O que eu não te digo escrita por Lillac


Capítulo 3
Reyna não está muito interessada nos robôs


Notas iniciais do capítulo

FELIZ ANO NOVO.
atrasado. mas tá valendo.
Como sempre, mil perdões pela demora. Eu estava usando as férias para dormir, mas agora vou voltar a escrever.

Esse capítulo foi o meu favorito de escrever até agora! Espero que gostem!

AH E LEIAM AS NOTAS FINAIS, POR FAVOR.



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— Ai! Leo, ficou doido?!

O menino sentou ao lado dela no banco, colocando cuidadosamente a bandeja com seu almoço na mesa. Estava um dia úmido, e, olhando para o céu, Piper suspeitava que iria chover em breve. Leo, no entanto, não parecia perturbado pela possibilidade de um aguaceiro, contentando-se em cair sentado e remexer a macarronada com o garfo. Ela afagou de leve a área da orelha que ele havia puxado antes de perguntar:

— Ok, o que foi que aconteceu?

Piper sabia que Leo estava longe de ser o bobo da corte eternamente feliz que todo mundo parecia pensar, mas também era esquisito ver o garoto assim, tão cabisbaixo.

— Eu posso mesmo dizer?

Uma sensação estranha fincou-se em seu peito. Ela se aproximou um pouco mais, expectante, e lhe assegurou:

— Claro que sim, cara.

— Ok... — ele murmurou, ainda brincando com a comida. — É só que...

— ... só que?

Com um movimento tão brusco quanto súbito, ele virou-se para ela, olhos acesos de animação e um sorriso que lhe abria o rosto de orelha à orelha, daquele jeitinho maléfico e adorável que ela havia aprendido a amar e temer:

Vaiterumaconvençãodetecnologianessefimdesemanavocêquerircomigo?

Piper piscou.

— Oi?

Frank terminou de mastigar o pedaço de tofu que ele havia trazido de casa.

— Convenção de novas tecnologias esse fim de semana — traduziu. — Ele está postando sobre isso faz meses. Sério que você não notou?

— Piper anda muito distraída nessa semana — Leo passou um braço pelos ombros dela — eu não a culpo. Se eu tivesse a oportunidade de receber aulas do meu ídolo, também estaria com a cabeça na lua.

— O seu ídolo não é aquele cara do vine do Road Work Ahead?

— Meu outro ídolo!

Filthy Frank?

— Bem, na verdade ele está fazendo música agora, e é até bem maneira — Leo ergueu as sobrancelhas, parecendo contente — mas—

— Já sei! É aquela menina daquele grupo de pop coreano!

— É POP JAPONES! Tem uma grande dife— Leo parou, limpou a garganta, e balançou a cabeça — de qualquer forma, não, nenhum desses. Meu ídolo é o—

— Tá bom. Você quer que eu te acompanhe nessa convenção?

Se fosse humanamente possível, Piper tinha certeza que as orelhas de Leo teriam abaixado.

— Por que me odeias, brutus? Mas é, isso aí. Eu posso te buscar em casa. Tem até um restaurante vegetariano lá perto. Fica entre uma loja de suplementos meio suspeita e um churrasquinho no espeto.

— Impressionante.

— Né? E então?

— Bem, eu não tenho aula com a Sra. Jackson nesse fim de semana, então tudo bem. Frank?

— Ah, eu já disse sim — o menino acenou com a mão. — Ele me ofereceu um conserto grátis no meu DS e eu não pude recusar.

— É claro que não — Piper concordou. — Considerando que é um dos seus hábitos esquisitos, eu duvido que vou encontrar algum conhecido lá, então que mal faz?  

 

— O que vocês estão fazendo aqui?

Reyna usou o polegar para apontar para o irmão:

— Percy gosta dos robozinhos.

— E você não? Que tipo de pessoa é você? — Leo a olhou de cima a baixo, horrorizado. Reyna o encarou, calada. — OK. O tipo que pode quebrar meu pescoço em dois. Saquei. Calei. PIPES!

— Eu tô bem aqui, cara.

— É melhor a gente ir andando ou as filas vão ficar muito grandes.

