Good Enough: Even If You're Not Here escrita por Celedrin


Capítulo 2
Capítulo 2: A Primeira Vez Que Saímos Juntos


Notas iniciais do capítulo

Essa Short Fic foi criada para o Desafio do Dia dos Namorados.
Boa leitura!



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A Primeira Vez Que Saímos Juntos

Recapitular aquilo tinha um leve amargor, conclui. Apesar de ter mudado de opinião facilmente quando me mostrei, ele me odiou desde a primeira vez que pôs os olhos sobre mim.


Levantei-me da rocha na qual estive sentada desde que saí para meditar. Não... Desde que saí para me matar. Não comido e sequer dormido durante esse ano, gastei tudo o que eu tinha, todo o meu poder para meditar, para orar...  O fato de poder direcionar minha energia, foi minha salvação. Quando deixei ao meu esposo, decidi que tirar minha própria vida era aceitável. Quando sentei nessa rocha, decidi esperar pela morte que o tempo traria, porém recordar o quanto o amo, fez com que desistisse de deixá-lo.


Cultivei gratidão, amor, saudade e simpatia, senti novamente  que o mundo era habitável. Que pouco importavam os problemas desde que ele estivesse ao meu lado. Poderia, de fato, conviver com outras pessoas.


Meu corpo sentia calor, muito calor, ele queimava sob minha pele; e sede, sentia muita sede, doía, e teria de me alimentar se quisesse voltar pra casa, ao menos eu ainda posso tentar.


Alonguei-me e meus ossos estalaram, aumentando. O sangue passou a correr com força quando a lua apareceu detrás das nuvens, de tudo o que tentei evitar, a transformação foi a mais difícil. Metade de mim queria se transformar em um lobo na lua cheia e caçar, metade deveria me impedir. Consegui, porém não havia como impedi-lo agora.


Partes de minha pele estavam soltando. Levantei a mão em que ainda usava a aliança de noivado e arranquei o tecido que deixava meus braços, sob ele, um pêlo alaranjado, certamente a cor mais odiosa para mim, surgia. Meus olhos, azuis, tornaram-se verdes; somente a lua cheia transformava-me, somente enquanto ela estivesse sobre mim, eu seria um lobisomem.


Irei caçar, meu lobo tem muita, muita fome. Essa forma dói, como vampira posso evitar meus sentimentos, mas como Alfa, toda tristeza, solidão, culpa e dor, virão. 


Recordava-me de quase ter sofrido uma transformação em Okien, na casa de meu sogro, quando Olgierd ainda me odiava. Eu não queria sair, lembrava de esforçado-se ao máximo para que o Ômega não ficasse perto de mim mais do que o estritamente necessário. Não queria ser tentada... Ou vê-lo perto demais. Ou que qualquer um me visse, principalmente ele. Sendo a primeira vez que desejava alguém, não apenas fisicamente, eu não conseguia evitar o desejo de olhar, de tocar, de ter, e essa maldita atração incendeia meu corpo mesmo agora, anos depois.


Ser capaz de transformar-me significava que era uma deles e, naquela época, o rei dos lobos, Olgierd, não podia saber...

[Lembrança]

Sentada na beirada da mesa, admirava a vista privilegiada que tinha daquele jovem. De bruços, com a pecaminosa regata branca, os fios negros de seus cabelos destacavam-se em meio as cobertas claras de minha cama.


Ah, eu sabia que estava fazendo errado. O primeiro passo que havia dado errado fora escolher alguém que me atraía, o segundo fora deixá-lo dormir em minha cama e sabia que haveria um terceiro. E eu ansiava por ele.


— Não posso desonrar aos meus pais... - Tanto meu pai quanto Claus confiaram que eu conseguiria manter a cautela e a calma no reino do lobos. Seria uma desonra se me deixasse levar. - Atração física não combina comigo... Senhor, o que eu estou fazendo?


Eu precisava conhecer os arredores da cidade, ver como vivia o povo, mas  não conseguia concentrar, o Ômega deitado em minha cama não parecia desejar despertar tão cedo e era minha distração. A melhor em milênios...


