Good Enough: Even If You're Not Here escrita por Celedrin


Capítulo 1
Capítulo 1: A Primeira Vez Que Nos Falamos


Notas iniciais do capítulo

Essa Short Fic foi criada para o Desafio do Dia dos Namorados.
Boa leitura!



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A Primeira Vez Que nos Falamos

Estava frio ao ar livre, mas a vista da montanha valia a pena, ainda mais naquela noite. Podia lembrar com facilidade de momentos bons, até mesmo se lembrar de Daëala sem a agonia da culpa. Mas, principalmente, sentia falta do esposo e isso lhe fazia lembrar de casa.


Aquele tempo era necessário. Precisava reaprender que nunca fora um monstro, que não matara por prazer ou poder, precisava respirar. Se ao final de toda aquela meditação sucedesse que não era o bastante, que não merecia o príncipe, não voltaria pra casa, não mais.


Felizmente, constatou que sua existência ansiava pela dele mais do que pelo ar. Apenas... após um ano, seria difícil voltar pra casa, nem ao menos sabia se ele poderia aceitá-la de volta.

Esperava que ele estivesse bem, sentia-se angustiada, precisava ver com os próprios olhos; precisava senti-lo com as próprias mãos; do contrário, sentia que acabaria louca. Estava sozinha e era possível que fosse ainda mais difícil para ele.

— Meu príncipe deve estar muito envergonhado agora... - Deixá-lo após o casamento foi uma ideia estúpida. Precisava desse tempo, mas o povo veria sua partida como se o houvesse abandonado, não? Ao menos sabia ter deixado soldados de confiança com ele, Giovanni já havia demonstrado-se capaz. - Certamente está governando bem em meu lugar.


Se pudesse voltar no tempo, voltaria para o dia em que o conhecera, as vestes brancas que usava ou aquele olhar desafiador... Nunca havia sido tentada dessa maneira.

 [Lembrança]


A conversa com o rei fora desafortunada, Olgierd não pretendia obedecê-la, o que talvez a fizesse acabar com sua cabeça em mãos e não era o que desejava.


— Aqui está, princesa, o salão do qual lhe falei, todos os rapazes serão trazidos para cá em breve pelo rei. - O rapaz alto e muito magro tinha uma aparência abatida, parecia pálido, decidiu ir com calma, ele parecia estar com medo de si.


— O rei virá? - Dei alguns passos pelo salão dourado, era deslumbrante, tanto a mobília quanto sua decoração. - Pensei que haveria qualquer objeção por parte dele.


— Não é exatamente incomum que peçam...  Ômegas para passar a noite. - Logo ao final da frase, alguns pensamentos prencheram a mente dele: "Não o escolha, meu noivo..." Os pensamentos de Ion chegaram com muita força, a imagem de um jovem de mechas ruivas passou pela mente do rapaz, não seria difícil entender por que ele tinha tanto medo, aquele logo seria seu marido e ninguém mais deveria deitar-se próximo a ele. -  E devemos oferecer o melhor à princesa de Eódwin.

Voltando-se para Ion - não sabia de onde aquele nome havia surgido mas esperava que fosse apenas um apelido - questionou:


— Então como serão selecionados esses rapazes?


— Por suas classes, em seguida aparência, pureza e vocabulário. - Os olhos dele iluminaram-se com a seguinte possibilidade, via seu entusiasmo. - A menos que a princesa prefira Ômegas experientes.


— Não, zelo pela pureza... - Não deveria, mas era engraçado o desespero do rapaz. Ouvira o som de passos distantes pelo corredor. - Creio que estão chegando...

Agitado, ele correu para a porta, ficando em "sentido", logo em seguida pareceu assustar-se comigo e pediu:


— Por favor, princesa, sente-se. - Falou ele, com a voz um pouco entrecortada, aparentando instabilidade. Notei aquilo muito bem, mas talvez só estivesse nervoso, afinal, era o único homem da cidade que falava comigo

O rei entrou e atrás dele mais 20 rapazes, apesar de que um deles claramente era um guarda. Os 19, vestidos de branco, caminharam até ao meio do salão, frente ao sofá que eu ocupava e curvaram-se, cumprimentando-me; retribuí aquilo que infelizmente pareceu um flerte pelo olhar que me fora lançado e senti-me enojada. Então todos os rapazes começaram a dançar e uma batida leve soou, como a música de cortesãs, não lhe estavam apresentando prostitutos, ao menos era o que esperava.

Pensara que seriam literalmente apresentados, eles se exibindo não parecia... Não foi o que pediu. Qualquer soldado seu poria medo aos soldados do rei e até mesmo nele, por isso deixou aos seus fora da cidade, para que não a temessem tanto, portanto precisava de companhia noturna... Nítida o quão vulgar era tal cultura para que lhe estivessem a oferecer tais rapazes para passarem a noite consigo. Não estava acostumada a dormir sozinha, mas não do modo com o qual haviam entendido!


