Christmas Week - Olicity Version escrita por Ciin Smoak, MylleC, Thaís Romes, Megan Queen, Natty Lightwood, Overwatch


Capítulo 3
Bad Reputation - Luzi


Notas iniciais do capítulo

Oi galerinha do mal!

Aqui é a Luzi, tudo bem com vocês? Espero que sim.

Como anda meu bonequinho de vodu? Seja como for, tirem ele do fogo, está muito calor aqui em MG.

Primeiramente quero me desculpar por estar tanto tempo sem dar noticias e sem postar nada. Eu estou tentando ao máximo escrever, mas está complicado. Estou acabada, mas não desistirei.

Agradeço a Ciin por me chamar para esse projeto, pude me reunir com minhas amigas/escritoras incrivelmente talentosas. Puxar e levar uns puxões na orelha, ameaças de morte... Houve muita coisa boa e engraçada durante a nossa preparação, é muito bom estar com elas.
Enfim, agradeço com todo meu coração pelo carinho de vocês. Tem sido um projeto lindo, né? Espero não decepcionar vocês, porque eu creio que poderia fazer algo melhor que essa one. Como eu disse, estou esgotada.
Comentem e deixem sua opinão.
Beijinhos!



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MIT, 2009.

— Acho que estou alucinando. – Helena exclamou. – O que você botou no café? – ergueu a caneca perguntando a garçonete que revirou os olhos e saiu. – Você está loira... – ela pegou uma mexa e puxou levemente. – Meu Deus, tem rosa também! O que você fez com a minha amiga gótica?

— Se você não sabe isso se chama mudança de visual. – pisquei para ela enquanto soprava meu café.

Eu não fiquei surpresa com esse susto de Helena sobre a minha mudança, até acho engraçado, logo ela que vivia falando que eu era muito gótica para uma garota de 19 anos, que vestia roupas de menino. Em minha defesa, elas são grandes e confortáveis! E eu nem me dava ao trabalho de usar sutiã.

— Isso tudo é por causa de Cooper? – questionou hesitante. Dei de ombros girando a caneca em minha mão.

— Por mim mesma, que se dane Cooper Sheldon. – puxei o gorro preto para baixo, ajustando-o. –

— Faz uma semana Lis. Eu entendo se você ainda sentir que o ama, e que deseja mudar a si mesma para ele. Não faça isso. – ela segurou meus ombros quase se deitando sobre a mesa e derrubando o café no processo. – Eu realmente entendo Felicity, mas não faça isso. Você é linda e notável do seu jeito.

— Obrigada. – apertei uma de suas mãos e senti as lágrimas acumularem. Patética!— Eu ainda não acredito que ele terminou comigo. Ele disse que íamos passar o natal com os pais dele, que ele finalmente ia me apresentar a eles. Eu me sinto uma idiota, Helena, uma grande idiota!

— Eu tinha te avisado sobre ele, mas, adivinha? Você me escutou? Não. – ergueu as mãos como se pedisse paciência. – Você estava fascinada pelo garoto bonito e badboy que lhe deu atenção no meio de todo esse mundo universitário estúpido e que lhe fez se sentir especial, que não te tratou com desdém. – concordei. – Até tudo terminar, e com uma maldita cena clichê de traição. Eu não creio que ele ia te apresentar os pais dele, como, nunca!

— Ele é um bastardo babaca. – olhei pela janela observando as pessoas indo e vindo ocupadas demais com seus próprios problemas e planejando o natal em casa com seus familiares.

Massachusetts era frio igual ao polo norte nesta época, nevava em excesso – o que não resultava em coisas boas para o meu traseiro -, eu era obrigada a ir a pé para as aulas, pois meu carro estava atolado em neve. E agora eu não tinha mais carona, bem, tinha Helena, mas eu gosto de viver. Além disso, havia muitas atrações e era a época favorita dos jogadores de hóquei. Apesar de não conhecer nenhum – antissocial e ex chato -, eu admirava a coordenação que tinham ao patinarem e conseguirem se concentrar em um disco do tamanho de uma tampa de nutella que deve ser colocado na rede, isso sem contar no monte de brutamontes que vem para cima de você com ódio ardendo nos olhos. Um massacre!

Na parte oposta da cafeteria havia um pequeno parque com um pinheiro centralizado, onde se encontravam várias crianças a enfeitando com toda alegria do planeta. A inocência...

Helena mudou de assunto falando sobre uma nova bolsa da Prada que ela havia visto em uma revista – obviamente sugerindo que seria um bom presente – e o garoto na sua turma que era um “baita” gato. Ela continuava a descrever o cara, quando do outro lado da rua, avistei meu ex-namorado, interrompi Helena em uma de suas discussões consigo mesma sobre o para qual de suas primas vacas daria um antigo e usado par de Jimmy Choo, fazendo-a olhar o traidor.

