Level Up: Almas Entrelaçadas (Interativa) escrita por Mast


Capítulo 9
Olhos Vermelhos


Notas iniciais do capítulo

Bom diaa!
O capítulo hoje não é dos maiores e não acontece muita ação, mas tem bastante intriga
Próximo capítulo terá mais ação!
Boa leitura!



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“Kairon? O que está fazendo?”

O ladino se vira lentamente, logo tendo contato visual com a meia-elfa.

“O que está fazendo no quarto do Norman? Essas são as coisas dele?”

O jovem segura uma peça de xadrez com um pouco mais de força, fechando uma bolsa que sentava-se inocentemente na cama do mago. Ele se vira para a clériga e gesticula para que ela se aproxime.

Alire anda calmamente até dentro do quarto, e Kai abre a bolsa do mago para que ela olhe. A moça não percebe que ele guarda a peça de xadrez dentro de seu bolso.

Dentro da bolsa de Norman, existem vários pergaminhos. A jovem dá uma boa olhada mas não compreende o que o ladino está tentando lhe mostrar.

“Qual o problema? Norman tem vários pergaminhos. Ele é um mago, afinal de contas.”

“Sim. Mas olha...esses pergaminhos são muito poderosos. Como que ele pôs a mão em tantos?”

Ela levanta uma de suas sobrancelhas e assiste o tiefling retirar um dos pergaminhos da bolsa do mago.

Sunbeam. Essa magia é extremamente poderosa. E olha essa daqui. Tenser’s Transformation.”, o ladino diz. Ele puxa mais outra, e dá um assobio. “Olha essa. Mordenkainen’s Sword. Onde que o Norman arranjou tudo isso?”

Alire fecha a cara, um pouco insatisfeita com o garoto bisbilhoteiro.

“Não acho que deveríamos estar olhando as coisas dele.”

“Por quê?”

“Pois ele não gostaria.”

“É por isso que deveríamos estar olhando.”

Ele se vira para a meia-elfa, mostrando os conteúdos da bolsa.

“Olha pra isso, Alire. Todo esse poder de fogo, e em nenhum momento vimos ele usar algo do tipo pra nos ajudar. Tem gente que mataria por tanta magia num lugar só. Você sabe que quase morremos umas duas vezes, não foi? E por que motivo o Norman não quis usar uma dessas magias extremamente poderosas?”

Ela cruza os braços.

“Deve ser porque são valiosas e ele está guardando para quando ele realmente precisar. Saímos vivos, não foi?”

O jovem homem estala os dedos, contente com a resposta dela.

“Exatamente. Se Norman não sequer pensou em utilizar essas magias, deve ser porque ele tem algo em mente. Ele quer guardar elas para algo muito mais perigoso do que qualquer coisa que já vimos.”

Alire para. Ela leva uma mão ao queixo e pensa nas palavras de Kairon. Seria verdade?

“Mas...o que ele poderia estar pensando em enfrentar?”

“Não sei. Não faço idéia. E é por isso que me preocupa tanto. Podemos acabar envolvidos nisso.”

“É claro que sim. Temos que ajudá-lo!”

Kai levanta uma sobrancelha.

“Por quê?”

“Porque ele é nosso amigo!”

As palavras da clériga pegam ele um pouco desprevenido. Ele esperava por algo assim, mas imaginou que simplesmente daria de ombros e não pensaria mais sobre isso. Porém, ao dizer isso com tanta convicção, o ladino ficou hesitante, e sua cauda balança uma única vez.

Era verdade. Não era?

Norman tinha pagado por sua fiança e Siegfried tinha depositado muita confiança sobre ele, apesar de não merecer. Talvez eles fossem amigos, verdadeiramente.

É isso que amigos fazem? Correm perigo uns pelos outros? Sacrificam bens e, talvez, a própria saúde uns pelos outros?

Os pensamentos dele são interrompidos por um barulho de passos subindo as escadas até o corredor onde os quartos eram localizados. Kairon guarda tudo ligeiramente e anda até a janela, de maneira discreta.

 

“E o quê vocês encontraram?”, Norman pergunta ao líder da guarda e aos companheiros deste.

O homem reajusta o seu tapa-olho, e por um breve momento o mago vê um buraco escuro e vazio onde o olho dele deveria estar. Não foi uma ferida leve, um defeito de nascença nem uma cicatriz profunda. Algo arrancou o olho do veterano.

Depois de se sentir confortável com a posição do tapa-olho, ele coça um pouco os cabelos grisalhos e descansa a mão na sua espada.