— Não sou tão fraca... - Sentia o corpo quente. Minhas costas doeram, os ossos estalaram, crescendo, e com tudo o que tinha, rejeitei a transformação. - Ah, Deus, o lobo quer ele. O que é que falta acontecer?


Parte de mim que deveria permanecer trancada, ele despertava; a distância entre nós agora é necessária. Tenho muito trabalho a fazer e não posso ficar aqui até a lua cheia, sequer o estou dominando semanas antes dela, quando todos os seres desse lugar assumirem sua forma original, meu lobo vai forçar transformação. Não quero mais problemas.

 

Meu corpo já sente falta do calor dele, tem algo errado demais comigo, algo que responde àquele pivete, mas o quê?


Estava desperta a três horas, são 7 da manhã. Foi impossível dormir ao lado dele, olhá-lo de perto, e após a discussão que tivemos, ele se tornara quase irresistível... Por que tudo caminhava em direção a fazer-me provar dele? Quero provar, só que é tão errado. Já orei, eu orei muito, e sei que posso resistir, porém, só de pensar nisso, não faço ideia do quão resistente eu posso ser.


— O que estou pensando? Eu não sou tão fraca!


[Algumas horas antes, noite anterior]

Pedia educadamente para que me mostrasse os arredores, um tour pelo reino. Porém, o garoto que parecia ter sido criado à partir do ódio, não queria ser visto comigo e mostrou-se irredutível, mesmo que eu houvesse explicado que o motivo pelo qual precisava de um acompanhante, era aquele.


— Se precisava de um servo, deveria ter pedido um.


Não queria discutir, o rapaz era um verdadeiro príncipe, mas não melhor que qualquer outro e suas palavras deram a entender exatamente o oposto. Seus pensamentos eram carregados de medo e suas palavras de ofensas, nunca levantaria minha voz para um Ômega, o que não significa responder educadamente.


— Se estás tentando diminuir a posição deles, é melhor que saibas bem da tua nesse instante. Um rei não diminui aos seus, pois sabe o trabalho que cada um faz, mas um concubino... este tenta elevar o seu de acordo com quem se deita. - Havia sido rude, não fora intencional, porém não poderia ser ajudada. -  Não quero ter que repetir isso, não me agrada a forma como soa, não aja como se fosse melhor que qualquer um.


— "Sim, qualquer coisa seria..." - O pensamento fora carregado de dor, não devia me deixar levar assim. Mas eu sabia quão humilhado o rapaz sentia-se e, sem pensar muito nas consequências, encurtei a distância entre nós, tocando o rosto dele.


— Perdoa-me, não quis ofender-te. - Assustados, os olhos castanhos dele subiram aos meus. Ainda que desejasse, não poderia reagir ou evitar meu toque. Sua pele era agradavelmente cálida. - Sei que não foi uma decisão tua, apenas não suporto hierarquias e aqueles que acreditam nelas. Não farei novamente. - Devia lembrar que ele não era um dos meus, que não podia tocar sem que mal entendidos fossem criados, apesar de todas as intenções que estou insistindo em esconder. Não podia pensar em quão adorável era o contraste de nossas peles, nem o quanto combinavam, ou sequer o quão demasiadamente lindo ficaria o pescoço dele com minha marca. Prendi a respiração. Queria marcar muito a pele dele. Marcar e transformar em meu. Não poderia ficar muito mais tempo a sós com ele. - Está na hora do jantar. - Murmurei, dando um passo para trás. A ânsia por tocá-lo havia aumentado, queria mais daquele contato e devia parar, por isso puxei minha mão de volta; o rapaz a impediu, segurando-a, visivelmente acanhado, mas com os olhos fixos nos meus. Deveria ou não afastá-lo? - Tu jantaste? - Negou. - Virás comigo? - Assentiu, animado.


Havia algo errado com o rapaz, não? Segundos antes, me estava desafiando, agora parece à vontade demais comigo. Ao menos, quando estivessemos próximos ao salão de jantar, ele teria de soltar-me.


