Era mais distante do que imaginava, mas chegou. A chuva fraca molhava seu capuz. Pandora corria até o beco. Sentia seu estômago embrulhado, o nervosismo tomando conta de seu corpo. Ela bateu na porta de madeira quatro vezes, fez uma pausa, e bateu mais duas. Não lembrava se era essa a batida no sonho, mas funcionou. Ninguém abriu a porta, escondido pela escuridão atrás dele.

—Trouxe a Caixa? - perguntou.

—Sim.

—Foi seguida?

—Não.

—Entre.

Entrou assim que a porta e a grade foram abertas. A luz acendeu, iluminando o vazio e mofado lugar. Ninguém ofereceu um pano para cobrir seu rosto e ela o enrolou. Pandora observava o lugar. Além de vazio, as paredes descascavam e o chão era feito de barro.

—Parabéns, Pandora! Não encontrou as forças do mal e veio conhecer sua missão. Já se perguntou o porquê?

—Pensei nisso por um tempo.

—E escolheu vir para cá por medo.

—Não. - Pandora expressava confusão.

—Sim, medo. Não percebeu? Você sente muitos medos. Medo do seu pai agressivo, de sua mãe mentirosa, seu namorado popular e da irmã valentona, da melhor amiga que te deixa na mão, da festa adolescente. Tudo isso a trouxe para cá.

—Eu vim porque você pediu para não decepcioná-lo outra vez - argumentou.

—Não. Você abriu a caixa quando eu pedi para não abrir. Não confia em mim. Mas você pode escolher fazer o que quiser sem ouvir o que as pessoas têm a te dizer. E essa é sua missão.

—Minha missão é ignorar as pessoas?

—Sua missão é se juntar à Ordem e proteger a Caixa das novas forças do mal que surgirão. Eu estou velho, manco, você fez um bom trabalho até aqui. Seria bem-vinda na Ordem. Entretanto, sua vida se encerraria. Nada de namoro, de amigos, de família, de diversão.

—Eu…

—Ou pode escolher seguir em frente. Manter tudo isso. A Caixa ficará segura com outra pessoa da Ordem bem longe daqui. Não importa se vai me decepcionar ou não. A vida é sua, a escolha também.

Pandora ficou pensando. Vale a pena desperdiçar o que sua vida lhe reservava para proteger uma caixa misteriosa? Ela nem sabia detalhes sobre a Ordem, não sabia quem eram as tais forças do mal. Por outro lado, temia que sua vida se resumisse à timidez e que tudo o que foi dito sobre seus ‘medos’ seja real. Mesmo com o curto tempo, ficar com a Caixa fez Pandora ser mais pensativa. E ela gostou disso.

—O que você perdeu quando escolheu entrar para a Ordem? - questionou Pandora.

—Nada. Não tinha amigos, nem namorada. Minha família morreu quando eu era adolescente. A Ordem me salvou de uma vida de miséria.

—Desculpa, eu não posso aceitar. Eu quero ter minha própria vida e a Caixa… Foi imposta a mim, eu não a pedi. É injusto eu ficar com ela e perder tudo.

—Bom ponto. - A voz dele exprimia satisfação com a decisão. - A Caixa de Alexandria, por favor.

—Sim, eu ia esquecendo. - Pandora entregou a Caixa ao Ninguém. Ele guardou dentro da roupa.

—Prometo que a Ordem ficará longe de você assim que sair por aquela porta. Tenha bom proveito da vida.

Pandora agradeceu com a cabeça e saiu. Atrás dela, as luzes se apagaram e tudo se trancou. Sentiu-se vazia e leve, como se um imenso peso saísse de seu corpo. “Escolher a minha vida era o caminho mais aceitável”, pensou. “Mesmo que minha vida não seja das melhores”.

Tinha uma possibilidade de escolhas a fazer. Pensava em retornar à festa e cair na piscina. Beijar Leo. Confrontar Juliete. Quem sabe tudo pode melhorar se ela escolher seu caminho?

Pandora seguiu sem rumo, apenas pensando nas possibilidades. De repente, em um pensamento, se questionou se aquela aventura foi real.