Christmas Week - Olicity Version escrita por Ciin Smoak, MylleC, Thaís Romes, Megan Queen, Natty Lightwood, Overwatch


Capítulo 2
Something About You - Megan Queen


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiiiiiiiii! Eu sei, sou eu mesma, a autora sumida e cara de pau de MM e PTdL.
Antes de me jogarem aos crocodilos, mil perdões pela péssima pessoa que tenho sido em desaparecer por tanto tempo, eu simplesmente não tive escolha, entre trabalho, casa, curso e problemas familiares e pessoais sobra muito pouco tempo (e inspiração) para me dedicar a escrever minhas histórias. E eu sou perfeccionista, então jamais poderia ter jogado aqui pra vocês um trabalho feito às pressas e mal escrito.
Enfim...
Primeiro de tudo, quero agradecer à Ciin pelo convite maravilhoso de participar nesse projeto. Eu quase não topei, mas a ideia e o entusiamo dela me tornaram incapaz de dizer não pra essa iniciativa. Obrigada, Ciin, vc é um anjo (não disse qual kkkk) e tem idéias fantásticas.
Em segundo lugar, foi maravilhoso poder estar junto com tantas autoras talentosas nesse projeto e eu amei a oportunidade de fazer algumas cobranças em nome do fandom (cof cof Thais cof Mylle cof Naty) kkkkkk
Depois, eu tenho que tirar um espaço pra agradecer MUUUUUUUITO à Ingret (aka Luna Lovegood) por ser uma amiga tão chata/animada/insistente/chantagista/maravilhosa. Literalmente, essa one não existiria se não fosse você, amiga, chutando meu traseiro todo dia pra me forçar a escrever. ("Sem one, sem capítulo de GP pra betar.") Obrigada, Ing :)
E, por fim, quero dar essa one de presente de aniversário atrasado para a Luzi, que também está no projeto, e é a minha amiga mais antiga/meu presente de Natal mais fofo desse Nyah!
Espero que gostem da one, meninas, e me deixem saber o que acharam :)
Boa Leitura!



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Algo sobre você

É como um vício

Me acertou com o seu melhor golpe, querida

— Certain Things (James Arthur)

 

Felicity Smoak

 

  - Eu deveria ter fugido de casa enquanto pude. - sento com algum estardalhaço na cama enquanto minha irmã maluca, mais conhecida como Helena, tagarela sobre como seu maravilhoso cunhado irá fazer parte da alegria natalina deste fim de ano.

 Número 1: Eu e minha mãe somos judias e não exatamente comemoramos o natal, muito embora meu padrasto e Helena gostem de fingir que sim e minha mãe goste de festas no geral. Então, na realidade, a única que não dá a mínima para as festanças sou eu, mesmo. Até acho bonito o lema de amor, partilha e união dessa festividade "cristã" (nem vou entrar no mérito da herança pagã do Natal porque Helena sempre me ameaça de morte quando começo). Sério. Chega a ser fofo ver tantas famílias reunidas para celebrar.

Exceto que a família Smoak-Bertinelli não é normal. Logo, as festas não são normais. Logo, minha paciência acaba mais cedo que o normal.

Mas vamos ao número 2.

  - Eu não vou ser babá de marmanjo e me recuso a corroborar com sua tentativa nada sutil de me arranjar com seu cunhado! - lanço um olhar mortífero para Helena, que para de tagarelar todas as virtudes do dito cujo e põe a mão no peito, se fazendo ofendida.

  - Lis! - ela exclama e eu me pergunto se alguém já lhe disse que ela é uma péssima atriz e não engana ninguém com sua expressão de falsa inocência. - Você me julga tão mal. - É, provavelmente nunca lhe disseram.

  - Eu não me importo nem um pouco se o tal Oliver é o próprio criador da excelência masculina no mundo, eu não vou fazer sala para ele. - sentencio o mais firmemente possível.

  - Oliver não é o criador da excelência masculina. - ela revira os olhos. - Ray é. - acho que posso vomitar meu pâncreas com o brilho que surge nos olhos azuis dela ao falar do namorado.

  - Eu realmente deveria ter fugido desse circo quando tive chance. - me jogo de costas sobre o colchão.

  - Não seja tola. - ela se joga ao meu lado e eu giro a cabeça para direcionar melhor o olhar enfezado que Helena merece. - Em primeiro lugar, ninguém disse que você deveria ser babá de Oliver. - abro minha boca, mas ela simplesmente continua. - Tudo que eu disse é que este ano, excepcionalmente, eu irei trazer convidados para a ceia de Natal da nossa família e que não seria nada mal melhorar seu traquejo social para recebê-los bem. - Helena é realmente maravilhosa com eufemismos.

  - Claro, e suponho que me passar a ficha do meio irmão do seu namorado tenha sido extremamente necessário para essa missão. - por um segundo me pergunto como consegui falar todas essas palavras com os dentes cerrados, mas minha meio irmã sempre teve o dom de aflorar habilidades como essa em mim.

  - Sim! - seu sorriso gigante me faz ter impulsos de abrir um buraco entre as fileiras de dentes com meu punho.

  - Por que eu amo você? - solto a pergunta junto com um suspiro ruidoso e ela pisca seus olhos emoldurados por cílios longos de boneca.

  - Porque eu sou sua melhor amiga desde que consegue se lembrar e sempre apoiei cada uma das coisas erradas que você fez na vida. - estreito meus olhos para a expressão serena dela ao dizer isso.

  - Que foram o total de 3. E todas as três vezes em que fiz coisas erradas, a ideia foi inteiramente sua.

  - Detalhes. - ela faz um aceno, dispensando minha observação pertinente. - Vamos, Felicity, não pode ser de todo ruim dar um pouquinho da sua atenção para Oliver.

  - Acontece que eu fiz meu dever de casa também... - Helena franze o cenho e puxo meu tablet de cima do travesseiro mostrando a ela o nome "Oliver Jonas Queen" na barra de pesquisa do Google.

  - Oh, merda. - ela fecha os olhos. - Eu devia esperar algo do tipo de você.

  - E o que eu descobri é que além de meu chefe, milionário e ridiculamente bonito, "galinha" e "canalha" estão no topo da lista de qualidades do seu querido cunhado.

  - Oliver não é seu chefe, Ray é. - ela tenta e eu fecho a cara. - Tecnicamente. - cede.

  Sim, Helena é maluca a ponto de namorar o meu supervisor e tentar me juntar com o CEO da multinacional em que trabalho, tudo isso enquanto administra o setor de segurança dessa mesmíssima empresa.

Mas vamos do início.

Minha mãe se casou com Frank Bertinelli quando eu e Helena tínhamos 2 e 3 anos de idade respectivamente, então sempre nos vimos como irmãs, ainda que não tivéssemos uma gota de sangue em comum e ainda que fôssemos tão diferentes como o dia e a noite.

Então, à medida que eu desisti de tentar pôr algum juízo na cabeça dela e ela desistiu de tentar tirar o meu, ambas construímos uma relação sólida e indestrutível de fazer inveja a muitas irmãs carnais.

Frank, por sua vez, trabalhava desde antes de se casar com mamãe como chefe de segurança e guarda-costas pessoal de David Palmer. Então, quando David casou-se com Moira Queen e as duas famílias uniram suas multinacionais, criando um império tecnológico que passou a ser a Palmer-Queen Technologies, Frank passou a ocupar exclusivamente o cargo de chefe de segurança da empresa.

Os anos passaram e, enquanto me formei em Ciências da Computação pelo MIT, Helena se especializou em segurança privada, seguindo os passos do pai.

Hoje, Frank está curtindo sua aposentadoria numa eterna segunda lua de mel com mamãe enquanto eu e Helena trabalhamos em setores diferentes da segurança da P-QT.

Mas foi apenas quando a morte de David Palmer, há um ano, trouxe de volta o brilhante filho do magnata e o forçou a dividir a presidência da empresa com o meio irmão, filho de Moira, que Ray Palmer entrou em nossas vidas.

Só a título de informação, eu tentei sim convencer Helena de que sair com o chefe era uma péssima ideia. Também devo admitir que pela primeira vez na vida, uma das péssimas idéias dela deu tremendamente certo. A despeito de todos os motivos (que são muitos) pelos quais Ray e Helena jamais dariam certo juntos ou sequer combinariam, o relacionamento deles engatou, e é tão saudável (o fato de que ela é o homem da relação aparte) que eu ainda tenho dificuldades para acreditar.

Eles são o ying do yang um do outro e nada me deixa mais satisfeita do que o bem que namorar Ray fez a ela.

O único problema de os dois estarem tão felizes juntos é que isso os tornou o tipo de pessoas que acha que os outros deveriam ter o mesmo tipo de felicidade e tenta fazer isso acontecer por força maior. O que implica no fato de que a "missão Olicity" provavelmente vai levar eu e Oliver à loucura antes do fim do ano.

Isso porque, se eu conheço Ray tão bem como os últimos 7 meses de convivência constante garantiram, ele está tornando a vida do irmão uma tortura semelhante à que a minha irmã tornou a minha.

A bem da verdade, até agora Oliver e eu temos tido sucesso em evitar cada um dos encontros arranjados em que os dois tentaram nos emboscar e eu quase que devia uma a ele por sabotar todos os esquemas "cupidiescos" que eu não conseguira. Éramos uma boa dupla na missão de não ser uma dupla. E eu sei que isso não deveria fazer sentido, mas faz.

Exceto que agora não há desculpas.

De alguma maneira, Ray havia convencido Oliver a vir para a ceia da nossa família e, para meu azar, se eu quisesse amanhecer o dia 25 deitada em um lugar diferente de um caixão, eu teria de comparecer a esse jantar. Há coisas que uma garota não pode enfrentar. Frank, Donna e Helena juntos atrás da minha cabeça por estragar o natal faz parte dessas coisas.

  - Não tem essa de tecnicamente. - reviro meus olhos, mas Helena parece afetada ao nível mínimo por meu humor horroroso.

  - Você lhe comprou um presente? - ela senta e começa a fazer um coque, prendendo o cabelo no topo da cabeça.

  - Oi?! - ponho o máximo de incredulidade que duas letras são capazes de carregar na pergunta.

  - Um presente. Para Oliver. - ela diz, com naturalidade.

  Semicerro meus olhos e me pergunto se teria alguma chance de enforcá-la contra o colchão se a pegasse de surpresa, mas no fim forço um sorriso maldoso nos lábios antes de responder.

  - Claro que comprei. Uma cueca. Vermelha. Com estampa de alces e flocos de neve. - a surpresa dá lugar a exasperação no semblante dela enquanto falo.

  - Você é infantil. - ela me estira a língua, ironicamente. - Quer um par das minhas algemas? - inclino a cabeça como um cão confuso com a pergunta descabida e então avalio o o sorriso sujo de Helena ao fazer a pergunta.

  - A menos que seja para acorrentar você a um canguru, não, eu não quero. - sibilo.

Helena abre a boca. Mas então desiste do que ia falar e pergunta:

  - Por que um canguru? - sua testa está franzida em confusão.