“Foi como você disse. Mortos-vivos em decomposição foram encontrados por todo lugar perto da floresta, e uma névoa densa se dissipava muito lentamente. Chegamos no local de manhã e à noite ela ainda perseverava, apesar de mais leve.”

“Encontraram o esconderijo do mago?”

“Sim. Mas tudo lá já tinha sido levado. Aposto que foi do feitio de você e seu grupo.”

Norman sorri.

“Algum problema com isso?”

O chefe da guarda retribui o sorriso.

“Claro que não. Vocês nos fizeram um favor, se livrando daquele verme.”

O velho dá algumas leves batidas com os dedos na espada, suspirando.

“Os pobres coitados. Muitos foram atacados na estrada enquanto estavam apenas trabalhando. Vai ser difícil olhar nos olhos das famílias deles quando virem os corpos, transformados naquelas….coisas.”

“Não se culpe por isso. Não tinha como saber até que fosse tarde de mais para muitos deles.”

O veterano faz que sim, completamente ciente da situação.

“Claro. Mas ainda assim...não me é uma boa sensação. Me faz sentir impotente. Como se eu não pudesse fazer nada para ajudar quem realmente precisa.”

Norman não responde.

“De qualquer maneira...você vai gostar de ter essa informação. Aparentemente, casos de necromancia estão acontecendo por toda Lore. Pessoas desaparecem de suas casas no meio da noite, às vezes. É algo sinistro.”

“Da onde a maioria dos ataques estão vindo?”, pergunta o mago.

“Norte.”

O homem mais jovem entre os dois estala a língua. Algo nele parecia dizer que ele já esperava por isso, mas o líder da guarda decide não questioná-lo.

“Perto da capital. É um pouco longe daqui, de Ordinance, então por enquanto nossos problemas não têm sido tão grandes. Você vai para lá?”

O homem de chapéu faz que sim.

“Você é um louco. Mas parabéns pela coragem, eu lhe admiro.”, o velho diz, apresentando uma mão para apertar, que Norman aceita. “Sou Jordan Cornedour. Prazer.”

“Norman Chadsworth. Prazer.”

O mago olha para o lado e finalmente percebe a presença de Siegfried lá, que parece incomodado com algo.

Os guardas todos se despedem e se afastam, deixando os dois à sós. O paladino faz uma pergunta.

“Quem era aquela mulher, Norman? Por quê ela te conhecia?”

Essas palavras imediatamente tomam a atenção do homem, que se vira completamente para o garoto. Norman põe ambas as mãos nos seus ombros, o assustando um pouco.

“Não fale sobre isso com mais ninguém.”

 

Os dois sobem as escadas da taverna, chegando ao corredor onde os seus quartos estavam. A porta do quarto de Norman está aberta. O mago levanta uma sobrancelha.

"Norman! Ai! Ai!"

Almiro corre desesperadamente para fora do quarto, uma criatura presa no seu cabelo. Ele grita alto enquanto um rato branco mordisca sua cabeça e puxa seu cabelo.

"Socorro, Norman! Esse seu bicho tá- ow!"

O mago estende a mão e o rato pula da cabeça do gentinha para o seu braço.

"Ronald, nada de tentar matar o Almiro dessa vez.", ele diz a seu familiar.

"Dessa vez?! Esse bichinho seu é louco!"

"O que você tava fazendo dessa vez, Miro?"

O druida ri um pouco, dando uns dois passos para trás e coçando a cabeça.

"Sabe como é, né…"

"Não. Não sei como é."

"Bem, eu vi uns biscoitos bem gostosos na sua bolsa, e-"

"Eram pro rato."

Almiro levanta as sobrancelhas.

"Era comida de rato?"

Norman faz que sim.

"Ah. Por isso que o cheiro era tão forte. Gostei.", Miro fala, levando uma mão ao queixo.

"Ele pulou em você quando você tascou a mão na comida, não foi?"

O pequenino faz que sim, quase nada envergonhado.

O mago suspira, andando para dentro de seu quarto e fechando a bolsa sem olhar para dentro dela. Ele se senta numa cama e joga um biscoito para o familiar, que roe a comida com felicidade.

"Seu familiar é um rato?", Siegfried pergunta.

"Sim, por quê?", responde o homem, um pouco inseguro.

"Pensei que você fosse ter algo mais...não sei, grandioso.", o paladino diz, gesticulando para mostrar um tamanho maior.

"Hmph. É pra mostrar pra vocês que tamanho não é documento."

"Concordo! Concordo!", Miro quase grita, batendo palmas levemente.

Norman estende a mão um pouco e Ronald anda pelo seu braço até os seus dedos. O pequeno animal é até bem fofo, e o mago acaricia sua cabeça, seus olhos vermelhos brilhando.