Cooper estava com uma garota ruiva de uma das minhas aulas, Carrie Curter. Ele exibia seu Mustang laranja, o único amor da vida dele e seu instrumento para atrair meninas. Ostentava um sorriso com covinhas que eu achava sedutor, mas que agora fazia minhas entranhas se revirarem. Carrie vestia um vestido curtíssimo – sempre indecentemente transparente – para o inverno, com apenas uma bota de salto agulha, sobretudo de couro e luvas extremamente rosas choque.

— Aquelas botas são falsificadas, consigo ver daqui! Se ela se virar um pouco, da para ver que... nem são de couro, é camurça. – Helena analisou com os olhos estreitos.

— Massachusetts é uma pedra de gelo nessa época. Como ela consegue usar uma roupa daquela? – bati na mesa chamando atenção de algumas pessoas.

— Propaganda. – ela respondeu. – Eu já fiz muito isso... – arqueei a sobrancelha. – Ok, eu ainda faço... ás vezes. – suspirou resignada. – Enfim, a questão é que, ela faz a propaganda do corpo dela com certo look e assim chama atenção dos rapazes para carona ou esquenta-las. – sorriu de forma felina, dando ênfase na última palavra com duplo sentido.

— Oh. – revirei os olhos. – Você acabou de descrevê-la como uma puta, o que não deixa de ser verdade. Ela realmente se vende como uma.

— Ela é mais rodada que eu. – Helena se virou bruscamente na minha direção. – Não se atreva a responder isso... – jogou o cabelo para o lado. – E eu não faço parte desse rótulo. Sou sofisticada, encantadora e recatada!

— Ah, desculpe! Igual a uma acompanhante de luxo? Ops, quis dizer puta de luxo. – ponderei e ela me beliscou. – Ei! Isso dói.

— Espero que Papai Noel te coloque na lista das más esse ano, vai ficar sem presente. – ela começou a limpar falsas lagrimas. – Você ofendeu sua melhor amiga, chamando-a de puta!

— Ainda bem que sou judia. – resmunguei. ­– Prefere mulher da vida?

— Você deve estar adorando me ofender, né? Não vai durar muito tempo. De mim você não ganha presente este ano! – garantiu.

— Ainda tenho Thea, Nyssa, Sarah, mamãe e Roy. – comecei a contar nos dedos. – Devo continuar?

— Mas não são deles que você recebe presentes como um vestido igual ao da Victoria Beckham. – empinou o nariz.

— Ele é tão precioso. – falei admirada.

— Tanto que não foi usado nenhuma vez. – Helena me olhou exasperada. – Você não faz nem questão dos meus presentes! – acusou.

— Porque eu não posso comprar nada perto daquilo. Helena, eu te dei uma capinha de celular no ano passado!

— Uma capinha exclusivamente personalizada que deixou várias garotas, e também garotos, com inveja. – ela levantou o celular exibindo o presente. – Felicity, eu amo seus presentes!

Balancei a cabeça sorrindo. Eu amava Helena, mas sua condição financeira as vezes me intimidava. Por isso seus presentes, como o Vneck Cami Fitted está guardadíssimo.

— Não olhe agora, mas... – apontou para o lado de fora aonde Cooper ainda se encontrava com a piranha de saltos, agora muito próximos. – Cooper Sheldon tem o cerificado de ódio de Helena Bertinelli.

— Eu o odeio e o maldito carro. – observei quando ele a encurralava na lateral do veiculo, que eu desejo que congele a bunda dela e vire um traseirolé. Minha criatividade está em alta! 

Uma vez, enquanto ainda namorávamos, eu havia sentado sobre o capô do carro e ele surtou dizendo que eu ia arranhá-lo com o meu jeans. Isso sem contar as inúmeras vezes que ele me proibiu de encostar no console ou no rádio. Era tão nojento com esse carro que se eu tivesse uma chance eu o quebraria… Não Cooper, mas sim o carro, o afetaria mais profundamente.

Olhei para Helena que fazia uma cara engraçada de desgosto ainda observando-os.

— Se ele continuar alisando aquele carro, a mão dele vai cair. – ela revirou os olhos. – Idiota! – eles entraram no carro e Cooper deu partida. Provavelmente para traçar a rapariga da faculdade em algum motel.

— Poderia quebrar aquele rostinho dele e depois quebrar aquele maldito carro. – apertei as mãos em punhos expondo meus pensamentos.

