Um Conto de Natal escrita por Celedrin


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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20/12/2018, 11:33 a.m.:

 

O rapaz de 1,75 cm espreguiçou-se frente a lanchonete, esgotado. O trabalha daquela manhã rendeu bastante dinheiro, assim como uma exaustão com a qual não estava acostumado, principalmente quando pretendia encontrar o namorado.

Suas costas, braços e pernas doíam, a cabeça incomodava um pouco mas Bruno sabia que conseguiria suportar justamente por ter sentido muito a ausência de Fabiano.

Queria ter ido buscá-lo na faculdade, infelizmente os horários não batiam e teve de sair da oficina com as roupas engrachadas do trabalho. Sentia tanta vergonha quando tinha que vê-lo assim, o namorado estava sempre bonito. Poderia tê-lo buscado e tomado um banho, vestido roupas muito melhores mas aquele homem que jamais havia visto lhe ofereceu dinheiro, muito, e não podia negar que aquilo iria ajudá-lo.

Quando Fabiano despontou na esquina, descendo do ônibus, Bruno ficou ansioso. O sorriso nos lábios do outro, os olhos, Bruno tinha uma queda imensa por tudo aquilo, principalmente quando ambos os olhos se encontravam, porque aí podia ver o quanto brilhavam.

Fabiano vestia roupas escutas, roupas demais para o calar daquele dia, porém aquilo o não era importante, importante para si era o moreno do outro lado da calçada que mordia os lábios e balançava o tronco segurando o capacete da moto.

— Amor. - Chamou ao atravessar, entretanto notou o olhar perdido do namorado. - Amor?

Bruno admirava o físico do maior. Fabiano tinha 1,99 cm, era magro e os músculos não possuíam uma bela definição, mas aquele corpo o fazia desejar ainda mais o outro. Não queria apenas ver, mas tocar, e retesava apenas porque via nos olhos do outro que as coisas não iriam do jeito que queria. Não era passivo e nem nunca foi, não ia rolar.

···

— Foi mal. Não entendi.

O rosto de traços asiáticos de Fabiano se contraiu numa expressão ferida e ele desviou o olhar.

— Você não quer conhecer os meus pais?

— Quando?

— No Natal...

— Não posso...

— Por que?

Retendo a respiração, Bruno hesitou bastante antes de falar. Não ia pôr a culpa nos pais, sequer havia uma culpa para que fosse incumbida a alguém, dessarte não havia uma resposta. Fabiano tomou o silêncio de outra forma. O que fazia um homem hesitar em ir à casa do namorado? Nada de bom passava em sua cabeça para que pudesse acalmar, ainda assim, pretendia tentar mais uma vez.

Bruno olhava o namorado com demasiada seriedade, o não na ponta de sua língua saiu sem qualquer esforço. A resposta não seria tão cedo repensada.

— Não vai rolar. - Descartou.

Apoiado contra a mesa de pedra do estacionamento da lanchonete, passou a mão sobre os fios castanhos que desciam até o pescoço. Conversava com o namorado há pelo menos 40 minutos, este tentava convencê-lo a conhecer aos sogros naquela data, chegando a sugerir que fosse pelo menos durante a ceia, queria apresentá-lo. Porém aquilo fora descartado em sua primeira mensão.

— Ah! Amor... - choramingou.

O rapaz asiático vestia roupas muito estranhas para o início daquele verão, na concepção de Bruno, que também não entendia porque prestava assim tanta atenção à sua roupa agora, ela era constituida por uma calça preta, o coturno e a camisa na mesma tonalidade escura, assim como o lenço dividido entre preto e cinza. As roupas do castanho não estavam muito melhores, porém aquilo de devia ao seu trabalho. Fabiano não estava com calor?

— Não vai rolar. - Cortou. - Filhote, eu não vou conhecer teus pais justamente no Natal.