— Alfa...? - O chamado atordoou-me, como ele sabe? Não havia deixado minha forma transparecer. Não poderia ter deixado isso passar-me despercebido. Não era possível, porém, como nada mais foi acrescentado àquela sentença, desconsiderei a ideia. - Me chamo Giovanni.


— É um prazer.

[ Presente momento, horas depois. Manhã seguinte ]

Giovanni dormiu agarrado a mim. Decidiu, sozinho, que deitariamos juntos, deliberadamente, após o jantar, ele subiu em minha cama, apesar do quarto adjacente estar preparado para ele. O pivete representa perigo, não do tipo que me mataria mas do tipo que me faria pôr uma aliança em seu dedo. Conversaramos até que o sono tomou-o. Eu não precisava dormir e ainda assim tentei, queria observar e sentir mais dele.


Como me excita tão fácil? É uma ridícula atração, horrivelmente forte, e essa foi apenas uma noite. O que está errado comigo? O que eu faria se mais noites como essa viessem? Cederia à qualquer coisa se ele apenas tentasse, tenho consciência que sim.


Talvez devesse pedir ajuda.

[ Horas depois, Giovanni]

No jantar, meu pai havia dito, de modo subliminar, para vê-lo o quanto antes, parecia irritado. Não foi inteligente segurar a mão da Alfa para entrar no salão.

Sentado na sala dele, eu o esperava; quando a porta abriu, soube que meu pai havia chegado. Levantando, curvei-me:


— Saúdo ao rei..


— Levante-se.  - Mandou, furioso. - O que estavas pensando noite passada? Sabe como me envergonhou? Sua mãe nem mesmo dirigiu-se a mim por sua causa.


— Me desculpa. Achei que não tinha nada de errado em...


— Aparecer com aquela rameira como se fossem amantes?! - Pensava que não poderia ser ideia do filho, sabia que ele também a odiava, à todos eles, pelo que fizeram com seu irmão. Devia tê-la matado quando teve a chance. -  Ela te mandou fazer aquilo? Ela se aproveitou...


— Ela não foi má comigo. Muito direta, mas não me fez mal. - Acrescentei.


— Ela sabe bem quem tu és! Está fazendo apenas para nos humilhar e tu ainda a defende? Ela está te rebaixando!    


— Pai, foi o senhor que designou todos os Ômegas, incluindo a mim, o primeiro a nos humilhar não foi o senhor?


— Tu estás do lado dela? Uma noite e ela já te pôs contra mim... - Olgierd tampou os olhos, mas ainda assim sua lágrimas eram visíveis. Que maldita dominância tinham os  vampiros sobre seus filhos? Charles não fora o suficiente, iriam tirar até mesmo Giovanni de si?


— Pai, não é assim... Ela me fez ver que... - Nossa conversa foi longa, porém os pontos citados foram fundamentais. Só preciso tentar entender, sei que diferente do que ela disse, meu pai não faria nada que pudesse evitar. - Por que nós, Ômegas, somos oferecidos? Por que nos rebaixa? - Secando os olhos, meu pai encarou-me, sem palavras. - Pai, me responde. O que fizemos? - Os labios dele sequer moveram. - O senhor ofereceu meu corpo a ela, mesmo sabendo quem era, mesmo eu sendo seu filho, me... entregou àquela mulher; para se proteger o senhor me... humilhou, rebaixou, me fez o mais desprezível. Sequer fui vendido, o senhor se desfez de mim. Aceitei pois é pela segurança de meu pai mas sou tão baixo quanto um prostituto. Pela tua  segurança, pai, eu perdi a minha honra! Eu sou sujo...! O engraçado é que evitaste me adotar publicamente porque eu poderia ser forçado a casar com alguém como ela! E cá estou eu, me prostituindo! - Mesmo com minha duras pelavras, fundadas em algumas verdades, ele não disse nada a respeito.

Por longos minutos a sala esteve em silêncio e tudo o que a Alfa disse, fez sentido para mim.


