À Espreita escrita por EsterNW, Entusiasta


Capítulo 18
Feridas


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Pan panpanpanpan tantan ~música do plantão da Globo.
Interrompemos nossa programação normal para anunciar que chegamos ao último capítulo (!) Brace yourselves e vamos acompanhar o desfecho desse caso. Roda a vinheta, Heitor!

Entusiasta:
E aí gente, tudo bem? Espero que vocês estejam gostando das emoções finais de nossa história. Hoje vamos ter...
Qual a graça se eu disser? Role a página para baixo e descubra durante a leitura. Aproveite!



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— Não se aproxime de mim! — Natalie berrou para Edgar, fazendo nós dois interrompermos nossos passos, comigo ainda arfando. — Ou eu juro, eu juro que eu pulo — ela gritava ensandecida, fora de seu estado normal e ainda mais transtornada do que a primeira vez que encontrara o ex-marido (ou ainda atual, talvez não divorciados) na praça com as pinturas.

Eu estava no meio de um confronto que não me dizia respeito, de um antigo casal com uma história que eu desconhecia, mas que acabara envolvendo-me por mera escolha do acaso.

Natalie fuzilava Edgar com os olhos escuros, temendo e ensandecida, tremendo enquanto segurava o menino com força contra si. Pelo movimento dos ombros, Miguel chorava. E Edgar, que dirigia à sua antiga esposa o olhar mais mortal que eu havia visto naqueles olhos analíticos de corvo, contraiu a mandíbula, quase tremendo também, mas de raiva e com todos seus sentimentos reprimidos havia tanto tempo. Eles finalmente estavam frente a frente.

— Não ouse… — ele sibilou, aproximando-se mais dela e da criança. — Não ouse fazer algum mal a Miguel.

Natalie deu mais alguns passos para trás, cada vez mais próxima da borda da plataforma. Mesmo não sendo tão alta a distância até os trilhos, uma queda dali machucaria os dois.

Coloquei a mão sobre o ombro de Edgar, impedindo-o de avançar mais.

— Natalie… Camila… Por favor, seja razoável — suavizei minha voz, tentando dialogar com ela. Esperava conseguir algo, afinal, ela confiara em mim para protegê-la de Edgar. — Eu não vou machucar você, prometo. — Eu, então, lentamente, resolvi começar a andar até ela.

Erro meu. Natalie segurou ainda mais o filho contra si. Seu peito subia e descia com a respiração ofegante e lágrimas começavam a rolar pelo seu rosto pálido, manchando-o com a maquiagem pesada que sempre usara para se esconder.

— Você está com ele — referiu-se a Edgar, que permanecia parado e encarando-a com fúria e procurando uma forma de acabar com aquela situação, que, para nosso azar, atraíra a atenção dos presentes, que começavam a se acumular atrás de nós. — Eu achei que você fosse bom, Heitor… — Natalie agora não mais gritava, chorando junto com a criança que estava em seus braços. — Eu não devia ter me aproximado de você, eu não devia… — Balançou a cabeça com força, talvez negando consigo mesma algo.

— Natalie, não. — Parado, ainda tentava convencê-la a entregar a criança para nós dois. Eu ainda tinha alguma esperança nela, apesar de tudo. — Eu juro que não vou te fazer mal e não vou deixar que o Edgar lhe faça nada. — Estendi minha mão em sua direção. — Venha comigo.

A mulher fitava-me com sentimentos que eu não conseguia decifrar naqueles olhos escuros e envoltos em uma nuvem escura de lágrimas. À nossa volta, apenas cochichos e suposições, estando todos apreensivos com aquele desfecho. Eu mais ainda, sendo uma das figuras principais.

Um dos desconhecidos ainda tentara se aproximar dela pela lateral. Olhei para o homem de meia idade, que sinalizou-me em negativa com a cabeça. Seguindo meu olhar, Natalie observou o homem, finalmente vendo o quão perto estava dela e da criança.

— Senhora, por favor, acalme-se — o senhor se dirigiu a ela, que, fora de suas expectativas, mostrou-se ainda mais nervosa e fora de si, negando o tempo todo com a cabeça.

