— N'no, Rashidi! N'no, Ayase! — A voz de Ribbon ecoou pelo cômodo da maneira animada de sempre.

— Seja breve, maldita — resmungou Rashidi, logo atirando seu corpo em uma das cadeiras à frente do monitor principal.

Com Ryuuki em seus braços, Ayase adentrou o cômodo vagarosamente, sendo saudada por Void com um leve aceno de cabeça. Deixou-o em um dos cantos da sala com os braços cruzados, juntando-se a Rashidi no centro da sala.

— Rashidi, Void, Ayase, Ryuuki. — Ribbon começou, citando o nome de cada um dos integrantes da Arcadia com o intervalo de alguns segundos. — Ribbon detectou um novo fragmento do aglomerado em um planeta chamado ART-257.

Neste momento, algumas informações do planeta foram exibidas em um dos monitores secundários.

"Item #: ART-257.

Classificação: 14.

Observações:

* Indícios de energia primordial na órbita do planeta;

* Temperatura excede 130 ºC devido ao efeito estufa;

* Superfície desértica e com baixa umidade no ar;

* Possíveis áreas com baixa pressão atmosférica;

* Tempestades de areia ocorrem frequentemente;

* Não há sinais de formas de vida inteligente."

Mais dados eram adicionados conforme os segundos passavam, mas Ayase já havia desistido de tentar entender os garranchos na tela.

— Você pode ler as informações para mim, Ryuu?

— Não há necessidade. Você não vai descer.

Com uma expressão desapontada, ela pensou em questioná-lo, mas antes que pudesse abrir a boca para falar algo, um grito desajeitado de um Rashidi nervoso foi mais rápido:

— O que você quer dizer com "indícios de energia primordial na órbita do planeta", maldita!? Não é isso que anula o uso de magia no planeta? Você tem certeza disso?

— Rashidi não confia mais nas informações da Ribbon? Pensei que Rashidi confiava mais na Ribbon. — O rostinho amarelo do monitor de Ribbon fez uma expressão chorosa, fazendo Rashidi acalmar os ânimos no mesmo instante.

— Desde quando você precisa se preocupar com algo que anula ou não magia? — questionou Void, mantendo a postura calma de sempre. — Você é um Primordial. Existem coisas mais importantes para a gente se preocupar no momento.

— Acontece, seu depósito de Rytuslam'te, que você e essa maldita peixinha utilizam magia. Querem deixar todo o trabalho em minhas mãos!?

Ayase começou a entender o que Ryuuki quis dizer com "você não vai descer".

Void começou a falar algo, mas Ayase o interrompeu de maneira inconveniente:

— Qual a diferença dos dois?

— Digamos que magia e primórdio são tipos diferentes de energi—

— Primórdios são fortes demais para serem anulados, milady.

Os olhos dourados de Ryuuki observavam a todos com sua típica maneira séria, os ameaçando silenciosamente para não dar continuidade àquela conversa. Não que explicar a diferença das duas energias fosse algo complexo para ele, mas Ryuuki não queria envolver Ayase tão a fundo.

Quanto menos ela soubesse sobre Princípios e Primordiais, mais fácil seria tirá-la de tudo isso.

— Você ainda assim vai com a gente, peixinha? Se você vai assar, me deixe colocar alguns temperos antes. Eu só espero que você tenha um gosto bom. — Ele a encarou com um sorrisinho no rosto.

Ayase não entendeu a brincadeira de Rashidi e por isso permaneceu quieta, o deixando desanimado.

— Ela não precisa vir com a gente. Isso seria perigoso demais — disse Void com veemência.

— Seria mais fácil ter alguém que absorve os aglomerados por perto, me pouparia o trabalho com a runa de absorção — murmurou Rashidi, balançando uma das pernas freneticamente.

— Você só serve para isso e ainda quer transferir seu trabalho para outra pessoa? Por que eu não estou surpreso com isso? — Como sempre, Void deu de ombros.

Os dois se encararam por algum momento, prontos para comprar uma briga — os olhos de Rashidi se tornaram brancos ao longo dos segundos em que as chamas azuis se formaram dentro do elmo de Void — e ignorando completamente a conversa que Ribbon iniciou com Ayase:

— Se Ayase quiser ir, Ribbon sabe exatamente o que fazer! — O rostinho amarelo do seu monitor se iluminou em um sorriso.

