Reborn escrita por ninoka


Capítulo 2
Capítulo I - O herói que não quer ser herói


Notas iniciais do capítulo

GenteeeeEEEeeeE
Eu fiquei tão feliz com a recepção de vocês que não me aguentei: Precisei postar o cap 1 aaaaaaaaa

Muito obrigada de verdade, pra cada um que deu uma chance/leu/interagiu
Boa leitura!



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Quando a noite foi silenciada dos fogos, fora a vez de que, no silêncio que se formou, todos sobre o pátio do castelo -- em especial as crianças -- erguessem seus braços para cima e soltassem suas lanterninhas para o ar, preenchendo o reino de luzes e preces sussurradas para a deusa. O céu e a terra se fundiram. O mantra gerou uma frequência sonora. Branca. De paz. E qualquer espírito atormentado que ali pendesse, seria acariciado pela graça. 

O pátio de pedra tinha, enfim, se tornado aquilo.

Enquanto isso, Link e Zelda se preparavam para botar parte do cronograma elaborado em ação.

Saíram pela retaguarda do castelo, posicionados sobre seus equinos --Truffle e Epona-- rumo a Lanayru Montain, Spring of Courage. 

O último contacto com as civilizações se deu enquanto acenavam, já prestes a atingir o horizonte, para o quarteto da aliança já mencionado antes. A viagem logo se estenderia pela frente; carregavam nada mais que um cantil com água, as roupas de cerimônia sobre o próprio corpo, e a icônica e admirável Master Sword.   

Duas da madrugada, devia ser, quando chegaram. A nascente tinha o formato da lua refletido na água num brilho prata. 

O sereno umedecia a pele e levava o cheiro de mato e terra pra dentro do nariz. Os grilos, agitados, empoleirados sobre a ponta verde das plantinhas mais rasteiras, cantavam para a noite e esperavam ser ouvidos. 

"Parece que chegamos", disse Zelda enquanto se punha para fora de Epona. 

Desbravou o ambiente com os olhos, pensou, pensou mais um pouco, disse: “É engraçado, aqui deve ser o único lugar em Hyrule inteira que não se ouve sequer uma melodia", dizia, com um sorriso manso e o olhar repousado sobre a água cristalina. 

Link, a um passo atrás, ficava em silêncio. 

"Isso deve ser um alívio pra você", Zelda se voltou por cima do próprio ombro, mirando-o nos olhos e, talvez, esperando obter uma resposta menos silenciosa e mais concreta.

"Por que pensa isso?", ele finalmente se atrevia em dizer alguma mísera indagação. 

"Você sempre parece bastante estressado ou ansioso nessas ocasiões", justificou enquanto punha a face voltada novamente para frente. "Mas hoje, logo num dia tão especial, parecia tão atormentado que eu via, em alguns momentos da queima de fogos... Você parecia quase uma pedra"

Ficou de costas para seu próprio cavaleiro um tempo -- assim --  reivindicando mais respostas. 

Aquela visão deprimiu Link, que oscilou entre afogar seus maus presságios, ou libertar a verdade. Tentou o tempo inteiro segurar aquilo pra dentro de si, mesmo que soubesse que se desfazer daquele peso seria a melhor coisa a se fazer. Mas não queria preocupar Zelda. Era tudo o que pensava antes--mesmo que agora, contudo, estivesse fazendo justamente aquilo que vinha evitando. 

"Será que... tem pensado o mesmo que eu?", Zelda trouxe a questão abruptamente. Ela ainda estava de costas para Link. A água fria da fonte deslizava suavemente, fazendo um burburinho úmido das ondas rasas. 

Link ficou atento às suas palavras. "O que quer dizer?", murmurou, retoricamente, mais para confirmar. 

Zelda disse firme: “um pressentimento... de que ainda não acabou".

O cavaleiro se silenciou; estava um bocado atordoado com tudo aquilo. Toda aquela coincidência só poderia significar algo. “Sim”, confirmou.   

Ambos os rostos largaram o contentamento de outrora -- tudo o que suas expressões podiam refletir naquele momento era angústia. 

"Tentei até pensar que fosse coisa da minha cabeça",  continuou Zelda, "Mas já que pensa o mesmo, tenho criado suspeitas de que a premonição é certa". Zelda queria chorar -- deu um suspiro bem fundo, bufando, com os olhos inquietos mirando o céu e o desconforto na garganta, "Céus, isso me deixa insegura. Logo hoje". 

Link não sabia o que dizer. Sentia e pensava o mesmo. 