Percebi Edgar voltar a se mover ao meu lado. Ele talvez previra o que aconteceria a seguir.

— Eu nunca te amei, Heitor! — Natalie berrou a plenos pulmões para que todos ouvissem, gerando arquejos das pessoas que viam tudo aquilo como meros telespectadores.

— Não!

Edgar berrou assim que Natalie deu mais um passo para trás, prestes a cair de costas nos trilhos junto com a criança. O homem correu e assim eu também fiz, segundos depois. Porém, não fui rápido o suficiente.

Edgar segurou o filho, contudo, Natalie não o soltou, fazendo então com que a gravidade levasse os três para aquela queda. Eu nada pude fazer naqueles segundos que pareceram desacelerar e passar em câmera lenta, apenas vendo os três despencando juntos até os trilhos e com ambos segurando a criança.

O homem, aquele mesmo que tentara aproximar-se de nós sem ser visto, em uma rapidez e agilidade que eu não esperava para ele, começou a descer até os trilhos, usando a parede do fosso como apoio.

Enquanto ele fazia tal manobra, fiquei na borda da plataforma, observando o acontecido lá embaixo: os três continuavam caídos, com Natalie deitada de costas no chão, sendo provavelmente a mais machucada, e o filho em cima de si, tendo o impacto da queda reduzido pelo corpo dela. Edgar levantava-se com dificuldade, pronto para ir até ela e recuperar a criança. Porém, o outro foi mais rápido do que ele.

— Fiquem longe, por favor! — gritei para aqueles curiosos que começavam a se aproximar da cena. — Alguém ligue para a polícia, por favor — pedi, esperando que alguém atendesse o meu pedido, porém, parecia que a curiosidade deles era maior do que o dever. — E uma ambulância também — inteirei o pedido, vendo que eles com certeza haviam se machucado bastante na queda. Principalmente Natalie.

Nesses segundos em que desviara minha atenção com os presentes, nos trilhos a ação continuava, com Edgar já tendo se erguido e tomado o filho nos braços, mesmo que a contragosto da criança, enquanto o homem tirava uma algema do bolso de trás e tentava prender Natalie, sem sucesso, já que ela parecia não conseguir ficar com os braços para trás com a dor.

Aquele era o policial e amigo que Tárcio afirmara que mandaria até nós. Pelo visto, ele chegou em hora oportuna.

— Alguém pegue a escada do zelador! — Uma voz gritou em meio às pessoas. — Precisamos tirar eles de lá.

Aproximei-me ainda mais da borda, abaixando-me e observando toda a movimentação dos quatro. Miguel estava inquieto com Edgar, esticando as mãozinhas até a mãe. E esta parecia ter dificuldade para se sentar, mesmo com a ajuda do policial.

— Olha a frente — um senhor interrompeu e dei-lhe espaço para colocar a escada de metal apoiada na plataforma.

Provavelmente ela pertencia ao antigo zelador da estação de trem, tendo altura suficiente para trocar lâmpadas e fazer outros serviços no local.

— Edgar, a polícia já está chegando! — gritei para os quatro lá embaixo. — Vocês conseguem subir por essa escada? — Cada vez mais pessoas se aglomeravam em volta, criando um pequeno bolo de pessoas. — Por favor, peço que mantenham distância para eles poderem subir. Tenho certeza que tudo isso vai estar nos noticiários e vocês poderão acompanhar em suas casas. — E talvez até eu mesmo desse a notícia no meu programa. Que ironia…

Poucas pessoas se afastaram.

— Eu vou ficar aqui embaixo com a Natalie. Ela não consegue subir, temo que tenha fraturado alguma coisa — o policial avisou. Realmente, era estranho ela continuar deitada no chão esse tempo todo.

Ao mesmo tempo, a criança continuava a tentar alcançá-la, esperneando nos braços de Edgar.

— Heitor, será que você poderia me ajudar a subir o Miguel? — Edgar pediu-me de lá de baixo, causando-me surpresa.

