Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 47
Capítulo 46 — De Volta ao Lar




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Dia seguinte à apresentação. Rosalie foi com Esme buscar Olívia na escola. As duas tinham passado um tempo juntas, trabalhando na montagem da vila de fadas, no jardim dos fundos da casa.

Emmett continuou no interior da casa, trabalhando nos retoques finais, ansioso para o retorno.

Olívia avistou a ambas no carro, um sorriso logo se desenhou em seus lábios, revelando alegria em vê-las chegar.

Rosalie saiu do carro ao encontro da menina.

Olívia fez menção de correr para encontrá-la, parando quando algo chamou sua atenção, não muito longe dali.

Rosalie se colocou ao lado dela. Pegou a lancheira em uma mão e com a outra, segurou a mão pequena de Olívia.

— Oi, meu amor. O que foi? — olhou na mesma direção que ela.

— Tinha uma pessoa ali — moveu a mão livre, mostrando o carro preto estacionado no outro lado da rua.

— Não deve ser nada.

— A pessoa lá… Ela tinha uma câmera.

— Uma câmera?

— Sim.

— Tinha mais alguém com essa pessoa?

— Não. Ele olhava para cá.

Rosalie voltou olhar na mesma direção, não percebeu nenhum movimento que indicasse a presença de alguém.

— Parece que não tem mais ninguém — concluiu. Ao virar para olhar Olívia, disse: — Vamos para casa?

— Sim! — Um pulinho deu ênfase à resposta animada. — A vovó também veio — comentou.

— Sim, a vovó também veio.

— E o papai?

— O papai ficou trabalhando na nossa casa.

Olívia deu uma risadinha.

— Já posso ver meu quarto novo?

— Ainda não, meu amor.

— Ah… eu queria ver.

— Temos outra surpresa para você. Essa você poderá ver hoje mesmo. Não é legal?

— Sim, é legal, mamãe. — Olívia agarrou o braço dela e deu um beijo. — Vovó sabe o que é a surpresa?

— Sim, ela me ajudou deixar tudo pronto para você.

Esme saiu do carro. Olívia correu para junto dela, sorrindo.

Rosalie olhou à sua volta, pensando ter ouvido um click. Não encontrou nada estranho, somente crianças deixando a escola na companhia de um responsável. Esme colocava Olívia no carro, quando voltou olhar para elas.

— Qual é a surpresa, vovó? — ouviu quando perguntou a Esme.

— Vovó não pode contar, porque deixaria de ser surpresa.

Enquanto saíam com o carro, Olívia voltou a ver o homem, com chapéu na cabeça, segurando a câmera fotográfica.

— Eu vi de novo.

— Quem você viu, Ollie?

— O homem com a câmera.

Rosalie olhou de forma automática no espelho retrovisor interno, tentando enxergar além dos assentos traseiros do carro. Nada estranho foi notado mais uma vez.

Estacionou na entrada de veículos, no jardim da casa deles. Olívia correu pelo caminho cimentado no jardim até a varanda.

— As cadeiras novas chegaram — falou em voz alta. Sentou em uma das cadeiras de vime, experimentando. Levantou e foi sentar na outra. — E tem uma mesinha aqui também — mencionou a mesinha que compunha o jogo.

— Você gostou? — perguntou Rosalie.

— Sim. É lindo, mamãe. Quem escolheu?

— O papai e eu.

— E onde está o papai agora?

— Lá dentro.

Olívia levantou, correu até a porta e girou a maçaneta com impaciência. Entrou na casa, deixando a porta aberta atrás de suas costas. Rosalie a seguiu. Esme a acompanhou.

A casa, reconstruída, tinha suas paredes em cores claras. Quase todos os móveis novos haviam chegado. Aos poucos, todos os cômodos estavam ganhando forma.

A cozinha estava completamente pronta. Com uma ilha maior, eletrodomésticos modernos e armários brancos.