"Será que podemos confiar nessa intuição?", questionava-se a rainha, "E, se confiarmos... Como devemos agir? E se qualquer ação que tomarmos na verdade for o que vai nos levar à desgraça?"

Link observava-lhe as costas: o longo cabelo cor doirada pendendo com o respiro da selva. 

Queria pensar em algo o mais depressa possível; algo inusitadamente extraordinário que pudesse reconforta-la. 

"Zelda", era uma coisa rara que Link se direcionasse à rainha daquela forma -- embora, também, não fosse necessário tanta cerimônia entre ambos.

E tão abruptamente quanto Link pronunciara seu nome, foi que Zelda voltou seu corpo para ele. 

"Acho que devemos esquecer tudo isso", aconselhou o rapaz, "Pelo menos tentar" 

Zelda ficou alguns segundos entreolhando-o, abrindo e cerrando suavemente as pálpebras longas. Muitas coisas rondavam sua mente. 

"Tem razão", pôs os braços para trás e encarou os próprios sapatos escuros, sorriu. "Se for pra alguma coisa acontecer por decisão do destino, o máximo que podemos fazer é vivenciar o agora e saber lidar com o que vier a acontecer"

Link assentiu satisfeito. Por algum motivo, sentia o peso de uma âncora se esvaziar de seu peito.

"Agora...", Zelda ergueu e estendeu-lhe a mão. "Vamos?"

Depois de retirarem os sapatos do pé, foi que Link, com todo seu jeitinho meio duro e tímido, acoplou seus dedos nus da luva às falanges gorduxinhas da menina; sua mão ficou sustentada no ar.  

Em conjunto, caminharam até o lago da nascente e mergulharam os pés brancos na água fria. 

Quieta, ali, sob sua expressão séria de pedra, a estátua da deusa Hylia os observava. 

Link e Zelda deslizaram os pés n'agua até postarem de lado para o ícone, entrelaçando as mãos de forma que formassem um círculo fechado com os braços. 

E Zelda disse, com uma voz limpa e clara: "Hoje", ambos os olhos fechados, "neste dia tão especial, estamos aqui para oferecer nossas preces à deusa"(Link esporadicamente entreabria um dos olhos para que pudesse vê-la recitar)"Pedimos humildemente para que sua graça paire sobre nosso novo reino, e que, nele, se instale. Que não haja guerra, nem fome, nem miséria. Que todo novo ser que nasça nesta nova era seja banhado em luz; e que aquele que descansar sob o véu da morte, seja acompanhado pela plenitude em sua passagem. Que Hylia cuide de todos, e que nossa relíquia sagrada, a Triforce, seja protegida pelo seu poder. E permita, acima de tudo, que vosso escolhido, cavaleiro e Herói de Hyrule, jamais careça de saúde e paz; e que, junto à ferramenta concebida pelas forças do céu, seja capaz de enfrentar e cumprir todas as jornadas que possam irromper daqui adiante". 

Zelda abriu os olhos. Link estava quieto, fitando-a há algum tempo. 

“O que foi?”, ela riu. 

Link sorriu, meio abatido; abanou a cabeça. “Me sinto frustrado”.

“Você? Frustrado?”, brincou, desfazendo o círculo de mãos e cruzando os braços, “Conte-me mais sobre isso… Senhor-herói”.

“Exatamente”

“O quê?”

“Estou cansado”

“Cansou de ser o herói?”, enrugou a testa.

“Sim. Isso mesmo”

“Mas você sempre quis ser um cavaleiro, assim como seu pai, não foi? Sempre deu tudo de si por vontade própria e sempre alcançou bons resultados porque, desde o começo, você sempre soube o que queria. Você sempre pensou em se tornar cavaleiro” 

“Ser cavaleiro não é o problema”, pôs a mão para trás e desprendeu a Master Sword para fora da bainha. Empunhou-a no ar, para o alto acima da cabeça -- a ponta afiada cruzando o céu estrelado da madrugada. “Quando acordei durante a Calamidade e vi todo aquele estrago, sabia que se não me apressasse as coisas iam afundar de vez”, mirava o próprio reflexo na lâmina, “Foi uma corrida contra o tempo. Você não pode pensar muito; tem que desbravar a espada pra qualquer coisa que possa se tornar um empecilho lá na frente. E… Acho que é isso. Acho que não esperava isso quando pensei que queria seguir os passos do meu pai. Porque… Não é isso que cavaleiros fazem. Não assim. As coisas seriam mais simples se eu me dedicasse em ser um cavaleiro-real. Mas quando se é o “escolhido” as coisas são diferentes. Você percorre o mundo e vê que ele é muito mais do que pensa. Você vê que ele é maravilhoso, em todos os aspectos. Mas também é imenso, quase infinito. E isso faz você enlouquecer quando pensa que o destino de tudo aquilo depende de você e somente você. Seja a alegria ou a miséria, você que é responsável por manter ou salvar aquilo. Acho que é isso. Acho que nunca estive preparado pra nada disso.” 

