Digimon: Fighters escrita por Ed Junior


Capítulo 8
Despedidas


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pelo sumiço, galera! Esse capítulo não tem luta nem nada, é um capítulo bem mais calmo e emocionante. Espero que gostem!



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            Vitor nunca esteve tão ansioso por alguma coisa em toda sua vida. Ele tinha passado o dia e a noite inteira pensando em o que precisaria levar para aquela viagem. Desde que o tal dr. Joel tinha dito que eles eram necessários para salvar um mundo inteiro, ele não conseguia se controlar. Estava muito animado, nunca tinha tido uma aventura como essa.

            Nunca tinha tido muitas aventuras e por isso ele mal podia esperar. O sol já tinha surgido no céu e um novo dia havia chegado. O dia de partir para o Digimundo.

            Vitor estava em pé em seu quarto encarando a mala que tinha feito para essa aventura, sorrindo para si mesmo, orgulhoso de ter organizado tudo aquilo sozinho. Não podia contar pros seus pais que estava indo para o Digimundo, afinal eles iriam surtar.

            — Você sabe que não é ideal levar uma mala tão grande assim, não é? — Vitor ouviu a voz vinda do seu aparelho eletrônico, seu digivice, que estava sobre sua cama. Aquela voz era de Tanmon, seu parceiro digimon pássaro com pelos e penas amarelas e vermelhas. Durante os últimos dois dias, Vitor tinha feito todo tipo de pergunta para Tanmon sobre o Digimundo e o que eles iriam fazer lá, como seria essa missão e todas as coisas legais que poderiam acontecer.

            Vitor se virou para seu digivice amarelo e o pegou da cama.

            — Como assim?

            — Bom... — Tanmon continuou a falar — É que no Digimundo você não vai ter onde colocar essa mala. Nós vamos andar muito e... Carregar uma mala desse tamanho pode ser um problema quando encontrarmos nossos inimigos.

            — Então... — Vitor começou a perguntar, confuso — O que devo levar?

            — Acho que só uma mochila tá bom — Tanmon falou e Vitor não conseguiu controlar sua leve irritação ao ouvir isso.

            — Por que não me disse isso antes de eu fazer essa mala gigante? — Vitor questionou.

            — Você não me perguntou! — Tanmon respondeu em sua defesa e Vitor não conseguiu segurar seu próprio riso. Aquela viagem seria incrível, ele podia sentir isso — O que você vai dizer pros seus pais, Vitor?

            — Nada — Vitor falou enquanto colocava seu digivice em sua mesa ao lado da cama e se voltava para a grande mala que agora teria que desfazer.

            — Como assim? — Tanmon questionou. Vitor colocou a mala sobre a cama e a abriu, começando a tirar as roupas e outras coisas que ele tinha colocado ali dentro. Ele havia pensado que levar um binóculo, máquina fotográfica e um aparelho de DVD poderia ser útil em alguma ocasião, agora ele não sabia no que estava pensando quando havia colocado todas aquelas coisas ali dentro. Vitor continuou enquanto ouvia Tanmon — Você vai simplesmente sair pela porta e não voltar por dias sem deixar nem ao menos um bilhete?

            — O que eu iria dizer? — Vitor rebateu — “Mãe, pai, tudo bem se eu embarcar em uma missão para outro mundo para derrotar um monstro digital do mal?”. Eles iriam me internar.

            — Eu entendo que parece loucura, — Tanmon continuou a falar — mas não acha que é bom deixar pelo menos um bilhete? Pra que eles saibam que você está bem e não fiquem tão preocupados.

            Vitor não respondeu de imediato. Ele queria muito partir para o Digimundo. Vitor sempre foi um menino de poucos amigos e que nunca saía muito, agora ele tinha a oportunidade de ser parte de algo incrível. Não queria que seus pais o proibissem de ir nessa viagem.