O rapaz mais alto, de traços asiáticos, pôs uma mecha negra atrás da orelha, pensando em como mudar a opinião do outro. Não sabia como fazer, era verdade, porém ainda assim não custava tentar...

— É só a ceia, não tem nada de mais nisso... - Comentou. - Meus irmãos levarão os namorados também. A minha família sempre se reúne no Natal, vai ser bem mais descontraído do que você pensa e vais poder conhecer a todos!

— Pensei que tinha dito não, Filhote. - Enlaçou o pescoço dele, aproximando Fabiano de si. - Não tô dizendo pra ti me convencer, Fabiano, eu disse que não vou.

— Mas assim nós vamos passar as festas separados... - Murmurou, o namorado andava tão afastado que Fabiano considerava o término uma resolução possível para ele. -Você quer ficar longe de mim?

— Ah, cê dá muito dramático... - Riu.

— Você quer ficar longe de mim...

— Não quero, não.

— Quer sim.

— Ah, certo, então eu quero. - Concordou e o namorado estreitou ainda mais o abraço.

No Japão, o Natal era uma época para se passar com amigos, namorados, e apesar de que no Brasil era uma época para a família e de compreender isso,Fabiano não queria ser posto de lado.

— Olha, um almoço qualquer dia desses na tua casa e eu conheço os teus pais, ok? Não vou nesse feriado. Não vou deixar de passar com os meus pais.

— Então... Por quê você não traz eles?

— Meu pai não gosta muito de sair, ele tá se acostumando a receber visitas mas não a fazê-las. Fica desconfortável demais.

Bruno tinha seus motivos, acreditava que a data era especial demais para que passasse longe da família, porém o namorado queria bem mais do que apenas um jantar pelo modo que insistia. Não se achava assim tão preparado para passar a noite com ele. Além disso, não ia passar longe da família só para conhecer seus sogros.

O moreno inflou as bochechas, assentindo. Não queria passar sozinho na festa, principalmente por ser o único ainda solteiro na família e aquele seria o primeiro natal que passaria comprometido, era importante para si, mas Bruno não queria e Fabiano não iria forçar a barra assim.

— Tá bom, sempre tem outra data, né? - O sotaque japonês ficou mais forte e Bruno sentiu-se derreter.

— É. No próximo eu vou, com certeza. - Prendeu o rapaz ainda mais em seus braços, beijando seu rosto. - Não vais ficar triste com isso? - Negou, balançando a cabeça, porém o outro sabia que na verdade, aquilo era uma mentira.

 

Depois daquela tarde, quando chegou em casa, viu o pai com uma marca arroxeada na perna, havia caído ao tentar pegar uma caixa de óleo no armário, o apoio em ambas as pernas fora necessário e não conseguiu equilibrar-se. Por fim, acabou caindo no chão, entre o armário e a mesa da cozinha.

— Desculpa, pai, eu devia ter deixado fora do...

— Não é tua culpa, é o pai que tá sempre precisando de ajuda.

— Se teu filho não serve nem pra te ajudar, pai, não tem porque eu ainda tá aqui. - Levou a mão à de seu pai. - Dói? - Ele negou. - Então vou dar um jeito nesse seu machucado, tá legal?

As lágrimas do pai vieram  pouco depois, ao final do curativo entretanto as lagrimas não se deviam ao pequeno corte.

As garrafas de óleo, extratos de tomate, maioneses, fardos de arroz, macarrão, feijão e tantos outros foram mudados de lugar naquela noite, todos foram depositados sobre a bancada, Bruno decidira que compraría um armário novo, um que fosse mais fácil para o pai usar.

 

Quando deitou-se na solitaria cama de seu quarto, sentindo falta do cheiro e do abraço de Fabiano, o moreno concluía que não ir à casa dele durante as festas era o melhor, talvez fosse melhor também que deixassem de sair por alguns dias, seu pai andava muito propenso a quedas, isso já acontecerá antes, quando houve o acidente, não podia deixar o pai cair naquela tristeza de novo

Estava preocupado.