  - Tenho problemas com cangurus. - ela continua me encarando interrogativamente. - Sei lá, eles parecem bem diabólicos, na minha opinião. - gesticulo com as mãos e Helena sacode a cabeça.

  - Você parece bem maluca na minha opinião e eu não estou dizendo nada. - diz e decido que ela merece ser acorrentada a dois cangurus. - Mas, voltando para o ponto de que você teve a falta de educação de não comprar um presente para o nosso convidado...

  - Eu não comprei um presente nem pra você! - exclamo e ela dá de ombros.

  - Eu estou acostumada com sua recusa à magia do Natal, Oliver não.

  - Em primeiro lugar, a minha recusa é à futilidade de uma troca de presentes obrigatória quando podemos muito bem dar algo às pessoas que amamos quando bem entendermos. - ergo um dedo e ela faz uma expressão de tédio. - Em segundo lugar, Oliver não é um menino mendigo que terá seu coração partido por não ganhar um presente. Ele é a porra do segundo homem mais rico da cidade! - aponto.

  - Isso não é relevante.

  Conto até 2 antes de grunhir.

  - E o quê, em nome de Deus, é relevante?

  Helena para por um momento e então balança a cabeça rapidamente.

  - Você me fez esquecer o que eu ia dizer. - seu olhar é irritado. Espero por alguns instantes que ela recupere a linha de raciocínio, o que não acontece.

  - Não estou bem certa de que exista algo de relevante nessa história de presente. - bufo e ela acerta um chute sobre minhas costelas com a ponta dos dedos.

  - Seja legal com ele. - seu dedo erguido é uma ameaça explícita e eu suspiro.

  - Claro que vou. - asseguro. - O que você me pede sorrindo que eu não faço chorando? - Helena ri e se levanta da minha cama, beliscando minha bochecha antes de caminhar realizada até a porta.

  - Só mais uma coisa... - ela se vira e me encara. Ergo uma sobrancelha. - Use aquele vestido vermelho com zíperes. - minha sobrancelha sobe mais. - Você fica gostosa nele. - ela explica, e eu não tenho tempo de lhe dizer que não pretendo fazer parte do cardápio de ninguém antes que ela suma pelo corredor.

                                         ~×~

 

Eu vesti a porra do vestido vermelho.

  - Você vestiu o vestido vermelho. - Helena abre um sorriso lento e satisfeito ao me ver descendo às escadas.

  - Ela vestiu o vestido vermelho! - minha mãe grita, batendo palminhas, e assusta Frank, que quase desaba de cima do banquinho em que subiu para recolocar a estrela da árvore de natal de onde Manfred, meu gato de estimação, sempre a derruba.

  - Por que o vestido vermelho é tão importante? - ele pergunta, descendo com cuidado e só depois virando para mim. - Oh. Entendo. - seu sorriso de aprovação me faz querer soltar o gato em cima de toda essa família sem noção. - Você está bonita, Lis. - então ele se volta para Helena. - Quanto você a pagou para vestir algo diferente de moletom? - ela ri e abre a boca para responder, mas me adianto a isso.

  - Mais uma palavra e eu vestirei o moletom do ano retrasado. - expressões idênticas de pavor se espalham pelos rostos de todos, que erguem às mãos sobre a cabeça, num gesto de rendição. Eu devo admitir que a peça marrom era realmente pavorosa. 

  - Você arrumou o cabelo também... - Helena murmura, disfarçando o riso com uma tossidela contra a mão.

  Reviro meus olhos e desço os degraus restantes, caminhando até o sofá antes de respondê-la.

  - Nossos chefes irão jantar conosco. Eu não sou uma completa selvagem. - justifico, dando de ombros.

  - Apenas metade selvagem? - ela cutuca, sentando ao meu lado e pegando uma taça de champagne da mesinha de centro.

  - Essa metade está muito tentada a fazê-la engolir meu sapato. - grunho entredentes e ela apenas joga a cabeça para trás, rindo.

  - Você está linda, Lis. - me encara com o semblante orgulhoso pelo que vê.

  Sim, eu havia caprichado. Uma coisa é não querer fazer par com o cunhado da minha irmã, outra coisa bem diferente é dar a ele a oportunidade de zombar de mim. Ele já devia me achar desinteressante o suficiente, tendo como base seu esforço equivalente ao meu de evitar um encontro entre nós, eu não precisava que ele me olhasse e achasse que não estava perdendo grande coisa, mesmo.

Não que eu quisesse que ele achasse que estava perdendo alguma coisa.

É, não é sempre que eu faço sentido.

Apenas que eu não quero que Oliver Queen se convença de que ele é areia demais para o meu caminhãozinho, muito embora eu não tenha nenhum interesse na areia dele.

A risada estridente de Helena me faz encará-la e estalo a palma da mão em minha própria testa ao notar que deixei o pensamento escapar.

  - Confie em mim, você vai querer se enterrar naquela areia. - pisca, maliciosa, e eu lhe lanço meu melhor olhar letal.

  - Ray sabe que você elogia tanto os atributos do irmão dele? - ataco e ela não parece dar a mínima.

  - Ray sabe que o meu caminhão já está ocupado demais com ele. - provoca e eu descubro que também sei rosnar.

  - Estão discutindo sobre o caminhão de quem, querida? - Frank se manifesta, sentando na outra ponta do sofá e puxando mamãe para sentar no braço do móvel.

  - Felicity. - ela responde alegremente ao mesmo tempo em que respondo "Ninguém".

  - Desde quando você tem um caminhão, docinho? - mamãe inclina a cabeça, trocando um olhar de confusão com o marido.

  - Eu não tenho!

  - Mas...? - os dois tornam a olhar para Helena e, quando ela abre a boca para responder, a campainha toca.

  - Eu vou ver quem é! - levanto de um salto, feliz de poder sair de perto daquele bando de loucos.

  - Provavelmente a pessoa mais feliz em abrir portas que eu já vi. - escuto Helena rir e Frank murmurar "Mas que história é essa de caminhão?".

  Reviro meus olhos e marcho até o hall de entrada o mais rápido que meus saltos permitem, ansiosa para entregar Helena nas mãos de Ray para que ele a contenha antes que eu cometa assassinato.

  - Controle sua mulher, ou eu... - estaco quando a porta de madeira revela o alto, forte, imponente, ridiculamente gostoso em uma jaqueta de couro, com sorriso molhador de calcinhas e cabelo bagunçado por um capacete, Oliver Queen. - Merda.

  - Na verdade, é Oliver. - ele abre ainda mais o sorriso e sinto que meu rosto é capaz de explodir de vergonha.

  - Eu não quis dizer... - balbucio.

  - Tudo bem. - ele concede, inclinando a cabeça. - Você não é a primeira a dizer isso quando eu apareço. - brinca.

  - Onde está Ray? - meu cérebro parece estar debaixo da água.

  - Vindo. - ele dá de ombros, fechando o sorriso, graças a Deus. - E se você acha que ele é capaz de controlar Helena, eu aconselho a desistir da ideia. - ergue uma sobrancelha, fazendo referência à frase que eu dizia ao atender à porta. - Eu posso entrar? - questiona, quando minha única reação é suspirar em derrota. - Está congelando aqui fora. - explica e eu coro novamente.

  - Oh meu Deus, desculpe! - abro caminho e aceno para dentro. - Eu sou... - começo a me apresentar, mas congelo por um motivo diferente do frio quando ele tira a jaqueta num movimento fluído e expõe um tronco forte favorecido pelo suéter verde escuro. - Jesus.

  - Jesus? - ele se volta em minha direção com a testa franzida, mas logo a diversão inunda suas feições.

  - Felicity. Felicity Smoak. Irmã de Helena. - atropelo as palavras, constrangida até a morte, mas então Oliver abre um sorriso lento de lábios fechados antes de por as mãos nos bolsos e dar dois passos em minha direção, invadindo meu espaço pessoal e me fazendo prender a respiração.

  - Eu sei exatamente quem você é. - ele dá uma piscadinha que faz coisas com meu corpo, por mais que eu vá negar isso até a morte.

  Abro a boca para questionar sua afirmação, mas é claro que é nesse momento que Helena surge na sala.

  - Olá, Oliver, vejo que já conheceu minha irmã. - o sorriso dela me faz odiar os próximos minutos antecipadamente.

  - Aparentemente. - ele dá de ombros, fazendo pouco caso do fato, e sinto meu rosto corar, mais de raiva do que de constrangimento.

  Foda-se minha promessa para Helena e a beleza injusta desse homem! Viro as costas e deixo os dois no hall sem pronunciar mais uma única palavra.

Minha saída dramática rende o silêncio automático de ambos e, quando viro a cabeça ligeiramente para encará-los, pego o olhar direto do Queen um pouco abaixo da minha lombar. Ergo a sobrancelha e ele tem a decência de desviar os olhos antes que eu dobre a esquina do corredor que leva para a sala de jantar com um sorriso que há tempos não surgia em meu rosto.

Meu sorriso de caçadora, como Helena o chama.

Não, eu ainda não seria o par de Oliver Queen nesse circo armado por nossos irmãos, mas eu iria fazê-lo pagar por sua arrogância quando ele estivesse desejando mais que tudo que fôssemos esse par.

  - Você parece pronta para cometer um homicídio... - Frank analisa minha expressão de olhos semicerrados quando me aproximo. Sorrio. - Qualificado. Em primeiro grau. - acrescenta, o que me faz rir. - Ela está rindo. - comenta com mamãe, em tom preocupado.

  - Alguém está bem ferrado. - ela sentencia.

  No mesmo instante, "alguém" cruza o batente, ao lado de Helena, que segura o braço musculoso de Ray, que finalmente chegara.

Cruzo meus braços, quando Oliver se aproxima, e o encaro diretamente nos olhos quando ele dá um sorriso torto.

  - Boa noite, sr. e sra. Bertinelli. É um prazer finalmente poder jantar em sua companhia. - diz, polido, e eu consigo ver a aura fria de CEO escapando ao redor dele quando ele desvia o olhar caloroso que me dirigia na direção do meu padrasto e de mamãe, suas orbes azuis parecendo ter gelo congelando por detrás.

  - Conheço você desde menino, rapaz... - Frank dispensa com um aceno e sorriso leve. - E levando em conta que Ray já é da família... - acena a cabeça na direção do casal do ano, que troca um olhar bobo que me faz cogitar seriamente enfiar a cabeça num balde de ácido sulfúrico e abrir os olhos. - O mesmo se estende a você, Oliver. - Oi?????!?— Pode me chamar de Frank. - pisca e o loiro ri, assentindo.

  - De minha parte basta dizer que não gosto nenhum pouco de ser chamada de senhora, querido. - mamãe se levanta e caminha até ele, pegando-o de surpresa com um abraço apertado e dois beijinhos no rosto. Prendo o riso ao ver o embaraço evidente no homem, mas a vergonha ultrapassa meu divertimento quando ela descaradamente apalpa o abdômen dele. - Pode me chamar de Donna. - sorri e ele retribui, assentindo um pouco sem graça.