Neste momento, o ladino e a clériga aparecem na porta do quarto.

"Alguma novidade? Podemos ir embora, finalmente?", Kairon pergunta, suspirando e revirando os olhos. "Estou de saco cheio deste lugar, já."

"Oden.", o mago diz.

Os dois que acabaram de chegar viram os seus olhos para Norman. Siegfried já sabia, e estava mais interessado em manter seus olhos na clériga, enquanto Miro simplesmente não reconhecia a palavra de lugar nenhum e estava mais preocupado em coçar a barriga e comer algumas frutinhas que criara com magia.

"A capital? Mas por quê?", Alire pergunta.

"É lá onde os problemas de mortos-vivos estão em maior número. Se quisermos pistas para a raiz desse mal, teremos que procurar lá."

"Mas e daí? O que é que isso tem a ver com a gente?", Kairon indaga. "Estou começando a achar que você está nos levando numa missão suicida."

"Isso não faria sentido. Afinal, eu me importo com a minha própria vida também. Não vou nos levar para a morte certa.", Norman diz.

O tiefling cruza os olhos com o humano. Algo no olhar do homem...algo estava errado. E este algo o enchia de insegurança, mas ele não queria suspeitar muito até ter mais evidências.

"O Norman não é burro, ué. Deixa ele cuidar dessas coisas e só vamos.", Almiro diz.

"Hm...claro."

O ladino olha de volta para a bolsa do mago, pensando no que ele tinha visto antes. Agora que pensava bem, ele se lembrava de ter visto um pergaminho posto de maneira discreta num canto da bolsa. Ele havia o ignorado por ter achado que era uma magia menos potente, mas agora tinha ficado curioso.

"Vamos partir daqui a três horas. Descansem e vamos seguir pela estrada.", Norman afirma.

"Certo!", os outros falam, em uníssono.

 

Almiro e Siegfried comem um pouco de comida antes de partir. A carne que Sieg come é frita com uma farinha de óleo e ovos, e ela tem uma aparência crocante e um cheiro delicioso.

Miro pega um pouco da carne sem qualquer vergonha, e o paladino só consegue rir, fazendo o mesmo com um pouco da comida dele.

"Agora sim, garotinho!", o druida diz. "Agora você está me entendendo!"

Ele põe a carne na boca e a mastiga, enquanto o menino come a batata que roubara do prato do amigo.

"Hm. Não é tão ruim, mas eu preferiria uma batatinha doce.", o gentinha diz.

"Será que eles têm por aqui?", o jovem pergunta.

"Devem ter! Esse povo da cidade gosta muito de comer todo tipo de coisa! Isso eu respeito!"

Miro sobe na mesa, colocando mais um monte de comida na sua boca e pulando dela. O druida corre até o balcão e começa a falar com o dono da taverna, ainda de boca cheia. O homem fica enojado.

Siegfried ri e volta a comer, olhando para a entrada. O seu rosto se contorce.

O lobo vermelho entra na taverna.

Rodney, ao ver o rosto do jovem contorcido de surpresa e desgosto, entende o que está acontecendo. Ele anda até o garoto e para em frente à sua mesa.

"Eu me lembro de você."

Sieg não lhe responde. Ele mantém contato visual com o homem mas começa a suar.

"Você era aquele garoto no Farol Obstinado, não era? Sim, o que ficou me agarrando e me implorando pra lhe aceitar."

O lobo vermelho sorri, triunfantemente. Ele viu o paladino ranger os dentes de raiva. Sua provocação tinha funcionado.

"Normalmente não me lembro de todas as pessoas que me importunam. Mas você foi especial. Você foi muito chato."

O homem empurra para longe, com apenas um dedo, o prato de comida que Sieg ainda tentava comer. Ele põe ambas as mãos na mesa e encara o jovem.

"E aí? Já está pronto para implorar de novo? Matou algum dragão desde a nossa conversinha, seu pirralho?"

Siegfried segura a faca em sua mão com força e quebra a madeira nela.

"Quando eu matar, eu ponho a cabeça em suas mãos para que você veja o quão melhor que você eu me tornei."

O paladino diz isso com um brilho fervente em seus olhos. Mas isso só faz o homem rir.

"Que idiota você é! Me diga quando você for tentar, talvez eu faça a gentileza de lhe comprar um caixão bonito!"

"Nossa, moço, tu é chato, ein?"

O lobo vermelho olha para baixo e vê uma pequena pessoa que não tem nem metade de sua altura. Miro solta um arroto que alcança o rosto do homem.

"Como tu é sem graça. Nem trabalhador de restaurante é tão tosco."