            — Eu não sei... — Vitor falou, parando de tirar as roupas da mala e se sentando no chão — Eu... Eu quero muito ir, Tanmon. Eu nunca tive nenhuma aventura extraordinária ou alguma história legal que eu pudesse contar pros outros. E isso é algo com que eu sempre sonhei. Eu não quero que meus pais impeçam isso de acontecer. Eu quero muito ir pro Digimundo.

            — Eu entendo, Vitor — Tanmon falou, seu tom era um pouco reconfortante. Vitor conseguia perceber que ele estava tentando ser um bom amigo. Desde que se conheceram, Vitor e Tanmon tinham se dado muito bem e Tanmon parecia entender seu parceiro muito bem, o que havia rendido boas conversas com Vitor — Mas também não vai ser legal você ir embora e seus pais ficarem aqui chorando pensando o pior. Deixa um bilhete. Diz pra eles que você vai voltar logo e que eles não deviam se preocupar. Se não fizer isso, pode causar muita dor pra eles.

            Vitor respirou fundo. Se continuasse aquela conversa, Tanmon só iria dar mais mil motivos de porque ele deveria avisar seus pais. Vitor sabia que teria que dizer alguma coisa desde o começo, mas queria evitar essa solução o quanto conseguisse.

            — Talvez um bilhete seja bom... — Vitor admitiu.

+         +         +

            Daniel estava pronto. Sua mochila estava em suas costas, seu digivice em seu bolso, o ovo de Ravermon sob seus braços e ele usava uma roupa confortável para se aventurar em um novo mundo. Tudo o que faltava agora era a coragem para ir falar com sua mãe.

            Daniel não conseguia nem respirar direito. Ele estava em pé, em frente à porta da cozinha. Ele conseguia ouvir sua mãe lá dentro, cozinhando, provavelmente preparando o café da manhã para seus filhos. Ela nem sabia que um de seus filhos estava deixando a casa naquele dia, partindo seu coração e indo para um lugar desconhecido.

            Ele estava tentando controlar sua respiração.

            — Daniel? — ele se virou, encontrando Alice parada logo atrás dele — O que está fazendo?

            — Pensando no que eu vou falar pra mamãe — Daniel suspirou — Eu estou indo embora hoje.

            — Ela vai ficar bem triste — Alice afirmou — Quer que eu vá com você?

            — Não — Daniel se voltou para a porta — Acho que isso é algo que eu preciso fazer sozinho.

            Foi então que Daniel sentiu pequenos braços envolvendo seu corpo. Ele se virou para ver sua irmãzinha o abraçando. Um pequeno e carinhoso abraço que aqueceu seu coração. Daniel se sentia grato por ter Alice ao seu lado, pelo menos não deixaria sua mãe tão sozinha. Deixava essa despedida um pouco mais fácil, mas só um pouco.

            Daniel respirou fundo enquanto desfazia o abraço.

            — Boa sorte — Alice falou depois de se afastar do irmão mais velho.

            — Obrigado — Daniel falou com um leve sorriso para sua irmã. Ele, então, se ajoelhou em frente à Alice para que ficassem da mesma altura e ele pudesse encará-la nos olhos — Escuta — Daniel continuou a falar — O papai não está mais com a gente e, depois de hoje, eu não vou estar mais aqui também. A mamãe vai precisar de você mais do que nunca, Alice.

            Alice moveu sua cabeça de modo afirmativo, concordando com o irmão. Seu olhar era bem solidário. Daniel não sabia como ela estava lidando tão bem com aquela situação toda, mas estava muito agradecido por isso.

            Ele sorriu para a irmãzinha e a puxou para mais um abraço. O abraço mais profundo, carinhoso e sincero que já compartilhou com Alice. Sentiria tanta saudade da irmã, daquela casa e de sua mãe. Mas ele sabia que estava fazendo a coisa certa. Dinomon e os outros precisavam dele.

            Daniel respirou fundo e se afastou de Alice.

            — Agora eu vou falar com a mamãe — ele tentou forçar um sorriso para sua irmãzinha, mas ele mesmo sabia que não deveria estar parecendo muito convincente.