  - Okaaaay... Que tal começar o jantar? - me adianto, limpando a garganta para trazer alguma discrição à tona em mamãe, que tira suas mãos de Oliver e dá um passinho para trás, me encarando, assim como os demais, parecendo todos surpresos com minha ansiedade pela ceia. Talvez eu não devesse ter soado tão empolgada, embora "desesperada" descreva melhor o que senti ao ver minha mãe olhando para Oliver como se fosse trazer seu próprio caminhão para recolher aquela areia em particular. - Posso não ser a pessoa mais natalina nesta sala, mas eu me converteria ao cristianismo por um pedacinho daquele Chester. - Helena prende o riso, mamãe e Frank trocam um olhar confuso, Ray entorta levemente a cabeça e Oliver abre a boca.

  - Não é cristã? - ele pergunta, estreitando os olhos.

  - Fica pior. - é minha resposta evasiva à sua pergunta, não lhe dando tempo para formular alguma réplica antes de me encaminhar para a cozinha, puxando Helena (e consequentemente Ray) comigo.

  E, quando todos já estão acomodados, eu me pergunto se alguém lá em cima tem alguma coisa contra mim quando Oliver toma seu lugar ao meu lado com um sorriso mínimo de diversão.

  - Você é a primeira pessoa não-cristã que eu vejo comemorar o natal. - ele murmura, ajeitando o guardanapo sobre o colo.

  - Considere-se em seu dia de sorte. - bufo, lembrando o 1836829 motivo para eu odiar esse tipo de jantar em especial quando todos dão as mãos para orar. Não, o problema não é a oração. O problema é ter de dar as mãos. Principalmente tendo em vista para quem. Lanço um olhar resignado para Oliver ao lhe estender minha palma voltada para baixo, mas ao notar o brilho de humor em seus olhos quase mudo o trajeto para acertar aquela palma em cheio sobre sua face.

  Parecendo notar isso, ele se adianta e alcança minha mão com a sua, o calor de sua pele me atravessando como um raio ao contrastar com a frieza da minha. Oliver também parece perceber isso, fechando sua palma enorme ao redor dos meus dedos e friccionando levemente para aquecê-los, mas não tenho tempo de avaliar esse gesto antes de a voz forte de Frank levantar seu agradecimento pela comida, pela companhia e por todas as coisas às quais as pessoas agradecem nesse dia em especial. Quando o "amém" de todos é murmurado, mamãe rapidamente agarra uma taça cheia de champagne e o inferno, digo jantar, começa.

                                      ~×~

 

  Estico meus pés doloridos por baixo da mesa depois de arrancar os sapatos desconfortáveis discretamente e volto a me concentrar em passar despercebida enquanto todos tagarelam sobre vários assuntos paralelos.

É claro que Helena estragaria isso.

  - Algum bicho mordeu a sua língua, Lis? - ela pergunta, me encarando do outro lado da mesa com seus olhos azuis assustadoramente claros. - Estou me perguntando se, quando me disse que Billy beijava mal, não estava se referindo a isso. - trinco o maxilar e Oliver engasga, tossindo um pouco. Vou matá-la.

  - Não está mais saindo com William Malone? - mamãe me observa por sobre sua quinta taça de champagne e eu me pergunto se ela será capaz de se equilibrar sobre as próprias pernas quando levantar.

  - Billy e eu não exatamente combinamos. - explico, vagamente consciente de que o homem ao meu lado está bem atento ao que digo. - Ele era muito... - gesticulo com as mãos e faço uma careta no fim pela falta de um adjetivo suficiente.

  - Pegajoso. - Helena classifica e eu avalio que essa palavra provavelmente também seria usada para falar de um sapo. Helena sempre foi melhor com as palavras que eu. - Na verdade, acho que você só aceitou sair com ele para me irritar. - ela rola os olhos.

  - Claro. - sorrio sarcasticamente. - Minha vida gira ao seu redor, irmãzinha. - Oliver ri baixinho.

  - O fato de que topou um jantar com ele no mesmo dia em que marquei cinema com você, mês passado, e que foi ao cinema com ele no mesmo dia em que jantaríamos na casa de Ray, semana passada, é no mínimo interessante. - ela insiste e sinto meu rosto esquentar.

  - Se eu não a conhecesse diria que estava fugindo de algo. - Oliver se manifesta e eu viro meu olhar cortante em sua direção.

  - Você não me conhece. - sibilo.

  - Exatamente. - ele dá outra maldita piscadinha e a parte de mim que não arrepiou, fica tentada a arrancar seu sorriso prepotente com as unhas.

  - Eu não estava fugindo de nada. - respondo, ao invés, os mesmos sorrisos condescendentes nos rostos dos três.

  - Ah, e não? - ele, Ray e Helena questionam juntos.

  - Não. - eu me bateria pelo show de eloquência mas a vontade de bater em três outras pessoas é maior.

  - Claro. - o tom carregado de sarcasmo na voz do Queen me enerva.

  - Não é como se você fizesse muito esforço para aparecer nos programas aos quais eu compareci. - acuso, mandando às favas o bom senso.

  - Você quase parece magoada. - ele inclina a cabeça e eu conto até 10 mentalmente.

  - Desculpem interromper essa discussão sobre algo que não estou bem certo de que quero descobrir do que se trata, mas Donna e eu vamos subir. - Frank se levanta e todos giramos a cabeça para observá-lo praticamente rebocar mamãe até seu lado, desespero se apossando de mim ao me dar conta de que ambos estão mesmo de saída para seus aposentos. Esse não era o combinado. - Foi um prazer jantar com vocês, rapazes, mas temo que não poderemos ficar mais um pouco. É claro que Helena e Felicity ficarão felizes em fazer-lhes companhia pelo restante da noite.

  - "Feliz" não é bem a palavra. - murmuro, mas Oliver ouve e se inclina para mim, quando Frank termina de se despedir e começa a se afastar com mamãe para o andar de cima.

  - Eu poderia mudar isso, se deixasse. - sussurra e eu viro para ele, nossos narizes quase se tocando.

  - Isso... - faço um gesto expansivo com o indicador sobre ele e sua pose de predador. - pode funcionar com as mulheres que costuma levar para sua cama, mas temo que eu não vá entrar nessa lista. - empurro seu ombro com meu dedo e me esquivo de sua proximidade, mas ele agarra meu punho e me impede de levantar.

  - Foi você que disse que era meu dia de sorte. - retruca e eu movo o olhar para o outro lado da mesa, suspirando de alívio ao ver Helena e Ray distraídos um com o outro.

  - Retiro o que disse. - pisco e puxo minha mão da dele, afastando a cadeira, calçando os malditos sapatos outra vez e me erguendo. - Vou levar os pratos para a cozinha e dar um jeito neles, vai me ajudar com isso, Lena? - chamo a atenção dela, que abre a boca para responder.

  - Eu ajudo você. - Oliver se adianta e nós três o olhamos, surpresos.

  - Bom, sendo assim eu e Ray vamos para a sala ajeitar as coisas para assistirmos meu especial de natal preferido. - ela sorri e eu quase gemo com a perspectiva aterradora de terminar essa noite ainda pior do que começou.

  - Deus nos ajude. - suspiro e viro para o Palmer. - Fuja enquanto consegue. - aconselho, recolhendo os pratos, e dou as costas para a sala com a pilha de louças nos braços, seguida de perto por Oliver carregando os copos.

  - É tão ruim assim? - ele questiona com um sorriso leve, se encostando no balcão enquanto deposito os pratos na pia e pego o avental.

  - O especial de natal? - murmuro com um olhar resignado, colocando a peça e tateando em busca dos cordões para amarrá- lo em minha cintura. - Talvez eu não considerasse tão horrível se não fosse obrigada a assistir essa porcaria desde os 12. - reviro os olhos, mas prendo a respiração quando ele se aproxima sorrateiramente e puxa o laço das minhas mãos, se pondo bem atrás de mim para amarrar mais firmemente ao redor da minha cintura.

  - Pobre de você, srta. Smoak. - seu hálito quente faz cócegas na minha orelha, mas tão rápido quanto chegou ele se afasta. - Minha mãe também nos faz assistir o mesmo especial de natal todos os anos há um bom tempo, eu meio que achava que tinha escapado ao vir jantar aqui.

  - Pobre de você, sr. Queen. - devolvo com um sorriso provocativo e ele ri pelo nariz. - Por que acha que mamãe se embebedou e Frank tão gentilmente se dispôs a subir com ela? Sexo? Talvez, embora a mera ideia tenha ameaçado colocar pra fora todo o meu jantar. Mas o motivo número 1 com certeza é fugir do destino que aguarda a mim, você e Ray. - ele parece perdido e ao mesmo tempo intrigado com algo, embora ria do que eu disse.

  - Você é... - ele começa, mas então se interrompe para pegar um prato molhado de minhas mãos e secá-lo. O processo se repete 5 vezes e o silêncio continua, então ao passar para os copos, viro a cabeça para encarar o homem ao meu lado.

  - Eu sou...? - pressiono.

  - Diferente. - ele responde após hesitar em busca de uma palavra.

  - Tem um insulto aí em algum lugar. - estreito meus olhos e ele ri alto, o som reverberando entre nós e aquecendo meu corpo de um jeito que odiaria ter que admitir.

  - Ou um elogio... - sua sobrancelha grossa se arqueia, divertidamente.

  - Acho que não. - franzo o nariz e ele suspira.

  - Sério. - sua expressão suaviza e ele desvia o olhar, concentrando-se na tarefa de secar os copos enquanto explica. - Você é diferente de tudo que imaginei, diferente do que eu esperava. Muito mais complexa. - mesmo enquanto fala, sua mente parece estar trabalhando nas ideias.

  - Ainda acho que tem uma ofensa escondida por aí... - brinco e ele estala a língua.

  - Você é impossível!

  - Ah! Aí está. - pisco, secando as mãos e girando completamente em sua direção enquanto ele termina. - Finalmente, Queen. O insulto. - mas eu estou sorrindo quando digo isso.

  - Só seria um insulto se eu não estivesse adorando o quão impossível você se mostrou ser, srta. Smoak. - ele me lança um olhar indecifrável e então invade meu espaço pessoal outra vez, suas mãos grandes partindo para minha cintura. Tranco o fôlego e quase recuo, mas seus dedos deslizam tranquilamente até o laço em minhas costas, desfazendo-o e afrouxando o avental. - Acho que gosto de você. - murmura, o olhar varrendo meu rosto e as mãos ainda nos cordões do avental.

  - Não sei se o fato de você gostar de mim me deixa satisfeita ou preocupada. - estreito meus olhos e ele revira os dele.

  - Dá para abaixar essas armas? - ergue as palmas das mãos, recuando. - Pelo amor de Deus, mulher! Acabei de dizer que gosto de você.

  - Acha. Acha que gosta de mim. - corrijo tranquilamente. - Foi isso que disse para Susan Williams enquanto saía com ela para arrancar informações do concorrente, que por acaso era noivo dela? - cito a única menção dele nos tablóides que captou minha atenção.

  - Andou lendo fofocas sobre mim? - Oliver cruza os braços defensivamente e eu gostaria de poder dizer que fui rápida em desviar o olhar de seus bíceps maravilhosos, digo ridículos.