O gentinha enfia um pouco de feijão na boca, mastigando relaxadamente.

Rodney se abaixa, encarando Almiro face a face. Ele está começando a perder a paciência.

"Quer repetir isso de novo, seu porteiro de maquete?"

"O que é uma maquete?", o druida pergunta, arrotando de novo, dessa vez logo na cara do homem, que se enraivece e fica com o rosto vermelho.

Ele levanta a mão instintivamente para dar um tabefe na cara do gentinha, mas sua mão é agarrada antes que possa fazer qualquer coisa.

"No que está pensando, Rodney? Se quiser comprar briga aqui não vou curar suas feridas."

O homem de turbante diz, segurando o pulso do lobo vermelho, que leva seus olhos ao seu companheiro e puxa a própria mão com força. Ele estala a língua com raiva e se afasta para outra mesa, não querendo mais perder tempo com essa ralé. O homem exótico sorri para os dois heróis e o segue.

"Que cara esquisito. Tu viu o jeito que ele se vestia?", Miro pergunta.

Uma lâmpada acende na cabeça de Siegfried, que se vira para o druida.

"Miro. Lembra daquela criatura que enfrentamos?"

Duas horas depois, os cinco descem as escadas, levando seus pertences e equipamentos consigo. Eles entram no bar da taverna e se dirigem à saída, quando o paladino faz um contorno, andando em direção à uma das mesas.

O lobo vermelho bebe sua sétima caneca de hidromel, rindo consigo mesmo, enquanto os seus três companheiros, dois homens e uma mulher, ignoram sua existência.

Uma mão pesada agarra o ombro de Rodney e o puxa, fazendo-o se virar. Siegfried o segura com uma mão, e com a outra, ele guarda uma estaca de queratina.

O jovem finca o espinho na mesa do lobo vermelho, deixando claro para todos que, de alguma maneira, ele tinha adquirido um espólio de uma mantícora e vivido para contar a história. Além disso, ele estava se desfazendo desse troféu sem nenhuma hesitação.

O baque seco e repentino assusta levemente o guerreiro bêbado, que logo é deixado em paz pelo paladino que ia embora. O homem demora um momento para compreender o que tinha acabado de acontecer, mas percebe que estava sendo zombado quando seus companheiros começam a rir maliciosamente para o líder, que cerra os dentes e bate o punho na mesa.

"Calem a boca!"

De longe, Norman vê a cena e sorri, apreciando cada momento da vergonha desse homem. Ele tinha um desgosto pelo lobo vermelho desde que conhecera o paladino, e isto lhe dava grande satisfação.

 

“Eu sabia!

O céu está escuro. Da estrada, tudo é claramente visível no céu. As estrelas, as nuvens negras e as duas luas, uma maior e outra menor.

No acampamento da equipe, Norman segura o tiefling pela gola da camisa.

“Me devolva! Eu sei que está com você!”

Os outros olham para a cena, preocupados.

“Calma, do que está falando?”, Kairon pergunta, apesar de saber exatamente do que ele está falando.

“Me devolva a peça de xadrez, seu desgraçado!”

As sobrancelhas dos outros três se levantam. Isso não era característico do Norman.

O ladino cerra os olhos, mas decide cooperar. Ele puxa o pequeno item de seu bolso e o entrega ao mago, que agarra a peça rápida e raivosamente.

Ele põe o objeto em sua bolsa, e depois lança um olhar questionador ao ladino.

“Por quê você roubou? Você nem sabe o que faz!”

Kairon não responde. Ele cruza os braços e se senta numa pedra.

“Me diga!”

“Eu não sei.”

“Não sabe porquê roubou algo?”

“Norman.”, Siegfried diz, chamando sua atenção. O homem percebe que está perdendo a compostura.

Kairon suspira. Ele deveria ter imaginado que Norman usaria magia para detectar onde os seus pertences estariam. O ladino sinceramente não sabia o motivo de ter pego a peça, mas isso não importava. Ele tinha acabado de expor algo misterioso e preocupante no mago.

“Eu não sei. Foi por impulso. Não tinha valor para mim, eu só o fiz.”, ele diz, mantendo o contato visual de seus olhos vermelhos com os castanhos do homem.

Essa resposta só parece deixar o mago mais irritado, mas ele não diz nada. Ele entra dentro de sua tenda e deixa os outros sozinhos.

Os quatro lentamente apagam a fogueira e se dirigem para suas próprias tendas. Miro dorme do lado de fora.

Na porta da tenda de Norman, um rato branco se deita, olhando para a floresta e para o resto do ambiente.

Esperando.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Deixem os seus comentários! Estou ansioso para saber o que vocês acharam!