A Clínica dos Poderes Disformes escrita por Pamisa Chan


Capítulo 4
Quem é você?


Notas iniciais do capítulo

[AVISO DE GATILHO - menção de relacionamento abusivo]
Mais um cap cheio de muita treta pra vocês xD
No capítulo anterior, Kate jantou com os pacientes e teve uma briga com Kiara, que fez Felicia ir parar na reclusão. Kate ficou em dúvida se deveria continuar na clínica, mas no outro dia ela apareceu lá de novo. O que acontecerá nesse primeiro dia de trabalho da Kate?



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— Kate! — Kyle e Jeremy exclamaram ao ver a jovem de cabelos curtos diante de seus olhos.

— E não é que ela voltou? — Mary disse surpresa porém sem perder a elegância de seu tom de voz.

— Pessoal, esta é Kaitlin Burns e ela é oficialmente a nova integrante da equipe da Cridisp! — A senhora Hipkins anunciou para todos os presentes com um entusiasmado sorriso. — Sejam gentis com ela! Ela vai ajudar na programação das atividades da clínica. Depois do café vocês podem se reunir no saguão para tirar suas dúvidas.

— Prometo que vou dar o meu melhor pra contribuir pra que a vida de todos seja ainda melhor aqui! — Kate declarou com um sorriso tímido e foi se sentar com os funcionários logo em seguida.

Depois do café da manhã, todos se reuniram no saguão de frente para Kate e Albertha.

— Quem tiver perguntas para a senhorita Burns pode levantar a mão.

Várias mãos se ergueram nesse momento e Kate ficou observando os pacientes, um por um, tentando decidir quem chamaria primeiro. Ela se lembrou do garoto de cabelos loiros que conhecera na sala de pintura.

— Você... Sereio, né? — Ela apontou para o rapaz e todos, inclusive o próprio, riram com o apelido.

— Minha pergunta é... você é solteira? — Ele deu seu típico sorriso de canto e Kate sentiu seu rosto ferver.

— Sim — Ela gaguejou — E pretendo continuar assim... — Respondeu num tom bem humorado, que fez Sean, Jason, Kyle e Jeremy rirem e darem soquinhos amigáveis no rapaz.

Mais uma pessoa ergueu a mão.

— Sean? — Kate o reconheceu e ficou feliz em vê-lo ali.

— A resposta é relativa. Podemos dizer que o senhor Herbert tem a idade de Schrödinger. Ele é e não é mais velho.

— Uau, muito obrigada.  — a garota respondeu admirada — Não consegui dormir à noite pensando nisso — brincou, fazendo o rapaz rir — Aliás, é bom te ver aqui! Você tá melhor?

— Positivo!

— Ótimo! Alguém mais? — Kate olhou para o grupo de jovens procurando alguém com a mão levantada.

E ela encontrou. Kiara. Hesitante, ela chamou a garota.

— Você disse que quer melhorar nossa vida, mas em um dia aqui você fez dois pacientes irem pra reclusão. Como podemos ter certeza de que isso não vai acontecer de novo?

Todos ficaram em silêncio dividindo seus olhares entre as duas. Depois de alguns segundos, a senhora Hipkins interveio:

— Senhorita Ljungberg, a senhora Burns não...

— Com todo respeito, Bertha, eu quero ouvir a resposta dela. — Kiara a interrompeu.

Kate e Albertha Hipkins se entreolharam e a mais nova mostrou confiança para responder.

— Primeiramente, eu reconheço que fiz algumas coisas inapropriadas por ignorância. A gata que o diga... — Kate começou e olhou para a felina que estava no colo de Melinda.

— Isso é verdade... — Mary concordou.

— Mas eu gostaria que vocês entendessem que eu estou aqui pra aprender também. Eu não sou menos injustiçada na sociedade que vocês. Eu sei como é sofrer preconceito da maioria. Como alguns sabem, eu não tenho poderes. — Os poucos pacientes que ainda não sabiam disso, se espantaram — Então a parcela de preconceito é ainda maior, porque infelizmente, a gente acaba sofrendo preconceito até de outras minorias, como alguns disforme-poderosos...