Olhei para o bolo de pessoas que acompanhava aquele resgate e assenti para o senhor que colocara a escada ali. Então, comecei a descê-la, chegando ao final e pegando em meus braços Miguel, entregue por Edgar. A criança continuava chorando e se debatendo. Contudo, pareceu acalmar-se pelo menos um pouco quando a segurei. O menino continuava esticando as mãos em direção à mãe e chamando por ela aos gritos. Natalie, por sua vez, permanecia caída, enquanto o policial tentava dialogar com ela.

Deixando os três para trás, comecei a subida, dessa vez mais complicada, com Miguel se mexendo sem parar. Ao menos, Edgar segurava o final da escada. Logo, cheguei ao topo e entreguei Miguel para o senhor que acenara antes, para que assim eu conseguisse ficar em pé sobre a plataforma.

Feito isso, o homem devolveu-me Miguel, que continuava chorando e chamando pela mãe.

— A gente vai cuidar de você, Miguel. — Abaixei meu rosto, tentando encarar os olhos chorosos da criança, que começava a ficar com a face vermelha de tanto choro. — Você não precisa ter medo de nós.

O menino pareceu se acalmar com minhas palavras, porém, continuava com lágrimas silenciosas e chamando por Natalie.

Enquanto balançava o menino, Edgar apareceu no topo da escada, sendo ajudado pelas pessoas a subir até a plataforma. Ignorando as ofertas de ajuda, ele veio até nós, mancando. Ele também havia se machucado na queda, com parte do rosto e mãos esfolados. A criança talvez fora a que menos se machucou, caindo em cima de Natalie.

Miguel recomeçou a chorar alto quando viu o pai.

— Ele parece ter medo de você — comentei enquanto Miguel escondia o rosto em minha camisa e eu continuava a tentar embalá-lo.

— Natalie deve ter feito isso com ele. — Ele voltou os olhos tristes para o filho, não tendo mais sombra de toda aquela altivez de antes. Agora ele apenas estava cansado e machucado. — Fico pensando o que ela colocou na cabeça dele. — Engoliu em seco, colocando as mãos nos bolsos e abaixando a cabeça, com os ombros contraídos como mostra do que sentia.

— Você está bem? — questionou-lhe e vi Edgar voltar o olhar para atrás de mim.

Encarei na direção que ele observava, vendo a polícia abrindo caminho entre os curiosos, junto de uma equipe de TV.

— Nada que não possa ser consertado.

Foi a última coisa que ele respondeu antes de sermos abordados por um dos policiais. Os machucados físicos poderiam ser cuidados e sarados depois de algum tempo. Mas e os machucados no psicológico de todos nós? Pergunto-me quantas cicatrizes teriamos após tudo isso.


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Notas finais do capítulo

Ester:
Começaram juntos e terminaram juntos no buraco xD O que será que vai ser deles agora? Será que teremos mais momentos fofos de Heitor lidando com crianças? Veremos isso na próxima semana... No epílogo. Sim, senhores, vocês acharam que ia acabar aí? Mas nem pensar! Tudo tem um desfecho e aqui não seria diferente ♥
Povo lindo! Como vocês devem saber, eu sou uma pessoa muito musical, então.... A história acabou ganhando uma "trilha sonora" com todas as músicas que eu ouvi enquanto escrevia ou que apareceram no decorrer da história. Temos playlist no YouTube: https://www.youtube.com/playlist?list=PLtd2o93Ew-C3cOqv2RGudlnhP8zpFCWuA e no Spotify, pra quem também usa:
https://open.spotify.com/playlist/2zzZNxAgGuaKuF9No757yh
Pra quem gosta de Rock/Metal, é um prato cheio xD
Até o epílogo, povo!

Entusiasta:
Ai ai, como o tempo passa rápido! Terminamos quase que num piscar de olhos, eu nem vi. Mas o fim do caso não significa que tudo envolvendo ele foi resolvido. Ainda existem coisas a serem esclarecidas e informações importantes a serem dadas. O que aconteceu com os envolvidos depois de tudo isso? Aguardem...
PS: se você ainda não ouviu Porto Alegre do Fresno, recomendo fortemente que faça isso agora.