Batalhas e Memórias escrita por KLKaulitz


Capítulo 2
Regras de conduta


Notas iniciais do capítulo

Não aguentei e estou antecipando o segundo capítulo. Espero que gostem. Abraços. K.L



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Helena tentou apressar-se o mais rápido possível para conseguir chegar em casa antes de seu pai. Passou pela cozinha indo em direção a dispensa onde deixou um saco com sua roupa, mas foi pega no ato por Serafina. 

— Menina Helena, você não desiste nunca não é mesmo?

— Por favor Serafina não conte nada ao meu pai - disse ela implorando

— você sabe sobre o que penso disto, mas está bem. Eu te entendo, na sua idade eu era livre para ir a feira e nos bailes - ela escorou na mesa, pensativa - ahhh como o tempo passa depressa.

— Obrigada Sera - disse Helena dando um abraço nela.

— Não se esqueça de lavar este rosto, está imunda! - disse gritando quando a menina saiu.

Helena que já havia trocado o vestido, aproveitou para pentear os cabelos, lavar seu rosto e seus braços. Foi quando ela percebeu que na queda havia machucado o cotovelo.  "Droga! meu pai vai me matar". Logo pensou a menina.

Seu pai era um Conde, e vivia no meio da corte do rei, muito orgulho e moralista, fazia questão de educar sua unica filha dentro do que julgava correto e sensato. Não permitia que Helena se misturasse a plebe ou que ficasse de conversinha com os empregados. Sonhava em ver a filha casada, mas estava esperando ela se tornar mulher para que pudesse dispor a mão dela a quem ele escolhesse. 

Helena havia passado por vários médicos, mas nenhum conseguia explicar o porque a menina ainda não havia tido o primeiro sangramento. O que a constrangia ainda mais. Sua mãe havia falecido pouco tempo depois que ela nasceu, sendo criada por seu pai. Se sentia muito sozinha, desde quando o seu amigo de infância partiu para a guerra. Leonel, era muito próximo da menina, mas ele era apenas o filho de Serafina e o único o qual o pai de Helena ainda a deixava conversar. Eles cresceram juntos e o pai de Helena mesmo com seu jeito duro gostava muito do rapaz e até havia dado educação para o menino. Os dois sempre andaram juntos e continuavam a se corresponder por cartas, era o braço direito do conde, que sempre prometeu que iria fazer dele um Barão. Ensinou tudo o que sabia ao garoto, principalmente a respeito da colheita e de como eram feitos os plantios de trigo.

Leonel era jovem também, um pouco mais velho que Helena. Seu pai havia ido para guerra e nunca mais voltou. Serafina desde pequena era empregada na casa de Helena e ajudou a criar a menina logo quando sua mãe faleceu. Talvez eram os únicos pobres que o pai dela tolerava e até gostava, do jeito dele. O menino partiu para a guerra na esperança de voltar com alguma posse, o qual o rei havia prometido se ganhasse a guerra. 

O Conde esperava que quando Leonel voltasse ele fosse assumir e administrar as fazendas, e como havia prometido iria fazer dele um Barão e casa-lo com sua filha, logo que ela desabrochasse. Gostava realmente do rapaz e queria alguém que soubesse administrar bem suas terras. Helena para o desgosto dele não tinha dom para isto e também não se interessava. Era uma verdadeira menina. Ela ainda não sabia das intenções de seu pai sobre o seu futuro. Mas naquela noite iria descobrir.

O conde chegou procurando por ela, foi imediatamente em seu quarto se certificar de que ela já estava pronta para o jantar. Ficou chateado por ela não querer o acompanhar junto a coroação. Não desconfiava que ela havia saído,pois a viu deitada na cama. 

— Confesso que você perdeu minha filha - disse ele jogando seu chapéu na cama de Helena e se sentando na beirada de costa para ela - O rei estava magnifico! Agora sim, sinto que ganharemos esta guerra. William é um homem de coragem. Você tinha que estar lá!