— É uma ótima ideia. – Helena sorriu como um gato de Cheshire. Ela começou a pensar, e eu juro que estava me cagando pensando no que essa louca nos meteria dessa vez. Eu me lembro de acordar uma vez no meio de um celeiro sem nenhuma memoria dos acontecimentos que se antecederam na situação. – Em breve haverá essa festa na fraternidade dos garotos que Cooper participa, acho que vai ser na véspera de natal. Festa na fogueira, algo assim, e acho que eles vão estar muito mais preocupados em aliviar suas cabeças debaixo com essas vacas oferecidas do que cuidar de uma garagem. – Helena esfregou as mãos enluvadas. – O que você me diz, minha cara amiga?

— Acho que temos um presente de natal para entregar!

— É assim que se fala, minha garota! – ergueu a mão para um highfive. – Imagine que aquele lata velha nojenta é seu coração, e quebre-o como ele fez com o seu.

❄❄❄

Caminhei até a loja de artigos esportivos que havia no centro de Boston. Ao entrar, todo aquele clima natalino me atingiu como uma vertigem, havia enfeites para todo lado, imagens do famoso Noel e bonecos dele que dançavam e rebolavam ao som da música que tocava em toda loja, Jingle Bell Rock. Como em todas as outras 300 lojas na avenida.

Parei no balcão da entrada para pedir uma informação do corredor de equipamentos de baseball e um senhor muito atencioso me atendeu, atencioso até demais. Quando entrei no dito corredor, estava perdida. Havia tantas variedades de bastões que ficava difícil escolher, diversos tipos de madeira, metal, alumínio...

— Desculpa! – pedi ao cara no qual esbarrei quase fazendo-me cair no chão. Caramba, ele era duro igual pedra!

— Obrigado? – o sujeito riu e eu amaldiçoei minha falta de filtro em situações embaraçosas.

— Não te vi. – o encarei e ele abriu um sorriso irônico. Tenho quase certeza que ele fazia muito isso.

— Acho que isso estava óbvio. – ele apontou de onde eu havia surgido. – Gosta de baseball?

— Hm... Sim? – fechei os olhos. Dããã, Felicity, se recomponha!— Sim, claro! É um esporte interessante. – do qual não faço a mínima ideia de como funciona.

— Você parece meio em dúvida. – o homem de olhos azuis me analisou com a cabeça inclinada levemente. – Quer ajuda?

— Não, eu sei me virar. – girei sobre os calcanhares dando-o as costas. Felicity, sua ignorante! — Desculpa, eu não quis ser grossa, tem sido dias complicados... – Ótimo, agora você vai contar que ganhou um par de chifres que você anda arrastando como uma cruz por aí? Limpei a garganta. – Quero dizer, seria bom, eu não entendo nada de baseball. – admiti sem graça.

— Eu imaginei. – o bonitão riu fracamente. Interessante... Mas seu QI pode e deve fazer algo melhor que “bonitão” e “cara dos olhos azuis”. Shiu, subconsciente!

— Felicity. – estendi minha mão para ele, que a agarrou firme. Oh minha santinha dos homens com mãos fortes...

— Incomum. – me olhou demoradamente. – Oliver. – permaneceu segurando minha mão e me observando.

Parei um momento para ver com o que estava lidando. Extremamente alto, loiro de cabelos bem cortados, barba por fazer, maxilar quadrado, nariz tortinho mostrando que já foi quebrado e uma boca que... Ok, ok, Felicity, parou por aí!

Oliver tinha um corpo grande e musculoso, muito atrativo. Ele parecia ser familiar, mas não consegui identificar. Era quase um imã, me atraindo cada vez mais, tinha algo que me fazia querer mais informações sobre ele. Mas não agora, eu tenho um objetivo e não quero mais obstáculos.

Além disso, estou prestes a realizar um crime, o que me deixa animada e ao mesmo tempo preocupada, porém muito animada e excitada. Ele chamaria os médicos de um manicômio pra te internar, sua maluca! E aliás, ele não te olharia com esses olhos. Ele é extremamente gostoso, bonito e lindo... Você já notou aquela pinta no canto da boca? E aquelas covinhas? Oh meu santo, aposto que ele tem aquele V delicio-

— Felicity? – Oliver chamou, o que não pareceu ser a primeira vez. – Então?

— Então o que? – franzi o cenho confusa.

— Tacos de baseball? Que mal lhe pergunte, mas para o que necessariamente será utilizado? – encarou a prateleira que exibia os itens.

— Devo dizer a verdade ou mentir? – indaguei rindo nervosa.

— A verdade, por favor. – Oliver voltou seu olhar sobre mim.

— Quero quebrar algumas coisas. – ou pessoas. Disse a verdade... escondendo apenas certos detalhes desnecessários.

— Eu apostaria em proteção, mas isso também é válido. – se inclinou sobre mim para alcançar o objeto atrás de mim. Uau, ele tem um cheiro definitivamente másculo e gostoso! — Aqui, esse deve atender seus planos. – ofereceu o taco de metal.