O sofá novo estava encoberto por um lençol, para não acumular pó enquanto finalizavam a sala de estar e jantar.

— Papai, papai, papai.

Olívia correu pela sala de estar. Emmett saiu do cômodo ao lado, onde ficava o escritório. A camiseta cinza que usava, tinha uma mancha escura na frente, na cintura, o cinto de ferramentas.

Pegou Olívia no colo, beijando-a no rosto algumas vezes. A menina cutucou a barba dele.

— Cadê a mamãe? — ele pediu.

Olívia moveu a mão, mostrando Rosalie chegando.

— A vovó também veio — disse.

Emmett observou Rosalie se aproximar.

— Ela já viu a surpresa que prepararam? — pediu.

— Ainda não.

— Eu quero ver. Quero muito.

Emmett a colocou no chão.

— Onde está a surpresa? — Olívia pediu.

— No jardim dos fundos.

Olívia correu até a porta da frente. Passou por debaixo do braço de Esme e saiu para a varanda. Parando no degrau para falar:

— Vem também, vovó — continuou apressada pelo jardim.

Emmett chegou ao lado de Rosalie, para beijar sua têmpora direita. Rosalie segurou na mão dele. Saíram para a varanda, deram a volta na lateral da casa, chegando ao jardim dos fundos.

— Onde está? Não consigo encontrar a surpresa.

— Logo depois do caramanchão — Esme orientou.

— Perto da casinha — emendou Rosalie.

Levou um segundo para Olívia responder:

— Achei! Que lindo, que lindo, que lindo. Uau!

Ela estava pulando, quando se aproximaram. Ao olhar para eles, os olhos brilhavam com empolgação e felicidade.

— É uma vila de fadas.

— Isso mesmo, meu amor — Rosalie confirmou.

Olívia voltou pular, sorrindo.

— É linda. Uma vila de fadas, vovó — disse a Esme.

— Sim, uma vila de fadas especialmente para você.

— Uau! É tão linda.

— Linda é você, meu anjo.

Olívia abraçou a avó, que estava mais perto, primeiro. Em seguida, abraçou Rosalie e também a Emmett.

— Obrigada. — Voltou se aproximar da vila de fadas. Olhando todas as casinhas, suas minúsculas portas e janelas, de perto. A pequena ponte, as estradas recriadas. Parecia real.

— Será que uma fadinha de verdade vem morar aqui?

— Quem sabe — disse Rosalie. — Ela pode também querer visitar.

O sorriso no rosto da menina deixou claro o quanto havia gostado da surpresa.

— Igual às borboletas que visitam nossa casa todos os dias agora. Gosto muito que elas nos visitem. Muito, mesmo.

— Sim, meu amor, você gosta mesmo. Todos nós gostamos de ver feliz.

Olívia sentou no chão ao lado do arbusto florido que rodeava a vila de fadas, olhando de perto todos os detalhes. Encantada.

Olívia brincou ali até o sol se pôr. Eles tiveram de retornar a casa de Norman. Esme ficou na casa temporária, no caminho.

Olívia contou a Norman sobre a vila de fadas no jardim da casa deles. Rosalie a ajudou com o banho. Emmett, com a lição de casa. Eles jantaram, em seguida, Olívia foi praticar as aulas de violoncelo. Emmett fazia questão de aplaudir sempre que terminava. E ela vinha ao seu encontro receber um pouco de carinho.

— Está tocando cada vez melhor — comentou, cobrindo o rosto dela de beijos. — Mas, você sabe que pode parar a qualquer momento. Papai irá entender se não quiser mais seguir com a música instrumental.

— Isso mesmo — concordou Rosalie. — Se em algum momento você decidir que não quer mais tocar violoncelo, mamãe e papai irá entender.

— Eu gosto, mamãe.

Rosalie pegou a mão pequena na sua e deu um beijo.

— Que bom, meu amor. Não quero jamais que se sinta forçada.

