Alguns dias depois do enterro os trâmites para a leitura do testamento foram efetivados e  toda a família estava no escritório de advocacia. Sasuke estava escorado perto da janela e Mikoto estava sentada mexendo nos anéis que tinha na mão esquerda. Quando o advogado entrou ele se desculpou pelo atraso, houve um engarrafamento enquanto estava a caminho.

— Bem, o testamento do Uchiha-sama tem duas partes, uma parte em vídeo com uma mensagem para vocês e uma parte escrita. Como estão nas orientações primeiro vou passar o vídeo.

Todos concordaram e o advogado abriu o cofre pegando um envelope selado e deu a Mikoto para abrir. Tinha de ser alguém da família. Depois colocou um pendrive com o vídeo na grande televisão de led que tinha na sala. Em pouco tempo apareceu a imagem do velho Uchiha.

Era estranho ver alguém que tinham acabado de cremar na tela falando com eles, chegando a ser levemente desconfortável.

“Um bom dia para vocês, imagino que estejam felizes, afinal se estamos aqui é porque eu estou morto e vocês estão loucos para saber quem vai ficar com meu dinheiro. Tsk... Nada além do esperado. Entretanto, antes de tudo eu quero falar algumas coisas, se vão usufruir do meu patrimônio, que pelo saibam o que eu acho. Mikoto, eu tive muita esperança em você, nunca tive filhos, mas quando você nasceu eu tinha certeza de que seria você a minha sucessora... E você foi de certo a maior decepção que passou pela minha vida. Vendeu sua alma para esse parco do seu marido. Virando uma dondoca ridícula e amargurada que não fez nada de muito útil na vida.”

Mikoto respirou fundo, o tio tinha razão, mas ainda sim não era bom ouvir aquelas coisas. Só que Madara não seria Madara se não saísse da vida deles definitivamente  sem um grande final.

“Talvez eu esteja ficando velho, mas apesar de tudo eu senti sua falta. E eu realmente odiei ainda mais esse verme do seu marido por ter arrancado tudo o que te fazia uma grande mulher. Pelo menos você tornou a vida dele impossível nos últimos anos, realmente eu espero que tenha feito ele amargar cada escolha errada.”

Aquilo foi totalmente inesperado para todos ali,

“Agora vamos ao verme, também conhecido como Fugaku. Sinceramente o dia eu coloquei os olhos eu você sabia que não prestava. Estava lá a semente podre, só esperando para germinar. Eu até gostaria de ter estado errado. Só que o pior é que você é um golpista muito ruim, um péssimo administrador, um marido ridículo e um pai muito abaixo do medíocre... Sinceramente muito me espanta que consiga respirar direito, porque parece que não sabe fazer nada bem nessa vida. E nem tenha esperanças, eu não deixei nada para você e nada do que eu deixei vai parar nessa sua mão podre, cuidei muito bem disso.”

Fugaku engoliu a raiva e ficou sentado ajeitando a gravata. Não esperava nenhuma declaração de amor.

“Agora vamos a prole da Mikoto. A decepcionante prole da Mikoto. Itachi eu realmente via algum potencial em você, mas faltava aquela gana, parece até que nem tem o sangue Uchiha, Entretanto, assumo que você fez algo de relevante da vida sozinho, e eu reconheço isso. Podia ter feito mais, mas deu pro gasto.”

Itachi apenas riu, ele realmente não se importava muito com o que o velho Madara falava. Aquilo estava pior que um circo de horrores.

“Agora vamos ao Sasuke... Hm... O que seu pai conseguiu passar de podre para você ele fez com sucesso. Que menino mais fracote, a vida toda choramingando porque não era tão visto como o irmão mais velho, sinceramente, acho que foi falta de uma boa surra na infância. Quando conseguiu a proeza de quase se matar e matar duas pessoas achei que essa família tinha ido para o buraco sem volta. Só que eu dou o braço a torcer, parece que isso fez de você um homem finalmente. Eu finalmente vi em você aquela coisa que faz dos Uchihas vencedores. A parte boa da Mikoto conseguiu sobressair. Eu quase tenho orgulho de você, quase porque dá para ver na sua cara que não se acha suficiente.”

Sasuke não sabia se ficava ofendido ou xingava o velho, mas no fundo, como sempre ele tinha alguma razão. Esperou para ver se já tinha acabado aquele momento horroroso.

“Bem, agora que eu me despedi de cada um de vocês falta só uma coisa a ser dita. Quando eu e Mikoto rompemos ela exigiu que eu nunca mais me intrometesse nos problemas da família dela e assim eu fiz. Deixei cada merda acontecer como tanto desejavam... Então, na época do acidente algo bem peculiar chegou ao meu conhecimento. Sinceramente, não entendi porque o pulha do Fugaku se meteu nisso, mas como já foi dito ele não é um homem lá muito esperto então... Tem algo especial para você Sasuke. O doutor Takuya vai te entregar.”

O advogado pegou um envelope grande e cheio dando a Sasuke. A essa altura Fugaku já estava suando frio. O velho levantou e andou pela sala, ninguém estava entendendo o que estava acontecendo.

“ Em resumo, um fundo de pensão está no nome das filhas do Itachi, espero que façam bom uso dele. Sinto muito Mikoto, mas com você casada com esse traste tive que tirá-la do testamento, assim como seus filhos. E todo o restante do meu patrimônio fica para única Uchiha que eu realmente acho digna de fazer algo decente e exemplar: Sabaku no Sarada. Acho que eu deveria parabenizar ao recém descoberto papai!”