            Alice apenas concordou com um movimento de cabeça, encorajando o irmão a ir em frente.

            Daniel se levantou, respirou fundo mais uma vez, reunindo toda a coragem que conseguia encontrar em seu corpo e se virou para a cozinha, seguindo até a porta para dar as pesadas notícias para sua mãe.

+         +         +

            Lucas caminhava até o carro de sua família com a mente ocupada e cheia de mágoa. Ele tinha revelado aos seus pais que havia mudado seus planos para os próximos dias, talvez até meses. Eles não tinham ficado nada felizes.

            Sua mãe havia chorado dizendo que ele não sabia o que estava fazendo e que estava arruinando tudo o que eles tinham construído. Seu pai tinha entrado em um estado de fúria se sentindo traído pelo filho. A conversa terminou com os dois dizendo que Lucas estava cometendo um grande erro e jogando toda sua carreira profissional no lixo.

            Lucas não podia dizer que estava surpreso com a reação dos pais. Ele sabia que eles não aceitariam Lucas desaparecer no Digimundo por tempo indeterminado de uma boa forma. Eles tinham planos para seu filho, mas Lucas também tinha planos para ele mesmo. Depois do que viu e do que aconteceu no almoço do dia anterior, ele não podia ficar parado assistindo dois mundos sendo destruídos pela ambição de um ser todo poderoso.

            — Lucas! — a voz doce e sútil fez com que ele parasse de andar e dissipou os pensamentos de sua mente. Ele estava andando da mansão de sua família até onde o carro com seu motorista o esperava.

            Ele se virou para ver Maria correndo até ele.

            — Espera! — ela falou enquanto se aproximava ainda mais do irmão mais velho — Eu quero te dar uma coisa.

            — Ah é? — Lucas indagou com um sorriso se formando em seu rosto. Ele se ajoelhou para ficar quase do tamanho de sua irmã quando ela parou em sua frente — O que é?

            — Isso — Maria entregou a ele uma pequena caixa de papel azul. Lucas pegou a embalagem e abriu a caixa revelando um colar prateado com um pingente que parecia um gato.

            — Mas isso é seu — Lucas indagou. Tinha sido um presente de aniversário que os tios deles tinham dado para Maria alguns anos atrás, Lucas se lembrava muito bem de que ela havia adorado esse colar.

            — Agora é seu — Maria respondeu — Eu quero que leve com você. Pra se lembrar de mim.

            Lucas sorriu.

            — Maira...

            — Desse jeito você não esquece da sua irmã quando estiver salvando o mundo todo — Maria o interrompeu com um grande sorriso no rosto — E olha. O pingente do gato azul.

            Lucas riu.

            — Por isso escolheu esse colar? Por causa do Guepmon?

            — Sim! — Maria exclamou, cheia de energia — E porque é meu favorito e porque eu sei que vai de dar muita boa sorte e porque eu te amo!

            — Eu também te amo, Maria — Lucas puxou sua irmãzinha para um abraço apertado. De repente, tudo o que seus pais tinham falado havia desaparecido de sua mente. Nada mais importava além do fato de que Maria confiava nele.

            Lucas nunca tinha sido tão grato por ter ela como irmã como estava naquele momento. Maria o havia feito enxergar o que precisava fazer e estava lidando bem com o fato de que seu irmão estava partindo e Lucas estava muito agradecido por isso.

            — Quando você voltar, quero que me conte tudo sobre como você salvou o mundo — Maria falou e depois correu de volta para a mansão. Lucas encarou enquanto ela se afastava, não conseguindo evitar um sorriso.

            — Você tem uma irmã de coração muito bom — a voz de Guepmon chegou nos ouvidos de Lucas. Ele levou sua mão até o bolso da calça que usava e tirou o digivice de dentro. Ele conseguia ver Guepmon na tela do aparelho — Eu posso sentir o coração puro dela.

            — É — Lucas concordou — Ele é realmente uma pessoa incrível.

