Stellarium escrita por Acquarelle


Capítulo 8
CAP.2, Epi.4: O que as luzes não levaram




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Ryuuki tentava desesperadamente descansar, mas sua mente não lhe permitia.

"A energia remanescente está estável?"; "Ela continua dormindo, certo?"; "Quanto tempo já se passou?".

Ele ficou ainda pior quando, no silêncio mudo daquele planeta morto, ouviu o estômago de Ayase comprimir em um eco faminto. Sentiu o sangue congelar por não conseguir recordar quanto tempo havia se passado desde a última refeição dela.

Deveria ter criado algo para marcar o tempo? Não, isso não seria possível. A criação de dispositivos que funcionassem naquele ambiente demandaria uma grande quantidade de energia, afinal, tempo também era um Princípio, e Daemonias não o controlava de maneira adequada. Criar um dispositivo para comunicação também estava fora de questão, já que com exceção da pequena reserva que mantinha a área estável, não havia qualquer energia à anos-luz de distância.

Esperar por um resgate era a única opção viável para os dois — e Ryuuki torcia para que fosse de aliados, não dos inúmeros inimigos que os Daemonias haviam conquistado ao longo dos séculos.

— Era isso que você queria, irmão? — Sua pergunta foi atirada ao vazio. Estava cada vez mais exausto...

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Conforme o tempo ia se arrastando, Ryuuki conseguiu recordar que Daemonias eram capazes de sobreviver ao vácuo do espaço sem a necessidade de qualquer traje espacial, e se não havia mais nenhuma maldição o prendendo naquele planeta, ele seria capaz de sair de lá sem muitos problemas.

Ryuuki passou longas horas cogitando fazer aquilo, mas reações involuntárias de Ayase o faziam mudar de ideia; mesmo dormindo, ela costumava empurrar o seu corpo em direção a Ryuuki — provavelmente procurando uma posição mais confortável —, e da última vez havia sussurrado com uma voz rouca ("Vamos assistir o nascer do sol em Lophastrae, Ryuu...") e afagado sua própria cabeça nas escamas dele.

Durante muito tempo, Ryuuki não conseguiu dormiu.

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O problema quanto à alimentação de Ayase foi resolvido, e isso foi graças à pequena porcentagem de material orgânico em suas escamas que poderiam ser sintetizadas em energia para ela. Teve sorte de se lembrar disso antes que Ayase perdesse mais peso; seu rosto já estava ganhando tons azulados e algumas de suas costelas já estavam à amostra, a deixando com um aspecto doente.

Com o passar do tempo, o peso da garota foi voltando ao normal, fazendo com que Ryuuki ficasse menos preocupado; aparentemente, mais um problema tinha sido resolvido, porém isso não o deixava mais animado com a situação.

— Por que eu continuo me esforçando nisso? — perguntou para o nada, e mais uma vez não houve respostas.

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A reserva de energia ainda se mantinha estável, mas a luz proveniente da orbe enfraquecia conforme o tempo avançava. Ryuuki tentava controlar o que restava dela; provavelmente um terço já tinha sido utilizada, o que o fez refletir sobre quantos dias haviam se passado. Há quanto tempo não dormia? Quanto tempo estava ali, apenas observando o vazio? Quanto tempo ele ainda ficaria naquela situação?

Não foi apenas uma vez que ele pensou em desistir ("Não há mais nada me aprisionando aqui, então..."), mas sempre que pensava em abandonar tudo, Ayase movia-se um pouco, como se soubesse de suas intenções. Passar tanto tempo em Atlansha tornou os sentimentos de Ryuuki confusos; um verdadeiro Daemonia apenas teria calculado as probabilidades e seguido o caminho que mais lhe favorecia, porém ele estava fazendo exatamente o oposto.

— Ryuu?

Uma voz feminina o chamou na escuridão, fazendo um arrepio percorrer sua espinha. Ele se virou em direção à voz, se deparando com uma Ayase de olhos sonolentos e um rosto avermelhado pelas marcações de suas escamas metálicas.

— Você está bem? Parece doente. — Ela perguntou com a voz baixa, quase rouca.

