Coração que Cura escrita por Carolina Muniz


Capítulo 4
3




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 × Capítulo 7 ×

Ana ainda encarava o homem na porta, em seu estado deitada, ela não conseguia vê-lo com clareza.

— Desculpa, eu nem reparei que tinha entrado aqui... - ele se desculpou e se virou para sair.

— Espera -  ela pediu, sentando-se com cuidado na cama para não tirar os eletrodos do lugar. - Não vai não.

Se ela estava desesperada para conhecer alguém e conversar? Sim! Até ela admitia em voz alta. Já fazia quatro meses que estava internada no hospital, quando teve uma crise em que seu coração parou por três minutos inteiros e os médicos decidiram que era melhor ela estar ali, sempre preparada para outra. Desde então - e até antes - ela nunca mais conversou com alguém que não fosse sua melhor amiga Kate, seus pais e os funcionários do hospital - quais ela não conseguia seguir a linha de raciocínio quando falavam em termos que ela ainda não conhecia.

E acredite, ela conhecia muitos termos médicos.

Em todo caso, um estranho entrando em seu quarto - qual era restrito qualquer visita que não fosse dos funcionários do hospital - era a melhor parte de seu dia - de seu mês, na verdade.

— Qual seu nome? - questionou a garota.

O outro voltou a se virar para ela.

— Eu realmente não deveria estar aqui - disse ele.

— Não tem problema, sério. Eles não vão vir agora, então você pode ficar e conversar comigo. Olha, meu nome é Anastasia, mas você pode me chamar de Ana, eu sempre prefiro Ana, ou Annie, o meu pai me chama de Annie - ela desatou a falar.

— Ah, ta', Ana então - a garota sorriu para ele.

— Sua vez - induziu ela.

Ele passou a mão pelo cabelo e coçou a nuca, claramente desconfortável.

O que ele iria fazer? Ir embora sem falar com a garota? Isso seria uma baita falta de educação. 

E ele queria falar com ela. Ela parecia feliz, como se não estivesse numa cama de hospital, no CTI, com diversos fios em seu coração ligado ao monitor.

— Christian. Christian Grey. E todo mundo de Christian mesmo, então você pode me chamar de Christian. 

A garota riu.

— Você é engraçado -  disse ela.

— Valeu, eu acho. Agora eu tenho que ir.

— Por que a pressa? Você tem que visitar alguém? 

— Na verdade, não. Mas meus pais estão me esperando...

— Eles estão doentes?

— Não, é isso... É... É complicado.

Ele não ia falar da sua vida para uma pessoa que acabou de conhecer - mesmo que essa pessoa tenha um sorriso que faz qualquer um ter vontade de dizer tudo.

— Entendi. Tudo nos hospitais sempre são complicados - disse ela. - Mas você pode só vir até aqui e nós apertemos as mãos e viramos amigos, e aí você vai encontrar os seus pais.

O quê? 

Ela não parecia normal. Não mesmo. Claro que ele não iria perguntar qualquer coisa a ela. Não se pergunta para um paciente num hospital se ele é normal.

— Vem aqui - ela chamou com o indicador. - Eu não estou em quarentena, só estou aqui porque o meu coração deu bug ontem... Bom, eu acho que foi ontem, não sei que dia é hoje, então...

Christian se aproximou, e ela sorriu novamente.

— Foi legal te conhecer e falar com você, Chris.

— Chris? 

— É muito mais legal quando se tem apelido - disse ela e logo piscou com o olho direito para ele.

Os olhos tão azuis que pareciam um oceano abaixo de um céu sem nuvens.

Tão bonitos e vividos, claros e alegres.

A garota estendeu a mão e ele a segurou. Estava extremamente gelada e branca.

— É que o meu coração não deixa meus pulmões trabalhem direito, por causa do bug, parece que ele fica com raiva porque estragado e quer estragar todo o resto - explicou ela revirando os olhos em seguida. - Parece uma criança mimada.

A morena falava como se fossem tudo natural e normal. Para ela, ela era realmente. Afinal, passara a vida inteira daquela forma, tendo seu coração como inimigo número 1. Então, é, a cada oportunidade ela o xingava.

— O que tem no seu coração? - ele não conseguiu não perguntar.

Ana apertou de leve sua mão na dele, ainda estavam juntas, e ela aproveitou o calor que emanava para a sua.

— Ele não gosta de mim, e aí fica parando o tempo todo. Sei lá, os médicos sempre usam as palavras "síndrome do coração malformado". Resumindo: ele nasceu quebrado e vai se partir em dois a qualquer momento - disse ela num tom sombrio e logo caiu na gargalhada quando viu a expressão assustada de Christian. - Não se preocupe - falou ainda rindo.-  Eu e ele somos fortes, nenhum dos dois quer desistir, eu estou ganhando por enquanto, mesmo que ele tenha me derrubado ontem.

— O que é isso?

A enfermeira Roo vociferou assim que entrou em seu quarto, as mãos firmes nos quadris e o olhar de irritação profunda. Christian soltou a mão da garota e Ana quase xingou a enfermeira em voz alta por aquilo.

— A senhorita não pode receber visitas, sabe disso. E o senhor não pode estar aqui, o CTI não é permitido - ralhou ela.

— Desculpa, eu sei que não deveria - Christian pediu.

Ana bufou e cruzou os braços. 

— Cuidado com os eletrodos, Ana! - a enfermeira se aproximou e logo seus braços de cima de seu peito.

— Você é muito mal-educada, Roo - acusou a garota. - Não diz nem "bom dia" e já está gritando.

— Seria "boa tarde", e eu não precisaria gritar se estivesse quietinha como pedi, e claro, não estivesse quebrando as regras... De novo.

Ana revirou os olhos.

— Nossa, fica queimando meu filme assim, imagina o que o Chris vai pensar de mim - lamentou ela falsamente.

— Deixa eu advinhar: você o persuadiu a entrar, não foi?

Ana desviou o olhar para o monitor.

— Eu entrei porque eu quis - Christian a defendeu.

Ana sorriu.

— E agora eu estou indo embora.

O sorriso se foi.

— Você pode vir me visitar - sugeriu ela, voltando a encará-lo. - Eu vou mudar de quarto ainda hoje. É o 207, no terceiro andar, ala B. Amanhã de manhã eu vou fazer alguns exames, então só estou disponível a tarde.

Se ele disse que não?

Claro que não podia fazer aquilo mesmo que realmente não pensasse em visitá-la.

Não por não querer, apenas porque seria estranho. Eles não se conheciam. O que os pais dela iriam pensar? Não era tão fácil quanto caminhar por um corredor e acabar entrando no quarto de alguma desconhecia e acabar querendo conhecê-la pelo resto da vida.

Não que aquela fosse a situação. Não, seria loucura.

Então ele apenas a desejou sorte, enquanto só o que ela desejava era que ele ficasse mais um pouco.

× ×


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Notas finais do capítulo

Ana doidinha? Não, que isso? Quem disse?



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