— Ah papai não se aborreça. O senhor sabe que não gosto dessas coisas. Afinal de contas amanhã terá o baile e eu já terei que ir obrigada.

— E sabe quem irá te acompanhar no baile e vi vestido de soldado?

— Nãoooo! Eu não acredito! - disse Helena se levantando e abraçando o pai que estava de costa - Leonel virá nos ver está noite?

— Disse que sim. Você precisa ver como ele está mais alto, um verdadeiro cavalheiro. Não vejo a hora de conseguir passar a ele a administração das fazendas.

Helena estava animada, enfim veria o amigo após muito tempo. Foi se sentar junto de seu pai, o jantar já estava sendo servido quando Leonel chegou. Primeiro ficou parado segurando seu elmo, estava usando armadura e uma capa cor azul. Quando Helena o viu, largou a comida e saiu correndo indo em direção a ele.

— Leonel! - disse o abraçando - Que saudade sentimos de você. Mal posso acreditar que está de volta.

— Menina Helena como você está diferente. Nem parece aquele mendigo que deixei - disse ele rindo

— Ora... e quanto a você! Cresceu muito! E nem tem aquelas sardinhas mais - Helena ria debochada.

— Meninos contenham-se, deixem para conversar depois, aposto que Leonel está faminto - disse o Conde se aproximando e dando um abraço nele - Sente-se junto conosco.

Serafina que já havia visto o filho estava extremamente sorridente. Sentia que momentos felizes estavam por vir naquela casa. Uma vez que seu filho havia revelado o seus planos.

Helena não parava de fazer perguntas para Leonel, mal tocou na comida de tão ansiosa. Perguntava de tudo, uma verdadeira tagarela e seu pai sorridente aproveitava para se distrair. Perguntou como foi a guerra e se ele havia matado muitos homens. Como era os lugares onde ele havia passado e se ele voltaria a morar com eles.

— Então Helena, seu pai me convidou a morar com vocês, apesar de que o antigo rei havia nos prometido terras caso ganhássemos, mas infelizmente para os dois lados tiveram muitas perdas e não podemos ainda dizer se esta guerra terá um fim.

— Ouvi dizer que o rei Darius assumiu o trono, é verdade que ele é realmente ruim?

— Eu não sei te dizer, o vi poucas vezes. Ele deve ter a minha idade, mas ouvi dizer que o pai dele castrava todos os seus soldados.

— Que horror! - Disse Helena aterrorizada.

— Mas confesso que estou muito aliviado em ter voltado, será com orgulho que aceitarei cuidar das terras de seu pai.

— E eu ficarei imensamente grato e irei lhe conceder aquele pedido especial que você havia me proposto - disse o conde enfático.

— Que pedido especial? - Helena perguntou curiosa

Leonel corou de vergonha não esperava que o conde fosse dizer nada sobre o noivado naquele momento. Ele esperava ainda que tivesse um momento a sós com Helena e que pudesse fazer o pedido.

— Vejo que vocês ainda terão muito o que conversar - O conde ria enquanto limpava a boca.

— Vocês vão me deixar curiosa? - Perguntou ela ainda mais ansiosa

— Bem Helena, eu não queria lhe dizer ainda neste momento, pois acreditei que pudêssemos ter um momento a sós, mas o teu pai insiste que falemos sobre isto aqui. 

— Prefiro assim, sem rodeios. 

— Então Helena, o fato é que você sabe da vontade que seu pai tem de me tornar seu herdeiro tanto é que deixará administrar as fazendas.

— E fico muito satisfeita com isto - disse ela tocando o braço dele sob a mesa - Todos aqui sabem o quanto sua mãe serve bem nossa casa e o quanto você tem jeito com isto, eu não me veria tomando posse disso.

— E fico muito agradecido, mas não estamos falando das terras.

— Ah não? - perguntou ela olhando de um para o outro - e do que vocês estão falando então?