            Lucas tirou o colar que Maria tinha lhe dado da caixa e o colocou em volta do pescoço. Era como se ela estivesse ali com ele e ela sempre estaria agora.

            — Nós precisamos parar Royalmon, Guepmon — Lucas falou — Não só pelo bem do Digimundo, mas pelo bem de todas a criaturas de coração puro como a Maria. Ninguém merece viver num mundo corrompido pela ambição.

            — Eu concordo — Guepmon respondeu — E nós vamos, Lucas. Pode ter certeza disso.

            Lucas colocou seu digivice de volta no bolso, levantou e voltou a caminhar até o carro.

+         +         +

            Letícia não tinha feito quase nada nos últimos dias que não fosse pensar e chorar. Depois de ter tido aquela conversa com o dr. Joel e os outros, ela tinha sido deixada em sua casa com o digivice rosa e a Digimon planta Toramon.

            Toramon tinha lhe contado o quanto havia esperado pelo momento de conhecer sua parceira e como estava ansiosa para lutar ao lado de Letícia. Mas Letícia não compartilhava desse anseio. Letícia não queria ir para o Digimundo, não queria abandonar sua família e partir daquela forma. Ela estava com medo do que poderia acontecer no novo mundo.

            Letícia sempre teve medo de se aventurar no desconhecido. Seus pais sempre lhe disseram que o mundo era cheio de perigos e que ela devia tomar muito cuidado com o que fizesse. Letícia tinha levado essa ideia em seu coração desde que era pequena e, por essa razão, nunca quis sair muito, nunca quis ter muitos amigos, nunca quis fazer nada de muito perigoso. Ela era o tipo de garota que preferia a segurança de seu quarto e não o perigo das ruas.

            Quando ela disse o que sentia para Toramon, foi como se o mundo da pequena digimon tivesse caído aos pedaços. Letícia sabia o quanto Toramon e o Digimundo contavam com ela e os outros, mas não importava. Letícia nunca conseguiria deixar o mundo humano para viver os perigos de outro mundo.

            Ela estava segurando seu digivice em sua mão enquanto estava sentada na cama de seu quarto, lágrimas escorrendo pelos seus olhos. Ela se sentia uma fraca por decepcionar Toramon daquela forma mesmo que as duas tenham se conhecido há apenas dois dias.

            Mas não havia o que ser feito. Essa era quem Letícia era. Uma pessoa que sempre evita brigas e que prefere não se envolver em problemas e perigos.

            — Eu entendo — ela ouviu a voz de Toramon saindo do digivice — Eu não vou te forçar a fazer uma coisa que você não quer fazer.

            Letícia lançou um pequeno sorriso para Toramon.

            — Obrigada. E eu sinto muito, mas... Eu não consigo. Eu não sou uma lutadora. Não sou uma salvadora. Vocês vão ter que fazer isso sem mim.

            Letícia conseguia ver, mesmo através da tela do aparelho, que Toramon estava tentando segurar as próprias lágrimas.

            — Foi bom te conhecer, Letícia.

            — Foi bom te conhecer também, Toramon — Letícia falou com um sorriso carinhoso, as lágrimas ainda escorrendo por seus olhos. Mesmo pelo pouco tempo que passaram juntas, Letícia conseguia sentir que havia um laço forte entre ela e Toramon, o que deixava mais difícil dizer adeus.

            — Nós temos que ir — Toramon falou — Eu preciso ir com os outros até o Digimundo. Eles vão precisar da minha ajuda.

            Letícia concordou com um movimento de cabeça e abraçou o digivice como se estivesse abraçando Toramon. Um abraço apertado e meigo, uma verdadeira despedida.

            Letícia então respirou fundo, colocou o digivice no bolso do short que usava e saiu de seu quarto.


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Notas finais do capítulo

Um capítulo mais lento, mas que coloca muita coisa no lugar para o que vai acontecer nos próximos capítulos. Eu vou tentar postar mais vezes nessa semana, prometo! Desculpem de novo pelo sumiço!



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