— Tu não és assim! O que ela te fez?


— Pai, por que... oferece os Ômegas? É apenas o que quero saber.


— Isso não é assunto pra você.


— Pra mim? Eu sou um Ômega, como sequer é um assunto meu...? - Por um momento, novamente, tudo fez sentido, decepcionando-me. A princesa era conhecida como reigicida por seus feitos, evitava guerras matando apenas os reis. Abolira a escravidão em tantas áreas que sequer poderia contar, mas meu pai odiava ela, a vampira que matava por liberdade. Seria isso apenas por meu irmão ou havia muito mais nisso? - Eu não acredito... É por isso que a princesa está aqui, não é?  Pai, o que o senhor tem feito conosco?


— Tu ficarás bem já que em uma noite ela te ensina política e a criticar teu próprio pai, de fato uma grande general. És meu filho, porém não sabe o teu lugar? Ela é nossa inimiga, ela nos fará mal quando quiser. Giovanni, não te esqueça do que foi feito ao teu irmão! Eles não tem sentimentos! Estás gostando dela, eu posso ver e te peço perdão por ter confiado algo assim a ti,  isso é um erro, um erro que custará tua vida!


— Pai... Amélia não é assim. - Sabia daquele detalhe, aquele pequeno detalhe. Os olhos azuis que tornaram-se verdes quando a distância era mínima entre ambos. Notara os olhos dela descendo aos seus lábios, assim como o calor em suas mãos e o aroma que desprendia de seu corpo, o desejo e a vontade de possuir. - Dê uma chance...


— Tu és igual ao teu irmão, preferes não ouvir-me! Se ele não houvesse cedido aos sentimentos por aquela meretriz, hoje ele estaria vivo! - Batendo com as mãos na secretária, seu pai o estava assustando, ele não era assim, sequer reconhecia os palavrões que saíam de sua boca.


— Os tempos mudaram.


— O povo dela fez de teu irmão morto! Estás te ouvindo? És especial, eles não farão contigo?! - Estava com medo. Medo do próprio pai. -  Mesmo que te faça sentir especial, não é como ela vê. Tu não é especial, não tens ninguém além de tua mãe e eu, pare com isso, não é um livro, meu filho, eles te matarão se for preciso. Ficar longe dela vai doer menos do que a morte.


— Já posso sair?


— Giovanni, me escuta.


— Com licença, rei. - Deu ênfase.


Caminhou em direção ao quarto da princesa, ela havia dito algo sobre terem de fazer qualquer coisa. Não lembrava o quê. Tampouco viu o tempo passar de acordo com que seguia pelo castelo. Notou apenas quando abriu a porta e o questionamento saiu de sua boca.


— Já estás pronto? - Perguntou Amélia, acabara de enviar uma carta a Claus, seu padrasto. Apesar de que não olhara para o rapaz, pôde sentir sua tristeza e a tensão que o acompanhara. Voltando-se a ele, questionou: - O que aconteceu?


— Você veio pra matar o nosso rei?


— Quem lhe disse isso?


— Você veio pra matar o nosso rei?


— Não, estou impedindo que ele morra.


— Por que?


— Seu príncipe foi um dos nossos, e apesar de vosso rei ter todo o necessário para que eu o queira morto, eu não posso.


— Conheceu ele, o príncipe?


— Não, mas conheci sua esposa.


— O herdeiro não era casado...


— Não era casado ou teu rei não aceitou o casamento? Esse ódio entre vampiros e lobos não tem motivo, não mais, não quando nós... perdemos os nossos por vossos caprichos. Ambos os meus avós morreram protegendo vosso príncipe e a esposa... Felizmente, ela sobreviveu e cruzou os portões de nosso reino.


— Morreram...? E-Espera. A esposa dele está lá?


— Já há muito tempo ela decidiu segui-lo, teve apenas que dar-lhe um herdeiro para que enfim pudesse alcançar a morte.


— Tiveram um filhote?


—  "Filhote?" Eu lhe disse mais do que sequer deverias saber, não falarei mais no assunto.