— De seu casamento minha filha - Disse o conde sem cerimonia - Ofereci sua mão a Leonel.

— O que?! - exclamou ela

— Eu não queria que soubesse desta forma, mas aconteceu... - disse Leonel sem graça.

— Mas como eu não fiquei sabendo disto antes? Você nunca me disse nada em suas cartas - disse ela engolindo em seco, estava atordoada

— Sinto muito, mas seu pai me fez prometer não contar

— Estamos esperando você sangrar para que possa assumir este compromisso.

— Ela ainda não sangrou? - perguntou Leonel espantado

— Eu não acredito que vocês vão tocar neste assunto, eu já disse! Eu não sou um animal para procriação igual vocês pensam e eu não quero me casar com ninguém! - disse Helena se levantando e saindo correndo envergonhada em direção a saída de sua casa, queria estar bem longe dali.

— Eu lhe disse que seria melhor eu falar com ela primeiro - Disse Leonel se levantando e pegando suas coisas

— Vá atrás dela, ela precisa entender que será para o bem dela.

Leonel a seguiu, mas foi em vão pois não havia nem sinal dela aos arredores. Pegou o seu cavalo e saiu em direção para a rua, tentando a achar.

Helena chorava, estava com raiva e sentia ódio de si mesma, como podia ser ingenua. Agora ela entendia, todas aquelas cartas de Leonel. Se sentia culpada de ter alimentado nele esperanças. Uma vez que ela via nele um irmão próximo e somente. Não conseguia o imaginar como um marido, jamais pensou em se casar. O fato é que também não se sentia uma mulher por completo, mesmo que estava com 16 anos não entendia porque não havia sangrado. Estava infeliz. E o único lugar que podia a acalmar era o mar. 

Helena havia um lugar especial, a passagem secreta pelos túneis escavados a baixo da rocha, davam direto para um lance de escadas que levavam até uma torre e de lá ela podia avistar o horizonte e todo mar. Aquele lugar havia sido construído pelos escravos para conseguirem transportar armas dos navios sem que o inimigo conseguisse ver. Mas havia sido esquecido pelos homens. Sendo apenas um lugar pacifico. Estava sentada nas pedra chorando e pensando o que faria de sua vida quando um homem chegou.

Ela ficou toda sem graça e tentou enxugar as lágrimas, o homem estava de capuz preto. E não havia a visto, pois estava do outro lado das paredes e se sentou também para admirar a vista. Helena se sentiu incomodada e viu que aquele lugar não era mais secreto, que outras pessoas também tinham conhecimento sobre ele. Então quando se levantou o homem a viu e também ficou envergonhado saindo logo, trombando junto com ela, estava apressado. Eles se esbarraram e se olharam pedindo desculpa.

— Perdão meu senhor - ela disse não conseguindo ver o rosto dele

— Eu quem peço perdão senhorita. Não sabia que este lugar já estava ocupado.

— Eu confesso que achei que era a única que conhecia as passagens até aqui.

O homem riu. E se aproximou da borda se sentando novamente. Helena ainda continuou de pé.

— Eu venho aqui desde que era garoto, conheço cada lugar de Acmênida com a palma de minha mão.

— Deve conhecer muito então, já que é muito grande o reino.

— Sim, conheço bastante. O meu pai ajudou a construir cada lugar.

Helena se mostrando mais interessada agora na conversa se sentou. Porém de costa para a vista, enquanto que o homem estava sentado com a pernas para fora, balançando no ar.

— O seu pai devia ter sido um homem importante para conseguir fazer todas estas coisas maravilhosas.

— E era - cortou ele com a voz meio falha

Ouve uma pausa entre os dois.

— E você? o que está fazendo aqui neste lugar?

— Estou pensando na vida que me espera.

— Engraçado...

— O que é engraçado?

— Eu também estou aqui pensando na vida que me espera.

