Stellarium escrita por Acquarelle


Capítulo 16
CAP.4, Epi.4: O oceano ainda reside em nós




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Os passos pesados de Void ecoavam pelo assoalho do corredor, quebrando o silêncio que se instalou no momento em que saíram da cabine de comandos.

Conforme avançavam, mais os olhos de Ayase brilhavam em curiosidade; enquanto passavam pelos arcos que se estendiam ao longo do cômodo inteiramente branco, ela percebeu inúmeros objetos retangulares nas paredes. Também havia uma caixa semelhante à de Ribbon em uma das paredes — que Void disse ser algo chamado "monitor" quando Ayase o encarou por muito tempo —, mas diferente da que se encontrava no cômodo anterior, esta permanecia desligada.

Próximo à outra saída, Void começou a pressionar os botões de um painel holográfico em frente à porta.

— Essa é uma das dez câmeras de contenção — explicou ele, mantendo seus olhos nos pequenos símbolos dos botões. — Caso tenha alguma emergência, esse é um dos locais mais seguros da Arcadia. O material usado nessa sala é bastante resistente, então se você perceber algo estranho, entre em uma dessas salas e ative o Protocolo de Segurança. Vou te ensinar a fazer isso manualmente outra hora.

Ayase não entendeu uma palavra, mas assentiu com a cabeça.

— Então ficamos presos nas salas? O que acontece quando a reserva de oxigênio acaba? — perguntou Ryuuki, deixando Ayase ainda mais confusa.

— Como eu disse, é caso haja uma emergência — reafirmou Void, dando de ombros. — As medidas de segurança variam de acordo com a causa do problema, então não consigo responder sua pergunta agora.

Ryuuki sibilou algumas palavras incompreensíveis quando Void lhe deu as costas para atravessar a porta, e mesmo Ayase curiosa para saber a respeito dos objetos retangulares nas paredes (cada um possuía marcações, botões luminosos e palavras estampadas, mas a garota não conseguia compreender nada), ela apenas o seguiu sem fazer uma única pergunta.

O próximo corredor era igualmente grande, mas apresentava curvas ao longo do trajeto.

À medida que Void lhe apresentava os cômodos, mais animada e curiosa Ayase parecia ficar. Arcadia tinha inúmeros quartos, dos quais apenas metade eram utilizados para descanso, além das três salas com armas em suas paredes — Void até tentou explicar a diferença entre elas, mas estava mais preocupado em manter Ayase longe delas —, diversas áreas de recreação, duas cozinhas, uma biblioteca com tons amadeirados, uma sala com um aquário extenso e várias salas menores que Void chamou de banheiro, os quais ele se recusava a explicar sobre a utilidade dos objetos por aparentemente estar sem graça.

Quando estavam diante do próximo cômodo, Void comentou:

— Essa é cozinha exclusiva do Rashidi. Sugiro ficar longe dos doces dele.

— Por que ele precisa de uma cozinha exclusiva? E com doces, ainda!

Void riu com a expressão desapontada que surgiu no rosto de Ayase.

— Ele fica mais calmo quando come doces — explicou Void, dando uma breve pausa. — Acho que ele precisa comer ainda mais doces.

Quando ele deu de ombros mais uma vez, Ayase finalmente entendeu que Void fazia aquele movimento para expressar ironia e riu junto com ele.

— Algum dos quartos te interessou? — perguntou ele, curioso. Tinha certeza que Ayase escolheria o aquário, mas ainda assim quis confirmar.

— Eu posso escolher o meu quarto?! — Ela parecia feliz ao fazer aquela pergunta. — Aquela sala cheia de água! "Aquávio", certo?

— Aquário — corrigiu o rapaz. — Ele fica distante da ala dos quartos. Você vai ficar bem sozinha?

— Eu não vou estar sozinha! — Dessa vez, foi Ayase quem o corrigiu. — O Ryuu vai ficar comigo.

— É claro. Pedirei para que a Ribbon dê um jeito de tornar a nossa comunicação mais fácil, então — comentou Void, dando meia-volta em direção ao aquário. — Para caso você precise de alguma coisa, se tranque em algum lugar ou se perca. Me perdi várias vezes quando cheguei aqui.

Ayase o seguiu, mas dessa vez estava mais curiosa que silenciosa.

— Eu achava que você e o Rashidi estavam juntos desde o começo. — Quando Void virou o rosto em direção à ela, Ayase tratou de se explicar: — Pela forma como vocês conversam, sabe? Parecem amigos de longa data.

— Não somos amigos. — Ele disse com veemência. — A última coisa que quero é ser amigo dele.

— Si-sinto muito... — desculpou-se Ayase, voltando a ficar em silêncio para evitar confusão.

— Entendo bem o que sente — resmungou Ryuuki. — Não sei se vou conseguir aturar um Vesper.

— Algumas coisas precisam ser feitas, não? — disse Void, ainda mantendo um tom de voz sério.

Ryuuki queria perguntar o que Void ganharia se expondo tanto, mas resolveu não se meter no assunto. Ele tinha seus próprios problemas para se preocupar, e achar uma maneira de se livrar dos dois (e também da estranha habilidade que Ayase adquiriu de maneira misteriosa) era sua prioridade. Quanto menos ele se envolvesse, melhor seria.

Void parou em frente à porta do aquário.

— Você lembra do caminho para chegar até aqui?

Ayase fez uma expressão pensativa, tentando lembrar de algum ponto de referência entre os cômodos e aquela sala. Recordou vagamente da última metade do percurso, mas a primeira era um grande borrão em sua mente. Ao explicar isso para Void, pôde-se ouvir um breve suspiro vindo de seu elmo.