— Não me sinto assim. Eu gosto de violoncelo, gosto mesmo.

— Você é meu amor, sabia? — disse, segurando a mão pequena.

— E o papai?

— Papai também é meu amor.

— E o vovô? — lembrou.

— O vovô também. Tenho muitos amores aqui comigo.

Norman sorriu ao ser mencionado.

[…]

Sexta-feira ao final da tarde, Emmett parou a caminhonete em frente à casa temporária de Esme. Ele e Rosalie saltaram simultaneamente. Ele ajudou Olívia sair do assento, e ela se colocou de pé ao lado do carro.

Era a terceira vez que chegava para passar a noite na companhia da avó, desde a tentativa falha, tempos atrás. Alguns dias depois, tentaram novamente; no meio da noite, porém, Olívia pediu para telefonar para eles. Na segunda noite, telefonou apenas antes de dormir. Sempre ficava mais calma depois conversar com Rosalie e Emmett, fosse chamada de vídeo ou voz.

— Pronta para passar a noite com a vovó? — Emmett pediu.

A menina sacudiu a cabeça, confirmando.

— Sim.

— Vem, meu amor. — Rosalie lhe estendeu a mão.

Emmett pegou a mochila com as coisas dela no banco traseiro, fechando a porta com um baque. Seguiu ambas de perto até a porta da frente.

— Posso apertar a campainha? — Olívia pediu.

— Claro que sim. — Rosalie a ergueu a uma altura que conseguiu alcançar. Colocando-a no chão em seguida. Trocaram olhares, aguardando Esme abrir a porta. Olívia subiu e desceu nos calcanhares, ansiosa.

Esme apareceu do outro lado, com um sorriso no rosto.

— Oi, coisa linda da vovó. — Ofereceu a mão. Olívia pôs a mão pequena na dela.

Rosalie se abaixou diante a menina.

— Divirta-se com a vovó. Eu te amo muito.

Bracinhos envolveram seu pescoço.

— Te amo muito, mamãe.

Rosalie beijou as bochechas dela, antes de se colocar de pé.

Emmett entregou a Esme a mochila com as coisas da filha. Ficou na altura da criança, para também se despedir.

— Sabe que pode telefonar para o papai e a mamãe a qualquer hora.

Um balançar de cabeça mostrou-lhe que sim.

— Amanhã papai volta para te buscar.

Olívia voltou sacudir a cabeça. Emmett a abraçou, dando um beijo no canto dos olhos.

— Te amo, bem grandão — disse.

— Grandão igual ao papai.

Emmett sorriu, se colocando de pé.

— Você vai voltar para casa do vovô? — Olívia quis saber.

— Agora não. Vamos a nossa casa levar algumas coisas. Porque, talvez amanhã mesmo, voltemos para lá em definitivo.

— E eu?

— Você também, minha vida — lembrou Rosalie. — Nunca nos esqueceríamos de você.

Ela sorriu, mostrando-se mais tranquila.

— Vou poder ver meu quarto novo?

— Vai, sim.

— Avisem se precisar de ajuda — Esme sugeriu que fizessem.

— Obrigado — agradeceu Emmett.

Olívia passou para o outro lado, ficando junto a Esme.

Rosalie soprou um beijo para a menina. Começaram se afastar, com as duas ainda na porta. Ao olhar para trás, avistaram Olívia indo até à sala. Esme fechando a porta enquanto conversava com ela.

[…]

Começaram descarregar a caminhonete na garagem. Levaram algumas coisas à cozinha, outras ao andar de cima.

Tudo na casa cheirava a novo. Muitas pessoas haviam contribuído para tornar esse momento possível. Sem ajuda, não teria conseguido retornar tão cedo.

A casa que antes tinha dois quartos, sendo uma suíte, agora tinha três. A cozinha e a sala ganharam um espaço maior. Sala de jantar, escritório e banheiro social, ambos manteve o tamanho antigo. A lavanderia, no porão, estava de cara nova.