O rei continuava de pé e saudei-o, erguendo-me e caminhando entre os jovens, precisava escolher um, por isso, que fosse aquele que menos desejasse estar ali. Olhei cada um de perto, assim como li seus pensamentos, ao primeiro sinal de desejo, foram descartados.

O rapaz ruivo estava ali, sim, olhei para Ion e vi o quão aflito ele estava, pisquei para ele, passando reto pelo jovem. Eram todos de fato bonitos, apesar de que pude ver apenas seus olhos, por causa da máscara que trajavam, cobrindo a parte inferior do rosto. Eram muitos os que não faziam meu tipo, homens com cabelos cortados não me atraem em nada e, se eu pudesse ser franca, já havia visto um rapaz mais cedo que era extremamente atraente, nunca ocorreu sentir-me atraída por um homem, portanto era uma pena que não o pudesse encontrar novamente.

A música ficou mais lenta, e numa batida forte, todos os rapazes pararam, assim como eu, porém todos os 19 retirando a parte superior da roupa. Aquilo fora a gota d'água. Minha tão pouco presente paciência acabara. Dentre os rapazes, um destacou-se por estar tão desconfortável com aquilo, isso chamou minha atenção, além de seus longos cachos e da pele negra. Diferentemente dos outros, ele não desejava atenção, sequer me encarava e pedia internamente "Por favor não me escolha". Era uma lástima que tivesse de escolher justamente a ele.


Ergui uma de minhas mãos e a música cessou.


— Fiz minha escolha.


— Já? - Esforçando-se ao máximo para demonstrar coragem, Ion também demonstrara muito medo. Talvez estivesse tentando aparentar calma para o noivo? De fato estava dando errado, e apesar disso, não podia culpá-lo, que homem mediria forças com uma general, cara a cara e sem temor? - Talvez seja cedo.


— Por favor, vistam-se. - Pedi. Olhei nos olhos de Ion, já que o rei parecia sequer notar-me aqui, curioso o fato de como me odeia. - Deverias trazê-los, não despi-los, disseste que apresentaria-me à eles. Não é a primeira vez que me recebem com dança, mas a primeira que forçam os dançarinos a isso. - Gesticulei em direção a eles.  Volvendo aos rapazes, curvei-me em respeito a eles, sabendo que certamente deviam estar ofendidos. - Peço vosso perdão, não foi o que imaginei. - Caminhou em direção ao mordomo, Ion, que já me havia acompanhado num pequeno tour de reconhecimento pelo palácio,  e toquei seu ombro, transmitindo tudo o que vi daquele que escolhi para estar comigo durante os dias que sucederiam. - Deve trazê-lo.


De saída do salão, curvei-me àquele rei ignorante, e segui pelo caminho que muito me recordo até meus aposentos atuais. No caminho haviam apenas soldados reais e alguns servos fazendo a limpeza, sequer reparei no entorno, porém, ao passar pelas portas do quarto, fechando-as, encostei-me nelas, cobrindo os lábios com uma de minhas mãos.

Ah, céus, escolhi ao rapaz! Àquele mesmo que vi pela manhã quando cheguei! Ao transmitir as imagens para Ion, pude reconhecê-lo dentre suas memórias, não vasculhei muito, apenas queria poder reconhecê-lo. Sendo essa a primeira vez que me sinto atraída por um homem, sinto-me constrangida. Estou certa de que ele não me deseja e por isso estou mais segura.


— Preciso apenas de companhia. - Logo tais pensamentos constrangedores e desnecessários me deixaram, há muito o que fazer por aqui. Teria muito trabalho pela frente. - Existem mais coisas do que pensei que devem ser alteradas. Um rei que prostitui seus próprios servos? Posso chamar isso de "rei"?

[Fim da Lembrança]

Lembrava-me de quando o ódio de Olgierd podia ser sentido, isso divertia-me de fato, atualmente, assim como naquela época. Ele se tornou um grande homem e pai, levou seu tempo mas houve uma evolução, fora o bastante.

Lembro-me de que quando Ion bateu em meu quarto, por volta das 5 horas, e cruzou a porta com o jovem Ômega, perguntei-me "Por que levou tanto tempo para virem do salão até aqui...?"

[Lembrança]

Eu estava sentada na cama, não havia muito o que fazer aqui, tanto a cidade quanto o palácio são silenciosos demais, como se não houvessem muitas pessoas. Levantei-me apesar de tudo. Retirado o sobretudo negro que usei no salão dourado, este que apesar de sua beleza, muito me decepcionavam os fatos que lá ocorreram, fiquei com uma calça de couro e uma blusa de mangas compridas igualmente escura. Já tinha soltado o cabelo, ele esteve preso durante todo o dia e após o banho que tomei, tive de hidratá-lo. Minhas mechas tocavam aos tornozelos, apesar do tênis, talvez fosse hora de cortar...