Os olhos da senhora Hipkins começaram a lacrimejar ao lembrar de seu filho, mas ela não perdeu a compostura.

— Mas saibam que a gente tá nessa juntos! Eu quero aprender com vocês, quero conhecer o seu mundo. Eu vou cometer erros, e me desculpem desde já por isso. Mas eu tô aqui porque acredito que a gente pode se ajudar e se tornar uma grande família. Quer dizer... Eu sei que vocês já são uma família. Mas eu queria permissão pra entrar nela também.

Os pacientes a encararam radiantes durante esse discurso, e a aparência antes sisuda de Kiara começou a se modificar para uma feição mais compassiva.

— Eu não tô aqui pra criar inimigos. Por que eu iria simplesmente decidir que vou sair da minha casa e vir aqui todos os dias, sem ganhar nada, só pra ficar semeando discórdia?

— É verdade, Kiara... — Felicia comentou com a amiga.

— Eu sei o quanto todo mundo aqui é muito importante pra você, Kiara. Eu não quero tirar isso de você e não quero machucar ninguém. Pode ter certeza que só nesse pequeno dia que passei na clínica eu já aprendi a gostar de cada um daqui. Você não pode me dar uma chance?

Depois dessas palavras, todos voltaram seus olhos para a loira e ficaram esperando uma resposta. Por fim, ela suspirou e disse:

— Tudo bem... — A garota que estava longe, usou seu poder elástico para estender o braço até Kate e apertar a mão dela em sinal de paz. — Mas se você machucar alguém de novo, vai se ver comigo.

— Certo... Agora que ninguém mais tem perguntas, eu gostaria de fazer um tipo de jogo. — Kate propôs e pegou uma prancheta e uma caneta que estavam em uma mesinha ali perto.

— Eba! Eu amo jogos! — Julia falou com pulinhos de empolgação e todos só conseguiam ver suas roupas subindo e descendo.

— Vamos fazer uma roda. Eu vou fazer perguntas e vocês vão responder um de cada vez, na ordem, ok?

Os pacientes começaram a se reorganizar no espaço até que formaram o círculo pedido por Kate. As enfermeiras ficaram de fora, apenas observando. Ao lado esquerdo de Kate ficou o senhor Olsen, e ele foi o primeiro escolhido para responder a pergunta.

— Primeiramente, qual seu nome e idade?

— Meu nome é Herbert Olsen, tenho 87 anos.         

— O senhor tem poderes de voltar no tempo, certo? — Ela começou a anotar algumas coisas na prancheta — E acabou ficando preso aqui.

— Sim. — Todos olhavam para o idoso com os olhos bem atentos, ansiosos para descobrir aonde Kate queria chegar.

— Qual é sua maior dificuldade aqui na clínica?

— Tudo! Esse lugar é praticamente pré-histórico! Não tem nada aqui... No meu tempo ninguém sofre com poderes disformes! — Kate notou que ele não falava "poderes defeituosos" como os demais pacientes.

— Mas... se ninguém sofre com isso, como o senhor ficou preso no passado?

— Porque aqui ninguém consegue me mandar de volta!

— Entendi... — Kate arqueou as sobrancelhas e percebeu alguns pacientes mais jovens fazendo sinais de que o Vovô não sabia muito bem o que estava dizendo. — Bom, e você? — perguntou para a garota ao lado esquerdo de Herbert.

— Eu? — Julia usava uma camiseta de manga comprida e todos puderam ver o formato de seu braço se arqueando em direção a si mesma, apontando para o próprio peito.

Kate assentiu e a garota disse:

— Meu nome é Julia Hallman, tenho 27 anos e eu não tenho dificuldades, minha vida é incrível!

— Então... o que você tá fazendo na clínica? Achei que ela fosse pra pessoas com poderes def... — Kate começou a dizer e olhou para a senhora Hipkins que fez um olhar de desaprovação — poderes disformes... que tem dificuldade de viver em sociedade.