— Espera. - Segurando sua mão, Giovanni a impediu de continuar. Ele parecia ciente de sua fraqueza e sentiu medo de que ele tentasse explorá-la. - Essa guerra, Amélia, foi iniciada por quem?


— A dama que acompanhava o príncipe vinha de E Oh in. Quando foi atrás dela e decidiram expor seu relacionamento, que fora visto como desonra, ela foi expulsa, exilada do próprio reino. O príncipe foi visto como o homem que a induziu a isso, a essa desonra, aquele que a corrompeu, por tanto, decidiram aniquilá-lo. - Sem pensar, levou a mão a uma das longas mechas ruivas de Amélia, ela suspirou, podia sentir quanto calor vinha a emanar do corpo dela. A Alfa era tão sensível . - Com a chegada deles a Okien, ambos pensavam estar a salvo por que vosso rei não expulsaria o próprio herdeiro. De fato, não o deserdou ou exilou, mas exigiu que deixasse sua esposa, ela deveria ir embora, assim, o rei nunca a reconheceu como nora e, quando o príncipe se negou, teu rei ordenou a morte dela. Ambos fugiram para o reino mais próximo, onde a princesa tinha alguns conhecidos, mas os seus exércitos os seguiram;  quando encontraram-se, lutaram até a morte. -  Vira o quão hesitante ela estava em falar, assim, buscou contato com os olhos dela. -  Meus avós morreram, protegendo e impedindo o avanço de vosso exército, ajudaram-na passar, assistiram a morte do príncipe que jurou defender-nos por termos mantido os portões abertos até sua chegada. - Os olhos dela deixaram os seus. -  Enfim, a dama estava grávida e pouco após o nascimento, ela morreu. A criança foi perdida. - O final da frase parecia ensaiado, se pudesse afirmar com certeza, então a mulher a sua frente seria sua sobrinha. - Perdemos poucos, vencemos facilmente teu exércitos, mas por um casamento, teu rei matou o próprio filho. Consequentemente, claro, conseguiu o que queria e a esposa dele morreu, também, de tristeza.1


Deu um passo mais, sabia que era errado tirar informações dela, mas a princesa também não lhe diria nada de consequente, parecia perturbada com a falta de distância entre eles.


— O exército dela também lutou, diz como se fosse apenas o nosso.


— De fato, mas lutaram contra o teu povo; com a chegada de nosso exército, eles se retiraram. Os teus ainda tentaram invadir e matá-la. Teu rei nos odeia... - Olhando bem em seus olhos, ela foi direta. -  Havia um pequeno contingente de... homens, no caminho por que vim, eles me atacaram. Teu rei aproveitou-se de uma pequena promessa que lhe fiz para assassinar-me antes de chegar aqui. Jurei que não mataria ninguém durante minha visita.


—  E pretende?


— Não...  Pode... soltar minha mão? Eu sou comprometida.


— Verdade?


— Fui prometida antes de vir para cá, ela é uma dama linda...


— Mais atraente do que eu? - Podia ver nos olhos dela que a resposta era não.


Amélia havia desistido, de fato. Deus sabia que ela poderia resistir e ela também. Embrenhando a mão no cabelo do Ômega, trouxe-o a centímetros de si, ambas as respirações estavam aceleradas e os olhos fixos uns nos outros. Tão perto... Sequer fora possível notar os 9 centímetros de diferença.


Se o beijasse, sabia que não pararia por ali. Fechando os olhos com força, proclamou em auto e bom som, para que seu corpo mantivesse as aparência e resistisse à tentação:


— Eu devo orar.


— O quê? Orar?


— O Senhor cuida do meu coração, não eu. Por mais que me tente, não adiantará, posso resistir a ti... - Beijando o maxilar do rapaz, tentada a desistir novamente, e recuando um passo em seguida, ordenou: - Não volte ao meu quarto.


Giovanni manteve-se estático, atordoado com a rejeição. Podia ver claramente que ela precisava de apenas mais um pouco para ceder., todavia, sentia-se humilhado demais pra sequer questionar.