  - Você nega ter levado Susan para a cama com segundas intenções? - rebato, me livrando do avental e caminhando até a geladeira para pegar um pote de sorvete, porque ser obrigada a assistir o maldito filme não quer dizer que eu não poderia ter o mínimo de conforto.

  - Eu não sei bem como um homem poderia levar uma mulher para a cama sem segundas intenções. - o Queen atalha, bloqueando a entrada da geladeira com seu corpo volumoso, e eu cogito matá-lo por (1) estar entre mim e meu sorvete na atual posição, (2) ser condescendente ao extremo e (3) ter dividido os lençóis com uma vaca como Susan Williams.

  - Meu sorvete. - aceno com a cabeça para além de seus ombros largos, que impedem minha atual missão de tornar a noite suportável. - Você está bloqueando o maldito freezer.

  - Eu não dormi com Susan por informações. - ele sibila, imóvel, buscando meus olhos com os seus. - Eu só...

  - Dormiu com ela? - completo, prestativa e ele assente embora a contragosto. - Bom, isso faz de você apenas um idiota, em vez de um empresário desonesto. Ainda não decidi se isso melhora sua imagem. - digo com sarcasmo e ele abre a boca em choque.

  - Você tem noção de que eu sou seu chefe, não é mesmo?

  - A única coisa da qual eu sou capaz de ter noção no momento é do seu corpo me impedindo de ter o meu sorvete e eu realmente quero esse sorvete! - retruco, mais intimidada por minhas reações à proximidade do que pela irritação dele.

  - Oliver? Felicity? - a voz de Helena chega até nós, cortando o clima tenso com uma podadeira, o Queen dando dois passos largos para longe antes de me fitar seriamente outra vez.

  - Um segundo, Bertinelli. - grita para ela, mas seus olhos encaram os meus com frustração. Espero que ele diga mais alguma coisa, mas Oliver apenas me dá as costas e caminha para a sala.

  Uh-oh, acho que o irritei de verdade...

Agarro o pote de sorvete, não me permitindo um segundo pensamento sobre isso antes de desviar meu caminho para o quarto.

Helena poderia me forçar a assistir seu filme enjoativo ao lado do cunhado irritante dela, mas eu o faria dentro do meu pijama e armada com sorvete de flocos até os dentes, literalmente.

  Depois de trocar de pijamas pela sexta vez (e isso não tem nada a ver com uma preocupação psicótica sobre a opinião de Oliver a respeito da minha aparência), observo meu reflexo no espelho, me dando por satisfeita.

Uma calça legging preta e um suéter creme de mangas compridas.

Eu também soltei os cabelos e os desembaracei com os dedos para dar aos cachos um caimento mais natural, mas deixei a maquiagem no rosto. "Qual é, Oliver? É claro que eu durmo todas as noites assim. Aquela blusa do Star Wars e a calça larga de pirulitos? Nah, imagina se eu vestiria aquilo!"

Okay, eu sou patética.

Paro as mãos um segundo antes de beliscar minhas bochechas e agradeço ao barulho da notificação no meu celular por impedir que eu me preste a esse papel. Franzo o cenho ao desbloquear a tela e ver que se trata de uma mensagem de Helena, mas logo reviro os olhos.

 

"esqueci o DVD na casa da piscina, pode por favorzinhoinho ir lá buscar p mim? deixo vc ficar com a poltrona grande se for lá ;)"

 

É claro que Helena esqueceu seu maldito DVD na casa da piscina. Vez por outra ela e Ray acampam por lá e ela enche uma bolsa com todos os seus DVDs de filmes e séries para levar, muito embora eu duvide que os dois passem suas horas na frente da TV realmente.

Bufo e conecto meu celular no carregador, pousando o aparelho na minha mesa de cabeceira e calçando minha sapatilha mais confortável antes de pegar o pote de sorvete do frigobar e sair do quarto para buscar o DVD de Helena, de qualquer forma.

Desço as escadas e ignoro o barulho abafado de conversas na sala, pegando o corredor contrário e caminhando até a porta que dá para a saída lateral da nossa residência. No caminho iluminado através do deck da piscina até a segunda casa, abro meu pote de sorvete e dou algumas colheradas, no entanto acabo achando mais prudente e confortável deixar para voltar a comer quando estiver dentro da casa, com seu maravilhoso sistema de aquecimento.

Puxo a porta da frente, que não está trancada porque deu problemas na fechadura esse fim de semana, passando meu corpo para dentro e me certificando de não fechá-la outra vez. Três dias atrás, Frank comentou que o trinco da porta estava empenado de alguma forma, tornando impossível abri-la pelo lado de dentro, então sinto alívio por lembrar disso antes de aprisionar a mim mesma aqui. Coloco o pote de sorvete na mesinha de centro e caminho até a estante abaixo da grande TV de plasma, abrindo as gavetas a procura do tal DVD.

Eu já estou com os braços cheios dos mais variados títulos (eu duvido que alguém tenha um gosto tão eclético como Helena, que vai de Gatinhas e Gatões para Cinquenta Tons de Cinza) quando solto toda aquela parafernália no chão ao ouvir o barulho de passos no chão acarpetado.

Todo o meu corpo fica em alerta e eu giro, tudo isso não levando nem um segundo. Arfo, me deparando com as costas largas de Oliver Queen enquanto ele...

  - NÃO!

   click.

  ... fecha a porta.

  - Felicity? - eu não sei o que o assusta primeiro, minha expressão lunática e homicida ou o DVD de Titanic que acerta seu nariz. - Mas que diabos?! - sua mão cobre o rosto e ele me encara perplexo. - Ficou maluca? - grita.

  - Você acabou de nos trancar aqui, seu tremendo... - meu rosto está quente de ódio e a expressão de aviso dele apenas me faz explodir. - Filho da mãe!

  - Eu não nos tranquei, sua louca! - Oliver cospe. - De onde tirou isso? Mal encostei a porta e você já foi me atacando com seus DVDs voadores!

  - Nos trancou sim! - ignoro a segunda parte do que ele falou e Oliver apenas me dirige um olhar presunçoso que diz "Não seja ridícula, eu saberia se tivesse nos trancado.". - O trinco está emperrado. - digo entre os dentes e os olhos dele crescem um pouco. - Não abre por dentro. - minhas palavras saem tão baixas e sibiladas que não sei como não mordo as bochechas.

  - Oh. - ele vira para a porta, então para mim e então outra vez para a porta como que em dúvida da minha atestação.

  - Oh. - repito com ironia. - Vá em frente, sabichão, tente abrir. - cruzo meus braços.

 Em outras circunstâncias eu teria rido do olhar de irritação dele com meu tom debochado, mas nas atuais circunstâncias, enquanto Oliver força o trinco, que como eu já sabia, não abre a porta de jeito nenhum, eu só consigo respirar fundo ou vou matá-lo.

Oliver se interrompe depois da sétima tentativa e vejo seus ombros erguerem numa respiração funda.

  - Talvez haja uma... Outra porta? - seu tom é prático ao se virar em minha direção e eu só posso culpar a tensão que sua chegada causou pelo rosnado que escapa entre meus lábios semi abertos.

  - Há. - grunho, tendo quase certeza de que estou arreganhando meus dentes caninos para ele como uma selvagem. - Mas eu precisaria de uma chave para abri-la.

  - Você não está com a chave, suponho. - ele tamborila com os dedos longos sobre o portal, virando as costas para mim, uma decisão não muito inteligente tendo em vista quão perto estou de desmembrar cada parte de seu corpo.

  - Eu não deveria precisar da chave, suponho. - meus dentes rangem e os ombros dele estremecem um pouco, a tensão parecendo atingi-lo.

  - Você está me dizendo que...?

  - Isso. Você nos trancou na maldita casa! - minha voz começa baixa e termina beirando à histeria. Na verdade, a risada que solto logo após é puramente histérica e Oliver se volta para mim, parecendo assustado. Ótimo, ele deveria mesmo estar assustado.— Se eu não estivesse tão terrivelmente puta, eu riria do clichê de ser trancada com você, sozinhos numa casa cujos quartos estão todos trancados no momento. Helena poderia ter armado isso e eu não ficaria surp-... - interrompo minha verborragia insana quando isso me atinge na velocidade de um disco voador em chamas bem no rosto. - Oh, meu Deus! - fecho os olhos e sento de uma vez no sofá-cama, os DVD's se espalhando em todas as direções e meus olhos caindo sobre a manta, a única manta, dobrada estrategicamente sobre a mesinha de centro.

  - "Oh, meu Deus" o quê? - Oliver questiona, dando passos cautelosos em minha direção.

  - Eu sou tão burra! - agarro o pote de sorvete que deixei sobre a mesinha, abro e enfio uma boa colherada na boca. - Helena o mandou atrás de mim? - pergunto, apesar de já saber a resposta.

  - Ela me pediu para checar se você tinha vindo buscar o DVD. - os olhos dele se estreitam aos poucos, desconfiados. - E eu não acho que você seja burra, a propósito. - emenda rapidamente e eu reviro os olhos.

  - Não. Nós dois somos. - resmungo e como nais sorvete, antes de olhá-lo resignada. - Acabamos de cair feito patinhos em uma armadilha de Helena Bertinelli. - declaro e ele finalmente parece montar seu quebra-cabeça.

  - Você acha que...?

  - Conheço minha irmã o suficiente para ter certeza. - suspiro, meio achando graça de como fui tão facilmente passada para trás.

  - Merda. - quase me ofendo (okay, me ofendo) quando ele estala a língua desgostoso e se joga ao meu lado, tomando o pote de sorvete para si com naturalidade e comendo com a minha colher. - Conheço Ray o suficiente para saber que ele a ajudou com alegria. - diz eu jogo a cabeça para trás sobre o encosto do sofá porque sei que está certo.

  - É humilhante que minha irmã ache que precisa me trancar com um homem para que eu consiga um orgasmo. - só percebo que pus cada uma dessas palavras em uma frase dita em voz alta quando a cabeça de Oliver gira em minha direção mais rápido que uma engrenagem lubrificada. - Deus, não quis dizer isso! - cubro o rosto com as mãos, mas sinto até as orelhas quentes com a risadinha baixa que ele solta.

  - Faz tanto tempo assim? - é sua pergunta, e eu afundo ainda mais no sofá desejando evaporar sob seu olhar curioso.

  - Tanto tempo o quê? - me faço de desentendida, na esperança de que Oliver se compadeça e mude de assunto, mas compaixão não está nos planos dele.

  - Que não tem um orgasmo. - tusso, me engasgando com a saliva.

  - Não vamos ter essa conversa. - ergo o indicador e ele ri da minha expressão indignada.

  - Bom, dadas as circunstâncias ou nós conversamos ou...

  - Ou...? - apesar de saber que não vou gostar da resposta, me vejo questionando quando ele deixa a frase inacabada.

  Oliver sorri minimamente e se inclina para pousar o pote de sorvete outra vez na mesinha de centro. Então ele se volta para mim e se aproxima perigosamente, a mão encontrando meu joelho e a boca pairando sobre minha orelha. Engulo em seco, mas não me afasto.

  - Acho bom encontrarmos logo uma maneira inofensiva de passarmos essa véspera de natal ou eu serei obrigado a confessar que a ideia de Helena me parece prazerosa demais para não ser tentadora.

