Michael de Vulcano escrita por Valdir Júnior


Capítulo 5
A Escolha




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Michael havia se formado na Academia de Ciências de Vulcano a pouco mais de dois meses. Fora uma das alunas mais aplicadas, especializando-se em astrofísica e física quântica.  Graduara-se com louvor como a primeira de sua classe, para surpresa de seus professores e colegas, que não entendiam como uma humana pudera alcançar notas tão altas, sendo inclusive a primeira não vulcana a receber a medalha da Legião Científica de Honra.

Desde que entrara na adolescência Michael começara a nutrir o desejo de se juntar ao Grupo Expedicionário Vulcano (1) e integrar a tripulação de uma das naves científicas ou de exploração da frota espacial do seu mundo adotivo. Como acabara de completar os vinte e um anos que eram um dos requisitos básicos exigidos para candidatar-se ao curso de treinamento, pedira a Sarek que intermediasse o seu pedido junto aos diretores do Grupo Expedicionário, o que ele fez com muita satisfação.

Naquela manhã Sarek recebera uma comunicação do diretor Delvok, presidente do Conselho de Admissão da organização, solicitando que ele o encontrasse na entrada do edifício-sede, a fim de colocá-lo a par da decisão do conselho sobre o pedido de ingresso da formanda Burnham no curso de treinamento.

Amanda, seguindo sua natureza alegre e expansiva, fizera questão de acompanhar o esposo, juntamente com Michael, pois queria receber as boas novas em primeira mão. E enquanto Sarek conversava com o diretor Delvok em frente ao grande portal da imponente sede do Grupo Expedicionário, elas aguardavam do outro lado da praça.

— Lembra, no seu décimo aniversário?- perguntou Amanda à sua filha adotiva, sorrindo -  quando nós pegamos uma nave e fomos para a sétima lua de Eridani D?

 - Me lembro bem. – respondeu Michael séria – Nós fomos participar de uma troca de livros, um antigo ritual humano.

Sua mãe então lhe entrega um livro, “Alice no País das Maravilhas”, envolto em uma fita para presente.

 - Este presente vem com um conselho de mãe. – disse ela - Você provou ser tão capaz quanto qualquer Vulcano, o que te servirá bem, desde que você nunca esqueça de que também é humana. Precisa nutrir esse lado.

Mesmo sabendo que suas ligações com a cultura da Terra eram cada vez mais distantes, Michael não disse nada, porém pegou o livro com carinho, apertando-o junto ao peito.

Então elas olham em direção a Sarek, que estava conversando com o outro vulcano, na porta do edifício.

*   *   *

— O Grupo Expedicionário examinou a candidatura da formanda Burnham com grande interesse – disse o diretor Delvok para Sarek.

— A aceitação com honras lhe é devida – disse por sua vez o embaixador.

 - Por parâmetros normais de decisão, sim – tornou Delvok.

Sarek encarou o diretor por alguns momentos, ponderando sobre as palavras dele.

— Sua hesitação é devido à natureza humana dela? – perguntou ele por fim.

— Certamente, a educação dela é inquestionável – respondeu Delvak – mas existem outros fatores a considerar.

— Eu de Michael um ser de lógica requintada – disse Sarek -  para rivalizar com os melhores de nossa espécie.

 - Um feito que você realizou não uma vez, mas duas – ponderou o diretor – com sua protegida Michael e com seu filho Spock.

Sarek estranhou a observação de Delvok

— O que meu filho tem a ver com esta a situação? Ele não começou seus estudos na Academia.

— Após a sua graduação – disse Delvok sério – certamente ele se candidatará ao Grupo Expedicionário e então não haverá um, mas dois não-vulcanos alistados.

— Spock é... – começou a dizer Sarek.

— Meio-vulcano. – interrompeu o diretor - Outro de seus experimentos. A integração dos humanos em nossa cultura é algo admirável, mas ela deve ser filtrada. Por isso, em honra à sua posição e reputação, vou aceitar um de seus não-vulcanos.

Sarek encarou Delvok por alguns momentos, antes de responder. Um brilho de irritação passou por seus olhos.