 

24/12/2018  10:49

 

— Olha, eu não quero saber quem sujou, mas vão limpar isso agora! - Gritou a matriarca e cada um dos filhos pegou uma vassoura, pá ou mesmo a lata de lixo para limpar a bagunça.

Enquanto preparavam a casa para a chegada das visitas, Amália e Frederico discutiam sobre quem usaria o carro dos pais à noite para um passeio. Frederico, que possuía 28 anos, disse que tinha um encontro e precisava do carro, apesar de ter uma moto estacionada na extensa garagem da casa. Já Amália, de 27, queria levar o namorado para um lugar um pouco mais romântico. Há algumas semanas notou que ele tinha uma caixinha de alianças sempre que marcavam de se encontrar, mas que não a levava quando se encontravam por acaso e aquilo levou-a crer que pretendia pedí-la. Concluiu então que, talvez, estivesse esperando o momento propício para tal. O carro era importante naquela noite.

Foi então que, discutindo, Frederico pegou a chave e disse que usaria o carro com ou sem acordo, Amália, claro, não concordou e pulou não mão do outro, puxando a chave. Na confusão, o mais velho bateu contra o balcão e derrubou a louça que estava ali. Pratos, copos e as formas novas preparadas para a ceia. No instante seguinte, a mãe e o irmão mais novo chegaram no cômodo.

Dona Ana, uma senhora de descendência asiática crescida no Brasil, com os cabelos escuros cortados na altura do queixo, xingou, repreendeu e fez com que limpassem até o chão brilhar novamente.

— Tá bom. - Disse Amália a contra gosto, depois que sua mãe mandou que os dois pagassem com o próprio dinheiro aquilo que haviam quebrado.

— Não vou nada! Não é culpa minha! Se essa louca não tivesse pulado em mim...!

— Não vai? - A mãe questionou. O rapaz apenas baixou o olhar e perguntou quanto devia pagar. Fabiano riu na soleira da porta, porém aquilo não passou despercebido a mãe.

— Tá rindo? Eles pelo menos brigam pelo carro, e você, vai entrar na briga quando?

— Mãe...

— Já tens 20 anos, isso é idade de sair e conhecer pessoas, ainda mais namorar! Olha, na tua idade eu já...

— Mãe! Me deixa. Vamos resolver isso aí que as visitas não vão demorar, a senhora sabe que o tio...

A campainha da casa tocou, interrompendo-o. Ana sorriu e correu à porta, abrindo-a para seu irmão e sobrinhos.

Enquanto terminavam de organizar a bagunça na cozinha, os irmãos tentaram falar com Fabrico.

— Então, mano, tu não tava saindo com alguém?

— Não começa...

— Não, Fabiano, é sério. Se tiveram algum problema, sabe que a gente pode te ajudar. Sem brincadeira. - Afirmou a irmã.

— Não precisa. Nós não brigamos, não rolou nada...

— Então porquê não trouxesse tua namorada hoje? Cara, é o dia perfeito pra apresentar pra família, vem gente de todo canto! A mãe ia ficar louca de conhecer ela hoje!

— Eu sei! Foi exatamente o que pense! Mas tu acha que ia vir?! - Suspirou, fulo. - É por isso que tô irritado, eu convidei e sei que tem motivos pra não vir, mas, poxa! É óbvio que eu ia ficar chateado...!

— Se ela não podia vir, tens que entender. Ainda tem o Ano Novo, quem sabe?

— Nem sei se a gente vai tá junto até lá...

— Por que? Não tá dando certo vocês dois?

— Não sou eu que penso assim...

···

— Bruno, e aí, tu não vais trazer ninguém? - Questionou José. A barba grisalha ainda tinha alguns fios negros, a velha bengala de apoio, que soltou ao sentar-se no sofá ao lado do filho, estava desgastada e o brilho envernizado da madeira já não era mais o mesmo, estava cheia de rachaduras. - Tua mãe disse que tas namorando...