Carregaram as últimas coisas ao quarto de Olívia e fecharam a porta. Tudo pronto para recebê-la manhã.

— Mal posso esperar para ver a carinha dela, quando vir como ficou o quarto.

— Me sinto ansioso — confessou Emmett. — Será que vai gostar?

— Espero que sim. Não quero decepcionar minha pequena.

Seguiram pelo corredor até estarem na suíte do casal.

— E você — comentou Emmett —, está feliz com seu quarto?

Rosalie se voltou para ele ao deixar um objeto de decoração na mesinha de cabeceira, no lado direto da cama.

— Meu, não — lembrou. — Nosso.

— Você escolheu tudo — disse, segurando o riso.

— Mentiroso. — Chegou perto dele, passando os braços em volta do pescoço. — Você também participou.

— Escolhi a cor dos rodapés — insistiu, e o sorriso escancarou.

— Que calúnia. — Beijou de leve os lábios dele.

— Repete — pediu ele.

— O quê?

— O que acabou de fazer.

Um sorriso curvou os lábios de Rosalie.

— É?

Ele moveu a cabeça, confirmando.

Ela afastou os braços do pescoço dele, recuando dois passos.

Emmett inclinou a cabeça, as covinhas surgindo nas bochechas.

— Ah, é assim?

— É.

Tentou alcançá-la com o braço. Ela foi rápida em recuar mais um passo. Correu pelo quarto com Emmett atrás. Ambos rindo. Todas às vezes que ele esteve perto de alcançá-la, ouviu-a soltar um grito.

Rosalie subiu na cama, de pé no colchão, desviando das mãos dele sempre que tentava pegá-la.

Emmett sentou aos pés da cama.

— Vai desistir? — provocou.

Ele ficou quieto, olhando as mãos.

— Emmett. Amor. — Chegou mais perto, tentando ver o rosto dele.

Emmett agiu depressa, prendendo a cintura dela com o braço.

— Peguei você — disse, forçando o corpo dela ao colchão.

— Você trapaceou.

— Não.

— Esperou eu ficar perto o bastante.

— Chegar perto, foi uma decisão sua.

— Trapaceiro.

— Posso ter aquele beijo agora?

— Aquele e todos os outros que desejar.

Emmett esfregou a barba ao pescoço dela. Então, apertou os lábios com um beijo que logo deixaria rastros na pele clara.

— Sou exigente — murmurou ao pé do ouvido. — Quero tudo… todos os beijos… tudo em você.

Rosalie puxou a camiseta dele pela cabeça com certa urgência. Emmett se inclinou sobre seu corpo reivindicando seus beijos. Ela apertou as unhas nas costas largas dele, desejando-o tanto quanto ele a desejava.

[…]

Olívia e Esme brincavam juntas de hora do chá com as bonecas.

Após perder praticamente tudo no incêndio, Olívia ganhou muitos presentes: roupas, brinquedos, calçados entre outras coisas mais. Alguns brinquedos ficaram na casa de Norman durante a estadia deles por lá. Outros, na casa da avó.

Esme observou Olívia colocar água do bule florido nas xicarazinhas. Ainda ficava admirada com o quanto se parecia com Sarah. Às vezes, tinha a impressão de ter a filha de volta através da neta.

Viu quando ergueu a xícara com o pires embaixo, toda cuidadosa. Sorrindo ao entregar em suas mãos. Sentindo todo o amor no modo como a olhava.

— É para você, vovó.

— Obrigada, querida.

Olívia voltou toda feliz para pegar sua xícara. Segurou o pires numa mão, levando a xícara aos lábios ao usar a outra.

— Esse chá está uma delícia — disse.

— Oh, sim — concordou Esme. — Realmente uma delícia de chá.

Olívia concordou ao mover a cabeça.