— Você me pede para fazer uma escolha impossível – disse ele.

— Sua reação a isso me parece bastante ilógica – falou o diretor com firmeza - e sugere uma conclusão baseada na emoção. O conselho me solicitou que levasse a sua resposta de imediato.

Sarek olhou para as duas mulheres que o aguardavam do outro lado da praça. Quando se voltou novamente para o diretor Delvok, sua decisão já estava tomada...

*   *   *

 Amanda e Michel viram que Sarek havia acabado de se despedir do diretor. Ele caminhou devagar em direção a elas, atravessando a praça. Assim que o marido se aproxima, Amanda o saudou com um sorriso.

— Michel foi aceita, não é? – perguntou ela.

Sarek, parecendo mais sério que de costume, encara e esposa.

— A candidatura de Michael – disse ele - foi rejeitada.

— Se está tentando fazer uma brincadeira, precisa se esforçar mais esposo – falou Amanda, ainda sorrido.

Michael, porém, ao ver a expressão dura do seu mentor, concluiu ele falava sério.

— Não é uma brincadeira... – disse ela, quase sussurrando.

— Por que ela não foi aceita? – perguntou Amanda parecendo confusa.

— Nenhum humano foi aceito no Grupo Expedicionário – respondeu Sarek - O sucesso sempre foi incerto.

— E que motivo eles têm para rejeitá-la? – tornou sua esposa, demonstrando certa irritação na voz.

— Obviamente, eles esperavam algo melhor – disse Sarek friamente.

Michael olhou para Amanda, constrangida

— Não quero ficar aqui – disse ela, num fio de voz.

— Michael... – começou a dizer Amanda.

— Por favor, mãe, eu quero ir embora – disse a garota, tentando não demonstrar a tristeza que estava sentindo.

Amanda olhou para Sarek exaltada.

— Não podemos deixar que façam isso. Michael trabalhou a vida toda por esta oportunidade. Ela se destacou. Você deve fazer algo. Não é justo!

— Não há lógica em seu pedido, esposa – respondeu ele calmamente - A justiça é quantificável. O Grupo Expedicionário Vulcano avaliou as habilidades dela como insuficientes e tomou a decisão.

— A decisão está errada! – Disse Amanda com firmeza - Ela se formou como primeira da classe, com notas melhores do que as de qualquer Vulcano.

Existem outros parâmetros. – ponderou Sarek - Disciplina espiritual, artes marciais... lógica.

— Por favor, eu quero ir para casa – pediu Michael, sentindo-se cada vez mais desconfortável.

— Vergonha é uma emoção humana – disse o vulcano sem se alterar.

— Perdão, Sarek - disse a garota, olhando-o de frente - você errou ao acreditar em mim.

— Não – decretou Amanda - você não tem motivos para pensar assim.

Michael olhou para sua mãe adotiva procurando transmitir firmeza em suas palavras.

— Não posso competir aqui. – respondeu ela - Não tenho as habilidades necessárias. Não sou boa o bastante.

— Bobagem – disse Amanda. Ela então olhou para o esposo - Sarek, a faça-a ver a verdade.

O vulcano olhou para a esposa por alguns momentos antes de responder.

— Ela não pode prosperar no serviço Vulcano. – ponderou o embaixador - Talvez eu possa encontrar um lugar para ela na Frota Estelar, onde os requisitos são menos extremos.

No seu íntimo, porém, Sarek esperava ter tomado a decisão correta. Porque sua escolha determinara irremediavelmente o futuro de sua protegida.

 

 

 

Referência do Capítulo:

(1) O Grupo Expedicionário Vulcano é a agência que controla e gerencia a frota espacial vulcana. Suas equipes são responsáveis pelas missões científicas e exploratórias empreendidas pelos vulcanos. É muito mais antiga do que a Frota Estelar da Federação dos Planetas Unidos e em várias ocasiões os interesses de ambas as organizações foram divergentes. Isto, porém, não impediu que vários vulcanos servissem na Frota Estelar.

 


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