  - Você já está confessando. - aponto pateticamente e umedeço os lábios como uma idiota adolescente com tesão, embora a única parte que não seja verdade é a questão do "adolescente". Eu sou idiota. Afinal estamos falando de Oliver Galinha Queen, eu deveria ser imune a ele. E eu estou com tesão. Merda.

  - Estou. - os olhos dele caem sobre os meus lábios e cintilam. - Mas não sou o babaca que você acredita. - sua mão sobe pela lateral externa da minha coxa e eu me pergunto como isso está provando seu ponto, mas um suspiro traidor escapa dos meus lábios. - Eu teria prazer em lhe dar um orgasmo, Felicity... - meu nome sai áspero e eu prendo a respiração. - ... só pra saber se você ficaria mais corada quando eu te levasse lá e pra te ouvir gemendo meu nome enquanto se desfaz na minha língua, nos meus dedos. Eu. Adoraria. Isso. Cada segundo. - suas palavras são baixas contra mim, mas seus olhos não deixam os meus. - Mas só se você pedisse. - demoro um segundo para assimilar o sorrisinho presunçoso no canto dos lábios dele e então o empurro de cima de mim com a mão em seu ombro. Oliver nem mesmo resiste, se afastando e voltando a pegar o pote de sorvete como se não tivesse nada demais em propor o que ele acaba de propor.

  - Então o homem que estranha uma não-cristã por comemorar o natal, oferece orgasmos de presente no aniversário de Jesus. - digo com sarcasmo, puxando a colher das mãos dele e pegando uma porção de sorvete. - Fascinante.

  - Esse não seria meu presente para você. Não dou prazer como presente, posso ser generoso na cama, mas sempre aproveito cada segundo. - ele diz, tranquilo, estendendo a mão para que eu devolva a colher, o que faço ainda que anestesiada pela bizarrice da situação. Há meia hora, eu o insultei e ele parecia prestes a me chutar da sua empresa e foda-se se minha irmã é sua cunhada. Há 10 minutos, eu quase o matei com minhas próprias mãos por nos trancar aqui. Há 5 minutos, abraçamos o diabo no inferno da situação que Helena armou para nós, resignados. Há menos de 2 minutos, ele admitiu seu desejo por mim e me ofereceu um orgasmo. E então, ao invés de lhe dar um chute entre as pernas e caminhar para longe de seu alcance, eu estou aqui, sentada ao seu lado e dividindo meu sorvete com ele enquanto o ouço mencionar casualmente a possibilidade de me dar prazer e aproveitar cada segundo.

 Talvez eu não apenas esteja abraçando o diabo, como também flertando com ele e cogitando sentar em seu colo.

  - E se...? - freio a sugestão maluca e Oliver tira a colher de dentro da boca lentamente, passando a língua sobre os lábios depois para limpar os restos do sorvete. Antes que perceba o que estou fazendo, levanto a mão e limpo seu queixo com o polegar.

  - E se...? - ele insiste, inclinando a cabeça, mas ao invés de tirar minha mão de seu rosto, apenas deslizo os dedos por seu maxilar, apreciando a textura da barba por fazer.

  - Podíamos fazer um jogo. - sugiro e ele ergue a sobrancelha. Recolho minha mão e entrelaço meus dedos. - Já que vamos ficar trancados aqui, pensei que poderíamos pelo menos ter alguma diversão.

  - De que tipo de jogo estamos falando? - Oliver estreita os olhos. - Strip poker? - palpita, mas há zombaria em seu olhar e em seu sorriso.

  - Algo mais inocente para a noite de Natal seria interessante. - meneio a cabeça.

  - Pensei que você fosse a pessoa menos natalina num raio de 100 km. - ele ri.

  - Se você ganhar o jogo... - o ignoro. - Terá direito a uma pergunta ou um desafio. - disparo, antes que me arrependa. - O mesmo vale para mim.

  - De que tipo de jogo estamos falando? - ele repete.

  - 21, mas sem strip. - digo e o sorriso lento dele me arrepia.

  - Acredite em mim, Smoak. Se eu ganhar muitas partidas, isso vai ter strip. - pisca e eu deveria ter recuado.

  - Você não vai ganhar. - digo ao invés.

                                         ~×~

 

  Sentamos juntos no tapete, de frente um para o outro, então eu consigo ver o sorriso presunçoso de Oliver quando ganho a primeira partida. Ele não parece afetado, tendo até mesmo pedido mais uma carta quando ambos sabíamos que suas chances de passar de 21 eram enormes. Por algum motivo, ele queria que eu ganhasse primeiro.

  Mordo meu lábio e penso sobre algo que queira realmente saber.

— O que o fez vir hoje? - questiono, realmente curiosa.

Oliver ergue seus olhos para mim e, sem nem mesmo precisar pensar, responde.

  - Você. - o sorriso pequeno que ele me oferece é a coisa mais surpreendentemente boa que já vi.

  - Como assim?

  - Não sei se quero te contar... - seu tom é debochado ao se endireitar e cruzar os braços. - E que eu saiba, você só tem direito a uma pergunta. - muda de assunto e me estende sua mão grande para pegar o baralho.

  - Você vai me contar. - coloco as cartas em sua mão e me surpreendo quando ele leva a minha até seus lábios e a beija, sua barba fazendo cócegas em minha pele.

  - Mais uma partida e quem sabe tenha sorte. - pisca e dá um puxão de leve antes de me soltar e colocar a primeira carta virada para cima.

  - Merda. - digo, quando ele ganha a próxima partida.

  - Na verdade é Oliver. - brinca, repetindo a frase de quando nos conhecemos.

  - Dá no mesmo. - estiro a língua e ele ri.

  - Você disse que não é cristã. O que você é? - fico alguns segundos assimilando a pergunta. Eu esperava outra coisa. Não o tipo de pergunta que indica interesse em quem eu sou. - Budista? Hindu? Atéia?

  - Judia. - respondo e ele ergue as sobrancelhas.

  - Legal. - diz, simplesmente. - Sei muito pouco sobre o judaísmo. - ergue os olhos como se estivesse buscando alguma informação no arquivo de seu cérebro. - Hannukah?

  Tento evitar, mas um sorriso pequeno e bobo se espalha por meu rosto com sua expressão quase carinhosa. Isso nem mesmo combina com Oliver, mas algo me faz pensar que eu não sei realmente nada desse homem.

  - Obrigada. - digo simplesmente e ele embaralha as cartas outra vez antes de me entregar.

  Outra vitória de Oliver.

Aguardo ansiosa enquanto ele me observa, pensativo.

  - Qual foi o melhor presente de Natal que já recebeu?

  Eu não pensava muito nisso. Fazia muito tempo que eu já não me importava tanto com a data em si. Mas houve uma época, quando a vó de Helena era viva, que eu costumava gostar de montar a árvore com ela e comer seus brownies maravilhosos. Nana Bertinelli era uma figura. Qualquer feriado era brilhante com ela. E ela nos amava igualmente, mesmo que eu não fosse sua neta de verdade.

Olho para Oliver e de repente sinto uma onda de calor e gratidão por ele me fazer lembrar dela e do quanto ela me deu amor e paz. É bom ser preenchido por esse tipo de lembrança.

  - Um box de Harry Potter, todas as primeiras edições de todos os livros. - meus olhos brilham ao lembrar do presente de Nana. - Quando eu tinha 11 anos.

  - Nunca li. - ele dá de ombros.

  - O quê?! - praticamente berro com ele, ferida até a alma, vendo a atração se espatifar aos meus pés.

  Oliver gargalha e então eu sei. Ele está blefando.

  - Grifinória ou Corvinal? - ele inclina a cabeça para o lado de um jeito que me faz querer pular em seu colo. Ou é a pergunta em si que causa essa vontade.

  - Corvinal. - respondo, não ligando nem um pouco que esteja respondendo outra pergunta sem que ele tenha vencido outra partida.

  - Imaginei, só fiquei na dúvida porque você tem todo esse arzinho sabe-tudo da Hermione. - aponta e acho que ele acabou de me ganhar.

  - Sempre tive um carinho especial pela Luna Lovegood, na verdade. - dou de ombros.

  - Loira, corajosa e excêntrica de um jeito adorável. - ele sorri. - Parece com alguém que conheci recentemente. - pisca e estico meu pé para acertar sua coxa com um chute leve.

  - Qual a sua casa? - questiono, mas Oliver ergue o baralho.

  - Tente as cartas, Smoak. - lembra e eu reviro os olhos.

  Perco outra vez e bufo.

  - Acho que você está trapaceando.

  - Acho que 21 não é o seu jogo.

  - Pergunte.

  - Se pudesse escolher seu presente de Natal esse ano, o que seria?

  Mordo o canto do meu polegar e analiso a pergunta dele. O que eu queria?

Observo Oliver um instante, seus olhos azuis esperando minha resposta com curiosidade e interesse sincero. Talvez eu tivesse cometido meu maior erro ao pensar nele como um babaca que apenas brincava de colecionar calcinhas ou ele é realmente muito bom na arte de fazer uma mulher se sentir a única.

  - Não sou tão ligada a coisas materiais, na verdade. Então não poderia te dizer o que especificamente gostaria de ganhar. - encolho os ombros, respondendo. - Acho que o presente ideial para mim é feito de duas coisas. Do quanto a pessoa mostra de interesse na escolha e do quanto o presente significa em termos de sentimento para mim. Afinal, o inteiro propósito de dar presentes não é o preço, mas o valor do que se dá. Tem diferença. - concluo, e Oliver desliza a ponta dos dedos sobre seus próprios lábios, me observando com intensidade. - O que foi? - fico inquieta com sua atenção, calor se acumulando em meu pescoço.

  - Você fica tão linda quando fala sobre o que acredita. - ele sussurra, mas as palavras tem força em sua entonação. - Imagino que nem faça ideia do quanto. - balança a cabeça e o sangue sobe para minhas bochechas.

  - Não seja bobo. - dou uma risada nervosa e agarro o baralho para dar as cartas. - A-há! Ganhei. - ele ri pelo nariz com minha empolgação e o calor de seus olhos pareceria com amor, se eu não soubesse que nos conhecemos há apenas algumas horas. Ele provavelmente é um profissional em fazer esse tipo de olhar para toda mulher que conhece. Como Susan. Trinco o maxilar.

  - Estou pronto. - ele bate no próprio peito, esperando a pergunta e, quando me dou conta, já falei.

  - O que você teve com Susan Williams? - o olhar dele perde o brilho e parece quase chateado. Me arrependo automaticamente. Ele vinha me fazendo perguntas sobre mim e trazendo boas lembranças para aquecer meu coração. De minha vez, eu havia aproveitado minha chance para cutucar suas feridas. Deus! Será que ele gosta dela? Meu cérebro se contorce em repulsa pela ideia. - Deixa pra lá, não quero saber. - desisto, com medo da resposta, e ele me encara com paciência.