— A quem eu estou tentando enganar? Minha vida é uma tragédia! — A garota colocou o braço na testa num gesto dramático — Meus pais se separaram quando eu tinha dois anos e como eu fiquei invisível eles nunca mais me encontraram e eu vim parar aqui...

— Isso não é um orfanato! — Sophie gritou do outro lado da roda, com os braços cruzados.

— Você me falou que seu pai morreu num acidente! — Kiara retrucou.

— Ela disse pra mim que veio pra clínica porque queria encontrar a cura! — Christine contou.

— Sério que vocês ainda perdem tempo ouvindo as histórias dela?! — Lilian perguntou incrédula e deu um tapa na própria testa.

— Peraí... cura? — Kate olhou para Chris com os olhos arregalados.

— É, estão desenvolvendo a cura pra alguns poderes defeituosos... Os desenvolvedores sempre levam em primeira mão para as clínicas. Mas por enquanto ainda não chegou nenhuma cura aqui. É uma clínica muito remota... — Christine explicou.

— Basicamente eles usam os defeituosos como cobaias! — Sophie acrescentou com sua revolta costumeira.

— Ouvi dizer que muitos deles morrem... — Edgar soltou de repente, fazendo todos o encararem surpresos.

— Senhorita Nagayama e senhorita Weinhart! Não falem assim! — A senhora Hipkins corrigiu novamente — E Edgar, isso são boatos! Senhorita Burns, eu não estou entendendo aonde quer chegar com isso!

— Não são boatos, a minha tia morreu há cinco anos por causa da cura... — Julia fez sua voz chorosa novamente.

— Ninguém nem imaginava que existiria "cura" cinco anos atrás, sua tonta! — Kiara respondeu irritada.

— Ok, tudo bem... — Kate fez mais algumas anotações — Isso faz parte do meu trabalho, senhora Hipkins. Será que eu e os pacientes poderíamos tem um tempo a sós? — Ela perguntou educadamente e todos os pacientes fizeram sorrisos amigáveis e pidonchos para a enfermeira chefe.

— Tudo bem. Mas a senhorita Zhāng vai ficar de olho! — Albertha disse e foi em direção ao elevador.

Kate olhou para a enfermeira asiática e ela piscou para Kate. No mesmo instante, ela se lembrou do zelador. "Mas que malandro!", pensou e esboçou um sorriso bobo.

— Quem é malandro? — Felicia perguntou, fazendo Kate arregalar os olhos e corar.

— Quê? Oi? Hã? Bom, vamos voltar ao jogo. Você. Se apresente e diga o que mais acha difícil aqui na clínica.

— Meu nome é Melinda Flynn e eu tenho 19 anos. Eu amo viver aqui! Tenho muita liberdade! Só acho um pouco ruim que às vezes os pacientes tem auras muito negativas...

— Novamente, se você está bem, por que veio pra clínica...?

— Meus pais acharam que seria bom eu socializar com outras pessoas como eu. Eu nunca saía de casa, porque eles tinham medo de eu sair voando e me perder no céu, então acabei crescendo dentro de casa. Minhas únicas amigas eram minhas bonecas e os quadros na parede. Agora eu tenho muitos amigos incríveis!

— Entendi — Kate fez anotações e sorriu. — Próxima. — Ela olhou para Mary, que ainda estava no colo da jovem.

— Sou Mary Porcher, tenho 38 anos e, bom, ser uma gata não é fácil. Cuspir bolas de pelo, fazer as necessidades em caixinhas de areia, tomar banho com lambidas... Não são coisas muito condizentes com uma madame como eu. Mas não posso dizer que não tem suas vantagens... — Mary colocou a pata sobre a mão de Mel e a garota começou a afagar a cabeça da felina. — Isso é muito bom...

— Que bom que tem seus lados bons! — Kate riu e anotou mais coisas — Você... Kilo, né?

— Olha, você lembrou meu apelido... — O rapaz sorriu abobalhado — Bom, meu nome é Kyle Marx e tenho 28 anos. Minha maior dificuldade é ter que aturar esse duende no meu ombro! — Ele apontou para Jeremy.

— EI! Magoou! — O pequeno retrucou.

