Capítulo 20 -

—Agnes, eu… - Edward abriu a porta do dormitório da filha e olhou sem acreditar para a filha que estava deitada por baixo do namorado. - Meu pai! - virou de costas e piscou várias vezes tentando dissipar a imagem da cabeça dele.

Connor estava apenas sem camisa, então aproveitou para fazer a coisa mais digna que poderia, pegou a camisa e saiu correndo de lá sem se despedir. Agnes estava menos vestida, mas se vestiu rapidamente e ajeitou os cabelos antes de encarar o pai.

—Não sabe bater, não? - reclamou cruzando os braços.

—Não sabe trancar a porta não? Apesar de ser o seu dormitório, qualquer um poderia entrar e te ver nessa… - agitou as mãos na direção dela sem saber o que dizer. - Nem acredito que estava fazer isso. É para isso que pago a sua universidade? É assim que ensinam anatomia aqui? Preciso ter uma séria conversa com o reitor.  - Ele mal conseguia formular as palavras. Estava vermelho de tanta vergonha e Agnes não ficava muito para trás, mas isso não a impediu de erguer o queixo e o enfrentar.

—A culpa é toda sua. Quem mandou entrar assim?

—Minha culpa? Eu sou seu pai e tenho o direito de entrar sem anunciar.

—Pois saiba que corre o risco de ver isso para pior. - Resmungou baixinho.

—Não preciso saber dessas atrocidades. - Balbuciou.

—O que faz aqui, pai? - Ela sabia que a melhor técnica a ser utilizada no momento era distraí- lo.

—Ah sim. - ele puxou uma cadeira para sentar e Agnes respirou aliviada. O que o trouxe até o dormitório era mais importante do que o amasso entre ela e Connor. E isso significava que ela estava a salvo, por hora, é claro. - Sua mãe.

—O que tem a mamãe? Ela está bem? - perguntou aflita e teve que sentar em busca de apoio.

—Eu não sei filha. - levou às mãos a cabeça. - Ela tem andado tão estranha, cheia das ligações secretas e sussurradas e a vi toda abraços e sorrisos com um homem misterioso e outro que já foi noivo dela. Lembra-se do Mike? Era ele. Acabei de ver os três juntos em uma situação muito suspeita. - Agnes viu os olhos dele se encherem de água e teve vontade de brigar com a mãe por fazê-lo sofrer daquele jeito. - Sua mãe está me traindo filha. E eu não sei o que vou fazer quando ela me largar. Será que é o sexo? Ela não está mais gostando? - Agnes fez uma careta, não queria conversar sobre aquilo com o pai. - Eu sempre procuro fazer coisas diferentes para não ficar na mesmice, sabe como é né? - ela balançou a cabeça concordando e se arrependeu logo em seguida e balançou em negação. - Acho bom que não saiba mesmo. Mas voltando… Sempre achei que fosse um bom marido, eu a trato bem, sou romântico, faço uma massagem incrível, a apoio em tudo, faço coisas maravilhosas com ela, sou um bom pai. Eu sou, não sou?

—Pai, você é incrível. - segurou as mãos dele. - É o melhor pai do mundo e nós te amamos. Assim como a mamãe. Ela não está te traindo, isso é paranoia total. Você é o melhor marido e não tem com o que se preocupar. - Garantiu, mas ele não acreditava nas palavras dela.

—Acho que não, filha. - deu um tapinha no joelho dela. - Sua mãe não me ama mais. Ela nem está animada com o casamento. Aposto que ao invés de uma renovação dos votos, ela vai é me dar um pé na bunda. E teremos que brigar pela guarda de vocês e todos vocês vão escolher ela e não eu. E de repente estarei numa casa cheia de gatos e sozinho. Se bem que como nenhum animal gosta de mim, vou é ficar completamente sozinho.

—Ok. Agora viajou demais. - levantou e colocou as mãos no ombro dele. - Chega dessa paranoia toda. Mamãe te ama e a renovação de vocês vai acontecer. - garantiu e dessa vez ele pareceu acreditar. - Agora vá trabalhar e deixe que eu converso com a mamãe. - depositou um beijo na bochecha dele. - Você é incrível, nunca duvide disso.

—Obrigado. - sorriu para ela. - Agora vamos conversar sobre a depravação que eu presenciei aqui.

—Tenho aula. - o empurrou porta a fora e dessa vez trancou para não correr o risco de ser interrompida novamente.

[...]

—Cadê a mamãe? - Henry perguntou finalizando o dever de casa.

—Vai chegar mais tarde. - A conversa com Agnes o havia animado, mas ao receber a mensagem da esposa de que voltaria tarde para casa fez com que a dúvida voltasse com força toda. Ele não queria acreditar que Bella o estivesse traindo. A conhecia muito bem e ela não seria capaz de tal coisa. Se estivesse insatisfeita com o casamento, conversaria com ele e os dois iriam resolver a situação. Talvez fosse algo relacionado ao trabalho ou a ONG. Levou a mão ao queixo, pensativo.

—Pai? - Tyler estalou os dedos a frente do rosto dele o tirando dos devaneios.

—O que perdi?

—Perguntamos o que vai ter para o jantar. - Hayley explicou e voltou à atenção para o dever. Os quatro estavam sentados à mesa cercados por livros e cadernos. Lucy disse que também tinha dever e rabiscava furiosamente uma folha.

—Não estou no clima para cozinhar. O que acham de pedirmos algo?

—Está tudo bem, papai? - John perguntou preocupado.

—Sim. - Olhou para os filhos e pensou que talvez eles soubessem de algo. - Vocês sabem se a mãe de vocês está guardando algum segredo?

—É surpresa. - Lucy avisou espalhando cola na folha.

