Poente escrita por Desdemonia Lucitor


Capítulo 5
A dança das estações




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Se tivesse de morrer mil vezes ou agonizar, implorando um fim, para poder ter o que tinha naquele momento, Sasuke com certeza o faria. Se estava mesmo condenado ao inferno, também não reclamaria, pois havia tido a oportunidade de tê-la ao menos uma vez em seus braços.

Enquanto o vampiro se esforçava para lembrar de respirar, e assim não perder nenhuma das manifestações que ela poderia professar, seus lábios tomavam-na como sua. O toque de suas bocas e o gosto molhado já eram seus conhecidos, mas jurava aos céus que jamais o havia provado com tanto desejo.

A repousou no granito negro, mentalmente se castigando por não poder oferecer à ela um lugar digno de sua pureza. Suas mãos percorreram os ombros e braços de toque acetinado de Sakura enquanto seu nariz passeava pela curva do pescoço delicado dela. O contato ferormônico foi o suficiente para ser refletido e evidenciado em si.

— Você não será acorrentada ao inferno. — Sasuke balançou a cabeça em negativa, negando mais para si que para a jovem abaixo de si. — Rondarei ao seu lado até que dê seu último suspiro, mas, por favor, não me peça para arrastá-la ao tormento de uma existência sem fim.

Lágrimas escorreram, prateadas como as águas de finas cataratas, pelo rosto afogueado de Sakura. O toque frio das mãos de Sasuke era despretensioso de pressa, mas ela não tinha uma personalidade tão tenra quanto a dele.

Embora estivesse completamente contrariada pela recusa do vampiro, o queria ainda mais. Sabia que ele tinha os próprios motivos, e admirava isso nele, mas não era mulher que permitia que decidissem algo por ela. Não quando compreendia a efemeridade das coisas.

Sério, Sasuke passou suas mãos pelo grosso vestido marsala que ela vestia e o desabotoou com serenidade. Apreciava e respeitava todos os rituais, mesmo aqueles que lhe instigavam a ansiedade. Um por um, como o desabrochar das rosas na primavera, soltou-lhes dos elos e desceu o tecido por um caminho guiado por suas mãos, alisando a silhueta esguia da jovem.

Encostou seu nariz ao dela e fechou os olhos, parando para guardar em sua mente toda manifestação involuntária do corpo rendido à ele. Os seios nus, subindo e descendo com dificuldade em estabelecer o ritmo, o coração agoniado a bombear o sangue por todas as veias e artérias, os pequenos e delicados pés se contorcendo e denunciando a ansiedade presente… Sakura era magnífica e esplêndida em toda a sua humanidade.

Enquanto Sasuke se rendia aos próprios instintos, um lampejo de racionalidade tentou dissuadi-lo. Os alertas de Suigetsu se fizeram presentes em uma memória quase audível, o refreando com a velocidade de um reflexo.

— Sasuke… — Sakura o olhou nos olhos, parecendo adivinhar o conteúdo de sua mente. — Não me negue isso também.

E aquela expressão meiga e sôfrega, manifesta em face corada, era mais forte que qualquer consciência moral ou temor.

Sasuke permitiu que a moça avançasse pelos fechos de sua camisa e facilitou seu trabalho ao despir o próprio paletó. Sua sanidade começava a transitar entre a pressa e paciência. Foi quando se lembrou da pergunta que há muito desejava fazer à ela.

— Sakura… — A voz saiu rouca de si. — Me responda uma coisa.

— Sim…

— Por que, mesmo no mais denso inverno, ainda vinha aos meus jardins?

Um sorriso se revelou nos lábios cor-de-rosa da moça e os olhos esmeraldas brilharam, contemplando uma memória oculta que trazia um pensamento que ela jamais imaginou precisar justificar.

— Porque é muito fácil amarmos as coisas belas quando estão em seu esplendor. — Ela respondeu com calma, permitindo que ele por si só pensasse no significado de suas palavras. — Mas é no inverno, na falta de cor, que necessitam do mais dedicado cuidado e dedicação. Isso vale para as flores e para as pessoas.

A resposta que recebeu para o maior de seus questionamentos era superior a qualquer uma de suas reflexões extensas. Era nascida do coração, como um conjunto de valores e significados que só faziam sentido porque vinham dela. Compreendia ali que jamais havia chegado perto de amar alguém em seu passado como a amava. E, mesmo que ainda tivesse certa dificuldade em dizer com a frequência que desejava, sabia que poderia expressar-se de forma silenciosa, de sua própria maneira.

Antes de avançar, beijou-a mais um vez com lentidão, envolvendo na ponta dos dedos a calcinha de fitilhos, tão delicada quanto a própria que a vestia,  retirando devagar.

Antes que se desse conta, estava a adorar o corpo nu da mulher que havia clamado o seu coração. Cada centímetro de pele revelado, qualquer manifestação física de desejo que ela não escondia sentir por ele.

E ele não iria se esquecer jamais do sabor da pele delicada dos seios dela, ao primeiro encontro de sua língua. Destilava cada arrepiar e arqueio ao percorrer pelas sensações que causava ao revelar aos poucos o pecado à ela.

Fechou os olhos incontáveis vezes quando se sentia grato por fazê-la clamar baixinho o seu nome, conhecendo o reverberar do próprio gemido impudico. Pensava erroneamente que era ela quem deveria estar pronta, quando na verdade era sempre ele.