Ele começou a puxá-la pela mão, mas Piper tentou ficar firme (não muito, no entanto. Leo era sensível). Ela olhou para onde Percy, Reyna, Nico e Annabeth estavam e hesitou. Ela nunca havia os visto sem ser em roupas em casuais, e, com a exceção de Nico, não pareciam muito diferentes. Percy era um quadro perfeito de skatista problemático, com um moletom de estampa multicolorida e uma bermuda que parecia ter saído do fundo de um brechó obscuro. O cabelo bagunçado e a tatuagem contribuíam para isso. Annabeth... estava usando o mesmo short? Ok, Piper respeitava aquilo. A camiseta era verde, e claramente de Percy. Pelo olhar da garota, ela podia adivinhar que ela estava tão animada para aquilo quando o namorado, e tão envergonhada quanto Nico, que aliás parecia ser o único a ter tido um pouco de trabalho, com uma calça de moletom imaculadamente preta e camiseta cinza de mangas longas sem um único amasso. Ele estava olhando para os lados, meio assustado, toda vez que alguém passava por eles gritando alguma coisa. A garota parada ao lado dele cujo nome Piper não sabia, era igualmente bonita, alta, de pele oliva e cabelo preto que descia pelos seus ombros. Vestia um moletom com estampa do exército cinza e preto e saia branca.

Leo puxou sua mão de novo. Piper olhou para Reyna, em seu short preto e camisa quadriculada preta e roxa, quando disse:

— Por que vocês não vem com a gente? Eu queria mesmo apresentar os meus amigos.

Meus únicos amigos. Mas eles não precisavam saber disso. E, em uma nota completamente aleatória e que nada tinha a ver com a situação, Piper meio que estava tentando fazer uma boa impressão com os Jackson-di-Ângelo (Jackson-di-Ângelo-Chase?), na esperança de que eles falassem bem dela para a Sra. Jackson quando Piper não estava lá. Mas – er — aquele não era sua única motivação para se aproximar deles. Claro.

— Parece uma boa ideia para mim — Annabeth concordou, e se Piper não estivesse ocupada ainda segurando Leo (e não tivesse tanto medo dela), poderia tê-la abraçada ali mesmo.

— Ótimo! Digo, que bom. Esse aqui é o Leo, meu melhor amigo. Faz engenharia mecânica na mesma faculdade que eu, e aparentemente está tentando arrancar meu braço fora — ela grunhiu, fuzilando-o com o olhar. Leo sorriu amarelo — e esse é o Frank, meu outro melhor amigo, que ainda está terminando a undergrad. Major em medicina veterinária, minor em literatura europeia e poesia*.

— Dá para perceber que ainda não sei bem o que eu quero, né? — Frank riu sem graça.

Annabeth acenou com uma mão.

— Eu fiz Ética e Publicidade na undergrad, cara, e eu faço arquitetura. Não se preocupa com isso ainda.

Percy lhe acertou com o cotovelo de brincadeira.

— Na verdade, você fez umas treze matérias diferentes.

— Cala a boca — ela empurrou seu ombro.

— Annabeth está certa — Reyna concordou — eu fiz Física e Filosofia, e eu faço direito.

— Não é tão diferente assim — Nico comentou.

— Bem, eu fiz alguma coisa que tinha a ver com psicologia, e eu faço pedagogia, então podemos perceber que eu sou o único daqui com bom senso — Percy alfinetou.

— Que ótimo que todos estamos compartilhando as nossas histórias da faculdade — Reyna cortou o irmão — mas a fila está aumentando, e eu acho que o Leo vai desmaiar se demorarmos mais um pouco.

— Obrigada, mi reina! Você acabou de subir sete degraus na minha lista.

— Como faz para subir degraus em uma lista? — Piper murmurou para si mesma.

— Obrigada. Porque a sua lista é imensamente importante para mim.

Leo não notou o sarcasmo. Simplesmente puxou Piper pela mão e saiu andando. Frank se juntou hesitantemente ao grupo de trás. Piper ouviu quando Nico apresentou a outra garota como Bianca, sua irmã mais velha, e mencionou algo sobe uma Hazel precisando ficar em casa para terminar um projeto da escola.

Infelizmente, Leo estava certo, e a fila estava colossal. Ela nem conseguia ver o que estava no estande, mas aparentemente, era algo que muitas pessoas queriam experimentar de perto. Ela passou os próximos cinquenta minutos tentando entender o que Leo estava explicando sobre o protótipo, mas seus pés doíam e ela estava com fome.

— OK, eu admito: eu não sabia que essas convenções nerd eram frequentadas, mas se vocês me dão licença, eu vou pegar uma bebida e roupar um pouco de gelo para colocar no meu calcanhar. Adios.