— É um pouco pesado. – ajustei meus braços e inclinei o bastão como se fosse rebater a bola.

— Ok, você pode abaixar isso! Já vi que você não é nem um pouco inofensiva. – ele riu segurando meus braços. A mão dele era tão grande... Felicity Smoak, o que está acontecendo com você?

— Obrigada. – agradeço antes de me virar e sair do corredor em direção ao caixa.

— Ei! – Oliver se aproximou novamente hesitante. – Hm... Não é nada, só... De nada.

Ele permaneceu me encarando, aguardando algo mais...? O que?

— Espero que um dia a gente se encontre para você me contar como foi sua vingança. – sorriu largamente. Ok, o cara é lindo de matar quando está apenas sério, agora vocês devem imaginar sorrindo.

— Um dia. Quem sabe? Possibilidades! Há tantas coisas nesse universo, muitas chances de algo acontecer. Tipo... O fim do mundo com um meteoro, igual eles dizem ter acontecido na era pré-histórica. Ou o Apocalipse! Não o zumbi, nem o bíblico, apenas... – CALA. A. BOCA. FELICITY!

Oliver franziu o cenho, provavelmente tentando entender que merda foi essa.

— Desculpa, as vezes isso acontece. As coisas, só... Você sabe, saem da minha boca! – dei uma risada angustiada.

— Tudo bem. – acenou se afastando. – Até qualquer diverso acontecimento no universo, Felicity. – e saiu da loja.

Parabéns Felicity, você acabou de botar o homem para correr! Ah, Felicity, ah!

Subconsciente, vai a merda!

❄❄❄

Helena planejava tudo com tamanha precisão, talvez pudéssemos assaltar a casa da moeda qualquer dia desses. Ela havia montado um quadro na parede do quarto com as seguintes informações: fotos da casa (tenho medo de perguntar como ela conseguiu), a planta da casa (desnecessário), um relato de como e onde Cooper estacionava o carro para evitar danos, modos de prejudicar o carro, pessoas quem deveríamos evitar, se haveria câmeras e como teríamos álibis. Só fiquei decepcionada por não ter uma maquete, achava tão bonitinho, mas mesmo assim Helena estava se superando.

— Temos uma recruta! – anunciou de repente. – Na verdade, ela me ameaçou.

— Não ameacei, não. – Thea entrou de repente no quarto e eu gritei.

— Você assustou a vida para fora de mim! – berrei me recuperando. – Tente fazer algum barulho ou bater na porta da próxima vez.

— É uma habilidade requisitada para o que vamos fazer, eu posso entrar sem ser notada. – piscou e se jogou no sofá ao meu lado. – Como vão os chifres, Lis?

— Enfeitados com luzes e uma guirlanda de natal, não consegue ver? – apontei para o topo da minha cabeça.

— Poderíamos acender as pontas para se igualar a uma menorá.

Helena a cortou e começou a explicar o seu plano. Tenho que admitir que ela tem gosto pela coisa, estava até com medo de irrita-la de agora em diante. Iriamos junto com as suas colegas prostitutas, mais conhecidas como líderes de torcida do time de futebol americano. Em seguida Thea arrumaria um jeito de levar todos para a casa da piscina aquecida que ficava do outro lado, bem longe da garagem. O que daria abertura para eu e Helena entrarmos com a caminhonete que ela alugou pagando em dinheiro e utilizando o nome de seu pai (não quero nem imaginar a merda), e então era hora da ação. O pau vai quebrar... Digo, metal... Enfim... O que ela explicou resumidamente foi: entrar, se misturar, distrair, quebrar tudo e cair fora. Parecia tão simples... Só que não!

— Agora, os trajes! – correu até o armário do corretor e retirou três peças cobertas por capas. – Então, vamos ter que ter um álibi, e o que melhor do que meninas Noel? – exibiu o conjunto de roupas no maior estilo... puta Noel. Inferno, lá vou eu!

— Eu não vou vestir isso. – não deixei espaço para discussão.

— Eu amei! – Thea sorriu batendo palmas.

— Felicity, você vestirá esse. – apontou para o vestido separado.

— Eu não quero mais fazer isso, está frio para cacete lá fora! – argumentei.

— Felicity... – ela se encaminhou até a gaveta e pegou uma tesoura. – Acho que vou recortar corações em um tecido azul royal. Vai ficar lindo enfeitando minha arvore!

— Você não se atreveria! – estreitei os olhos e ela sorriu andando até mim.

— Farei daquele vestido um pano de prato. – ela está falando sério.

Suspirei.

— Vadia!

❄❄❄

— Eu te odeio! – disse trincando os dentes.