— Mentira, minha maior dificuldade é o fato de que eu destruo tudo em que eu encosto. Só essa semana já quebrei uns dois sofás, quatro controles remotos e umas dez maçanetas.

— Ah... me lembre de sempre te dar oi de longe. — Kate riu e fez suas anotações. — E você?

— Meu nome é Jeremy Smith, tenho 29 anos e... tô solteiro. — Ele sorriu para Kaitlin — Minha dificuldade aqui é correr o risco de ser pisado o tempo inteiro. Uma vez o Jason quase fez isso, mas né, ele não tava usando a prótese, então estou vivo ainda.

Kate arregalou os olhos e cobriu a boca tentando segurar o riso, até que ela olhou para Jason e percebeu que ele caiu na risada, dizendo:

— Essa foi boa, pouca sombra!

— Ok — Kate pigarreou — E você, Jason?

— Meu nome é Jason McCollins e eu tenho 30 anos. Minha dificuldade é não conseguir controlar meus teletransportes e indo parar em lugares inusitados. Mas tô melhorando!

— Você? — Kate perguntou para a garota ao lado dele.

— MEU NOME É...

— Riley, pelo amor de Deus, fica quieta! — Cherrie falou enquanto todos tapavam seus ouvidos. — Meu nome é Cherrie, não Cherry, Adams e tenho 22 anos. Minha dificuldade é aguentar a Riley tentando falar. Mas, amiga é pra essas coisas, né, fazer o quê?

Kate encarou as duas e percebeu o olhar de tristeza em Riley. Ela continuou as perguntas com os outros pacientes mas não se esqueceu do que vira não só uma vez  acontecendo com a garota de voz supersônica.

— Sou Kiara Ljungberg, 24 anos. Tenho uma certa dificuldade pra me locomover devido a elasticidade das minhas pernas, mas nada que meus braços não ajudem...

— Imperceptível... — Kate murmurou sarcasticamente e fez anotações — Felicia?

— Sou Felicia Thrussel e também tenho 24 anos. Eu não consigo ficar muito tempo em lugares com muita gente porque os pensamentos de todos ficam enchendo minha cabeça e... — Ela começou a se desesperar — Eu não aguento isso... — Ela cobriu a cabeça com as mãos e começou a choramingar.

— Tá tudo bem, Fe... — Kiara abraçou a melhor amiga, tentando acalmá-la. — Isso acontece com uma certa frequência...

— Ah, então não é culpa minha? — Kate se indignou.

— Achei que tivesse pedido trégua.

— Eu mereço... — Lilian colocou a mão no próprio rosto em desaprovação. — Vamos continuar isso aqui, por favor?! Eu sou a Lilian Beaumont, tenho 43 anos blá blá blá. Próximo.

— Quais suas dificuldades na clínica? — Kaitlin se recompôs e perguntou para a garotinha.

— Ainda precisa perguntar depois desse showzinho?

— Mau humor — Kate pronunciou pausadamente enquanto anotava.

— Não, querida. Falta de paciência pra drama.

— Pelo menos uma pessoa me entende nessa droga. — Sophie falou depois de ouvir as palavras da pequena.

— Ok, ok... —Kate interrompeu e olhou para a próxima na roda — Você? Christine, certo?

— Sim, Christine Nagayama, 20 anos...

— Acho que nem precisa falar suas dificuldades... — Kate lembrou da conversa no dia anterior e sentiu calafrios.

— Bom, eu não tinha mencionado uma coisa... Embora eu tenha coisas adaptadas que posso usar aqui dentro... Eu nunca saí lá fora. Nunca fui no jardim.

—Mas e os seus sapatos de imperânio?

— Ninguém sabe que a gente tem imperânio aqui, sair com qualquer coisa de imperânio seria pedir pra ser assaltado.

— Por que você acha que você nunca ouviu falar de imperânio antes de entrar na clínica? — Sophie acrescentou.

— É, faz sentido... — Kate se contentou com a resposta e escreveu na prancheta. — E você?

— Sophie Weinhart, 19 anos. Seria mais fácil você perguntar o que torna minha vida fácil nesse antro vil de desgosto.