—Surpresa?

—Surpresa. - Ela repetiu colando a folha no livro de Henry.

—Lulu, não pode. - A repreendeu atirando para longe o “dever” dela.

—Filha. - Edward devolveu a folha para ela antes que começasse a chorar. - Que surpresa é essa que a mamãe tem?

—É surpresa. - Ela deu de ombros o ignorando.

—Se é uma surpresa, você não pode saber, né, pai? - Hayley riu e ele teve que concordar. O aniversário dele seria dentro de dois meses, talvez Bella estivesse organizando uma festa para ele. E se fosse isso, ele teria mesmo que fingir surpresa, ela nunca foi boa com organização de festas.

—O que acham de irmos até o asilo e depois comermos alguma coisa? - Fazia alguns dias que ele não ia lá.

—Ver os velhinhos? - Lucy animou na hora.

—É idoso que fala. - John a corrigiu.

—Posso levar o Algodão? - Hayley começou a guardar os materiais.

—Algodão, Chinchin e Axel podem ir. - Edward concordou antes que os demais filhos começassem a protestar. Um porquinho da índia, um furão e uma chinchila não poderiam causar grandes confusões em um asilo. - Mas todos nas gaiolas. - Gritou quando Hayley, Lucy e Henry saíram em disparada para buscar os animais.

—Pai, olha se está certo. - John entregou o caderno a ele.

—Muito bem, filho. Você é muito inteligente. - bagunçou os cabelos dele. - Pode guardar as suas coisas e pegar o seu casaco. E você? - Perguntou a Tyler.

—Estou bem assim. - Colocou as mãos nos bolsos da frente da calça. - Posso te perguntar algo?

—É claro. - Puxou uma cadeira para sentar. - É sobre o seu pai?

—Você é meu pai. - Colocou a mão no ombro dele. - Sempre vai ser. - Antes que Edward pudesse retrucar, Tyler prosseguiu. - Os pais da Padma nos convidaram para um jantar.

—E você quer saber se podemos ir?

—Também. Acho que a nossa relação está muito séria e queria saber o que acha que devo fazer. Eu gosto muito da Padma, mas não quero namorar agora.

—A primeira coisa a fazer é ser completamente sincero com ela. Diga o que acabou de me dizer. Que gosta dela, mas que vocês estão novos para iniciarem um relacionamento.

—E se ela começar a namorar outro?

—Sua mãe e eu nos conhecemos desde pequenos, namoramos outras pessoas, mas no fim ficamos juntos. Se vocês realmente amarem um ao outro, ficarão juntos no devido tempo.

—Então devo cancelar o jantar?

—Você quer ir? - Devolveu a pergunta. Não queria dizer ao filho o que ele deveria fazer, mas sim conduzi-lo ao caminho certo.

—Eu quero.

—Aí está a sua resposta. - Apontou e Tyler sorriu.

—Você é mesmo o melhor pai do mundo. - O abraçou apertado.

—Estamos prontos. - Henry anunciou.

—Então vamos lá.

[...]

—Oi pessoal. - Bella acenou para os filhos que estavam sentados ouvindo histórias dos moradores do asilo. - Ernie, você está ótimo.

—Sou o único sobrevivente do tempo da menina. - Respondeu com orgulho de ainda se manter na ativa. Ele já morava no asilo muito antes de Agnes ir morar lá com a avó. - Como ela está?

—Bem. - Edward revirou os olhos e Bella o olhou sem entender.

—Vocês tem uma família muito linda. Valorize isso meu jovem. - Colocou a mão sobre a de Edward que estava sentando ao lado dele. - Gostaria de ter contato com os meus filhos, mas não soube dar valor a eles e deixei que outro assumisse o meu lugar.

—Podemos ligar para eles, se você quiser.

—Não, meu jovem. É tarde. - Pegou a bengala e levantou. - Já é hora de ir dormir. Não demorem a voltar, gosto de ver vocês.

—Deveríamos fazer alguma coisa?  - Bella perguntou apoiando no marido.

—Ele não quer que intrometemos nisso. - Deu um beijo nela. - Achei que iria nos encontrar na lanchonete.

—Quis vir aqui para dar um oi ao pessoal. Fica no caminho de onde estava.

—E onde você estava? - Perguntou a cutucando.

—É uma surpresa. Então, por favor, não me pressione a contar. - Pediu o abraçando e escondendo o rosto no peito dele.

—Tudo bem. Já sei que está organizando uma festa surpresa de aniversário. - Bella o encarou e torceu para não entregar nada. - Como o nosso casamento vai ser pequeno, acredito que a festa será menor ainda. Então não se preocupe com nada. Não precisa nem de decoração.

—Certo. - Era melhor ele acreditar naquela teoria, assim ficaria longe do que ela realmente estava planejando.

[...]

—Bella, você está me exigindo demais.

—Eu sei, Miguel. - Parou de frente para ele colocando as mãos nos ombros dele. - Mas sei que você dá conta.

—Eu jamais escolheria esse lugar. Talvez ele fosse legal há 12 anos, mas agora está caindo aos pedaços.

—Não está tão ruim assim. Ficou fechado por um tempo, mas com uma boa decoração vai ficar perfeito. - Mike fazia algumas anotações.

—Terei que usar toda a minha criatividade para deixar esse lugar fabuloso. - Desvencilhou de Bella e começou a andar analisando cada parte. - Por que aqui?

—Foi aqui que tudo começou. - Ela suspirou lembrando-se da primeira e última vez que esteve no local.

—Certo. Se é assim que você quer e acha que seu marido maravilhoso também vai gostar, é aqui que faremos. Mas já aviso que não vai sair barato.

—Dinheiro não será problema. - Bella avisou e Miguel sorriu