— Você está gostosa. Cala a boca e começa a andar! – Helena me empurrou fazendo minhas botas afundarem na neve.

— Eu te odeio. – afirmei novamente.

— Tá bom. – ela parou na minha frente. – Me odeie, eu te deixei linda para se divertir e acabar com o carro do seu ex. Me condene!

Observei o cenário atrás dela. Um DJ na varanda da casa com o fone preso entre o ombro e o ouvido, barris de cerveja e garotas com um traje indecente - como se eu tivesse alguma coisa no meu atual estado - servindo o que parecia gemada. Pessoas dançando, bebendo, se beijando e se esfregando das formas mais pavorosas que podia imaginar. Era pior que pesadelos, onde se era sufocada por uma multidão igual a essa, só que aumentada mil vezes.

Havia poucas pessoas que eu conhecia, na verdade não conhecia ninguém, apenas uma forma de linguagem que utilizava para não parecer antissocial. A verdade que eu nem cumprimentava-os, apenas olhava em suas caras para ver o desprezo por não ser boa demais para andar com eles ou simplesmente não tinha vontade de se socializarem comigo. Devo admitir que minha aparência anterior não colaborava muito.

Em uma das minhas analises pude identificar Cooper, que estava agarrado a mesmíssima p... – eu tenho que parar de rotular as garotas por aqui de puta, mesmo que seja verdade – garota de dias atrás. Carrie Cutter.

— E eu sei que você me ama, esse ódio nunca durou. Nem mesmo quando eu sem querer quebrei seus óculos... Sem querer. – deu de ombros e eu ri.

Eu havia acabado de comprar uma nova armação, Helena o detestou tanto que na primeira oportunidade de se passar por um “acidente” ela a quebrou. Foi o maior tratamento de silencio que já fiz, mas sempre que ela saia eu ria de sua cara por achar que ia perder nossa amizade por uma armação de óculos.

— Vamos lá! – falei a contra gosto a puxando pelo braço. – Eu ainda odeio essa roupa.

— Você não precisa gostar... Mas essa botas over the knee ficaram sexy como o inferno! – ela me deu um tapa na bunda.

— Tenho certeza que matarei o bom velhinho de desgosto. – murmurei azeda dando-lhe meu melhor olhar contrariado.

— Ou de tesão! – sorriu da forma mais pervertida. – Agora cale a boca e guarde seu mau-humor para o carro do seu ex. – seus olhos azuis cristalinos se concentrando em algo. – Olhe, Thea está ali!

— Onde? – perguntei me levantando na ponta dos pés para enxergar através daquela zona.

— Com o bonitão grandão e musculoso. – apontou.

No momento em que localizei Thea em sua calça vermelha apertada “estilo Noel” me agachei rapidamente puxando Helena, quase caímos de bunda no chão por culpa do salto da minha bota. Merda!

— Merda, merda, merda! – olhei envolta do local onde nos agachamos.

— O que? – ela perguntou e logo seus olhos se arregalaram. – Cooper te viu e reconheceu? Cacete, eu vou ir até Thea e abordar.

— Não! – a puxei de volta pela saia do vestido. – Não vamos lá, Cooper não me viu.

— Que inferno é isso então, Felicity? – ela se levantou novamente e eu a puxei de volta.

— Lembra do cara da loja que te contei?

— O Sr. Gostosão? – não estava inspirada para criar um apelido mais elaborado...

Helena se apoiou no pequeno muro que separava o jardim do portão de entrada e começou a rir. Na verdade, ela caiu de bunda no gelo e não se importou nem um pouco enquanto se acabava de tanto rir.

— Para! – me levantei e então me agachei novamente quando ele e Thea olhou em nossa direção. – Eu não acredito que não o reconheci antes.

— Sua memória fotográfica está pedindo conta. – ela permaneceu rindo. Depois eu que tenho problemas.

— Abortar plano! – saquei meu celular pronta para enviar uma mensagem para Thea.

— Não! De jeito nenhum. – Helena tomou meu celular guardando-o na bolsa, ok, uma mini pochete preta. – Estamos aqui, você está vestida para isso e vamos ir até o final.

Lhe dei meu melhor olhar enfezado. Eu já não estava mais tão certa de tudo isso, estava muito frio e eu queria meu edredom com meu pijama velho e pantufas. Isso sem falar naquele maravilhoso chocolate quente e o Netflix...

— Vocês estão brincando de pique-esconde ou morto-vivo? – a voz de Thea surgiu atrás de nós.

Talvez planejando sua morte!

Pelo olhar engraçado que ela me lançou eu havia dito em voz alta. Notei que estava acompanhada e respirei fundo antes de encarar o rosto que me deixou bastante atraída na loja de artigos esportivos. Merda universal!

