Reborn escrita por ninoka


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Desde que eu terminei esse jogo eu senti a necessidaaaade de bolar um universo posterior
Eis aqui o resultado hehe

Espero de verdade que gostem.
Boa leitura!



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Era o dia das festividades da re-inauguração do Reino.

A tragédia de um século atrás converteu povoados em escombros, biossistemas em pó, e o castelo em grandes ruínas de pedra.

Desde a derrocada de Calamity Ganon, restaurar o estrago causado deu suor -- o processo tomou cerca de dois anos e meio.

Reestruturar vilas e reafirmar contratos. Reconstruir tudo. Cada cinza. Refazer. E agora, oficialmente, idealizando o marco, uma grande festa se apaziguaria por todo o reino, celebrando a chegada de uma nova era de paz.

Hyrule poderia finalmente reascender e vibrar mais uma vez.  

“Sirvam-se, por favor!”, princesa -- erro meu --, rainha Zelda erguera a taça de vinho para o ar, acima da cabeça, reclinando-se em sua poltrona revestida. Estava sobre a ponta da mesa retangular, de frente para a extensão de fartura que se via ali: Carnes encobertas de especiarias, molhos, saladas e muita bebida fermentada. Em volta, olhares (alguns tímidos, outros famintos) vindos de seus convidados especiais: Riju, Sidon, Yonobo, Teba -- os atuais representantes de cada uma das quatro raças da aliança. “Peguem o que quiser”, anunciou.

A rainha vestia uma peça nova: um vestido de cerimônia, de manga poeta estufada e gola chinesa, do mesmo tom azulado que seu anterior -- azul; que, afinal, era a cor do renascimento.

Yonobo (que usava um babadorzinho verde ridículo envolta seu pescoço) limpou um filete que salivava pelo canto de sua boca com a costa da mão e meteu as mãos nas almôndegas de rocha. Sidon esfregou as mãos umas às outras (seus olhos chegavam a brilhar). Riju já estava com uma coxa de frango entre os dentes. Teba bebericou um pouco de jinjibirra.

Sem Calamity Ganon para deter, designar novos Champions não parecia fazer muito sentido. Ainda assim, aqueles que contribuíram com sua astúcia, força e coragem para desinfectar as Divine Beasts, tinham agora um voto de confiança da própria Rainha Zelda.

“Ao novo reino!”, Zelda sorriu triunfante. E todos brindaram, “Ao novo reino!”

Faltavam algumas horas para que o crepúsculo chegasse. Link vinha montado em Truffle; o tronco ligeiramente inclinado sobre a crina da égua. Desenfreadamente. Sob sua silhueta negra o sol era rapidamente absorvido pelo horizonte. A ferradura da égua fagulhava nas curvas. Truffle, pobrezinha, tinha atingido seu limite de velocidade -- mas Link não parecia muito satisfeito. Queria voar, bem alto. Ter um cavalo-alado. Tinha dado um maldito mau-jeito nos ombros de tanto estalar a rédea.  

Regressava de um montezinho que ficava ao norte do Castelo, entre Irch Plain e Salari Hill, abarrotado de Silent Princess.  

As Silent Princess eram pequenas flores de pétalas alvas, adornadas de gradações azuladas em seu interior. Rezava a lenda, que eram encontradas em locais com uma quantidade recorrente de magia pura aglomerada. Desde que Calamity Ganon fora desintegrado -- era engraçado -- o número de Silent Princess ascendeu numa escala de setenta por cento, apontavam os índices. Além de sua beleza delicada, suas propriedades medicinais poderiam gerar milagres; no entanto, sendo quase impossíveis de serem domesticadas, devia-se, ainda, recorrer a alguns pontos específicos para que se pudesse obter ao menos um caulezinho verde.

Aquelas foram especialmente colhidas para tratar de uma garotinha enferma de Mabe Village, quem tinha contraído uma febre forte e sem causa aparente.  

Link se martirizava sempre que perdia o controle de suas tarefas. Sempre, sempre que tumultuava sua lista de afazeres, as coisas acabavam daquela forma.

Quando o arco de entrada da vila parecia suficientemente próximo, Link ajeitou o pacote da encomenda nos braços, se apoiou nos estribos para erguer o próprio corpo, e se estirou para fora de Truffle em movimento. Entrou com pressa, transpirando forte, em Mabe Village. Alguns camponeses frente suas casas o cumprimentaram, mas Link estava focado demais em seu objetivo e sequer prestou atenção: Rumou para uma das velhas choupanas dali.