O copo na mão da esposa de Itachi caiu no chão. Fugaku chutou uma mesa de madeira de lei. Mikoto olhou ao redor tentando entender o que diabos estavam acontecendo. Sasuke se sentiu como se tivesse levado um soco na boca do estômago e abrindo o envelope viu um maço de cartas endereçadas a ele vindas da china. E cada uma delas vinha do mesmo remetente, Haruno Sakura.

— Eu disse que esse velho estava gaga!! Esse testamento tem de ser impugnado!!

— O que diabos você fez, Fugaku? – Mikoto se levantou –

— Eu não fiz nada, Mikoto!! Isso não passa de loucura desse velho maluco!!

Sasuke abriu uma das cartas, aleatoriamente, tinha duas fotos. Uma de um bebê num cesto com mãozinhas pequenas para cima e outra de Sakura com essa criança no colo sentada numa varanda simples de madeira. Abriu a carta e reconheceu a letra bem feita da Haruno. Ela sempre costumava deixar muitos bilhetes para ele.

Olá Sasuke-kun,

Eu realmente não sei o que está acontecendo na sua vida ou o motivo de não ter me respondido nenhuma vez, mas a esperança é a última que morre e eu sou persistente. Apesar de tudo acredito que tenha um bom motivo. A vida aqui continua tranquila, Sarada adora ser carregada no Sling. Eu vou para todos os lugares carregando ela bem pertinho de mim. Como você está? Espero que bem, gostaria que estivesse aqui perto da gente. Eu tenho certeza que a Sarada ia ter derretido essa barreira que construiu ao seu redor. Juro que não tem um sorriso sem dentes mais amoroso e sincero que o dela.

Sabe, eu fico pensando as vezes como chegamos naquele extremo, quando foi que as coisas saíram do nosso controle a esse ponto. Histórias de amor não deveriam terminar assim e eu realmente acredito que possamos ter um relacionamento saudável pelo bem estar da nossa filha. Sarada não tem culpa das nossas diferenças.

Enfim, não vou me alongar demais aqui. Por favor, me responda, precisamos conversar.

Haruno Sakura

O chão abriu debaixo dos pés de Sasuke. A estagiária, o colar estar com ela, o ressentimento de Sakura, tudo agora parecia estar formando uma história na cabeça dele. Levantou os olhos fuzilando o pai e se levantou.

— Você sabia disso?? Olhe para mim!! Seu cretino infernal!!

— Olhe como fala comigo, garoto!! Esse velho está gaga!

— Essas cartas foram todas para o nosso antigo endereço, mas a minha mãe e o Itachi estavam no hospital nessa época! Só você estava na cidade!

—  Sasuke, não seja um garoto Ingênuo, Madara só quer criar confusão. Meia dúzia de cartas que ele mandou qualquer um fazer e você...

— Essas cartas foram retiradas do cofre da Uchiha Corp dez anos atrás. – o advogado disse –

— Oh claro, se isso fosse verdade ainda seria crime.

— De modo algum, essas cartas chegaram a mão de Madara-sama quando em uma reforma o cofre da antiga sala da presidência foi retirado e nele haviam documentos antigos pertencentes ele. Provavelmente, não era de sua intenção que essas cartas viessem juntas, mas vieram.

— Fugaku, pare de negar, você está com o filme queimado.

O homem olhou a esposa, ele estava farto de todos eles ali julgando ele como se fossem pessoas muito melhores.

— Quer saber a verdade pois bem. Quando esse moleque inconsequente drogado matou aquele casal no acidente de carro nós ficamos a beira da falência. Foi quando tivemos que vender ações da corporação para os Uzumakis. E então chegou a primeira carta lá em casa, e convenhamos, tudo o que a gente não precisava era de uma alpinista social interesseira para secar o que nos tinha sobrado. Sem dizer que o Sasuke provavelmente não ia nem sobreviver, e se sim, que condição tinha de ser pai? Esse moleque tinha 25 anos e parecia que tinha 12 com esse eterno choro de que gostávamos mais do Itachi! E quer a verdade, a gente gostava mais do Itachi porque ele não era um chorão que não fazia nada! E eu estava certo, eu mandei um dinheiro para ela e nunca pisou aqui no Japão, e agora sabemos o porque, um marido bilionário fez ela esquecer bem rápido do pirralho ai.

O sangue de Sasuke subiu muito rápido e antes que pudesse pensar Sasuke acertou um soco bem no meio da cara do pai. Itachi rapidamente segurou o irmão por trás, tudo o que eles não precisam era de outra tragédia na família.

— SASUKE!! JÁ CHEGA!! NÃO VAI GANHAR NADA COM ISSO!!

— ESSE VELHO CRETINO! SÓ FEZ DA NOSSA VIDA UM INFERNO E AGORA.... VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO!! EU DEVERIA DECIDIR O QUE FAZER COM ISSO!!

— Seu pirralho... – levantou do chão –

— Cale a boca agora!! – Mikoto interviu –

— É importante deixar claro que Madara-sama soube disso desde o começo, tanto que ele manteve um monitoramento sobre a Sakura-san e a criança, visto que a primeira e única ajuda financeira para elas vinda da família Uchiha só veio quando a criança tinha 2 anos. Não foi necessário, mas ele monitorou para não haver nenhum caso delas ficarem desamparadas.

— Já chega, Takuya! – Mikoto disse firme, já temos muitos problemas aqui –

Sasuke saiu do escritório irado! Se pudesse ia socar o pai até toda aquela raiva passar! Ele era pai de Sabaku no Sarada.

Continua...