Oliver Queen. Sim, e se vergonha matasse, eu estaria a 7 palmos abaixo da terra.

Ele me observou da cabeça aos pés, como se gravasse a imagem em sua cabeça, seus olhos azuis límpidos agora mais escuros parando principalmente em minhas pernas e logo em meus lábios. Ok... Está ficando quente aqui, não?   

— Olá, Felicity! – cumprimentou. – É bom revê-la.

— A situação não poderia ser melhor... – digo entredentes e Helena me dá uma cotovelada nas costelas.

— Felicity, Oliver é seu álibi. – Thea se pronunciou chamando minha atenção.

Elas não... Filhas da mãe! Eu vou cortá-las em pedacinhos e depois moer como carne moída. As cachorras sabiam que era ele quando eu contei a história do ocorrido, Thea deve ter confirmado em seguida e elas planejaram isso.

Malditas!

— Inferno! – grunhi e saí andando com ele no meu encalço.

— Faça ela se divertir, irmãozinho. – gritou Thea ao mesmo tempo que Helena gritava “Beije o inferno fora dela”.

Eu ia mata-las!

 ❄❄❄

Depois de desistir e ver que Oliver ficaria na minha cola o tempo todo como meu “álibi”, eu me sentei no degrau da escada lateral com minha 3° cerveja esperando o sinal de Thea. Oliver se sentou ao meu lado e encarou o céu completamente limpo de estrelas, apenas a lua iluminando-o.

— Você já me conhecia quando nos encontramos na loja? – soltei.

— Não. – foi sua resposta monossílaba.

— E por que não nos encontramos antes? Você estuda aqui? – perguntei antes que pudesse me conter.

— Não.

— Já se formou? – voltei a perguntar.

— Sim.

Ele nem sequer me encarava, seu rosto completamente sereno. Oliver Queen era lindo, o sonho quente de qualquer uma. Como descrevi antes, alto, musculoso, charmoso, bom com as palavras e totalmente sexy. O que todo cara precisa para ter uma má reputação, e ele a tinha. A questão era, eu estava curiosa por ele não ter me tratado como um pedaço de carne até o momento. Não que eu estivesse reclamando, não estava, apenas curiosidade...

— Eu chutei seu cachorro para você nem olhar na minha cara? – encarei a lateral do seu rosto.

— Eu não posso olhar para você assim e me concentrar em uma conversa. – admitiu com um suspiro.

— Está com medo de trazer seu verdadeiro eu a tona? – dei de ombros quando ele me encarou com o cenho franzido. – Oliver Queen... Só o seu nome diz muitas coisas, não?

— Não sei. Me diga você! Qual seria meu verdadeiro eu? E o que diz meu nome? – ele parecia de alguma forma... chateado?

Não pude controlar minha língua – culpo a cerveja, mas não era isso, talvez fosse toda frustração, raiva, tristeza e mais um pouco de coisas reprimidas.

— Oliver Queen, playboy bilionário que adora uma festa e faz de tudo para se divertir, um egoísta que vive esbanjando sua riqueza por aí. – ele estava inexpressivo. – Tem mais, porém acho que já resumi bem.

— E você diz me conhecer. – Oliver para por um momento. – Maluca, nerd, antissocial, preconceituosa, orgulhosa, baixinha, arrogante também te resume bem e eu não estou te julgando.

Fica com essa que é de graça!

— Ok. Eu vou me manter calada. – me levantei e comecei a andar de um lado para o outro.

Alguns minutos se passaram e Oliver se levantou parando em minha frente com um olhar impaciente.

— Eu disse calada e não quieta. – o contornei e ele me agarrou pelo braço.

— Por que vai quebrar o carro dele? – questionou.

— Porque sim. – eu não lhe devia satisfações. – Eu odeio aquele carro.

Ele demorou seu olhar sobre o meu e então se virou de costas. Estávamos sozinhos ali e eu não conseguia identificar que merda era essa que estávamos fazendo enquanto aguardávamos.

Eu estava entediada! Thea não dava a porra do sinal e Helena desapareceu, eu tinha quase certeza que estavam escondidas observando nossa interação. Aposto que era um maldito planinho para tentar juntar duas pessoas que nem sequer sabiam da existência um do outro.

— Eu cansei. – fui em direção a garagem e peguei a mochila que havíamos jogado pela janela do local.

— Ei, não era para esperar Thea...

— Calado! – tampei sua boca quando escutei um barulho vindo de dentro de um dos carros. Pareciam... Gemidos?

Puta. Que. Pariu!

Oliver ergueu uma sobrancelha com a minha expressão de choque. O encarei de volta com um olhar que eu podia dizer ser mortal e o fez revirar os olhos. Ele tomou o taco que tinha me ajudado a escolher e bateu o mesmo na porta pela qual entramos. Em seguida me encurralou na parede quando os gemidos pararam.

