- Alice, acorde! – Sentia as mãos finas e frias do Bill dar suaves tapas no meu rosto. – Acorde, por favor. – Abri os olhos vagarosamente e encarei o rosto preocupado de Bill.

- Você está bem? – ele perguntou assim que me viu lúcida. – Respirei fundo e continuei deitada no piso frio, não estava nada bem. Estava tudo uma droga! Mentiras, mentiras e mais mentiras.

- Você está bem? – Ele refez a pergunta.

- Não – Cai no choro ao ver seu rosto preocupado. – Vou pegar um copo de água pra você – Sentei e encostei minhas costas no armário da cozinha. Estava errada não podia mentir para Bill e quando eu morresse? Como ele ficaria sem mim? Eu não tinha pensado nisso até olhar seu rosto tão aflito. Eu já estava me acostumando com a idéia de morrer até Bill aparecer novamente em minha vida e agora o que eu mais quero é morrer ao seu lado. Ele se sentou na minha frente e me entregou o copo de água, beberiquei um pouco e seus olhos liam cada movimento que eu fazia. Bill não era burro ela sabia que eu estava escondendo algo.

Me ajude, tenho feito isso de novo

Eu tenho estado aqui muitas vezes antes

Machuquei a mim mesma de novo hoje

E, a pior parte é que não tem ninguém para culpar

- Alice você pode mentir muito bem, mas, não para mim me conte o que está errado. Não venha dizer que está tudo bem, porque eu sei que não está. – parei de beber a água e o encarei.

- Sim tem algo errado comigo Bill, mais se eu omiti isso foi pra me proteger e para proteger você também... Só que agora eu me dei conta de como isso é egoísta. – Seu rosto estava lúcido sei que ele estava preparado para pior.

- Eu estou doente – Ele engoliu seco e me encarou novamente.

- Doente?

- Eu tenho Leucemia em fase terminal – O seu rosto desmoronou, foi como ver uma porcelana cara se partir lentamente até se tornar pequenos cacos. Ele cerrou o punho e deu um murro no chão deveria ter doido, não mais que a minha mentira.

- Porque você não me contou antes?! Não me venha com essa que foi para me proteger o que você fez foi egoísta! Foi mesquinho! Você me iludiu esse tempo todo! – Ele estava em pé na minha frente cuspindo todas as verdades e eu não podia fazer nada.

- Droga, droga, droga! – Bill gritava.

- Desculpe – Murmurei com voz tremula. – Eu tenho poucos dias aqui na terra... Não te contei porque eu tinha medo, eu já estava me acostumando com a idéia de morrer... Até você entrar na minha vida novamente. Sei que não te contar a verdade foi errado, acredite ou não eu fiz isso para te proteger. Olha como você ficou péssimo por saber toda verdade! Não queria estragar nosso momento essas últimas semanas, tem sido os melhores dias da minha vida! – Apoiei minha cabeça em meus joelhos e chorei, até o ponto de soluçar. Senti uns longos braços me envolver em um abraço. Bill me envolver em seus braços me abraçando da maneira mais carinhosa possível, apoiei minha cabeça em seu peito ouvindo seu coração bater.

Seja meu amigo

Me segure, me envolva

Me descubra

eu sou pequena

estou carente

Me aqueça

e me respire

- Fique comigo... Não me deixe, eu estou tão fraca e frágil, tão sozinha.

- Eu não vou sair do seu lado, não vou te deixar morrer – Beijou meus cabelos, permanecemos naquela posição por um bom tempo. Até Bill me perguntar:

Ai, eu me perdi de novo

Me perdi e não há lugar nenhum pra me encontrar

É, eu acho que poderei quebrar

Me perdi de novo e me sinto insegura

- Tem um jeito de você se salvar?

- Tem, mais eu não quero – Ele se mexeu desconfortável me encarou e perguntou:

- Não quer? Como assim?

- Bill eu tenho poucas chances de cura minha doença está muita avançada... Eu não quero perder os últimos dias da minha vida fazendo um tratamento sem futuro.

- Não é sem futuro, você tem chances e por mais pequenas que elas sejam, você tem que lutar! Deixe ser tão pessimista.

- Deixe você de ser tão sonhador... Eu vou partir em breve Bill e você terá que ser forte. – Ele me apertou mais em seus braços, com medo.

- Pare de dizer isso você não vai embora! Nós ainda vamos encher essa casa de crianças! – Sua voz saiu angustiada.

- Pare de dizer essas coisas, você sabe que isso não será possível!

- É possível sim, é só você fazer o tratamento. – Bill me encarou novamente com mais seriedade que nunca e disse.

- Faça esse tratamento por mim por nós! Alice se você morrer eu jogo meu carro em um abismo no dia seguinte.

- Não seja idiota! – Disse irritada – Você ainda está saudável e tem toda uma vida pela frente não seja burro!

- Eu não terei mais vida sem você aqui... Vamos fazer um trato?

- Que trato?

- Você faz seu tratamento aí se você morrer, embora tenha certeza de que isso não irá acontecer. Eu não jogo em nenhuma ponte nem nada.

- Bill isso é ridículo!

- Não é não, e então aceita?

- Claro que não de onde você tirou esse absurdo?!

- Bom então acho que vou ter que planejar meu suicídio – Ele estava se levantando quando disse:

- Eu não estou blefando – E não estava mesmo, Bill sempre ganhou as pessoas na canseira além de ser um ótimo induzidor.

- Tudo bem, eu aceito seu chantagista! – Um sorriso vitorioso rasgou em seus lábios. – Mais tem uma condição.

- Qual? – perguntou.

- Eu vou fazer esse tratamento na Itália longe de você.

- O que? Isso está totalmente fora de cogitação nem pensar, eu quero ficar do seu lado!

- Bill você já pensou em como isso vai ser doloroso pra nós? Você tem noção de como esse tratamento é sofrido? Eu vou perder os cabelos ficar feia não quero que você me veja assim.

- Eu não me importo!

- Ou é isso ou não é nada.

- Depois eu que sou o chantagista?

Sorri levemente tentando esconder minha dor.