— Não menti, devo orar. Gosto da forma como age, me atraí, me tenta, mas não estás dentre os pré-requisitos para que eu lhe faça a corte.


— Corte...? - Sequer fazia ideia do significado, parecia apenas uma desculpa para não o humilhar mais.


— Tens 17 anos.


— Então...?


— Sequer és adulto, isso não basta, preciso de mais?


— Nossas idades não devem ser tão diferentes assim!


— Estás falando com um ser imortal. - Lembrou-o. - Vampiros tornam-se adultos aos 300 anos. Quantos anos pensa que levei para me tornar general? Quantos acha que eu tenho? - O rapaz pareceu atordoado, constrangido, Amélia não estava muito diferente. - Não precisas responder.


— Não quis ser desrespeitoso. Devo chamá-la de senhora?


— Apenas se quiser ser tratado como criança.


— Não me atreveria.


Ele parecia bipolar, não conseguia entender aquela inconstância. A desafiava, depois tornava-se submisso, então atrevido, em seguida tímido?  O pior era que sentia-se cativada. Como poderia ser tão difícil resistir a Giovanni, sequer conhecendo-o?


— Irei agora mesmo ao teu rei pedir para que sejas retirado daqui.


— Vai levar isso adiante?


— Achas que vou resistir a ti apenas por que me disponho? Se eu pudesse, não teria passado  a noite acordada. Além disso, não queres ser visto comigo, como disse...? Prefere a morte, não?


— Retiro o que disse.


— Infelizmente, já disseste, e tenho uma memória excepcional! Recordo perfeitamente de tuas ofensas horas atrás e apesar de não saber por que estás tão dócil, eu não esqueço, nunca.


— É por isso que me rejeitou?


— Não. Tens 17 anos. Tenho milênios muito bem resolvidos para vir a namorar um adolescente.


— O que eu posso fazer pra mudar isso?


— Envelheça. Até lá são 10 meses, sequer demorará. Foi divertido, certo?


O assombro no rosto dele pareceu preocupante, não havia como Amélia saber seu aniversário.


— Lembro de ter dito apenas meu nome, isso foi tudo. Como sabe? Não é a primeira vez, você sabe sobre mim?


— Não precisa se preocupar, não contarei a ninguém. Acredito, assim, que ambos sabemos de assuntos que devem ser mantidos em segredo.


— Está dizendo que devo...


— Não deve falar, sequer pensar sobre isso novamente. Me sinto ofendida pelo que tentou. Estou certa de que o faria com qualquer outro, teu rei te ensinou bem e qualquer que se assemelha a ele me dá nojo. Se tentar encostar em mim, príncipe, te concederei a morte.


— Estás me...?


— Eu estou! - Abriu os braços, mostrando-se a ele. - Sou uma assassina, o que espera? Não há qualquer sentimento em mim além de desejo, eu posso desejar matar a ti, não és especial, sinto muito não ter deixado isso claro.  Não levo a sério pensamentos alheios, mas usar teu corpo pra tirar informações de mim, deixou-me enraivecida. - A fala gentil contrastava demais com as palavras. - Vais me acompanhar agora, não tens escolha.


— Alfa...


— Já disse que vou te matar  se contar sobre. - Levou as mãos às laterais do rosto dele, triste. Deveria destruir toda aquela atração. Devia fazê-lo esquecer, devia reiniciar aquelas lembranças, arrancar o pouco de si que havia nele. Estava doendo. - Parece que tu não sabes guardar segredo... - Giovanni estava assustado, seus olhos, tempestuosos, estava ferido. - Sh... Não vai doer... Feche os olhos. - De acordo com que os olhos foram fechando, as lágrimas caíram. Mas a dor dele não se comparava a dela.


Não podia se deixar levar pelo sorriso nem pelas palavras. Atração não era para si, desejo também não, assim como aquele Ômega não era seu. Quando seus olhos fecharam, vislumbrou tudo o que havia no rapaz, não haviam segredos que pudessem sobreviver a si. Retirou tudo, exceto o fim do primeiro dia, aquele no qual o escolheu, todas as ofensas, deixou-as permanecer, parando antes de tocá-lo e amenizar o que havia dito. Escolhera deixar a última discussão vívida, retirando o quase beijo.