Não bateu na porta; que rangeu. Dentro da moradia, uma visão pouco rara lhe entristeceu: agachado ao leito de sua filha, o homem, beirando os quarenta, abrigava a pequena mão da cria entre as suas próprias. A pequerrucha carregava dois côncavos fundos sob os olhos; suas pálpebras não mais abriam, sua pele tinha uma palidez frágil e debilitada.

A luz branca vinda do exterior furtou a atenção do homem; ele orientou seu rosto na direção de Link e viu o contorno escuro do herói entre o batente da porta. “Link?, espremeu os olhos, com esforço; até que pôde reconhecer a penumbra: “Link!”

Ergueu-se, exasperado, vendo a esperança encarnada a sua frente. "Me diga, me diga que conseguiu...", e Link ergueu o pacote na direção de seus olhos. "Maravilha...!", sua expressão aflita logo se converteu em alívio.

"Link não virá?", perguntou Sidon, com uma pequena pança inchada visível por debaixo da mesa, resultado de duas travessas de salada de frutas.

Todos na mesa já haviam se perguntado sobre isso em algum momento do banquete. Viram uma cadeira acolchoada na outra ponta oposta a de Zelda, vazia, desde o início do jantar -- e não precisaram pensar muito. Parecia evidente que até mesmo o clima de festividade e triunfo não eram o suficiente para mascarar a chateação da rainha que, vez ou outra, mirava o assento ausente, esboçava um lábio triste e disfarçava, pedindo (a quase todo momento) para que os convidados pegassem o que quisessem na mesa.

Mas ninguém teria audácia o suficiente para levantar a questão (ninguém que fosse tão boca solta quanto o príncipe Zora). E, justamente, quando Sidon pôs o questionamento sobre a mesa, Zelda não pôde mais negar seu martírio; sua expressão dizia por si só.

"Ele disse que teria alguns compromissos", mirava o nada, tentando negar a importância de sua presença. Riju franziu a testa, pensativa. Teba tomava mais gengibirra. Ninguém mais quis se pronunciar.

O camponês suavemente erguera a cabeça deitada da cria, direcionando seus lábios para a caneca fervente. O líquido escorreu para dentro da boca. "Impressionante...", sussurrou assim que a pequerrucha abriu seus olhos após a ingestão do chá de Silent Princess.

"Papai", sua vozinha melíflua ressoou e o homem não se segurou: envolveu-na num abraço, contendo o pranto emocionado.

Link deu um sorriso, sereno, pondo a mão na cintura. Às vezes o esforço compensava.

"Não tenho como te pagar agora", disse o camponês, erguendo-se do chão, "Mas posso te fazer alguma torta". Link remexeu a cabeça e em seguida indicou o olhar na direção da cama e da pequerrucha, "Apenas cuide dela".

E foi só quando o céu já quase não tinha resquício de tarde, que Link e Truffle puderam finalmente regressar para o castelo. Mabe Village não era tão distante da frente do pátio do Castelo, onde a maior parte da celebração se daria.

Link chegou até aquele ponto e decidiu descer de Truffle e guiá-la pela rédea. Antes, claro, vestira o capuz para cobrir a cabeça e o rosto -- ser o herói de Hyrule exigia uma certa discrição se a intenção não fosse gerar rebuliços.

Em todo lugar, em algum lugar, haviam pessoas em grupo. Crianças aprontavam suas lanternas para soltarem durante a noite, os mais velhos organizavam os fogos de artifício, as moças traziam velas e tortas. Todos cantavam, dançavam, rebocavam os enfeites, riam, tossiam, engasgavam. Hylians, Zoras, Ritos, Gorons, Gerudos.

De certo, para Link, aquele clima de comemoração fazia seu estômago ferver de ansiedade.

Apertou o passo.

Os guardas o avistaram da guarita e Link fez um gesto inusual com as mãos; um gesto que funcionava mais como uma senha particular, sendo do conhecimento somente de um grupo restrito de soldados e Link. Não foi necessária muita cerimônia: os portões do pátio se abriram para o herói.