— O que você está fazendo? – indaguei tão baixo que se ele não estivesse a centímetros de mim não escutaria.

— Sendo a porra do seu álibi! – disse enquanto apoiava uma mão na parede e outra na minha cintura antes de me beijar.

Oliver Queen estava me beijando. Oliver Fucking Queen estava me beijando.

“Beije o inferno fora dela!” As palavras de Helena voltaram até mim e bateram com força. Ela verá o inferno!

Os lábios de Oliver eram macios como uma montanha de travesseiros, apreciei. Ele não estava usando nada além de seus lábios, pressionando suavemente. Em seguida, ele já estava se afastando de mim. Tentei raciocinar o que estava acontecendo e me atrapalhei ao ver meu batom vermelho manchado em seus lábios. Foi um selinho Felicity, ele não vai beijar o maldito inferno fora de você! Ele é seu álibi!

— Nós estávamos aqui primeiro, bro! – o cara que antes estava fazendo sabe-se lá o que com a menina ao seu lado se pronunciou.

— Eu não ligo! Saia ou aproveite o show, bro. – Oliver se voltou para mim, a mão que estava em minha cintura descendo até minha bunda e apertando. O maldito apertou minha bunda!

Se passaram alguns segundos até eu escutar a porta batendo junto com uns resmungos.

— Minha parte foi concluída. – o tarado ainda estava parado no mesmo lugar.

— Então pode tirar a mão da minha bunda. – dei um tapa em seu antebraço, ele sorriu se virando e encostando-se na parede.

— Eu disse que não poderia te olhar. – agora quem estava sorrindo era eu. Com muito sarcasmo, é claro!

— Aparentemente você seguiu meu conselho e trouxe o verdadeiro Oliver a tona. – apertei a base do taco de beisebol girando-o para testar o peso.

— Você não sabe quem é o verdadeiro Oliver. – argumentou e eu dei de ombros colocando os óculos de proteção.

— Você não me dá motivos para querer conhecer. – digo antes de acertar o para-brisa com toda força. Observei o estrago, não quebrou, acertei novamente não satisfeita. O vidro se espatifou, espalhando-se pelos bancos e então o alarme disparou. Oliver correu até o carro e puxou um fio parando o som antes que o barulho pudesse nos denunciar.

— Acho que não pensaram nisso, não é? – ergueu a sobrancelha.

Revirei os olhos e então comecei minha obra de arte. Comecei batendo no capô, rasguei os pneus, quebrei as janelas, arranquei o para-choque e o para-lamas. Eu estava suando, já me sentia revigorada. Oliver observava de um canto, completamente divertido com tudo e eu sorri alegre. Muito alegre!

Oliver cutucou meu ombro depois de um momento e me entregou uma lata do que parecia ser tinta. A cor vermelha sangue me alegrou mais insanamente e eu comecei a rir.

— Feliz natal, idiota! – falei após tacar a tinta e a lata junto.

Peguei a bolsa e retirei de lá um laço com um pedaço de papel em branco.    

— Você está mesmo no clima do natal. – Oliver comentou e eu ri após pegar o papel e beija-lo.

— O que posso dizer? Isso é tão bom! – suspirei e Oliver riu.

Escutamos um barulho semelhante a sirenes e eu entrei em pânico. Toda minha diversão se esvaindo. Oliver foi mais rápido que eu e pegou a bolsa antes de me segurar pelo braço correndo dali.

— Merda! – eu comecei a repetir uma serie de palavrões enquanto era arrastada. – Eles chamaram a policia! Oliver!

— Apenas corra! – ele ria. Ah, sério que ele estava rindo nesse momento?!

— Eu vou cair com essas botas! Eu vou matar a Helena!

Oliver me soltou e por um momento eu quase caí pela terceira vez na noite. E então o mundo virou de cabeça para baixo, literalmente.

— Oliver! – protestei segurando o vestido para não mostrar a minha bunda que estava congelando.

— Maldito vestido Felicity, por que você tinha que usar essa merda sexy? – ele gritou entre ofegos enquanto corria.

— Não fui eu que escolhi, idiota! – rosnei.

— Dá próxima vez vista uma burca. – falou antes de me depositar no chão ao lado do seu carro.

— Olha aqui, seu riquinho... – me ignorando completamente ele foi até o outro lado e entrou já dando partida.

— Você vem ou vai ficar para ser presa?

Linda noite de véspera de Natal!

 

❄❄❄

 

— O que o cara te fez para ter tanta raiva? – perguntou depois de um tempo.

— Além de quebrar meu coração? – ele anuiu. – Ele roubou um projeto.

— Que tipo de projeto? – tornou a perguntar interessado.