  - Não foi como a mídia fez parecer. - suspira, e eu demoro alguns segundos para assimilar que ele vai mesmo justificar seu envolvimento com Susan, mesmo depois de eu tê-lo insultado sobre isso. - Eu dormi com ela. Uma vez só. Estava bêbado e nem sabia quem era a maldita mulher. - sua voz é entediada enquanto ele solta as frases. - Ela ainda não estava com Adrian Chase. - acrescenta a informação. - Pode ser que eu tenha esquecido seu nome e ignorado todas as suas ligações depois que deixei seu quarto no meio da noite. - esfrega a nuca e me olha um pouco antes de seus olhos viajarem por toda a sala com curiosidade. - E pode ser que ela tenha ficado bem puta sobre isso. - dá de ombros e eu começo a montar o quebra-cabeça. Susan jamais gostou de ser ignorada. - Ela é uma jornalista, então...

  - Não foi difícil espalhar a história de que você dormiu com ela em troca das informações de Adrian. - concluo e ele assente.

  - E é lógico que para Adrian vale a pena ser o pobre alvo de espionagem empresarial mesmo que isso envolva assumir que sua noiva já dividiu os lençóis com seu concorrente. - revira os olhos. - Infelizmente para eles, a patente do chip que fui acusado de tentar roubar, jamais foi minha, e sim de Ray. - dá um sorriso mínimo. - Isso lançou por terra a briga pela posse dos direitos sobre a invenção, ainda que para a mídia seja mais lucrativo brincar com uma teoria de suposições acerca desse "triângulo amoroso" que nunca existiu. - conclui.

  - Isso é bem... - balbucio, só agora lembrando de ter passado os olhos sobre uma menção ao projeto de um chip que Susan supostamente tinha sido pressionada a entregar para Oliver. - Desculpe. - murmuro no final, mas ele aparentemente não contou tudo isso para conseguir um pedido de perdão.

  - Pelo menos ela me ensinou a lição de não pular na cama de desconhecidas. - dá de ombros. - O que tem entre você e Susan? - ele estreita os olhos e cruza os braços.

  - Ela é uma cobra. - estalo, o jogo esquecido, e ele ergue a sobrancelha como quem diz "me conte algo que não sei". - Estudamos juntas no ensino médio. Competimos é a palavra mais exata. Ela nunca jogou limpo. Diferente de mim, Susan era nerd e gostosa ao mesmo tempo, então tinha mais armas do que verdadeira inteligência. - explico por alto, mas paro ao ver a careta de Oliver. - O que foi?

  - Diferente de você? - rebobino tudo que falei e me dou conta do que ele está questionando ao ver seus olhos percorrerem meu corpo avaliativamente.

  - Eu não era assim no ensino médio. - rio pelo nariz. - Eu era gótica, cabelos escuros, couro, roupas pretas, piercings e essas coisas.

  - Me julgue, mas isso também me parece bem quente. - encolhe os ombros e eu não consigo evitar rir. - Duas coisas. - ergue os dedos. -  Tenho certeza de que você é mais inteligente do que Susan bilhões de vezes. - abro a boca para questionar isso. - Sou irmão do seu cunhado e você trabalha na minha empresa gerenciando todo um andar que diz "Depto. de TI" na entrada, mas se lê "Nerdapallooza". É óbvio que é um gênio. - explica e eu reviro os meus olhos, mas acho graça.

  - Okay, espertinho. - me aproximo mais dele e cruzo os braços, assim como ele, me arrastando pelo tapete até parar diretamente à sua frente. - Qual a segunda coisa?

  Ele faz um gesto com o dedo me chamando para mais perto, e eu inclino minha cabeça para ouvir seu sussurro.

  - Você é muito mais gostosa que Susan, também. - diz e eu tranco o ar quando sua boca se encosta no arco da minha orelha, embora nossos braços cruzados ainda estejam entre nossos peitos. - Não faz ideia do quanto me arrependo por ter demorado tanto em ceder aos convites de Ray e Helena. - seu riso baixo arrepia cada pelo do meu corpo e eu afasto a cabeça para olhar seus olhos, mas não faço nenhum movimento para longe dele.

   - Ainda não gosto de você. - sussurro provocativa.

  - Okay. - ele apenas desliza seu polegar por cima do meu joelho, espalhando arrepios mesmo sobre o tecido da legging.

  - Não vamos ser um casal. - pontuo, repentinamente nervosa, e ele parece achar isso divertido.

  - Está tentando convencer a mim ou a si mesma? - provoca.

  - Nós nem nos conhecemos! - meu sussurro é defensivo e eu percebo que o fato de que eu estou começando a gostar de Oliver somado à atração existente entre nós está me apavorando.

  - Culpa de nós mesmos e acho que estamos resolvendo isso essa noite. - ele atalha, acenando ao redor da sala e para o baralho esquecido ao nosso lado, fazendo menção ao jogo.

  - Você não quer me conhecer. - solto e Oliver congela, tirando a mão de mim. - Só quer um passe livre para minha cama. - desejo tomar as palavras de volta quando ele me encara com o rosto rígido.

  - Eu estou tentando ter uma noite de Natal agradável. Tentando tornar as coisas mais fáceis entre nós, desde que estamos presos juntos. - seu tom diminui e ele agarra as laterais do meus braços, aproximando o rosto. - E isso não tem nada a ver com o fato de que estou tão fodidamente atraído por você que meu corpo dói, porque caso contrário, eu teria te empurrado neste maldito tapete macio e te beijado, tocado e acariciado até você admitir que me quer na mesma intensidade. Você sabe que eu conseguiria. Dentro de você, sabe que a atração existe. - seus olhos fitam um e depois o outro dos meus, me desafiando a negar o que ele disse, mas não posso. - Mas não é isso que eu quero.

  - E o que você quer? - sussurro.

  - Eu já lhe disse. Vim por você. Mas eu não quero seu corpo, seus beijos, uma noite, por mais quente que eu sei que ela seria. - suas palmas deslizam por meus braços. - Jamais seria o suficiente. Não com você. Então, da próxima vez que pensar em me dizer que tudo que quero é entrar nos seus lençóis, saiba que eu esquecerei cada maldito motivo pelo qual aceitei o convite de Ray e vim até aqui, e quando sairmos dessa maldita casa, essa noite será a última vez você precisou dividir espaço comigo. - seus dedos me soltam e, antes que eu perceba o que estou fazendo, agarro seu suéter pela barra.

  Mais cedo nessa noite, a última coisa que eu queria era ter que dividir espaço com ele, certo? Então por que eu não o deixo fazer exatamente o que prometeu? Travo meus olhos no intenso azul dos dele, encontrando minha resposta.

Oliver havia simplesmente se mostrado uma incógnita. Uma incógnita é muito mais tentadora do que um estereótipo, em especial quando esse estereótipo é o de playboy bilionário.

Ele é um bilionário. Já foi um playboy. É controverso e tem a personalidade borbulhante. É frio e quente, tudo ao mesmo tempo. Reservado e audacioso. Como um leão. Predador. E eu me vejo ansiando por ser sua presa, apesar de todas as minhas reservas.

  - Você me assusta. - murmuro e ele franze a testa.

  - Como assim? - seus olhos correm pelo meu rosto, procurando uma explicação.

  - Não era pra você ser... - faço um gesto amplo sobre ele com a mão livre e um pequeno sorriso desponta em seus lábios. - Assim.

  - Acredite... - Oliver para e solta uma risadinha. - Eu tive a mesma reação quando descobri que você é... - faz o mesmo gesto sobre mim. - Assim.

  - Isso quer dizer que...?

  - Acho que Helena e Ray podem ter um pouco de razão em querer testar uma interação entre nós. - faz uma careta desgostosa e eu gemo de revolta. - Eu sei, é horrível dar razão a eles.

  - Odeio quando Helena está certa. Enterraria minha cabeça na privada antes de dizer a ela que ganhou.

  - Preferia dar meu braço a um pitbull a admitir que Ray acertou sobre mim. - Oliver garante.

  - Então...?

  Oliver põe distância entre nós no tapete e meu peito afunda quando penso que ele está me rejeitando, mas ele apenas pega o baralho e me estende, dando as cartas no espaço que abriu. Eu ganho.

Lambo os lábios e o encaro.

  - O que você quis dizer quando falou que veio aqui por mim? - pergunto e ele toma uma respiração profunda, me encarando.

  - Eu vi você. - diz simplesmente e eu franzo a testa, sem entender. - Antes. - ele coça a nuca. - Tenho observado você o último mês inteiro. - solto uma risada e ele ergue uma sobrancelha.

  - Desculpa, pareceu que você quis dizer que tem me observado durante todo o ultimo mês. - digo, atropelando as palavras.

  - Foi o que eu disse. - o sorriso no canto dos lábios dele é, ao mesmo tempo, divertido e envergonhado. Pisco. Uma. Duas. Três vezes. - Na empresa. Tenho passado na frente da sua sala todos os dias apenas para ver você. - encolhe os ombros, tímido.

  - Por quê? - balbucio.

  - Eu precisava de um técnico para resolver um problema que tive no meu laptop. - Oliver olha para mim e então dá uma risada curta. - Você estava falando para o seu vaso de planta sobre como Helena é uma filha da puta obcecada por controle que achava que podia lhe dizer o que fazer ou com quem sair.

  - Ai, não. - arregalo meus olhos, envergonhada por ele ter visto um dos meus épicos monólogos.

  - E você talvez tenha mencionado algo sobre como eu não iria ter sua calcinha na minha coleção por mais insistente que sua irmã fosse em vender sua virgindade não existente para mim. Só estou parafraseando. - ele parece se divertir quando eu cubro o rosto, mortificada. Eu me lembro de ter dito essas palavras.

  - Deus, por favor, abra esse chão sob o meu maldito traseiro. - sussurro.

  - Eu fiquei meio encantado, na verdade. - Oliver atalha e eu descubro os olhos para vê-lo me fitando com algo semelhante a admiração. - Há algo no seu rosto quando você discute ou defende seu ponto de vista, na cor das suas bochechas... Há algo sobre você que simplesmente me atropelou como um caminhão desgovernado.

  - Porque não entrou na sala?

  - Não queria estragar a impetuosidade do seu discurso de ódio, constrangendo você. - ele dá de ombros e eu rio puramente de nervoso.

  - Eu estou constrangida, agora. - aponto.

  - Estou vendo. - ele estica a mão e acaricia a lateral do meu rosto com o dorso de sua mão grande. - Mas o que precisa saber é que a partir daí eu comecei a descer todos os dias no mesmo horário para passar na porta da sua sala e quem sabe ter a sorte de ouvir você discutir com sua samambaia. - há um sorriso pequeno em seus lábios enquanto meu rosto cora mais. - E desenvolvi ciúmes da samambaia, que tinha direito a ouvir seus argumentos. Ciúmes de Helena, que podia trocar insultos carinhosos com você incansavelmente e fazê-la sorrir. Ciúmes de Ray, que podia entrar a qualquer horário na sua sala para pedir sua opinião sobre seus projetos. Eu queria ter me aproximado antes, mas eu sabia que você estava me evitando. - seu sorriso diminui um pouco. - Posso estar encantado por você há quase um mês, mas sou um homem e tenho algum orgulho. - explica, puxando a mão aos poucos.

  - Mas você veio hoje. - murmuro.

