Stellarium escrita por Acquarelle


Capítulo 17
CAP.5, Epi.1: O bater das asas cristalinas




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Distante do sonho que se projetava nos olhos de Ayase, uma voz pôde ser ouvida.

Ao se mover no vazio, ela percebeu que estava usando suas pernas para locomoção. Não tinha lembranças de como havia chegado naquele lugar escuro e silencioso, mas sentia a solidão abraçá-la com sutileza. Pouco a pouco, seu coração era preenchido pelos mesmos sentimentos negativos que sentiu ao acordar nas trevas de Atlansha, e com a sensação de vazio preenchendo cada parte de seu ser, ela estremeceu.

Sentindo as lágrimas se formarem em seus olhos, Ayase tentou correr desesperadamente, tropeçando nas pernas sensíveis que não estavam habituadas com velocidades mais rápidas. O último tombo levou o seu rosto ao chão, e no momento em que caiu, seus olhos foram tomados pela visão azulada do aquário em que passou a noite.

— Ah, a senhorita acordou! — Ayase ouviu uma voz infantil, logo se voltando em direção à ela. — N'no, bom dia!

Duas mãos pequeninas tocavam no vidro do aquário — mas aparentemente não estavam pressionadas nele —, e com um sobressalto, Ayase percebeu que elas vinham de um estranho humanoide de baixa estatura e quatro olhos tão azuis quanto pedras preciosas. Da cabeça aos pequenos pés infantis, aquela criaturinha era completamente azul; mesmo os cabelos curtinhos e cacheados, o vestido em camadas e o grande laço em sua cabeça.

Ayase pensou que aquilo era devido às luzes negras dos aquários, mas ao observar melhor, percebeu que a criança tinha dois pares de asas translúcidas e fragmentadas como cristais de vidro, o que a fez repensar sobre sua teoria.

— N'no! — cumprimentou a criaturinha com um sorriso animado. — Como a senhorita está?

— O-oi... Eu estou bem, obrigada. — Ela respondeu com os olhos fixos na criança. — Quem é você?

— N'no! Sou a Ribbon, a Lephancee responsável pelos comandos da Arcadia!

A frase dita por aquela criança soou familiar para Ayase, e mesmo ainda não entendendo o significado de algumas palavras, outro pensamento passava por sua cabeça: o estranho objeto da primeira sala sempre teve um corpo? Ela estava escondida em algum lugar todo esse tempo? Ayase pensou em perguntá-la, mas como se lesse sua mente, Ribbon disse:

— Ribbon queria conversar um pouco com a senhorita, então Ribbon veio até aqui! Como Ribbon não tem um corpo físico, quando Ribbon quer dar um passeio por Arcadia, Ribbon assume essa forma. É bem bonitinha, não é?

Ela deu uma volta ao terminar de falar, e suas asas continuaram cristalinas e límpidas mesmo quando foram banhadas pela luz negra do aquário. Ribbon voltou a observar Ayase, piscando os quatro olhos rapidamente — o que deixou a garota levemente incomodada — e perguntando:

— A senhorita se sente confortável? Os dois têm alguma dúvida com relação à Arcadia? Ribbon pode respondê-las enquanto inicia o Protocolo de Cadastro!

— E-eu... — começou Ayase, mas logo refletiu que nenhuma de suas dúvidas poderiam ser respondidas por Ribbon, a deixando desanimada. Com isso, ela partiu para as perguntas mais óbvias: — O que é o Protocolo de Cadastro?

— Ribbon precisa registrar cada um dos integrantes da Arcadia em seu banco de dados! — A criança respondeu com um sorriso que Ayase julgou inocente. — Ribbon só precisa escaneá-los durante alguns segundos, então sintam-se livres para perguntarem mais coisas!

Ayase assentiu, dando início ao processo.

Ribbon bateu as asas suavemente, fazendo um barulho tilintar pela sala e seus olhos tomarem uma coloração mais fraca. Um a um, seus quatro olhos foram tomados por mosaicos coloridos que brilhavam em desarmonia no primeiro instante, mas logo estavam sincronizados.

Ayase se aproximou do vidro para observar o que Ribbon estava fazendo.

— O que... é você? — indagou de maneira hesitante. Depois do que houve com Void, ela percebeu que deveria tomar mais cuidado com as perguntas que fazia.

— Lephancee. — Ryuuki, que Ayase jurava estar dormindo, repetiu o nome dito por Ribbon enquanto se aproximava, fazendo a garota voltar a sua atenção para ele. — Inteligências artificiais com o único propósito de servir. Sugiro não dar atenção à ela, milady, Lephancees gostam de falar demais, e quando encontram alguém com quem conversar, não calam a maldita boca.

Ayase pareceu desapontada com a forma que Ryuuki falou sobre Ribbon, mas não se deixou abalar por isso.

— Mas o que é uma "inteligência artificial"? — murmurou Ayase, observando Ribbon com um olhar curioso.

— Ribbon é um mecanismo inteligente criado para realizar algumas tarefas. Ribbon não é um ser orgânico como a senhorita... Ayase, não é? Ayase tem seu próprio conceito, organismo, raciocínio e sentimentos, qualidades e defeitos que Ribbon não tem. Tudo bem Ayase não entender a função da Ribbon por enquanto, é muito mais fácil Ribbon mostrá-las na prática, não é?

— Acho que sim... — respondeu a garota, conformada com a informação.

