sabe que eu morro de vontade de tirar mil fotos de tu?

pintar mil retratos

nas costas da tua mão

mesmo que mal feitos, a gente pode chamar de

abstrato

ou expressionismo

é tudo sobre cor, quem precisa de forma?

morro de vontade de pegar um avião contigo

voar pra longe num desses

pássaros de aço

e ir parar num lugar bonito de se ver

uma calçada gostosa de se andar

uma grama úmida pra deitar

e se tu quiser a gente não para

a gente voa pra outro lugar

teu planeta ou o meu, pra mim tanto faz

morro de vontade de discutir coisa boba contigo

discutir de Van Gogh às cores das minhas meias

ou ficar em silêncio mesmo

eu fico quieta se for pra você

a gente senta num banco e divide um cigarro

você diz que vai chover

e eu concordo

mas ninguém levanta um dedo pra nada

além de levar a garrafa de vinho ao rosto

e a gente espera a chuva, e age como se

estivesse surpreso

com a chegada dela

e a gente vai brigar e

eu vou falar que não tenho ciúmes

mas é uma puta mentira

claro que tenho

eu morro mil vezes

só de pensar

nela

e em você

existindo no mesmo universo

e eu vou te odiar

e você vai me odiar

e a gente vai esquecer os retratos e

os pássaros de aço

e as cores, e a chuva

e vai ficar só o

cigarro meio queimado,

apagado

numa poça qualquer

numa calçada qualquer

mas o que é a juventude além de

erros e cigarros meio apagados?