Um guarda Sheikah se aproximou ao pé do ouvido de Zelda durante o jantar, disse-lhe algo, e saiu.

A rainha aguardou um tempo, passou o lenço de boca reservadamente e se ergueu da poltrona, "Me deem licença, por favor". E foi para fora do cômodo de jantar.

Durante o trajeto inteiro caminhara com o punho cerrado ao lado do corpo, franzindo a testa. Tinham feito uma promessa.

Mas, quem estava tentando enganar? Nunca conseguiria sentir raiva de Link. Mesmo que se esforçasse.

Sabia mais que qualquer um que o escolhido tinha outras preocupações além de lhe servir. Era um rapaz atarefado e, mais que tudo, como de praxe, era o Herói de Hyrule. E ainda mais agora que seus poderes tinham despertado, não parecia tão necessário que seu cavaleiro a seguisse por todos os cantos. Zelda não era mais sua preocupação em primeiro plano e reconhecia isso. Reconhecia que se Link não estivesse lá para exercer seu cargo de cavaleiro, não era seu dever bancar o conselheiro real, nem seu ouvinte, nem nada.  

Mas parecia tão difícil dar o braço a torcer. Soberana egoísta!

Dobrou a esquina de mais um corredor, quase topou de frente com alguém; Ambos travaram em seus lugares. O indivíduo retirou o manto da capa sobre a cabeça: Era Link. A madeixa loura totalmente desordenada; a franja tinha endurecido para o alto feito um pássaro. A túnica Champion estava em estado caótico, com o aspecto encarvoado e com um rasgo no ombro. Link e seus olhos miraram a rainha, meio evasivos, parecendo um cãozinho dengoso.

Zelda oscilou a visão entre o olhar azul e a situação de suas vestes. E foi mágico: sua sobrancelha grossa, que ainda estava crespada num "V" de fúria, rapidamente se desestruturou. Zelda estava rindo.

"Parece um espinho", delicadamente cutucou a pontinha aguda da franja com a extremidade do dedo.

Link deu um riso disfarçado, sem jeito, inclinando o rosto para baixo.

Zelda, de repente, como se tivesse relembrado a mágoa, recuou seu toque. “Pensei que não viria", o timbre entristecido ficou visível, “Todos esperavam te ver durante o jantar”

“Reportaram de última hora sobre uma criança com febre alta em Mabe Village", se explicou, “O pai não tinha condições de sair e-”

“Pare, Link”, Zelda disse em tom forte, sem se atrever a entreolha-lo, como que se preocupasse em não demonstrar os ressentimentos a qual ela mesma julgava fúteis, "Eu te conheço o suficiente para prever que isso aconteceria,”

Completou:

“E... Eu não gosto quando diz assim. Não gosto quando me trata dessa forma", já Link, não sabia se fitava-a ou não, se pedia desculpas ou se deveria ficar quieto de uma vez por todas, "Me incomoda"

"Assim?"

"Isso"

Rígido e sem respostas claras de Zelda, Link despachou o olhar para longe, enquanto girava o pescoço numa tentativa de estalá-lo e torná-lo menos tenso.

"Apenas...", Zelda tomou fôlego; pensou, pensou muito, pigarreou, falou pouco: "Curta a comemoração como puder. Okay?"

 

xxxxxxxxxxxx

 

Sendo o cavaleiro da rainha, deveria -- não só naquela noite, como em qualquer outra ocasião -- escoltá-la com ao menos um pouco de decência e limpeza. E era o que Link faria: Se daria um trato. Um banho de água fria para reacender os ânimos e dar vida ao rosto. Era um momento para alegria, entusiasmo. Deixar o velho reino nas memórias e vivenciar o momento de paz. Afinal, aquele era um dia especial -- todos diziam isso.

Link mergulhou com os pés para dentro da jacuzzi de banho e deixou seu corpo imergir na água. Pôs os antebraços apoiados à borda da banheira e começou a mirar o nada.

Sua mente masoquista logo o fizera recordar o semblante que Zelda manifestou assim que se encontraram. Parecia decepcionada. Logo no dia especial, o cavaleiro da rainha tinha se atordoado nas tarefas e posto os planos iniciais por água abaixo. Que escória.