Ribbon permaneceu estática e com a mesma expressão sorridente de antes.

— Como Ribbon deve cadastrá-lo, senhor? — Estava claro que a pergunta se direcionava a Ryuuki. — Consta no sistema de Ribbon que o senhor é o segundo imperador de Orfeinn e—

— Apenas coloque "Ryuuki" ou "Eco das Profundezas". — Ele a interrompeu rispidamente.

Aquela informação fez a expressão de Ayase murchar; o que mais Ryuuki escondia dela?

Desde o momento em que acordou na escuridão de Atlansha, ele não deu uma única explicação do que havia acontecido com todos ou como sabia da origem de Rashidi e Void. Ryuuki sempre foi silencioso com relação aos eventos que aconteciam com os dois, dando informações apenas quando lhe era conveniente ou quando era questionado, mas aquilo já estava se tornando desconfortável. Ela sentia que um abismo estava se formando entre os dois.

— Afirmativo! — disse Ribbon, logo em seguida desligando o mosaico em seus olhos. — Protocolo de Cadastro finalizado! Bem-vindos à Arcadia, Ayase e Ryuuki! Queiram acompanhar a Ribbon para a cozinha da ala leste; Rashidi e Void estão lá e seria divertido reunir os quatro... cinco integrantes! — Ela se corrigiu rapidamente.

Ribbon esperou pacientemente por Ayase; a princípio, a garota parecia estar com dificuldades para sair de seu "tanque-quarto", mas com o auxílio de sua magia de manipulação de água, foi uma questão de tempo até ela conseguir, deixando um rastro úmido por onde caminhava. Enquanto Ayase espremia o excesso de água, Ribbon a observava com um olhar curioso.

— Ayase vai precisar de toalhas limpinhas sempre que sair do aquário? Ribbon acha que Ayase não pegaria um resfriado, mas é melhor prevenir. Ribbon vai pedir para que Void ou Rashidi traga toalhas depois!

— Não precisa, Ribbon, eu vou ficar bem.

Enquanto Ayase descia as escadas para o térreo, sentiu o estômago roncar.

— Mas bem que eu aceitaria comer alguma coisa... nem lembro a última vez que comi algo.

— Afirmativo! Siga a Ribbon, por gentileza.

Os três seguiram caminho em direção à cozinha, uma ou duas vezes errando as entradas devido à animação de Ribbon com relação a Ayase, que havia ignorado o conselho de Ryuuki em não responder a criança.

Ribbon era bem mais comunicativa que Rashidi e Void juntos — além de ser bem mais educada, o que fazia Ayase refletir se "inteligência artificial" significava ser uma companhia mais agradável —, explicando diversas dúvidas que a garota tinha com muito mais paciência e precisão. A criança também parecia interessada nela, mas diferente das antigas companhias de Ayase, Ribbon fazia perguntas mais específicas a respeito de suas habilidades e características como Atlanshiana.

— Quando a Ayase chegou na Arcadia — disse Ribbon, dando uma meia-volta para observar a garota e fazendo suas asas tilintarem. —, Ayase estava criando pequenos cristais com os olhos. Como Ayase fez isso? Ribbon quer saber!

Ayase passou alguns segundos pensando.

— Eu estava chorando, Ribbon. Não é normal as lágrimas se tornarem gemas?

— Claro que não! Lágrimas geralmente são líquidas, assim como a água! Mesmo as raças que choram veneno ou sangue ainda possuem lágrimas líquidas! Ribbon tem certeza que existem raças que choram lágrimas em estados e formas diferentes, mas é a primeira vez que Ribbon vê algo tão bonito quanto cristais com propriedades mágicas... — Antes de terminar de falar, ela abriu os braços e apressou seus passos em direção à uma porta, fazendo o barulho de suas asas ecoar mais uma vez. — Chegamos!

Diferente de Void, Ribbon não precisava de muito esforço para ter acesso aos cômodos, e Ayase finalmente começava a compreender o que ela havia dito com "responsável pelos comandos da Arcadia"; de alguma maneira, tudo naquele lugar obedecia às ordens silenciosas da criança de asas cristalinas.

— N'no! — Ela adentrou o lugar rapidamente. — Ribbon trouxe Ayase e Ryuuki!


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Notas finais do capítulo

Capítulo 5, Parte 1

E sábado é dia de "capítulo" novo de Stellarium!

Infelizmente o meu desempenho essa semana foi trágico (só consegui terminar o capítulo 7-3 ontem e com muito choro, já que ainda não estou 100% satisfeita com ele), então eu só pude postar hoje, mesmo com 10 partes já concluídas.

Como eu disse na semana passada, é a partir daqui que começam as "novidades", então nada melhor que começar pela Ribbon, não é? Ela não foi tão participativa na primeira versão da história, e somado à uma personagem que roubou os holofotes (estou falando de você, 7Suna), meio que ficou em segundo plano, servindo apenas para explicar toda a coisa ""científica"" a respeito dos aglomerados, planetas e raças. Com isso, resolvi dar uma luzinha maior à ela, então esperem por uma Ribbon realmente maravilhosa nesse primeiro volume!

Aliás, esse capítulo 5 é mais para apresentar a Arcadia e desenvolver os personagens, então não esperem muita ação, apenas informações importantes. A ação de verdade vai começar no capítulo 6 e eu estou ansiosa para começar a publicá-lo!



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