— Códigos para um novo software de identificação policial na cidade. – Nerd!

— Uau, isso é...

— Muito nerd? Super nerd? – sugeri.

— Incrível. – eu sorri abertamente.

— Eu sei, obrigada! – Oliver riu.

— Então, o que te trouxe a Massachusetts? – fechei os olhos em seguida. – Thea, claro.

— Sim, eu tenho tentando vir vê-la o máximo que posso desde a morte do nosso pai.

E você o julgou egoísta e mesquinho. Não começa subconsciente!

— Eu sinto muito. – sussurrei.

— Tudo bem. – seus olhos permaneceram na estrada. – Eu não tenho saído muito para os lugares, muito menos com pessoas. – o olhei sem entender. – Você disse que eu adorava festas e tal. Não é uma coisa de que me orgulho, odeio que pensem isso de mim. Esse é o Antigo Oliver. – sua voz era baixa e grave, vulnerável até. – Como eu disse, você não me conhece!

— Com certeza não. – me senti mal.

Fiquei em silencio o resto do caminho, falando apenas para indicar o caminho de casa. Odiei o fato de Oliver ter se sentido obrigado a explicar sobre si para uma desconhecida, que era eu no caso. Ele não me devia satisfação, porém estava feliz por ele ser uma pessoa melhor. Agora eu conseguia enxerga-lo, não por completo, porém melhor que antes, não como o Oliver Queen, mas apenas como Oliver, o cara que eu conheci em um corredor de beisebol.

— Helena tem humor para a situação. – apontou para o meu visual. – Mas as mexas rosas não se destacaram.

— Ok, Sr. Valentino Garavani, entendi. – sorri para ele que retribuiu.

— Gostaria que tivéssemos aproveitado mais a noite... – Oi?— Você não deveria ter se concentrado apenas em quebrar o carro do seu ex. – ele parecia quase enciumado.

— Eu me diverti.

— Qual foi sua parte favorita? – indagou-me.

— A parte em que eu quebrei o carro, claro. – mentira! — E a sua?

— Sinceramente? – ele parou o carro e eu identifiquei a fachada do prédio.

— Sim! – dei de ombros.

— Você está preparada para essa resposta? – questionou, sua voz em um timbre perigoso.

— Sim. – ele ia dizer o beijo? Mas nem chegou perto de ser um maldito beijo de verdade.

— A parte em que eu apertei sua bunda. – meu queixo caiu.

Fiquei observando-o como um peixe fora d’água sem saber o que dizer. 

— Eu não posso fazer isso agora. – fechei os olhos resmungando.

— Não estou pedindo agora, srta. Noel. – observei um sorriso se formar em seus lábios, um sorriso que eu não havia visto ainda. Era predatório!

O encarei durante bons segundos antes de puxa-lo pela camisa e beija-lo. Agora eu vou beijar o inferno fora dele!

Comecei com calma apreciando seu gosto, era indescritível como podia fazer aquilo o tempo todo como se fosse destinado a minha vida toda. Cada vez mais exigente, ele sugou meu lábio inferior o mordendo-o fazendo-me soltar um gemido de puro deleite. Minhas mãos vão para seus cabelos curtos, envolvendo-os em meus dedos na busca de mais. Nos separamos em busca de ar, apenas tomando alguns segundos antes de começar outro beijo mais quente.

Eu estava quase em seu colo quando acidentalmente um de nós encostou na buzina, reproduzindo o som alto e me fazendo gritar, assustando-o.

— Eu mordi... – ele anuiu passando a língua entre os lábios inchados.

Era isso, eu estava me atracando com o meu cumplice após cometer um crime vestida de garota Noel. Que esplêndido!

— São 02:00h da madrugada. – olhei para o relógio do painel do carro. – Feliz natal, Oliver!

— Feliz natal. – sorriu se inclinando novamente.

— Eu sou judia. – ri envergonhada.

Ele parou por um momento e sorriu, meu coração acelerando.

— Feliz Hanukkah.

Desci do carro e me afastei hesitante. Escutei a porta bater e passos vindo em minha direção. Girei lentamente, e encarei o rosto do cara que estava começando a me deixar mais maluca.

— Você pensa que só eu tenho uma má reputação? Foi você que cometeu vandalismo. – se aproximou mais.

— Você foi cumplice. – arqueei uma sobrancelha.

— E eu pretendo pegar minha recompensa pela participação. – ele sorriu. – Acredite, não será barato!

No final, a recompensada fui eu. Em diversos sentidos!

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Queria escrever algo diferente e engraçado, não sei se foi bom o suficiente. Mas é vocês que me dizem, eu dei o meu melhor, mas...
Não deixem de dizer o que acharam e voltem amanhã que teremos mais!
Até breve.