— Milady...

Ryuuki voltou a sua atenção para a reserva de energia; ela ainda parecia estável, então por que Ayase estava acordada? Seu Princípio havia se quebrado? Ele queria entender como aquilo era possível, mas sentiu Ayase o envolvendo em um abraço curto — os seus braços eram minúsculos em comparação com o Eco das Profundezas.

— Eu estou bem, milady — sussurrou, mas não sabia se Ayase tinha escutado. Ela encostou a sua cabeça no corpo dele e se pôs a abraçá-lo ainda mais forte. — Durma mais um pouco, sim? Ainda não amanheceu.

— Okay... Me chame quando formos sair.

— Sim, milady.

Com isso, ela voltou a dormir profundamente.

Ouvir a voz de Ayase depois de um longo período de solidão fez Ryuuki se sentir bem; não que a situação fosse resolvida ou amenizada, mas aquela felicidade passageira o lembrou do motivo de estar se esforçando tanto. Sua mente perturbada finalmente lhe deu alguma paz, e ele conseguiu dormir por um tempo. Os dois ficariam bem; ele se esforçava para acreditar nisso, mesmo que as probabilidades não estivessem ao seu favor.

╰───────╮★╭───────╯

Se perder entre as horas era o esperado, mas Ryuuki esperava pacientemente. Vez ou outra Ayase acordava e conversava com ele, voltando a dormir poucos segundos depois de lhe contar algo com uma expressão séria (geralmente frases fora de contexto ou comentários que Ryuuki acabava rindo quando sua mente não demorava para interpretá-los) ou perguntar se ele estava bem.

— Ryuu — sussurrou Ayase. —, eu tive um sonho estranho.

— Que tipo de sonho estranho, milady?

— Meus pais... eles tinham... me perdoado... e me deixavam voltar para o Palácio — disse, esfregando os olhos e se aninhando para mais perto de Ryuuki. — Você acha que eles vão me perdoar algum dia, Ryuu?

— ...

Ayase voltou a dormir, deixando Ryuuki sozinho mais uma vez. Ele sentia vontade de acordá-la e contar toda a verdade — da sua origem à destruição de Atlansha —, mas não encontrava coragem para isso, e conforme o tempo naquele vazio se arrastava, menos esperança ele tinha.

╰───────╮★╭───────╯

— ...?!

Ryuuki abriu seus olhos como um lampejo, e depois de muito tempo em meio à calmaria da escuridão que os cercavam, ele sentia o coração acelerando em ansiedade.

— Isso é...?

Havia uma fonte de energia se aproximando do planeta, mas era diferente de tudo o que ele conhecia; era como a queima de combustível orgânico, mas também exalava pequenas partículas de energia solar e nuclear. Ryuuki não entendia que tipo de energia era aquela, ou mesmo como poderia funcionar, mas a julgar pela velocidade que se aproximava, ele tinha certeza de que era uma espaçonave interestelar. Uma única e solitária espaçonave que em breve entraria na órbita do planeta, se é que Atlansha ainda a tinha.

Porém, o que deixou Ryuuki intrigado — e parcialmente nervoso — foi o que sentiu poucos segundos depois: a bordo daquela espaçonave, um dos maiores inimigos dos Daemonias estava presente; uma criatura com grandes traços de hostilidade e crueldade; a raça responsável pela grande catástrofe em seu passado.

A bordo da espaçonave que se aproximava havia um Vesper.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 2, Parte 4

Capítulo super curtinho (deu pouco mais de 1.100 palavras) para finalizar esse capítulo 2 com uma transição de tempo maior — e também demonstrar o esforço que Ryuuki teve de manter Ayase viva nesse período, que passou batido na primeira versão da história.

Assim como no capítulo anterior, ainda não estou 100% satisfeita com o resultado, mas eu julgo essa parte necessária para a trama, já que na primeira versão da história, não pareceu ter consequências entre a destruição e o... ah! Sem spoilers! Além disso, eu queria "desvincular" um pouco da narrativa do ponto de vista da Ayase, e esse foi o momento perfeito para isso! Espero fazer isso em outros capítulos também. ♡



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