Link apertou a Master Sword com força, girou o punho, e espetou a lâmina no fundo do lago. A espada ficou agulhada entre ele e Zelda.     

“Nunca esteve preparado mas conseguiu salvar todos”, Zelda ainda cruzava os braços, “Salvou todos nós. Até Daruk, Revali, Urbosa, Mipha. Suas almas e toda Hyrule. Eu sempre confiei que você conseguiria. Ou acha que ser o escolhido da Deusa é pra qualquer um?”  

“Eu só não quero mais passar por isso”, apoiou ambas as mãos sobre o pomo da espada, feito uma muleta, “A reconstrução do reino durou tanto tempo e mesmo assim sempre tem alguma coisa pra ser feita. Algo pra ser salvo ou destruído...” 

Link ergueu o rosto para o céu. Inspirou, suspirou profundamente, “Sempre”. 

Zelda largou os braços. Link tinha botado sua epifania para fora e Zelda adorava isso -- afinal, era um evento raro. Além de tudo, sabia que o rapaz reprimia seus sentimentos até o copo transbordar e isso a preocupava -- pois sabia (e nunca poupou-lhe de dizer) que isso um dia o afetaria. 

“Sabe do que precisa?", disse Zelda, com as bochechas formigando pelo risinho travesso que tinha se formado ali.  

O rapaz moveu apenas os olhos para baixo, na direção da mocinha, "O que?"

Sem mais, nem menos, Zelda impeliu Link e seus ombros para trás num empurrão um bocado bruto: só deu tempo pra soltar um gritinho de protesto e logo -- Splash! -- o grande herói se estatelou na água fria. 

Zelda ria o quanto podia; o quanto a realeza, os bons costumes e a vida adulta não permitiam. E Link (todo ensopado) encarava-a, sustentando o próprio corpo com os cotovelos para trás. 

Zelda conteve-se por um momento; acalmou-se, e segurou o próprio antebraço com a mão oposta:

“Eu sei que você vive bastante atarefado, Link. E sei que é muito mais do que só “atarefado”. Mas querer renunciar seu posto de escolhido é completamente impossível. Você não escolhe isso. Mas… Pode aprender a lidar com todas essas responsabilidades sem que sinta que o peso do mundo está sobre você”

Link remexeu os ombros como se questionasse—se “Como?”

Zelda parou, entornou os dedinhos sobre a empunhadura da Master Sword e, com alguns esforços, desprendeu a lâmina do lago. “Se existe uma coisa que aprendi e creio com toda a força”, ergueu dificultosamente a peça, com ambas as mãos, “É que não adianta tentar fugir ou adiantar as coisas. Elas têm um curso natural”, começou a remexer a arma no ar, fatiando(ou tentando fatiar) algum inimigo imaginário que estivesse ao seu lado, fazendo poses e giros desengonçados, “E nós apenas precisamos nos direcionar para o presente. Porque é ele que importa e ele é o único que depende de nós.”, ela girava e fincava a espada no peito de outro inimigos-invisíveis, “E, uma hora ou outra, Link, quando nós menos esperamos…”, Depois de um último giro ela finalmente assimilou uma pose mais heróica, pondo um dos pés para trás e outro firme na frente; e a espada defronte o peito, apontando para fora: “... As coisas dão certo” 

Link se pegou encarando Zelda novamente (será que já não tinha feito muito disso naquele meio-tempo?!) e soltou um risinho meio nasal. Com um dos cotovelos ainda sustentando suas costas, ele ergueu a mão livre para Zelda pra -- você sabe -- reivindicar sua ajuda. A rainha, toda adornada e brilhante, abaixou a espada e apanhou a mão de Link, quem abriu um sorriso na beirada dos lábios; era o momento para sua vingança. 

E foi assim que, adornada e brilhante, dando um gritinho de protesto -- Splash! --, Zelda também mergulhou de cara na água. 





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Notas finais do capítulo

por que raios o nome da cavalínea é truffle? pq é o nome da minha cavalínea no jogo, pô : (