A princípio, Ayase não entendia o que Ribbon queria dizer com aquilo, mas conforme a inteligência artificial lhe explicava o que deveria ser feito, os olhos da garota se tornaram brilhantes. Ryuuki contestou inúmeras vezes, atrapalhando a explicação de Ribbon até finalmente perceber que Ayase não deixaria ninguém atrapalhá-la, nem mesmo ele.

Animada com o plano que Ribbon lhe contou, ela saía do cômodo apressadamente, não proferindo uma única palavra para Rashidi e Void, que haviam parado de discutir segundos depois.

— Ela desistiu de ir com a gente?

— Acho que sim... — murmurou Rashidi, atentando-se novamente ao monitor. — Seria difícil para a peixinha aguentar essa temperatura.

— É melhor assim. Já é difícil cuidar de você, não preciso ser babá de outra pessoa — concluía Void, voltando a estudar as informações enquanto Rashidi o xingava ("O que saiu de sua maldita boca, seu depósito de Rytuslam'te!?").

ART-257 era um planeta rochoso mais primitivo que Atlansha, com desertos que cobriam boa parte de sua superfície de tons terrosos. Tinha o nome típico dos planetas ainda em desenvolvimento, onde nenhuma espécie inteligente seria detectada nos próximos milênios — e, por consequência, sem um Mediador que poderia se comunicar com Orfeinn ou integrantes de sua aliança —, o que tornaria a captura do fragmento mais fácil de ser feita.

Porém, a sorte não estava a favor deles; em um dos monitores secundários, círculos vermelhos coloriam algumas áreas do mapa.

Da última vez que tais marcações foram feitas, Rashidi e Void demoraram o triplo de tempo para concluir a missão; eles precisaram proteger a Arcadia e recuperar o fragmento enquanto lutavam contra um bando de primatas musculosos de pelugem acinzentada que queriam reduzí-los a poeira. Aquela experiência não fora muito agradável para os dois.

Ainda havia o perigo de baixa pressão atmosférica, mas Ribbon jamais perderia o seu tempo exibindo essas áreas para indivíduos que não precisavam se preocupar em respirar. Talvez tinha feito isso por Ayase? Era difícil chegar a uma conclusão.

— Ribbon, você já descobriu o que são essas coisas? — perguntou Void, finalmente, apontando para as marcações em vermelho.

— Ribbon não sabe. Esses animais vivem no subsolo do planeta, então Ribbon não consegue escaneá-los direito. As tempestades de areia dão muita interferência nos mecanismos de Ribbon. Ribbon sente seus circuitos frita-a-a-a-ando — brincou ela, fingindo uma falha em sua voz.

— Nem me lembre disso... Precisarei criar um escudo forte o suficiente para que essas tempestades de areia não nos afete. Provavelmente vou precisar fazer isso ao redor da nave também — murmurou Rashidi, apoiando um dos cotovelos na coxa enquanto encarava o monitor com uma expressão nervosa. — Você já sabe onde vamos pousar, maldita?

— Há um terreno estável perto das montanhas, mas fica muito longe da área do aglomerado.

Neste instante, Ribbon mostrou a rota da Arcadia em um dos monitores secundários com um zoom.

— A boa notícia é que ficaremos longe do perímetro das criaturas que vivem no subsolo, então é uma coisa a menos para Ribbon se preocupar! — No monitor principal, o rostinho amarelo mostrou um sorriso simpático.

— Por que isso soou como um "isso é problema de vocês"? Lutar contra essas coisas sem informações vai ser um sofrimento... — Rashidi soltou um suspiro desanimado. — O que você pretende fazer quanto a isso, Void? Essa aura anti-magia vai afetar a sua arma, certo?

Void, então, começou a se aproximar do centro da sala. A julgar pela sua postura, estava pensativo.

— Infelizmente. E sem que a gente saiba com o que está lidando, vai ser difícil escolher apenas uma arma. A única vantagem que temos é que as criaturas provavelmente são orgânicas, então a gente só precisa levar alguma arma do armazém. Algo capaz de perfurar possíveis carapaças deve ser suficiente, não acho que os animais daqui evoluíram ao ponto de precisarmos de algo mais forte.

Rashidi fez menção de falar algo, mas aparentemente desistiu da ideia.

— Eu vou me preparar para a missão e ver o que aconteceu com a Ayase, encontro vocês em breve.

Com isso, Void deu as costas para Rashidi.

Com os passos barulhentos de sua armadura, ele deixou a cabine de comandos em direção à terceira sala de armamentos, torcendo silenciosamente que não estivesse errado com as informações que especulava. Eles não tinham margem para erros.