— Coitadinha, como ela sofre! Só porque os pais mandaram ela pra cá... — Kiara ironizou.

— O que você sabe sobre mim, sua intrometida?! — A garota replicou, saindo do seu lugar na roda para conseguir encarar Kiara nos olhos.

— O que você vive falando pra todo mundo, que sua vida não presta, e que ninguém presta porque seus pais te abandonaram só porque você solta gelinho pelas mãos. — A mais velha começou a erguer o tom — "Olhem pra mim, eu sou revoltada com tudo e todos porque meus pais não quiseram mais saber de mim e me mandaram pra um lugar onde as pessoas me dão valor de verdade e cuidam de mim, mas mesmo assim eu maltrato todo mundo porque eu sou uma adolescente rebelde e preciso arrumar um jeito de chamar atenção!"

—Quem é você pra falar alguma coisa de mim, sua... — Weinhart gritou e sacudiu os braços e quando menos esperava, um raio de gelo saiu de suas mãos, atingindo Kiara em cheio, paralisando seus pés.

Todos olharam a cena com espanto e Richard rapidamente foi na direção da garota elástica para aquecê-la com seus poderes. Antes que ele pudesse tocá-la, porém, Kiara gritou:

— Quem sou eu?! Quem sou eu, Sophie?! Eu só fui abandonada antes de completar um ano de idade porque nasci com poderes defeituosos e cresci nas ruas até conhecer um cara que disse que ia me tirar daquela vida e na verdade ele só me usou e fez isso comigo! — A garota deslocou um pouco a gola da camiseta, revelando uma grande cicatriz que ia do ombro até o peito. — Ele era um eletrocinesista. Sempre que eu fazia alguma coisa que ele não gostava, ele me dava um choque, só pra assustar. Mas naquele dia ele se irritou demais... e me acertou com uma descarga de alta tensão. Quando percebeu o que fez, ele me largou ali e saiu correndo. Felizmente, alguém que tinha ouvido o barulho ligou pra ambulância e eu sobrevivi. Do hospital, depois de ficar um bom tempo internada, eu fui enviada direto pra Clínica. — A voz da garota estava embargada e ela começou a chorar enquanto lembrava — Eu, Sophie, só tenho a agradecer por ter sido acolhida aqui! Eu agradeço todos os dias por ter cada um de vocês na minha vida — Ela começou a soluçar e a secar as lágrimas incessantes em seu rosto — Vocês são a minha família! Minha família de verdade! E eu não consigo nem pensar em fazer qualquer coisa pra machucar qualquer um de vocês! Eu sou grata pelo simples fato de estar viva hoje!

Sophie não conseguiu falar nada, ela apenas ficou olhando para Kiara, boquiaberta, enquanto lágrimas esquentavam todo seu rosto. Enquanto tudo isso acontecia, as enfermeiras e enfermeiros chegaram com os objetos necessários para o descongelamento. Eles afastaram todos, inclusive Richard e colocaram a garota numa maca, levando-a para o andar de cima. Alguns funcionários permaneceram no saguão para conter os pacientes durante o alvoroço.

Nesse momento, a garota de poderes de gelo começou a entrar em pânico, exigindo que deixassem que ela subisse junto de Kiara. Quanto mais ela se desesperava, mais perdia o controle sobre seus poderes. Ela começou a soltar vários raios de gelo e isso levou os enfermeiros a imobilizarem ela e a levarem para a enfermaria também.

No final das contas, sobraram Kate e os outros pacientes além de um casal de enfermeiros para supervisioná-los.

— O jogo acabou... — Kaitlin suspirou frustrada e foi em direção à recepção.

— Peraí, Kate! — Sean tentou impedir a garota — A gente ainda não falou...

— Depois do que aconteceu agora, é óbvio que não vou ser eu que vou resolver os problemas de vocês... — Ela saiu cabisbaixa.

Sean quis segui-la e Jeremy e Kyle tentaram acompanhá-lo, mas a enfermeira os impediu de sair dali.

— Todo mundo vai ficar aqui quieto até a senhora Hipkins voltar! — ela ordenou.