Soltou-o, ficando de costas para si. Ele despertou segundos depois.


— Está pronto? Vamos sair agora.


— Eu não irei...


— Não tens escolha. Vamos agora. Me contradiz uma única vez e te farei arrepender.


— Qualquer humilhação é...


— Não me importa. Deve me obedecer. Se negar, farei com que tua posição valha de algo. Veja, teu rei é tão fraco que ofereceu o próprio filho a mim, é humilhação suficiente, certo? Devo humilhá-lo mais por ti? Que tal se o pedir para mim? Estou apenas pedindo para que me mostre o reino, menos vergonhoso certamente, que vender-se. Então fica pronto e não acabe com minha calma. Tenho sede e se me incomodar demais, vou beber de ti.  Fique quieto, não fale, não respire, não pense... - O menor tinha medo, muito medo e devia mantê-lo assim. -  Se derramar uma lágrima no meu quarto, vou matar o primeiro com que nos cruzarmos. Precisa de algo? - Negou. - Então vamos.


Sentindo-se horrível, caminhou sem olhar pra trás. Podia ouvi-lo tentando conter o choro e o modo como tropeçava por não lhe deixar acompanhá-la. Via a forma como abaixava a cabeça sempre que passava por alguém, medo, vergonha, humilhação, estava tudo junto;


O servos, os guardas, até mesmo a rainha que os parou no caminho, estavam irados.


— O que faz com essa criança?


— Majestade. - Curvou-se. - Nada de consequente, apenas ensinando.


— A que?


— Respeitar-me. Vem sendo desobediente desde que o escolhi. À noite, mostrou-se submisso, mas não posso contar isso como algo relevante.


— Espero que a princesa saiba o que está fazendo.


— Se o rei houvesse apenas respondido à minha carta, eu não estaria aqui, Alteza. Mas alguns devem aprender, com a dor, a respeitar. Eu sempre alerto aqueles que não conhecem, infelizmente, terei de me fazer conhecida aqui, já que tão pouco respeito me foi dado.


— É cedo demais para dizer...


— Não. Eu tenho todo o tempo, mas vocês sequer possuem uma pequena parcela. Para que todos possam viver nesse mundo fútil, devo sacrificar aqueles que desobedecem.


— Princesa!


— Perdoe-me, tenho muito o que fazer. Com sua licença.


Havia juntado tudo o que odiava, aquilo era digno dos reis que havia assassinado. Precisava de ajuda, não queria mais ficar ali. Breve, Claus iria responder, precisava ter calma.


Saindo pelos portões do castelo, chegaram à rua, onde iniciariam o tour. Esperava que ele não a fizesse repreendê-lo.


— Deve guiar-me, por isso, pode voltar a falar. Mostre-me o que sabe.


Com calma, seguiram pela primeira rua a direita, muitos lobos estavam observando-os. Podia ver Alfas e Betas, nenhum Ômega. Não havia um único soldado nas ruas, apenas o povo. Vendiam alimentos, roupas, sopas e seu dinheiro era uma espécie de madeira talhada.


— Onde estão os Ômegas?


— Não temos permissão para sair à cidade. Ficamos no templo, a maioria de nós.


Um templo? Sequer fazia sentido.


— Por que todos parecem famintos?


— A alguns dias os lobos vizinhos tomaram nossos alimentos; todos osd Ômegas conseguiram se esconder.


— Eles os sequestram? O que fazem com eles?


— Sim. Vendem, usam como moeda de troca, abusam, montam haréns...


— E por que teu pai não me disse? Vim por um motivo tão ridículo...


Aproximou-se de uma barraca que vendia comida, lembrava não ter dado chance do menor comer.


— O que é isso? - Referiu-se à sopa. A mulher, encarou-a, pasma.


— São algumas sementes e carne de coelho, jovem dama.