Após um tempo brincando, Esme serviu o jantar. Depois levou Olívia para escovar os dentes e vestir o pijama. Sentou na cama para escovar os cabelos da neta. Era como estar cuidando de Sarah outra vez. Então, lembrava a si mesma que não era certo cultivar esse tipo de pensamento. A menininha com ela era Olívia, sua neta. Embora a amasse tanto quanto amou a própria filha.

Olívia a encontrou com o olhar saudoso.

— Vovó, o que aconteceu?

Esme deslizou a mão por seus cabelos compridos.

— Não aconteceu nada, querida. Pensava em algumas coisas…

— Em que estava pensando?

Esme segurou os braços dela, virando-a sutilmente de frente.

— Que vir te conhecer foi a melhor decisão que tomei na vida.

Suspirou ao sentir os braços da neta envolver seu pescoço com carinho.

— Vovó te ama demais.

Olívia fez carinho no rosto da avó.

— Que bom que decidiu vir, vovó. Porque assim, eu posso te amar de volta.

Esme sorriu, com olhos marejados. Segurou a mão pequena e deu um beijo.

— Que história quer ouvir hoje?

— Quero ouvir sobre a minha mamãe Sarah.

Esme sorriu, secando uma lágrima.

— Muito bem — disse. — Pegou seu cobertorzinho?

— Sim, está na cama. — Subiu na cama, indo de joelhos até onde estava o cobertorzinho. Acomodou-se com a cabeça ao travesseiro, jogando os cabelos para o lado. — A mamãe Rose sabe muitas histórias, o papai, também. Mas só você sabe coisas sobre a mamãe Sarah quando criança.

— Sim. — Esme afagou seu rosto. — Contarei sempre que me pedir.

— Deita comigo, vovó.

Esme se colocou ao lado dela na cama.

Olívia aguardou com atenção, apertando as pontas do cobertorzinho entre os dedos, a avó narrar algumas partes da infância de Sarah.

Após um tempo ouvindo Esme falar sobre Sarah, começou ficar sonolenta. Esme afagou seu rosto e narizinho salpicados de sardas.

— Vovó — falou, abrindo os olhos —, quero falar com o papai e a mamãe Rose.

— Vou pegar o celular para você poder falar com eles.

Emmett e Rosalie estavam jantando na cozinha nova, ambos com roupão de banho. Eles não inauguraram apenas a cama, a banheira também.

Rosalie olhou na tela do celular, em cima da ilha, ao lado das embalagens de comida.

— É Esme — avisou a Emmett antes de atender.

Ele ficou atento ao que dizia.

— Será que aconteceu algo?

— Deve ser para Ollie nos desejar boa-noite.

Ele anuiu, deixando o garfo de lado.

— Alô! — fez-se uma pausa. — Oi, meu amor.

Emmett sorriu, sabendo que falava com Olívia. Eles conversaram alguns minutos com a menina, até perceber estar mais sonolenta que desperta.

[…]

Saíram cedo para buscar o restante das coisas na casa de Norman e aproveitaram para tomar café da manhã com ele. Ao retornarem, passaram para pegar Olívia com a avó.

Chegando em casa, Olívia correu para o jardim dos fundos para verificar a vila de fadas.

— Espere, Ollie.

— Será que tem uma fadinha hoje? — Olívia arriscou.

Emmett começou descarregar a caminhonete. Rosalie foi atrás de Olívia.

Emmett carregou todas as coisas para dentro da casa, e elas continuaram no jardim. As encontrou ajoelhadas na grama, brincando diante a vila de fadas.

— Eu acredito em fadas — chamou a atenção delas. — Tenho duas bem aqui, diante dos meus olhos. Uma loura, outra ruiva.

— Somos nós, mamãe — desvendou Olívia.

— Parece que sim, meu amor. — Segurou na mão de Olívia, ficando de pé juntas. Ao se aproximarem, Olívia ofereceu a mão livre ao pai. Os três refizeram o caminho de volta ao jardim da frente, alcançando assim a varanda.