Link costumava manter seus compromissos com Zelda bastante firmes; sempre. Planejava na mente o que teria de fazer e resolver, e elaborava uma estratégia quase que militar para que pudesse cumprir tudo a tempo, mesmo que surgissem imprevistos.

Desta vez, não bastasse as coisas terem desandado, Zelda ainda o fizera prometer. Quebrar promessa era fardo pesado para Link.

Mas, o herói de Hyrule engrenava suas teorias mentais: tinha quase certeza de que toda aquela desordem vinha desde cedo, quando acordara com um baita mau-estar. Não era do tipo físico. Nem mental. Emocional. O mal-estar vinha do espírito.

Foi, foi desde aquela manhã; sentia algo embrulhando seu estômago. Logo no dia da re-inauguração. O porquê? Bom, o mal provavelmente não tinha sua origem somente por causa de sua inquietação para festas. Não. Com certeza. Parecia mais um... pressentimento ruim.

Link fez uma concha com as mãos, apanhou água pelo côncavo que se formou, e levou o rosto até ali.

O primeiro fogo de artifício subiu ao céu cobalto da noite, indicando que as comemorações estavam prestes a começar.

Link saiu direto da sala de banho para seu quarto -- um cantinho particular do castelo que lhe era reservado.

Mirou, sobre a larga cama, a nova túnica que lhe fora reservada; uma muito semelhante ao traje dos Champions, descartando a cauda da blusa e o fato de que suas mangas agora eram compridas. Zelda a havia encomendado há alguns meses; feita pelo melhor alfaiate e moldada nos melhores tecidos nas proporções certas. Dum pano leve e bastante flexível, que permitia movimento, conforto, e -- pela misericórdia de Hylia -- pouca transpiração.

Link olhou p’raquilo e se sentiu um pouco mais motivado.

Vestiu a nova túnica e seus novos equipamentos -- calças, botas, luvas, guarda-braço. Tudo novo.

Antes de sair do cômodo ficou frente a frente com o próprio reflexo no espelho. Decidiu não repartir o cabelo desta vez; a madeixa longa pairou sobre os ombros. "Tudo ficará bem", desejou em pensamento, soltando ar pela boca, tranquilizando-se, "Esse é o recomeço. Um novo começo".

Link apanhou a bainha sobre a cômoda, ajustou a fivela no peito e sacou seu armamento primordial -- a icônica Master Sword—- também sobre o móvel. "Tudo bem", pensou, enquanto punha a espada às costas, a mão endurecida na empunhadura como quem não queria soltá-la de jeito algum. "Vai ficar tudo bem"

E a Master Sword fincou ali, grudadinha.

A comemoração chegou ao seu ápice às doze badaladas. Zelda e seus convidados seguiram para a larga e privilegiada sacada do castelo. Cada rojão que subia ao céu e estourava numa fagulha colorida parecia fazer tremer o chão, tamanha a intensidade. Os fogos, afinal, vinham de todos os extremos de Hyrule; leste a oeste, norte a sul, de Akkala ao deserto.  

“Bonito à beça”, Yonobo disse, movimentando as bochechas roliças que mais pareciam dois tomates inchados e maduros.  

"É lindo mesmo", suspirou Zelda, maravilhada, as mãos empoleiradas ao parapeito da sacada. "Não acha?", fitou Link, quem estava à sua retaguarda, por cima de seus ombros; um sorriso doce nos lábios.

O herói de Hyrule -- embora não aparentemente -- tremeu nos calcanhares. Um sentimento estranho e inesperado o atingiu no peito. Naquele momento, Link podia ter certeza de que sentiu a Master Sword incandescer nas costas -- foi quando pensou em transmitir para Zelda acerca das angústias que o tomaram pela manhã. Mas, não era do seu feitio dispor as cartas na mesa com antecipação. Guardaria para si, no mínimo -- aquele hábito fazia parte de Link. Só contaria se fosse visivelmente necessário.

De praxe, Link fingiu ignorar aquilo -- abriu um pequeno sorriso, e assentiu com a cabeça para a rainha.

“Parecem um montão de jóias”, soltou Riju, e Teba resmungou alguma coisa baixo.

“Sim! Eu poderia ficar olhando por horas”, o brilho policromo do céu reluzia sobre a vista fascinada de Sidon.

De fato, o céu, belíssimo, parecia carregar o brilho de que agora os dias seriam prósperos.

 


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