— Espera, eu vou com você — Reyna chamou — também estou com sede.

— E eu preciso de ar — Bianca disse, também saindo da fila. Ela ouviu alguém atrás deles comemorar em um palavrão.

— E eu vou ficar para garantir que os garotos não façam nenhuma besteira.

— Geralmente esse o trabalho do Frank, ele vai ficar agradecido por ter ajuda — Piper comentou.

Por favor tragam algo para mim. De preferência algo que deixe os meus pés dormentes.

— Eles não deixam ninguém entrar aqui com álcool, Annie — Bianca riu — mas eu vou ver o que posso fazer.

— Vai se ferrar, Bianca.

Quando elas se afastaram o suficiente, Piper perguntou baixinho:

— Ela não gosta do apelido ou da menção de alcoolismo?

Bianca riu descaradamente dessa vez.

— Ela não bebe. Não desde que vomitou no vaso de plantas da mãe dela, de qualquer jeito. Tia Atena quase quebrou as janelas do apartamento de tão alto que gritou — disse — é por causa do apelido.

— Annabeth detesta ser chamada no diminutivo. É um péssimo lembrete da mortalidade dela e de como ela, ao contrário da opinião popular, não consegue pulverizar as pessoas que a irritam com o um olhar.

— Mas eu posso — Bianca completou.

— Você pode?

— Eu posso porque sou mais alta e mais forte do que ela.

— E mais burra — Reyna disse. — Annabeth quebrou seus dentes da frente três anos atrás e você ainda provoca ela...

— É, mas ninguém acreditou que fui eu — a di Ângelo mais velha piscou — desculpe por isso, Piper. Mas se eu estiver sendo sincera, quanto mais tempo você passar sendo amiga da Annabeth, mais perto você vai estar do momento culminante no qual você vai ter vontade de enfiar uma meia na boca dela.

— Eu a conheço desde o fundamental e não passei por isso.

— Porque você é anormal, Reyna, quantas vezes eu vou ter que dizer. Ah! Chegamos. Vocês tem preferência por refrigerante?

— Eu não bebo refrigerante — Piper disse, sentando-se em uma das cadeiras da cantina — água, por favor.

— O mesmo.

— Vocês são chatas pra cacete — Bianca disse, e foi em direção ao balcão.

— Ela é...

— Sempre assim? — Reyna sorriu — Pode acreditar.

— Então ela e o Nico não são muito parecidos.

— Um pouco sim, um pouco não. Bianca sempre foi a mais forte e mais inteligente da nossa família, então isso meio que transformou ela nessa supermodelo superconfiante com complexo de superioridade. Mas não me leve a mal. Ela é incrível. Só é um pé no saco as vezes. Eu diria que foi a exposição precoce à nossa prima Thalia.

— Então a Thalia é pior?

— Thalia quebrou o alarme de incêndio do nosso prédio com um machado uma vez.

— Ah, ok.

— Mas não se preocupa — Reyna apoiou os cotovelos na mesa — quando elas estão na frente da mamãe, todas ficam muito comportadas. Todo mundo fica. Ninguém assusta mais delinquentes do que a Mama Jackson.

— E eu achando que ela era só uma escritora doce.

— Ela é. Mas também pode ser assustadora para caralho — disse — provavelmente foi por isso que o meu pai quis que ela tivesse as filhas dele.

Piper ficou em silêncio por um momento. Para ela, pareceu genuinamente só um segundo, mas Reyna notou sua hesitação:

— O que foi?

— Nada! Nada. Eu só—

— Você quer saber sobre mim e a Hylla — ela ergueu uma sobrancelha. — Não precisa ficar toda encabulada. É uma pergunta comum. O Percy é famoso na internet, mas ninguém sabe muito sobre a gente.

Para ser justa, Piper pensou, eu também não sei muito sobre o Percy.