  - Parece que meu orgulho não é tão grande assim. - ele meneia a cabeça, dando um sorriso pequeno e autodepreciativo.

  Alguns segundos se passam e apenas olhamos um para o outro em silêncio.

E então eu sei o que quero nesse Natal.

  - Dê as cartas. - limpo a garganta e Oliver parece meio decepcionado, mas obedece, expondo um 3 de ouros. Nunca estive tão determinada a ganhar uma partida de 21. - Mais uma. - um 10 de paus. Mordo o lábio. As chances parecem ruins agora, e eu poderia passar do valor. Respiro. - Mais uma, por favor. - prendo o fôlego, mas o sorriso que se espelha por meu rosto ao ver o 8 de copas aquece meu corpo. Encaro a Oliver e ele está inexpressivo. - Não quero fazer uma pergunta. - digo e a sobrancelha dele sobe, seu semblante parecendo mais interessado nas minhas intenções.

  - Qual o seu desafio, Smoak? - pergunta e eu mal assimilo isso antes de me pôr sobre os joelhos e puxá-lo pela nuca até minha boca, seu ofegar perplexo exalando sobre meus lábios e suas mãos apoiando-se cegamente em minha cintura quando inclino minha cabeça para mudar o ângulo e escovo minha língua no canto de sua boca, a barba pinicando deliciosamente minha bochecha. Suspiro e derreto quando ele permite a passagem de minha língua e briga pelo controle do beijo com a sua, seu corpo parecendo assimilar gradativamente meu ataque, seus dedos curvando-se e agarrando os lados do meu suéter para me trazer tão perto quanto possível. Afasto a cabeça em busca de ar e encontro seus olhos de um azul entorpecente.

  - Não é um desafio. - respiramos o mesmo ar com dificuldade e seus olhos vagueiam por meu rosto, mapeando cada pedaço. - É um pedido.

  - Peça. Qualquer coisa. - ele espalha beijos molhados pelo meu maxilar, tornando o pensamento uma habilidade impossível. - Eu lhe darei o que quiser.

  - Eu quero você. - disparo e ele me faz engolir as palavras em um beijo rápido e possessivo. - Quero que seja meu essa noite. - consigo forçar as palavras contra seus lábios quentes e macios.

  - Você me tem.

                                    ~×~

 

A primeira coisa que penso enquanto Oliver me deita sobre o tapete é que ele estava certo, é realmente muito macio.

A segunda coisa que penso é que esqueci o que estava pensando quando seus lábios tocaram meu pescoço.

  - Meu Deus. - suspiro alto e sua risada vibra contra minha clavícula.

  - Oliver. - ele corrige. - Seu Oliver. Você tem mania de confundir meu nome. - provoca, arrastando beijos pela linha da minha garganta, mordendo meu queixo e então tomando minha boca em outro beijo intenso.

  - Meu. - repito, apaixonada pela palavra, meus dedos correndo livremente por suas costas e o puxando contra mim, desesperada por contato.

  - Calma, anjo. - ele beija meu nariz, suas mãos subindo por minhas panturrilhas e segurando meus joelhos para separá-los e encontrar seu lugar entre minhas pernas.

  Abafamos gemidos iguais na boca um do outro quando nossos quadris se encaixam num enlace incrivelmente perfeito.

Oliver para de me beijar e suas mãos seguram as laterais do meu rosto, seus olhos passeando por cada canto de mim enquanto seus polegares afastam meu cabelo da minha face.

  - Você é tão... - ele fecha os olhos e encosta a testa na minha, respirando com dificuldade. - Meu Deus, linda é tão fútil perto do que você é, Felicity. - murmura com uma adoração que transforma cada pedaço de mim em gelatina.

  Desço as mãos até alcançar a beirada de sua camiseta e a puxo de uma maneira quase frenética, ganhando outra risadinha de Oliver antes que ele segure meus braços e tire minhas mãos da sua roupa.

  - Não vou transar com você num maldito tapete no chão, Felicity. - ele explica para a interrogação em meus olhos.

  - Podemos subir no sofá. - aponto sem demora e ele encosta a boca no meu ombro, meio gemendo meio rindo.

  - Não posso fazer isso. - ele sussurra.

  - Não é isso que seu corpo está dizendo. - ondulo meu quadril abaixo dele, sua ereção bastante evidente contra mim o fazendo puxar fôlego e prender a pele do meu pescoço entre os dentes.

  - Caralho, não me tente. - ele põe uma distância maior entre as partes inferiores dos nossos corpos e segura minha cintura, me mantendo quieta.

  - Qual é o problema? - franzo a testa.

  - Eu não quero ser o homem que você acreditava que eu sou. - ele exala e eu sinto meu coração aquecer tanto que acho que pode explodir. - Eu não quero que pense que estou apenas usando meu passe livre para sua cama. - menciona as palavras que usei mais cedo essa noite.

  - Estamos no tapete. - comento  e ele me olha com o que classifico como seu olhar de "CEO quase demitindo você". - Okay. - respiro fundo. - Acontece... - contorço meus braços até libertá-los e então agarro as laterais de sua camiseta, puxando-o para mim. - ...que eu quero isso. Quero muito.

  Oliver morde os lábios e olha para cima, procurando o próprio controle, daí seus olhos voltam para meu rosto e ele resfolega, abaixando a cabeça para beijar meu pescoço antes de sussurrar em meu ouvido.

  - Não vou fazer sexo no tapete com você. - murmura e, quando vou começar a protestar, ele mordisca meu lóbulo. - Mas isso não me impede de te fazer sentir muito bem. - murmura.

  - Quão bem? - arqueio as costas e aperto minhas coxas ao redor de seus quadris, trazendo-o para mais perto, desejando que eu pudesse estar sob sua pele.

  - Tão bem quanto no seu segundo melhor orgasmo... - ele sopra as palavras, as mãos descendo por meu corpo e se infiltrando no meu suéter para tocar a pele nua da minha cintura, o choque de seus dedos percorrendo todo o meu corpo em ondas maravilhosas de arrepios.

  - Segundo? - não consigo raciocinar com aquelas mãos subindo atrás das minhas costas em busca do fecho do meu sutiã.

  - O melhor vai ser quando eu finalmente puder estar dentro de você. - seus olhos procuram os meus e o brilho neles me faz querer me esfregar em seu corpo. O que eu posso fazer. Então eu faço. - Puta merda. - ele geme, soltando os ganchos da minha lingerie e então puxando o suéter e o sutiã para fora do meu corpo ao mesmo tempo. - Puta. Merda. - repete, olhando para o meu corpo como se eu fosse a mulher mais desejável da face da terra. Eu sei que não sou, mas com Oliver me olhando assim, eu me sinto linda, mais que isso até. - Você é perfeita. - suas mãos tremem quando ele espalma as duas na altura das minhas costelas, os dedos se abrindo e se moldando à curva da minha cintura. - Pelo amor de Deus, não me chute depois dessa noite, Smoak, eu tenho que passar alguns anos catalogando cada pedaço de você e acho que ainda não serão suficientes. - sorrio, mas a risada logo se transforma em um gemido vergonhoso quando as palmas grandes e quentes de Oliver sobem e cobrem meus seios, ar escapando entre seus lábios num sibilo de prazer quando lhes dá um aperto suave. Então ele abaixa a cabeça e beija o espaço entre eles, sua língua saindo para provar minha pele e depois seus dentes. Suspiro e o agarro pelo colarinho, puxando sua cabeça para mim e lhe dando um beijo faminto para que ele saiba que já estou me sentindo muito bem embora ele mal tenha começado.

  - Tire isso. - repuxo o tecido de sua camiseta com meus dedos trêmulos.

  - Smoak... - a advertência em seu tom me faz rir e eu busco seus lábios com os meus outra vez.

  - Só quero sentir sua pele. - peço, beijando seu queixo. - Por favor.

  Oliver solta um rosnado baixo e ergue o tronco para arrancar o tecido de si, antes de voltar a encostar seu peito, agora nu, contra o meu, também nu. Gememos juntos.

  - Mais alguns "por favores" como esse e eu lhe darei minha parte na empresa com alegria. - ele beija meu ombro e sinto mais do que ouço o riso em sua voz.

  - É bom saber que você é tão suscetível a um simples "por favor"... - provoco, apesar de estar ofegando, enquanto minhas mãos descem acariciando suas costas.

  - Ao seu "por favor", apenas. - ele pontua e sinto sua ereção pressionando mais duramente entre minhas pernas, seus lábios pecaminosos rastejando por minha pele até se fecharem sobre meu mamilo esquerdo, puxando para dentro de sua boca quente e me fazendo fechar os olhos com força, impotente contra o ataque habilidoso de sua língua e seus dentes. Mal sinto seus dedos puxando minha legging para fora do meu corpo quando ele repete sua tortura maravilhosa no outro seio, que doía com a necessidade de seu toque.

  Somente quando ele toca suavemente em meu centro latejante sobre o tecido de algodão da minha calcinha arruinada pela minha excitação, meu desespero por ele alcança seu nível máximo, minha pélvis se empurrando quase por contra própria contra a palma de sua mão.

Acho que nunca estive tão molhada em minha vida.

Oliver dá um gemido sofrido.

  - É muito bom saber isso. - ele murmura contra meu umbigo, sua voz vibrando em minha pele, mas estou desejosa demais para sentir vergonha de admitir o auge da minha libido em voz alta. Acho que consigo gemer seu nome num tom mais necessitado do que pretendia, porque ele rasteja por meu corpo até me beijar com força, minhas mãos agarrando sua cintura e as unhas se cravando em suas costas. Então ele para e fala dentro da minha boca, ao mesmo tempo em que estou super consciente de sua mão entrando em minha calcinha e seus dedos brincando em minha entrada, deslizando em minha umidade superficialmente. - Você está enlouquecedoramente quente e molhada aqui. - ele ofega, um dedo se aprofundando e entrando em mim. Ele solta um lamento de prazer. - Pequena, quente e molhada. - geme. - Está me deixando maluco tentar adivinhar o seu gosto. - confessa, seu membro duro se apertando contra minha coxa. - Eu vou provar você. - não é um pedido, mas eu assinto. - Vou lhe dar mais prazer do que você já sentiu e vou arruiná-la para os outros homens, para que você nunca mais consiga relacionar prazer com alguém além de mim. - seu tom é urgente e eu teria rido de seu comentário presunçoso, mas não rio. Porque ele está certo. Oliver já me arruinou para os outros homens.— Depois que você gozar na ponta da minha língua, eu vou te beijar e fazê-la sentir seu sabor, então nós vamos nos deitar juntos nesse tapete e dormir com cada parte de mim em cada parte de você. - suas mãos estão tirando minha calcinha de mim, mas eu estou hipnotizada por seus olhos, por suas palavras. Porque parece demais com amor.— Amanhã, você vai parar de fugir, Felicity. Vai ter que parar. Você vai acordar nos meus braços e só vai correr outra vez se for na minha direção. Porque... - ele para e beija minha testa com um carinho inesperado no tipo de momento que estamos compartilhando. Depois beija meu nariz, meu queixo, minhas bochechas e então meus lábios. - Você me arruinou para todas as outras mulheres há um mês e eu não quero mais que fuja de mim. Nunca mais. - pisco. Porque estou segurando as lágrimas, completamente nua abaixo do corpo grande, pesado e caloroso do homem que se mostrou a melhor surpresa de natal que já recebi.