— É, mas o senhor não vai conhecer agora não, pai.

— Por que? Brigaram? Eu não sei o que aconteceu mas...

— Não foi uma briga... Mas vocês iam ficar sozinhos então eu disse que não podia. Não gosto de sair e deixar o senhor e a mãe...

— Tu queria ir?

— Eu fiquei nervoso, quer dizer, pai, quem conhece os sogros no Natal? E se eles não gostarem de mim? Vai que não me acham bom o suficiente? - Questionou, baixando a cabeça. - Quer dizer, eu sou bem simples, com certeza vão esperar por um cara num carrão. 

— Tua namorada disse isso?

— Namorado. - Corrigiu. - E não. O Fabiano é o cara mais gente fina que eu já vi, só que a família dele é cheia da grana e eu não acho que tão afim de um genro pobre.

O rapaz ficou quieto, refletindo que deveria ter trabalhado mais, não havia dado nenhum presente físico para Fabiano apesar de sempre lhe pagar lanches, porém, não era assim algo tão romântico. 

— Me desculpa por você ter uma vida assim. O pai devia ter guardado mais dinheiro, é só que...

— Pai, o senhor sabe que não tem culpa, nada nunca nos faltou enquanto o senhor conseguia trabalhar. A gente se apertou naquela época, só com a mãe trabalhando, mas agora tá tudo certo, o senhor não precisa mais se preocupar, não é sua culpa então deixa comigo!

Os olhos do velho senhor de 56 anos lacrimejaram e ele tentou levar a mão à secar as lágrimas, mas seu soluço foi alto, toda vergonha, aflição e angústia que sentia nos últimos anos por depender da esposa e do filho que largou os estudos cedo para começar a trabalhar, veio com força. José se sentia tão mais incapaz do que aquela perna o fazia. E ainda sua dependência, a necessidade de assistência para algumas coisas simples fazia o filho cativo de si.

— Ô, pai, por favor, não chora... - Com a mão nas costas do pai, Bruno tentava entender o que acontecia. - Tá sentindo alguma dor?

—  Filho, eu acho que se teu namorado é um bom rapaz, os pais dele devem ser também. Hum? - Mudou de assunto. A dor que sentia não era na perna, mas no coração.

O loiro concordou, porém negou com a cabeça em seguida, enquanto o senhor fungava.

— Não faz diferença, pai, eu já disse que não ia.

— Eu convidei mais gente esse ano. - Comentou.

— Ainda bem que a gente caprichou nesse então. - Riu. - Se a mãe tivesse decidido de novo, a gente ia comer só lasanha.

— Dessa vez não, mas no Ano Novo...

— Já saquei. Quem o senhor convidou?

— O Marcos...

— Tá zoando? Aí não, pai! Olha quantos filhos o cara tem, mês passado ele trouxe sete! Eu que cuidei! Lavo minhas mãos, quero nem saber.

— Eu e a tua mãe sentimos falta de crianças por aqui, tu já é um homem adulto...

O rapaz hesitou bastante antes de concordar.

— Não vou ficar de babá, né?

— Só até tua mãe colocar a ceia no forno, vou ajudar ela. Depois disso, vais te arrumar e vai lá ver teu namorado. Onde já se viu, Bruno? Tinhas que pelo menos ver ele na véspera.

— Pai, não vou chegar lá no meio da festa e...

— E dar o presente que tá no teu quarto? Tens até uma desculpa pra ir lá, não me faz uma desfeita dessas.

Mordendo os lábios, o louro tentava não parcer ansioso ou animado, porém seu pai via

— Obrigado, pai.

— Então vai ver tua roupa, fica bonito, não é por ser mecânico que tu vai andar mal vestido.

— Eu sei. Obrigado.

 

···


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!



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