Eles riram um pouco sem graça.

— Já está tarde, devo voltar para casa.

— Quer que eu a acompanhe? 

— Não, está tudo bem, eu consigo me virar sozinha.

— Não estou tão certo quanto a esta afirmativa

— Acredite em mim, eu consigo andar sozinha. Obrigada.

O homem então se levantou e ela o reverenciou agradecendo a hospitalidade e desceu as escadas rapidamente, com medo de que ele a seguisse. Helena já não estava mais triste e sim conformada com o triste destino, ela pensou que talvez fosse melhor assim. Preferia que fosse com alguém que ela conhecia. E ela sabia que Leonel a amava, mas que infelizmente não conseguiria corresponder as expectativas dele. 

Encontrou com ele quando já estava chegando próximo a sua casa, ele correu com o cavalo até ela e a ofereceu carona. Helena não aceitou, andando de cabeça baixa.

— Ah vamos Helena! Pare com isto. Qual é? Eu sou o seu amigo.

— E agora o meu marido também

— Você sabe que pode negar se quiser!

— Eu não vou negar!

Leonel desceu do cavalo e o puxando seguiu a pé com ela. Helena se mostrava insatisfeita e infeliz.

— Então quer dizer que você concorda.

— E terei outra opção?

— Você não precisa decidir nada agora Helena, vai por mim. Eu sou a última pessoa que gostaria de vê-la infeliz ao me lado. É só que... 

— Só que? - Parou ela o encarando, já estavam na porta de sua casa

— Eu esperava que você fosse ficar feliz, todas as cartas que trocamos por todo este tempo... Parecia que você estava ansiosa pela minha volta.

— E estava, mas não esperava que em tão poucos minutos você fosse me propor em casamento.

— é para o seu bem, você sabe o quanto o seu pai está preocupado contigo.

— Comigo ou com as terras dele?

— Pare de ser rabugenta igual ele e me escute, ou melhor... - disse ele alisando o braço dela - vá dormir, já está ficando tarde, amanha conversamos melhor. 

— E você realmente me levará ao baile como prometido?

— Se você ainda quiser.

— Está bem, melhor irmos descansar, você deve estar exausto. Fico feliz que tenha voltado e que não me deixará enfrentar sozinha aquele inferno amanhã.Confesso que se não fosse você ao meu lado eu não me atreveria a ir.

— Será um prazer acompanha-la em seu primeiro baile. Agora vá para dentro, seu pai está preocupado - disse ele a abraçando.

Helena foi direto para seu quarto, o seu pai quando a viu apenas fez um aceno com a cabeça, ele estava espiando tudo pela janela. Parecia feliz, mas não queria dizer nada a filha. Não se atreveria e não tinha jeito para essas coisas.

Helena após trocar de roupa, estava sentada em frente ao espelho olhando para o seu corpo. Ela reparou que nos últimos meses o seus seios dobraram de tamanho e ficaram mais aparentes e sua pele ficou mais lisa e macia. Além disso ela crescera também e seu cabelo estava ainda mais comprido. Estava ali admirando seu corpo e se sentiu ainda mais triste ao pensar que talvez nunca iria se apaixonar. Pensou no episodio hoje mais cedo, lembrando-se como o rei era bonito e como havia ficado constrangida. Suspirou tristemente e foi dormir. Ela precisava seguir as regras que seu pai impunha a ela e sabia que o casamento era uma. Mas ela sabia que era muito menina ainda para assumir um compromisso tão serio e não se sentia preparada. Algumas lágrimas ainda insistiram em fugir de seus olhos negros. Mas ela passou a mão afugentando-as.

E então, esse seria seu futuro... já tudo bem planejado pelo seu pai. E ela teria que mudar sua conduta. "Ahhhh como o destino é cruel", pensou antes de apagar em sonhos.

 


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Notas finais do capítulo

Agradeço por estarem acompanhando. Espero que esteja superando as expectativa.



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