Prometidos escrita por Carolina Muniz


Capítulo 37
Capítulo XXXV


Notas iniciais do capítulo

Vou responder os comentários logo logo, prometo, adoooro vcs ♥



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"A vida é fina e frágil como papel. Qualquer mudança repentina pode rasgá-la."
— Estamos Bem, Nina LaCour

 

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Ana tentou inspirar o ar, mas não conseguiu. Não conseguia respirar. Tentou novamente, mas parecia que todo o ar de seus pulmões havia sumido.

A garota fechou os olhos e sentou no chão, tentando não entrar em pânico, se concentrando em conseguir ar.

— Elena, eu preciso ir para o hospital - disse num fio de voz.

— Hospital? Minha querida, acho que você ainda não entendeu, não é? Você não sai daqui nem se estiver dando a luz à segunda geração de Jesus.

Ana gritou novamente, uma contração forte e avassaladora.

Jack parecia assustado, na mesa sentado, enquanto Elena parecia sentir prazer.

Ana gritou novamente, sentindo outra contração. Estavam muito rápidas, aquilo não era normal. Ela deveria ter mais tempo entre elas, sabia disso.

Ela sentiu o medo atravessando suas entranhas.

— Deixe-me ver - Elena se abaixou até ela, mas Ana fechou as pernas, impedindo-a de tocá-la.

— Ah, não quer ajuda? Vamos trazer a criatura ao mundo, vamos, abra as pernas para que eu veja se está pronta. Acho que essas contrações estão muito rápidas, não?

— Não! - a garota gritou em sua cara.

Elena bufou, a arma passando pela barriga de Ana.

A morena podia sentir que iria desmaiar a qualquer minuto, sentia seus batimentos quase fora do peito. Ela imaginava se não tinha perdido a consciência ainda por causa do bebê. Afinal, se perdesse a consciência, o que Elena faria?

A loira se afastou novamente, os saltos batendo com um som já familiar para  Ana.

Outra contração.

A garota fechou as mãos em punho e mordeu o pano do vestido, fechando os olhos com força.

Deus, era tão difícil.

Mas ela precisava aguentar. Era a sua vida e a do bebê em risco. Ela precisava salvar seu bebê. Porque se não... Se ela não conseguisse... O mundo poderia parar - tudo poderia parar, nada mais importaria jamais.

Sentia uma dor terrível, rasgando. Rompendo...

Para Ana, era exaustivo lutar contra aquilo. Ela sabia que seria muito mais fácil ceder e deixar que a escuridão lhe empurrasse para baixo, cada vez mais fundo, até um lugar em que não houvesse dor, cansaço, medo... Elena.

Mas ainda assim ela continuou respirando, com os olhos bem aberto, recusando-se a ceder, lutando contra a dor e contra o parto também. Quase que por reflexo. Ela não estava tentando erguer a dor acima de si. Somente resistir. Não permitir que a esmagasse completamente. Se ela deixasse o bebê nascer, nunca teria forças o suficiente para tirá-lo dos braços de Elena.

Mais uma contração.

Deus!

Ana não era Atlas, e a dor tinha o peso de um planeta. Ela não conseguia, simplesmente, sustentá-la nos ombros. Tudo o que podia fazer era não ser inteiramente aniquilada.

Na tese, isso até faz sentido. Mas na prática...

A dor cresceu... aumentou... foi ao máximo, depois tornou a aumentar, até que suplantou qualquer coisa que ela já sentiu em toda a sua vida - que qualquer pessoa já sentira. Ninguém poderia aguentar aquilo.

E então aconteceu: carros derrapando, grito do lado de fora e sons de sirenes por todos os lados.

Finalmente.

O desespero de Elena e Jack dentro do quarto, de forma tão de repente que Ana ao menos piscou e Elena estava detida no chão.

Jack tentou fugir, saindo pela porta dos fundos, levando um tiro certeiro enquanto corria para o nada.

O instinto de sobrevivência às vezes acaba nos matando também 

Em todo caso, Ana não prestou atenção nada, não conseguia visualizar as coisas ao redor enquanto sentia outra contração chegando.

Alguma coisa estava muito errada consigo.

A garota fechou novamente os olhos com força, assustando-se quando sentiu alguém pegando sua mão, segurando sua cabeça.

Não precisou nem mesmo abrir os olhos para saber quem era.

Christian.

— Ela precisa ir para o hospital - a voz dele tinha urgência. - Amor, você consegue me ouvir?

A morena abriu os olhos e o encarou.

— Não, não pode me levar... Está... Aaaaah!

Christian segurou sua mão, deixando que ela a apertasse enquanto tinha sua cabeça em seu peito.

— O bebê vai nascer, não dá tempo - disse ela com rapidez após o sufoco passar novamente.

Christian a encarou, os olhos arregalados.

— O meu filho não vai nascer nesse lugar - disse ele.

— Ele não pode nascer num carro também - rebateu ela, o suor cobrindo cara centímetro de seu corpo pelo esforço que vazia.

— Senhor, a ambulância chega em dez minutos - Taylor informou apressado.

— Ela não tem dez minutos! - vociferou Christian.

Ana o puxou pelo paletó, mordendo o pano em ombro, gritando abafado novamente.

A pressão lá embaixo era uma coisa que a fazia não ter nenhum parâmetro de comparação.

— Christian, você precisa fazer isso - ela sussurrou com urgência, deixando Taylor e o marido apavorados.

Era a hora e eles iriam ter de fazer aquilo.

Durante toda a sua gravidez, Ana ouviu os médicos falarem sobre sua pressão oscilante, sobre o real risco de uma eclampsia, sobre todos os perigos constantes de cada dia de sua gestação. Ela se preocupou com aquilo - junto de Christian - sempre fazendo o melhor que podia e não podia para manter a si e bebê saudável.

Os médicos sabem o que falam. Eles estudaram para aquilo. E Ana sabia que daquele parto, ela não sairia viva.
Porém, em uma cultura muito antiga na Bulgária, existe a crença das parcas: três deusas capazes de decidir o destino.

Numa tradução grosseira, elas são quem decide a vida, o curso dela e a morte, de forma que nem mesmo um deus pode contrariar. Elas são como uma ordem cósmica que preside a vida humana, onde nada que existe no mundo pode escapar.

As Parcas, que são chamadas de Moiras na mitologia grega, são três deusas: Nona, Décima e Morta. São as filhas da noite, ou de Zeus, que controlam o destino dos mortais e determinam tudo, decidindo questões da vida e da morte.

Na Bulgária se tem a estrutura de calendário solar para os anos, e lunar para os atuais meses. A gravidez humana é de nove luas, não nove meses. Nona tece o fio da vida no útero materno, até a nona lua; Décima representa o nascimento, o corte do cordão umbilical, o início da vida terrena, a décima lua; Morta é a outra extremidade da coisa, é o fim da vida terrena, que pode ocorrer a qualquer momento. Quem sabe se as parcas não são mesmo reais?

Talvez a vida das pessoas seja mesmo guiada pelas Parcas. Talvez Décima decidisse continuar tecendo mais um pouco, em vez de deixar Morta fazer tudo ficar mais fácil para Ana.

A morena se agarrou em tudo, em todas as crenças que existiam. Se fosse real ou não, não importava, mas ela precisava ter naquilo.

Em tudo.

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Notas finais do capítulo

Eeeeeeta porra, agora vai hein



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