Estranhamente, a minha paz voltou. Nina parecia não ligar mais para nossa existência, minha e de Percy. O que me fez agradecer ainda mais os Deuses. Estava pensando nisso enquanto estava indo ao refeitório, para almoçar, com Percy. Nossas mãos estavam entrelaçadas, mas ele estava tão longe quanto eu.

- Milhares de dracmas pelos seus pensamentos, Cabeça de Alga! – eu disse sorrindo. Surpreso, ele virou seu rosto para que pudesse olhar pra mim, e abriu um sorriso.

- Eu não sei bem ao certo – Ele pausou, como se estivesse pensando como continuar – Estava pensando nas profecias, no meu pai, na minha mãe, enfim.. – Ele parou, e suspirou levemente.

- Ei, qualquer coisa, você sabe que vou estar aqui, certo? – Eu disse, levemente rubra. Ainda que namorássemos há um tempo já, ainda ficava envergonhada de demonstrar meus sentimentos a ele. Ainda que ele dissesse que me amava, eu ainda tinha medo de sua reação.

- Estaremos juntos – Ele disse levantando nossas mãos entrelaçadas. Voltei a encará-las, mais precisamente argola prata que circundava meu dedo. Por mais que a mão dele em que estava a aliança não estivesse entrelaçada com a minha, os raios solares do dia sem nuvens faziam que a aliança brilhasse fortemente, como uma chama branca, ou uma estrela. Apesar de fazer um belo dia de sol, uma leve brisa morna passeava pelo acampamento, fazendo os cabelos esvoaçarem-se. Meus cabelos insistiam em atrapalhar minha visão. Não sei exatamente quanto tempo ficamos ali olhando um para o outro, ou indagando, só sei que, quando vi, toda a área que ficava em frente ao refeitório estava vazia, não havia uma alma ali presente.

- Ei vocês, dá pra vir comer? Antes que os Deuses fiquem estressados por não receberem suas oferendas! – Um garoto de cabelos pretos, e roupas desta mesma cor, abriu apenas uma fresta da porta do refeitório. Suas sobrancelhas estavam levantadas, e sua expressão passava um sentimento de gozação, de brincadeira. Nico, filho de Hades. Ele havia mudado muito desde que conhecemos aquele menino que brincava com pequenos brinquedinhos. Ou melhor, figuras de ação, como ele costumava dizer.

Depois da morte de sua irmã caçadora, que tinha dado sua vida pela nossa, Bianca, ele tinha parado de brincar com isso, e realmente, havia ficado bem mais melancólico, bem mais parecido com um filho de Hades. Nico realmente não sorria muito, mas ele melhorou um pouco, pois superou (em partes) a morte de Bianca. Mas se olhar em seus olhos, percebe-se que ele ainda sofre muito com isso. No chalé de Hades, onde ele é o único morador, está uma cama com uma foto de Bianca e Nico em cima. Ele sente muita falta dela, ela lhe passava proteção.

Percy me puxou para dentro com um sorriso brilhante no rosto, e logo o segui. A maioria já estava dando suas oferendas aos seus respectivos pais. Peguei bastante comida, já que não tinha tomado café da manhã. Digamos que Percy tem um certo de poder de persuasão sobre mim. Joguei meu melhor pedaço para Athena, e ainda joguei uma pequena parte a Afrodite, que estava me ajudando muito. Não diretamente, mas sei que nisso havia um dedinho ( pintado com esmalte rosa, é lógico) dela.

Comi rapidamente, sem pensar muito. Julie continuava a tagarelar sobre o filho de Hécate, mas eu não estava prestando muita atenção, mas logo vi que seus olhos estavam vermelhos e inchados, e o colar com as suas iniciais e as dele não estava mais pendurado em seu pescoço. Estranhei, pois eu havia a visto de manhã e ela não estava com essa aparência. Provavelmente haviam terminado um pouco antes do almoço, pois ainda havia algumas marcas de lágrimas em sua bochecha rosada.

A abracei com um braço, e ela agradeceu.

- Conversaremos mais sobre isso no chalé, quando tivermos privacidade ok? – Eu falei a ela, que apenas acenou com a cabeça. Vi que todos estavam saindo, e Percy já havia saído. Provavelmente estava na área de treinamento. Ajudei Julie a levantar, já que ela estava ainda mais triste. Acho que quando a abracei, ela começou a descarregar tudo que estava sentindo. Em minha cabeça passaram rápidas imagens minhas, de como eu ficaria se terminasse com Percy. Imagens minhas na cama, chorando desesperadamente, abraçando meu próprio corpo. Logo afastei essas imagens.

Ela levantou e balbuciou um obrigado, e foi embora. Fui ate meu chalé, peguei meu laptop do Dédalo, fui até uma árvore, e comecei a olhá-lo. Acredite, eu ainda não tinha visto tudo que ele havia colocado em seu computador. Todas as idéias, tudo que ele imaginou, agora compartilhado comigo. Senti-me especial por um tempo. Olhei para cima e vi que daqui dava pra ver a área de treinamento. Vi Percy ensinando filhos de Hermes mais novos a lutar com a espada. Sua testa estava vermelha, denunciando que estava bem suado.

Já que não havia terminado minhas obras no Olimpo, e se dependesse dos Deuses, eu não iria terminar nunca, já que sempre tinha um que pedia mais uma estátua de si. Afrodite e Ares eram os que mais me enchiam a paciência. Ares sempre queria mais uma estátua dele, lutando, e Afrodite sempre achava que a estátua não estava tão bonita quanto ela é na vida real.

Acredite, eu tive que refazer várias estátuas por causa disso. Quando eu digo muitas, eu digo todas.

Continuei a olhar o laptop quando uma sombra bloqueou o sol que batia em meu rosto.

Olhei lentamente pra cima, com curiosidade, mas ao mesmo tempo já sabia quem era.

E olha só? Na mosca. Nina, com sua melhor cara de ‘eu sou melhor que você’.

- O que você quer? – Eu perguntei com a minha melhor cara de desprezo.