A batida na porta trouxe-me de volta à realidade com demasia atenção, finalmente terei o que fazer.


— Entre.


Ion entrou acompanhado pelo rapaz, não possuindo mais uma máscara em seu rosto, pude ver quão delicada parecia sua pele e seus lindos fios negros, porém o ar estava carregado de tristeza, decepção e raiva. Realmente escolhi certo, apesar de tudo.


— Princesa, ele lhe servirá a partir de hoje, se desejar trocar de-


— Não, ele é bom o bastante. - Interrompi. O rapaz negro, com minha resposta, estava quase chorando. - Pode nos dar licença?


Lançando um olhar que não poderia ser caracterizado como qualquer outro sentimento senão tristeza ao Ômega, Ion curvou-se e deixou o quarto.


O rapaz vestia roupas brancas: calça skinny e uma blusa folgada. Estava muito bem apresentável.


Sorri, pondo uma mecha detrás da orelha e estendi minha mão a ele. Meu pai ensinou-me a ser cortês até mesmo com a menor das criaturas, quem dirá um igual.


— É um prazer. - O olhar desafiador, mesmo que com todo aquele medo, era cativante. Talvez por isso me atraiu tanto. Ele não apertou minha mão, mas eu não esperava que o fizesse. - Sei que não desejavas ser escolhido por mim, por isso, vamos conversar.


— É engraçado pra você? - Sibilou, embargado. - Desta forma que os teus agem? Se sabia então por quô?! - Uma lágrima deixou os olhos dele que assumiam um tom azul. Era um prelúdio de sua transformação. Os pensamentos dele não caminhavam de uma forma oposta a suas palavras: "Pai, ela é uma pessoa má, por que permitiu isso?"


— Devo apresentar-me primeiro? - Nenhuma reposta viria, sabia disso, mesmo assim esperei alguns segundos antes de continuar. - Sou Amélia, princesa e general de Eódwin, vim como representante real e esta é minha primeira vez aqui, apesar de minha idade. - Brinquei, mas ele estava irredutível. - Não vais te apresentar?


— Vai me matar se eu não o fizer, regicida?


Sabia que suas escolhas tinham um peso tão, ou até mesmo maior que muitas outras, portanto algumas feridas não podiam simplesmente cicatrizar com o tempo, sequer serem esquecidas. E aquela, em especial, ainda doía.


— Estás passando do limite. - Avisei.


— E o que vai fazer? Por acaso já não 'tá fazendo o pior que pode? Não tenho medo de Alfa algum!


— Não deve temer, mas ouvir-me. É tão mais apetecível ofender-me à escutar o que preciso lhe dizer?


— Acabei de me tornar teu concubino, não há nada que queira ouvir de ti. Eu preferiria a morte! Qualquer humilhação é menos vergonhosa ou desonrosa. Se puder me matar, serei muito agradecido.


— E por isso me desafias? Queres morrer? - Sei quanto respeito lhe devo, quão facilmente sente-se ser rebaixado com palavras duras e por esta razão me forcei resistir, eu ao menos tentei.


— Mais do que vê-la, prefiro a morte.


— É comum que os teus nos odeiem tanto?


— Acha que a história é apagada só por que o tempo passou? Todos sabemos o que fizeram ao nosso príncipe, da forma como o enganaram, da forma como o mataram, vocês são baixos, descarados... Vocês são a pior coisa que já existiu!


— Se sequer soubesses como funciona a mente de um assassino, não dirias nada disso à mim. Acabar com tua vida, achas que qualquer mal intencionado, te daria isso apenas por que estás pedindo? Te manteriam vivo para sofrer! Estou sendo paciente, então devolva-me o mínimo de cortesia. Não aceito que se dirija desta forma a mim e espero que não o faça mais. Pedi ao teu rei "companhia", não um concubino, se é algo do qual discordas, deverias dizer a ele. Não o submeterei a qualquer das coisas que pensaste, mas exigirei todo o respeito que não tiveste comigo.


Trincando os dentes, o rapaz questionou:


— Então por que me trouxe aqui?


— Os outros desejavam aquilo que desprezas tanto, por este motivo, já que minha intenção nada tem a ver com isso, escolhi aquele que não queria sequer olhar-me. - O ar surpreso dele sequer passou despercebido. - Não me faças arrepender, é de fato muito bom que não gostes de mim, mas deve me respeitar, em troca, farei o mesmo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e se você é ghost, eu também já fui, mas 'cê não vai saber das atualizações! Não perca histórias tão maravilhosas!



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