— OK, mas não é uma história romântica, ok? Meus pais biológicos eram veteranos de guerra. Quando eles se mudaram para os Estados Unidos, quiseram ter filhos, mas a minha mãe... não podia. Então eles buscaram uma barriga de aluguel. Sally estava passando por um momento muito ruim, com a morte da tia dela e tudo, então ela se voluntariou, e a Hylla nasceu. Mamãe conseguiu dinheiro o suficiente para alugar um apartamento e a vida continuou. Nesse meio tempo ela conheceu o Gabe, mas nós não falamos sobre isso. Depois da separação, ela namorou o Poseidon e o Percy nasceu. Um ano depois, eles quiseram outra filha. Para ser honesta, eu ainda não sei se isso foi inteiramente legal ou não, mas a Belona tinha vários contatos no judiciário, e eles confiavam na minha mãe. No quinto mês de gravidez... ela voltou para uma missão de campo que era para ser simples, e morreu — à esse ponto, as mãos de Reyna estavam unidas na mesa, e Piper resistiu ao impulso de segurá-las — no sétimo, Julian teve uma crise e foi internado. Hades e Poseidon se ofereceram para encobrir o caso e, quando eu nasci... só fui registrada como filha de Julian e Sally. Hades depois cuidou das papeladas para que a Hylla pudesse ser oficialmente adotada.

— E essa é a história da amável, mas muito complicada, família Jackson — Bianca completou, colocando meia dúzia de garrafinhas encima da mesa. — Desculpa, mas é que eu não queria atrapalhar.

— Não tem problema — Reyna acenou —, desculpa pelo monólogo, Piper.

Mas Piper não estava mais prestando atenção. Ela passara todo o tempo observando a mudança de tons nos olhos de Reyna, a forma como a boca dela retorcia quando ela mencionava Gabe, ou o fim que seus pais biológicos haviam levado, e como o rosto inteiro dela parecia se iluminar quando falava de Sally ou Percy.

— É melhor a gente ir — Bianca disse — à esse ponto, eles já devem estar no começo da fila.

— Pensando bem — o olhar de Reyna viajou para um estande mais próximo, onde pouco mais de dez pessoas faziam fila para testar um jogo. Com a principal atração lotada, os outros estandes estavam bem menos aglomerados — eu não estou muito interessada no robô gigante.

— Não é gigante — Bianca a lembrou.

— Tanto faz — Reyna rolou os olhos — eu disse pro Percy que ia conseguir uma versão autografada daquele livro de ficção científica que ele gosta, então eu acho que vou fazer isso agora. Vocês vem comigo?

— Só se a gente puder jogar primeiro — Bianca condicionou.

Reyna levantou-se da mesa e estendeu uma mão.

— Piper? Vai ser pior se a gente se perder uma da outra nesse lugar.

Piper quase ficou tentada a lembra-la que eles, bem, tinham celulares, mas a oportunidade era muito boa para deixar passar. Ela se levantou e segurou no pulso de Reyna, porque a mão parecia apenas um pouco íntima demais.

— Ei! O que eu faço com toda essa água?


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Notas finais do capítulo

*Undergrad = under graduation school: O ensino de graduação é o ensino pós-secundário anterior ao ensino de pós-graduação. Inclui todos os programas acadêmicos até o nível de bacharelado. Por exemplo, nos Estados Unidos, um estudante universitário de nível básico é conhecido como estudante de graduação, enquanto estudantes de graduação superior são conhecidos como graduados (wikipedia).
Basicamente, nos EUA, antes de você entrar em uma faculdade (Med School, Law School, Business School) você tem que passar pela undergrad, que oferece cursos de toda variação. Seu curso na undergrad não tem que necessariamente ter a ver com a sua faculdade (vide Legalmente Loira), mas é bom, se puder (estudantes de medicina geralmente fazem undergrad com algo que tem a ver com biologia, por exemplo). E você pode fazer uma matéria Major (maior quantidade de aulas e com um foco maior) e minor (o contrário). As pessoas costumam não fazer muitas minor para não atrapalhar a major. Exemplo: Major em Publicidade com minor em literatura e história (relativamente da mesma área).
Ufa!

FINALMENTE a situação da família Jackson foi explicada. Vocês gostaram? Sim, ela não é perfeita, e talvez não seja o que a maioria de vocês imaginou, mas eu achei que fosse a melhor forma de fazer as coisas fazerem sentido sem fugir muito da realidade dos livros. O Tyson (membro honorário da família Jackson) também vai aparecer.

E A BIANCA! Gostaram? Sempre quis escrever algo no qual a di Ângelo mais velha estivesse viva, e ainda estou pensando em como vai ser a personalidade dela.

O próximo capítulo vai focar na convenção de tecnologia, e vai cobrir tanto o passeio Bianca/Piper/Reyna quanto Percy/Annabeth/Leo/Nico/Frank, então podem esperar um pouco de Percabeth ♥

Enfim, como sempre, espero que tenham gostado, comentários são sempre apreciados, e até a próxima!



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