— Você passou por muita coisa hoje — disse ele, mudando o seu foco para o painel em frente à porta. Ao digitar alguns códigos rapidamente, um apito curto ecoou pelo dispositivo. — Depois iremos fazer os cadastros e mudar o acesso de algumas salas para incluir vocês. Descansem um pouco e continuaremos isso quando vocês acordarem.

Quando a sala do aquário se abriu, Void deu as costas para os dois.

— Void? — Ayase chamou sua atenção, o fazendo virar o rosto em direção à ela. — Obrigada.

— De nada. Nos vemos mais tarde. — Após sua resposta, Void continuou caminhando, deixando Ayase e Ryuuki sozinhos ali.

Os dois adentraram o cômodo, sendo recepcionados pelas luzes negras que vinham de dentro dos aquários espalhados pela sala. Cada um possuía cerca de quatro metros de altura, que somados à borda que protegia a parte superior dos tanques e o espaço entre eles e o teto, calculava-se que a sala tinha quase sete metros.

Dentro dos aquários, que aparentemente estavam separados por compartimentos metálicos e canos de vidro em seu interior, uma grande diversidade de algas, corais, anêmonas, estrelas-do-mar, pequenos moluscos, ostras com conchas douradas e outros animais que Ayase não conseguia identificar decoravam o fundo de areia branca, cascalho e pedras coloridas. Os tanques pareciam possuir tamanhos diferentes, e com a diversidade de peixes de toda estatura e tons, arraias de couro brilhante e crustáceos transparentes que nadavam de forma hipnótica, Ayase se sentiu em casa.

Ela passou a estudar o ecossistema presente em cada um dos vidros, analisando qual seria o melhor ambiente para os dois. Por sorte, Ryuuki conseguia ler os garranchos dos monitores holográficos que surgiam quando eram solicitados, o que facilitou na escolha do tanque ideal; alguns dos aquários possuíam graves alterações na temperatura da água e na composição dos líquidos (segundo Ryuuki, nem fazia sentido chamar o que quer que tivesse dentro de alguns de "água"), o que descartou mais da metade das opções.

Quando finalmente decidiram onde ficariam, Ayase deu a volta nos tanques até encontrar uma escada que levava para o próximo andar. Pelo que Void havia lhe explicado mais cedo, era ali que os animais eram alimentados ou retirados quando os aquários precisavam de uma limpeza manual.

Subindo com cuidado, ela finalmente chegou ao último degrau e avistou a parte superior dos tanques com admiração. A vista de cima também era deslumbrante; as luzes de diferentes tons de azul, violeta e verde projetavam as sombras dos animais na parede, criando um espetáculo em cores frias no ambiente escuro da sala.

Conforme ela caminhava naquele andar, alguns peixes e arraias se aproximavam da entrada de seus tanques. Ayase os observava com curiosidade, se perguntando de onde cada uma daquelas criaturas vinha; Ryuuki não havia entrado em detalhes quando estavam estudando os tanques, e mesmo a garota não parecia tão interessada naquela hora. Talvez ela o fizesse reler as informações quando os dois acordassem.

Ayase se aproximou do aquário que havia escolhido e passou a manipular a água de dentro dele.

Ela tinha uma estranha coloração esverdeada, e mesmo quando foi congelada, o tom estranho permaneceu. Ayase a usou como ponte para alcançar a entrada do aquário, visto que não sabia a forma correta de descer até lá. Em questão de segundos, sua roupa havia se transformado novamente em sua cauda de degradê cor-de-rosa, e respirando fundo, ela mergulhou.

Azul. Sua visão foi dominada pelo bonito tom de azul das luzes negras do aquário.

Usando sua cauda para se locomover, ela nadou até um lugar cheio de algas e plantas marinhas de folhagem vermelho-acinzentada. Com as mãos, ela demorou bons minutos arrumando o ambiente para formar uma caminha de folhas e areia branca, retirando qualquer cascalho, pedra e até mesmo alguns animais que estavam no caminho.

Quando achou o trabalho suficiente, apenas se deitou e fechou os olhos, ignorando complemente o que Ryuuki sibilava ao seu lado. Estava exausta demais para conversar.

— Boa noite, Ryuu — sussurrou, levando poucos segundos para cair no sono.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 4, Parte 4

Quem foi a louca que escreveu 3 "partes de capítulo" (sendo que uma delas excedeu 2.300 palavras e eu tive que dividí-la para não estragar o plano inicial de 1.500 palavras por postagem) em pouquíssimos dias? Eu mesma, prazer.

Como eu disse antes, tudo vai mudar a partir dessa parte.

O arco de Khürmandha foi adiado para o próximo volume, já que preferi focar na resposta de algumas perguntas que estavam passando em branco e PRECISAM ser respondidas. Para o volume não passar sem um segundo clímax (ou mesmo sensação real de perigo), os próximos capítulos irão apresentar um planetinha bem especial e cheio de problemas.

Quanto a possíveis erros de coesão e continuidade, sintam-se livres para apontar qualquer coisa que vocês acharam "fora de contexto" — o mesmo é válido para erros de português e concordância, aliás. Mesmo revisando as partes depois de SEMANAS sem ler, sempre tem um ou dois erros que passam batidos, ainda que minha beta maravilhosa me aponte os absurdos que faço durante os primeiros rascunhos.

Se não fosse por ela, com certeza teriam erros bem piores na rodinha, então um beijão para a Luma! ♥



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