Afastou com gentileza os joelhos de Sakura, mantendo o olhar da jovem preso ao seu. Queria que se sentisse segura consigo, mesmo que não houvessem dúvidas em seu coração de que ela se entregava de corpo e arma.

E foi com amor que ela recebeu o corpo dele ao se debruçar sob o seu. Os lábios comprimidos um contra o outro, os olhos cerrados ao se acostumar com o já esperado incômodo… Seus músculos retesaram com a mesma velocidade que voltaram a relaxar, acolhendo os murmúrios desconexos que Sasuke não conseguia conter dentro de si.

Começaram a se amar com paciência, respeitando o devido tempo para cada uma das necessidades de ambos. Beijos se intercalavam com períodos de movimentos contidos, existentes unicamente para a contemplação um do outro. E Sasuke não iria se cansar de olhá-la, mesmo que não dissesse nada. Parava para vê-la sorrir para ele, beijar-lhe os ombros, acariciar sua bochecha… Por vezes chegava a devanear sobre uma eternidade assim com ela. E foi através deste pensamento que percebeu…

Fechou os olhos e se permitiu sentir a si mesmo, tomando consciência da onda de calor que irradiava de seu coração até as pontas dos dedos. Parecia tomado em um frenesi de tremor que tornava seu pensamento voltado unicamente para ela. Os dentes em sua boca começavam a incomodar e a garganta apertar, despertando o desejo, antes nunca sentido, pelo sangue que corria no corpo da única mulher que chegou a amar.

— Sakura… — Ele puxou o ar para seus pulmões, mas aquilo só piorou a situação.

Estava prestes a se levantar de uma vez quando sua audição foi perturbada por algo que não era o gemido de Sakura. Não teve muito tempo desde então. Ergueu o torso rápido e usou os segundos que ainda possuía para arrancar as cortinas de sua janela e proteger o corpo nu de sua amada.

— Suigetsu… — Ele estendeu a mão em busca da cueca boxe e a vestiu sem pressa, mesmo após a chegada do amigo e de sua acompanhante ruiva.

Encolhida em meio ao mar de veludo vermelho sangue, Sakura olhou assustada para as duas figuras paradas rentes aos umbrais. Ficou impressionada com a mulher de silhueta esguia, vestida em tecidos finos e elegantes. Era inegavelmente bela e em igual proporção ameaçadora.

— Meu amigo… — O olhar pesaroso de Suigetsu intercalava-se entre Sasuke e Sakura, como se assistisse ao velório de um ente querido. — Como o alertei para cometer tão ledo engano…

— Eu não irei transformá-la. — Sasuke trovejou.

— Então negue para mim que não sentiu a ansia pelo sangue que corre pelas veias desta moça no momento em que a deflorou! — Agora era Suigetsu que bradava. E pela expressão congelada de Sasuke, ele teve sua confirmação. — É algo além do seu controle, Sasuke…

Dali nasceu um muro de silêncio sólido. Parado sob os degraus de mármore, observou Karin se virar para o marido, iniciando entre eles uma espécie de conversa através do olhar. Quando terminaram, Suigetsu se voltou à Sakura e a questionou com educação:

— Quando iria dizer à ele? — Seus olhos púrpuros encaravam o par de esmeraldas que, de forma confusa, não tinham qualquer resposta para dar além da incompreensão.

— Ela não sabe… — Foram as palavras sussurradas pelos lábios rubros de Karin.

E tudo aconteceu em milésimos de segundos, rápidos demais para qualquer humano acompanhar. Em um momento Suigetsu estava à porta e no outro, havia desaparecido. Sasuke olhou para os lados, mas até ele não foi veloz o bastante para perceber em tempo o que estava a acontecer.

— Eu espero que me perdoe, meu estimado amigo… — Era a voz de Suigetsu.

Parado às costas de Sasuke, o vampiro de cabelos prateados como a lua carregava Sakura em seus braços, ainda protegida entre os tecidos grossos da cortina. A garota escondia o rosto entre as mãos, amedrontada e a simples visão dela em tal situação já era o suficiente de impelir Sasuke a querer matá-lo.

Porém, era tarde demais.

Assim como a efemeridade das coisas, a vida era um daqueles belos laços dos mais ricos presentes, que serviam apenas para ornamentar a embalagem até o momento de ser desatado de sua própria serventia.

— Feche os olhos… — Suigetsu sussurrou.

E com um leve balançar o mundo parou para Sasuke.

Suigetsu curvou-se sob o pescoço que outrora havia sido beijado pelo Uchiha e, sem qualquer piedade, vilipendiou a pele antes intacta. O cheiro de sangue reverberou por todo o cômodo e o coração dela batia tão forte que era possível de ser escutado até por um humano normal.

A luz tornou-se penumbra e o laço, centímetro a centímetro desatou.

E então, um efêmero final.


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Notas finais do capítulo

E então o fim.
Bem, pelo amor de tudo, não queiram me matar pelas nuances deste final agridoce. Assim como as estações, ciclos se renovam, indo e vindo, um após o outro.
A história irá continuar em breve, em uma nova história que receberá o nome de "Alvorada".
Espero de coração que tenham gostado da história e desejem continuar comigo na próxima que, ao contrário desta, será uma long mais elaborada e com uma expansão de possibilidades que irei explorar.
Muito obrigada por tudo, galera ♥


Edit: Postada a continuação ♥

https://www.spiritfanfiction.com/historia/alvorada-15260634



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