  - Eu não vou. - o suspiro aliviado que parte dele infla meu coração.

  - Obrigado. - diz. - Vai aceitar sair comigo em um encontro? - seu tom ansioso me faz gemer e me esfregar contra sua coxa musculosa.

  - No momento, eu preciso muito da sua boca em mim. - dou um sorriso malicioso para ele e seus olhos escurecem. - Dependendo do seu desempenho, podemos pensar sobre esse encontro. - pisco.

  - Deus, você é maravilhosa! - Oliver geme, descendo a cabeça e espalhando beijos por meu tronco até chegar aonde estou doendo por ele.

  E, inferno, ele sabe o que está fazendo.

 

                                        ~×~

 

Há um sorriso em meu rosto antes mesmo que eu abra meus olhos, minhas pernas se esticando e puxando as pernas do homem ao meu lado para entrelaçarem-se.

Ouço o ronronar baixo de Oliver e seus braços se fecham com mais entusiasmo ao meu redor, seu rosto se escondendo na curva do meu pescoço e sua barba me fazendo cócegas deliciosas.

Ele tinha feito exatamente o que dissera que faria na noite passada, me levando a um orgasmo atordoante com seus lábios, língua e dedos, meu corpo inteiro tendo sido transformado numa massa sem coluna vertebral no tapete macio. Então, ele me beijara com uma calma doce, sua língua brincando com a minha sem pressa, saboreando juntos o gosto que temos. E, por fim, apesar de seu estado com certeza doloroso de excitação (o gemido estrangulado que ele soltou quando o toquei por cima do jeans não deixou dúvidas sobre esse estado), Oliver se recusara a buscar o próprio alívio dentro de mim, em minhas mãos ou minha boca.

Teimoso, mas eu não posso negar que ficara encantada.

E então, entre conversas triviais, acabamos pegando no sono juntos.

  - Acha que Helena e Ray vão demorar para vir nos destrancar? - murmuro, fazendo traços distraídos sobre seu abdômen duro.

  - Falando assim, quase soa como se estivesse ansiosa para se livrar de mim, Smoak. - Oliver brinca, sua voz rouca causando arrepios em meu corpo.

 Rio.

  - Não sabia desse seu lado inseguro, Queen. - chego mais perto ainda, metade do meu corpo apoiada sobre metade do dele.

  - Helena disse que viria logo cedo. - seus dedos brincam em meus cabelos, mas nós dois congelamos quando nos damos conta da informação que ele acabou de entregar.

  - Oliver Queen, explique-se! - me solto de seus braços e monto sobre sua barriga, estapeado seu peito.

  - Ei! Você tem a mão pesada! - ele agarra meus pulsos e gira sobre mim, me prendendo sob seu seu corpo.

  - Você nos trancou de propósito! - acuso, indignada, tentando me soltar, sem sucesso.

  - Talvez? - ele me dá um sorriso fraco e eu grunho de raiva.

  - Filho da mãe! - ele ri, mas então seu semblante fica preocupado.

  - Está arrependida? - assimilo a pergunta, seus olhos turvando-se enquanto ele limpa a garganta. Deus! Ele realmente tem um lado inseguro.— Por ontem a noite, quero dizer. Está arrependida?

  - Claro que não, seu idiota! - reviro os olhos e ele suspira em alivio. - Estou puta, mas não arrependida.

  - Caralho, pensei que tinha acabado de perder minha namorada em menos de 24 horas. - eu deveria ter me preocupado quando, em vez de lembrá-lo que não houve um pedido ou argumentar que mal nos conhecemos e é cedo para namorarmos, abro um sorriso idiotizado. Deveria. Mas não dou a mínima para essas questões.

  Oliver Queen me chamou de namorada. E eu gostei de ouvir cada letra.

  - Eu só estou tentando decidir quantos dias de greve de sexo meu namorado merece depois de se mancomunar com minha irmã. - Oliver arregala os olhos e eu posso ver em seu semblante que está dividido entre comemorar minha aceitação ao seu pedido indireto de namoro e temer suas noites de desejo insatisfeito nas minhas mãos. Gargalho. - Você precisava ver a sua cara! - aponto e ele abre a boca para retrucar algo com uma carranca, mas somos interrompidos pelo barulho do trinco girando e eu mal tenho tempo de enrolar a manta mais firmemente ao redor do meu tronco antes que Ray e Helena invadam a sala.

  - Como ouvi uma gargalhada, achei que fosse seg-... - os olhos acinzentados dela finalmente nos encontram no tapete e então abrem como pratos, assim como os de Ray, que fica mais vermelho que um pimentão. - Puta que pariu. Caralho. Porra.  - Helena cobre a boca com a mão e eu solto um gemido de desgosto, escondendo a face no ombro nu de Oliver, mas tenho tempo de ver o sorriso satisfeito dele.

  - Noite produtiva? - Ray pergunta, pigarreando, e eu desejo morrer quando o peito do Queen treme pela risada.

  - Vocês... Vocês transaram... Caralho, vocês se comeram no meu tapete! - a voz de Helena está aguda de choque e eu quase sorrio porque é muito difícil chocá-la.

  - Está com a boca suja esta manhã, não é mesmo? - Oliver assovia.

  - Mas... - Helena continua balbuciando e Ray apenas corre seus olhos por cada canto do ambiente que não seja nós dois, constrangido.

  - Nem mais uma palavra, a menos que queira discutir o fato de que vocês planejaram nos trancar aqui. - fuzilo a ambos com os olhos semicerrados.

  - Acho que ouvi seu pai me chamando. - o Palmer rapidamente bate em retirada, mais do que feliz de que tem como namorada a única mulher no mundo que é perfeitamente capaz de cuidar de si mesma em tempos de crise.

 - Você ganhou um orgasmo, por que está com raiva de mim? - ela se defende, cruzando os braços e eu peço a Deus uma santa paciência.

  - Primeiramente, acho que sou grandinha o suficiente para conseguir meus próprios orgasmos sem sua ajuda. - ergo um dedo e Oliver esconde um sorriso contra meu ombro. - E, em segundo lugar, você nos trancou aqui esperando exatamente por isso, por que está querendo satisfações? - cruzo os braços e a enfrento com os olhos, desafiando-a a rebater.

  - Você está feliz? - é a pergunta que Helena faz depois de segundos de silêncio e sou pega de surpresa tanto pela questão em si, como pelo carinho e preocupação em seus olhos. Algo em meu coração aquece com o sentimento de que, à sua maneira torta, minha irmã quer apenas a minha felicidade.

  Sinto a movimentação de Oliver ao meu lado e noto que ele também quer saber a resposta. Procuro sua mão e entrelaço nossos dedos, sorrindo minimamente para ele antes de fitar Helena.

  - Estou. - suspiro, e os dois também. - Muito.

  - Ótimo. - os ombros dela caem aliviados. - Se não estivesse, foda-se que eu os tranquei aqui, eu iria castrar você com minhas próprias mãos, Queen. - ela lhe dirige um olhar fatal e ele ergue as mãos.

  - Qual o problema com as mulheres dessa família, que são tão agressivas? - diz, gemendo baixinho quando eu acerto uma cotovelada em seu estômago. - Digo, adoráveis. - corrige com inocência e eu reviro os olhos, aceitando seu beijo em minha bochecha.

  - São um casal? - viro outra vez para Helena, que parou de encarar Oliver com desconfiança e agora parece prestes a quicar no lugar. Nunca disse que ela era normal.

  - Sim. Somos. - Oliver é que responde e eu mordo o lábio inferior para impedir um sorriso de rasgar meu rosto.

  - RAYMOND PALMER, VOCÊ ME DEVE CINQUENTA PRATAS! - ela berra e sai a passos ligeiros da casa, nos deixando novamente a sós.

  Rimos juntos e então Oliver se inclina, encostando seus lábios nos meus com carinho e anestesiando o efeito da guinada de 180 graus que as últimas 12 horas significaram.

  - Tenho uma coisa pra você. - ele murmura, mordiscando a pele do meu queixo.

  Afasto a cabeça, surpresa.

  - Como um presente? - arregalo os olhos quando ele assente, se levantando só de boxer azul marinho para pegar algo no bolso de sua calça, que jogou no sofá antes de se deitar comigo para dormir. Me distraio um pouco com seu traseiro durinho e suas coxas poderosas, mas logo minha atenção é capturada para o fino retângulo embalado em papel vermelho escuro. - Oliver, eu não comprei nada para você, sinto muito, eu...

  - Shiu. - ele pousa um dedo sobre meus lábios, interrompendo minha tagarelice constrangida. - Eu não esperava que você tivesse comprado algo pra mim. - beija a ponta do meu nariz e pega minha mão, pondo o pequeno embrulho sobre ela.

  Olho para ele e, antes de abrir, me inclino para beijá-lo na boca com toda a intensidade de sentimentos que ele desperta em mim.

  - Eu só quero que saiba que a noite passada já foi o melhor presente de Natal que recebi na vida. - murmuro e ele demora dois segundos para abrir os olhos, sorrindo e assentindo.

  - Pra mim também. - diz e eu sorrio, abrindo a embalagem delicada e franzindo a testa ao puxar os dois pedaços de papel de dentro. Pisco cinco vezes ao entender do que se trata. Minha boca se abre, mas eu demoro para encontrar minha voz.

   Ele me deu um ingresso de cinema.

Para assistir Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald.

Junto com ele, há um bilhete que diz "Posso estar enganado, mas acho que você me deve uma ida ao cinema, srta. Smoak.".

Olho para Oliver, que me encara em expectativa, e sei que ele está falando da noite em que furei com eles e fui jantar com Billy para evitá-lo. Nunca me senti tão arrependida por ter fugido dele.

— O que achou? - sua voz é baixa e eu o respondo pulando em seu colo e o derrubando no tapete de costas, atacando seu rosto com beijos.

  - Grifinória. - digo, e ele demora um segundo para entender, seus olhos iluminando. - Você é de Grifinória. Claro que é. - sorrio, balançando a cabeça.

  - Eu acho que essa foi a coisa mais sexy que você já disse, Smoak. - ele aperta minha cintura com um sorriso de canto.

  - E eu acho que a noite passada desceu para o segundo lugar na ordem dos meus melhores presentes de Natal, Queen. - retruco e ele gargalha antes de segurar as laterais do meu rosto e me beijar.

  - Feliz Hannukah, Felicity Megan.

  - Feliz Natal, Oliver Jonas.

E há certas coisas que eu adoro

E há certas coisas que eu ignoro

Mas estou certo de que eu sou seu

Certo de que eu sou seu

Certo de que eu sou seu

— Certain Things (James Arthur)


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Foi uma experiencia nova pra mim escrever nessa temática e me diverti/surtei bastante enquanto escrevia! :)
Não deixem de dizer o que acharam e de voltar aqui amanhã pra ver o que a próxima fanfiqueira do projeto vai trazer pra aquecer o coração de vocês!
Xero ♥