estava na frente de seus olhos.

Ele nunca ouvira um grito tão agonizante.

 

Marlene fora embora, junto a Frank e Alice Longbottom, para missões no exterior. Não se despediu.

Ela não conseguiria ficar e ver todos partirem, eles iriam e era inevitável. Não importava o que fizesse, o quanto se esforçasse.

 

Sirius Black só viu Marlene McKinnon quase um ano depois, com as mãos na barriga de uma Lily grávida. Havia mais cor em suas bochechas do que no dia em que se fora, as feridas abertas que a quebraram pareciam ter virado profundas cicatrizes, havia melancolia em seus olhos quando o viu.

Ela sentia muito.

E ele queria gritar com ela. Dizer tudo o que a garota o fizera sentir naqueles meses, toda a dor e o ódio embaladas pelos copos de bebida e a fumaça de cigarros.

Mas não conseguiu, ele também sentia muito.

Tiraram uma foto, toda a Ordem da Fênix reunida. 

 

Voldemort matara pessoalmente a última McKinnon.

Seu corpo jazia sobre o chão frio, a janela tinha as cortinas abertas. A luz pálida da lua iluminava seu rosto.

 Os olhos azuis continuavam abertos, misteriosos e claros como um mar calmo. Sirius chorava sobre eles incapaz de fechá-los, queria saber os segredos que escondiam, queria vê-los rolar mais uma vez para ele.

Segurava seu rosto, balançando seu corpo. Alguém agarrava seu ombro, talvez fosse Aluado.

 Ele podia vê-la andando pelos corredores de Hogwarts, debochando-o por estar incomodando os estudantes mais novos. Rindo com Lily e Mary no Salão Comunal, cantando o rock trouxa. Com a testa enrugada em uma das reuniões da Ordem. Ignorado suas débeis provocações. Segurando seu braço na entrada do casamento dos amigos.

Queria cumprir as promessas que fizera em noites embriagadas.

E ele sorriu amargo, sempre achara que iria quebrar seu coração. Mas fora ela quem quebrara o dele.

Ela o destroçara.

Xeque-mate. O jogo havia terminado.

E Sirius a amaria para sempre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Muito obrigada por ler!
Eu simplesmente não conseguia tirar esses dois da cabeça, então aí está haha
Nos livros não fica especificado se Marlene morreu com a família, apenas diz que todos morreram, então na minha cabeça, ela se foi depois. Acho que eu gosto de mais drama.
É dito que os McKinnon eram bruxos poderosos, Marlene é uma Legilimente que ajudou Dumbledore nas buscas de memórias que revelassem o passado de Voldemort, mesmo que ele pouco lhe contasse o que estavam fazendo.
Sirius e ela tinham um relacionamento diferente, um tanto mais complicado, de encontros e desencontros. Em muitas fics eles estão sempre se pegando e sendo "amigos com benefícios", eu queria uma relação um pouco mais complexa. Como ela mesmo diz, eles não eram James e Lily. Amavam um ao outro, mas eram bastante ariscos.
Eu espero que tenham gostado! Faz muito tempo que não escrevo nada haha Deixem um comentário e façam uma escritora que acabou de sair das trevas dos vestibulares feliz.
PS: Eu planejo fazer mais one shots de Harry Potter, então se você gosta, dê uma passadinha no meu perfil às vezes.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "McKinnon" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.