— Por que a garota pode sair?! — Shane perguntou estressado.

— Porque ela não é defeituosa que nem a gente, né, idiota? — O outro Shane respondeu com o mesmo tom.

— Ninguém aqui é defeituoso! — A enfermeira retrucou batendo o pé no chão, fazendo balançar seus cabelos negros presos num rabo de cavalo.

— É claro que ela é, ela não tem poderes... Não deixa de ser um defeito. — Mary lembrou calmamente enquanto passeava pelo saguão. — O que, claro, não é uma coisa ruim.

 — Será que a Kiara não tinha razão? — Felicia perguntou de repente, encolhida no chão, apoiada na parede da sala de musicoterapia.

— Do que você tá falando? — Kyle questionou, se aproximando da garota.

— E se é a garota nova que tá trazendo todo esse sofrimento pra gente? Primeiro o Sean, depois eu, agora a Kiara e a Sophie...

— Não fala assim, Fe! — Mel voou até a amiga e ficou levitando do lado dela. — É claro que ela não fez nada disso de propósito!

— Eu... eu não sei...

— Se você duvida tanto da menina, leia os pensamentos dela. — Lily revirou os olhos.

— É, você não tem porque achar isso dela! A Kate é gente boa! — Sean acrescentou.

— E... e se for isso mesmo? — Christine falou com a cabeça baixa.

— Até você, Fantasma?! — Jeremy se espantou.

— Eu não sei... fazia tempo que eu não via a Sophie ficar assim...

— Foi a Kiara que começou! — Cherrie lembrou, brava.

— É VERD...

— Quieta, Riley!

— Gente, a Kiara só queria mostrar a realidade pra Sophie, pra trazer um pouco de gratidão pro coração dela... — Mel novamente tentou mostrar o lado positivo de todos.

— Não é hora de discutir de quem é a culpa! — Kyle gritou, fazendo todos ficarem quietos e o encararem. — Vocês viram a Kate falar? "Depois do que aconteceu, é óbvio que não vou ser eu que vou resolver os problemas de vocês".

— O que ela quis dizer com isso? — Jeremy questionou.

— Que ela provavelmente vai ser dispensada depois do que aconteceu. — Mary explicou.

— Dispensada? — O rapaz ainda não estava entendendo totalmente — Tipo...

— Tipo demitida, expulsa, eliminada, jogada pra escanteio! — Julia exclamou e era possível notar que seus braços se mexiam freneticamente.

— Essa não, a gente não pode deixar isso acontecer! — Wayne se manifestou.  — Ela foi a garota mais gata que apareceu na clínica em todos os meus... — ele começou a contar nos dedos — quatro anos aqui! — O garoto sentiu um tapa violento em seu pescoço — AI!

— Não é hora pra isso, seu idiota! A Sophie surtou, a Kiara foi congelada, a Kate vai ser convidada a nunca mais botar os pés na clínica e você tá aí falando essas tonteiras?! — Julie se revoltou.

— O que a gente vai fazer? — Christine perguntou preocupada.

Antes que pudessem bolar um plano, a senhora Hipkins apareceu no saguão pelo elevador.

— Cadê a senhorita Burns? — Ela perguntou sem rodeios.

— Ela foi para a recepção. — A enfermeira que estava vigiando os pacientes respondeu sem permitir que eles inventassem qualquer resposta.

Albertha passou por entre os jovens indo em direção à recepção e um silêncio tomou conta do local. Ela abriu a porta e viu Kate sentada em posição fetal no sofá branco da recepção. Ao perceber a porta se abrindo, a garota olhou para trás, revelando para a enfermeira chefe seus olhos avermelhados pelo choro.

— Kate, posso conversar um pouco com você?


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Notas finais do capítulo

UUUUUUUU Que clima hein?
O que acharam do cap? Se surpreenderam com as idades e aparência dos personagens? (sei que alguns já sabiam porque viram as fichas de cada um xD) O que acharam da história da Kiara? O que acharam da treta entre Kiara e Sophie, de que lado vocês estão? E será que a Kate vai ser demitida logo no seu primeiro dia????
Até domingo que vem!



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