— Dê-me dois. - Apressada, serviu os recipientes de madeira, e lhe alcançou. Entregou um ao rapaz que ficou constrangido. Ah, então ele era masoquistas. - Quanto é?


— Duas esferas.


— Como se converte vosso dinheiro? Ensina-me depois. - Pegou um punhado de moedas de ouro e entregou à mulher. - Obrigada.


— Senhora, é demais!


— Que tal se eu ficar com as vasilhas? Parece-me justo. - Piscando para ela, viu-a mudar de cor. Os lobos eram simplesmente estranhos. - Com sua licença. - Giovanni ainda segurava a sopa. - Não vai tomá-la?


— A senhora deu ouro a ela! Alteza, seu povo tem...?


— Ficas muito dócil depois de ser repreendido... O continente é parcialmente parte de nossas posses, temos muito ouro, e parece que  em breve o território de teu inimigo será nosso...


— Vai combatê-los?


— Vou matá-los. - Cortou, tomando um gole da "bebida" quente. - Termina tua sopa. Por que vossos guardas não protegem o povo? Lembre que se omitir, eu saberei.


— Nós... mantemos apenas os Ômegas protegidos, já que são o que vem buscar aqui. Já não possuímos muitos guardas, os Alfas não querem morrer lutando, por isso...


— Compreendo. Posso trazer um pequeno contingente... Ainda assim, desejo ver vossos sequestradores. Onde costumam atacar?


— No centro.


— Certo, vamos até lá. Não tenha medo, quaisquer que sejam os inimigos, vencerei facilmente.


— Senhora, n-não estou tentando contradizê-la, porém são muitos...!


— Agradeço, agora, vamos.


Caminharam, beberam da sopa, conversaram, apesar de ter repreendido Giovanni por falar demais, lutou com apenas vinte e sete lobos, atordoando-os e pondo-os sob custódia. Fez, por que sabia que seu pai teria feito o mesmo. Na luta, ao invés de ter-se mantido afastado como fora-lhe instruído, Giovanni bateu em um dos homens, este que revidou e deixou uma marca em seu rosto. O homem tinha uma espada atravessando ambas as pernas, isso, apenas por que não podia matá-lo.


— Venha. - Chamou. Mandou que entrasse em uma casa e ficasse longe, ele soube obedecer desta vez.


Era final de tarde, alugou a carroça de um homem e pôs os sequestradores nela, levaria a todos para o rei.


— O que foi? Ele realmente te machucou? - Negou. - Então?


— Obrigado, Alteza. Estivemos tentando por tanto tempo!


— Apenas vamos. - Ignorou-o, porém o rapaz manteve-se pouco abalado. Subiu na carroça, estendendo a mão para ele. - O que está esperando? - Tocou a carroça, evitando relembrar o sorriso do rapas quanto a sua oferta. Como ele podia aceitar aquele tratamento e ainda sorrir? Estava sendo má, arrogante, estava sendo a reigicida. - Mantenha seus olhos neles.


O povo, quando os viram passar, assim como com  suas vestes ensanguentadas, ficaram assustados. Pouco levou até que notassem as roupas dos homens atrás deles e comemorassem. Giovanni estava tão feliz que sentia vergonha, vergonha por se alegrar a ver uma assassina.


Quando a carroça chegou aos portões, o rei foi o primeiro a vir vê-la.


— Majestade.


— O que é isso?


— Alguns dos homens que lhe tem roubado. Por que apenas não disse? Estava pronta para matá-lo, não fosse a sinceridade sob pressão de seu filho. Eu lhe entrego, agora, todos estes, em breve trarei mais. Precisarei apenas saber quantos foram levados. - Curvou-se novamente, indo para dentro do terreno. - Venha, Giovanni, preciso de um banho.


O rei, os poucos guardas e o rapaz estavam perplexos. Ela o havia convidado, ordenado,  implicitamente, para tomassem banho juntos.
 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e se você é ghost, eu também já fui, mas 'cê não vai saber das atualizações! Não perca histórias tão maravilhosas!



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