— Pronta para conhecer seu quarto novo? — Rosalie quem perguntou.

Olívia pulou, animada.

— Sim, sim, sim. Não aguentava mais esperar.

Rosalie e Emmett acharam graça de sua resposta.

Aproximaram-se da porta aberta, com Olívia toda empolgada, segurando suas mãos.

— Nossa casa está tão bonita. — Olhou em volta. — E tem um cheiro bom.

Outra vez eles riram.

— Vamos subir para ver como está seu quarto? — sugeriu Rosalie.

— Sim! — Outro pulinho. — Vamos subir.

Continuaram de mãos dadas por todo o caminho até o quarto novo. Pararam diante a porta branca, fechada.

Olívia olhou de um para o outro, inquieta.

Rosalie abriu a porta devagar.

— Uau! — Soltou as mãos deles, dando um passo à frente. Levou ambas as mãos à boca. Tudo no quarto foi pensando no gosto dela. A delicadeza das cores em tom pastel. O papel de parede em um tom claro, cortinas cor-de-rosa. Na parede da cabeceira da cama, o arco-íris com uma faixa de luz de led em sua última cor. Mesinhas de cabeceiras brancas, em uma delas o abajur, na outra, o porta-retratos com a foto de Sarah, outro com a foto dos três juntos; Olívia, Rosalie e Emmett. Sobre a cama um travesseiro com fronha toda rosa e um segundo com a fronha listrada nas cores rosa, branco e amarelo. Uma almofada branca, outra em formato de arco-íris. O lençol azul, o de cima, amarelo, e o edredom cor de rosa. A manta aos pés da cama, branca com listras largas nas mesmas cores do jogo de cama. O tapete branco, macio, tinha minúsculas estrelas seguindo as mesmas cores.

Embaixo da janela, um banco rodeado de almofadas. A vista ainda era a mesma, para o jardim dos fundos, a diferença é que tinha agora uma paisagem bonita para onde olhar. Ao lado da porta do closet, uma mesinha de estudos e uma estante com seus livros favoritos, entre eles o novo exemplar de “O Mágico de Oz”.

Algumas pelúcias de unicórnios em cima do baú de brinquedos. A cama, o próprio Emmett havia feito em mdf branco.

Olívia abaixou as mãos, encolhendo os ombros, deixando escapar um soluço.

— Ei — Emmett a pegou no colo, preocupado com o como estava se sentindo. Afagou seu rosto ao perguntar: — O que foi, amorzinho?

Rosalie chegou mais perto, para afagar as costas da menina.

— Ollie, o que aconteceu? Você não gostou?

— Está tudo muito lindo — falou com voz chorosa. — Tá tudo lindo. — Agarrou-se ao pescoço do pai. Então, apertou os lábios no rosto dele com um beijo.

— Você gostou?

Olívia cutucou a barba dele.

— Gostei muito. Obrigada, papai.

Emmett beijou o rosto dela.

— Obrigada, mamãe.

— Por nada, meu amor.

Emmett a colocou de volta no chão. Olívia andou todo o quarto, vendo as coisas de perto.

— Você viu o que o papai deixou para você na mesinha de estudos?

— O DVD de “O Mágico de Oz”— se alegrou. — Você encontrou outro.

— Olhe o lado de dento — Emmett sugeriu que fizesse.

— Uma dedicatória igual tinha no que foi da mamãe Sarah.

— O que diz a dedicatória? — Rosalie pediu que lesse.

— Para Olívia. Com amor, papai e mamãe. — Chegou perto deles, passando o braço na cintura de um e de outro, da maneira como conseguiu. — Podemos assistir depois?

— Podemos, sim — Emmett confirmou.

— Sabia que hoje vamos também receber uma visita? — contou Rosalie.

Olívia a olhou com expectativa.

— É a vovó Cheryl?

— Não, não é a vovó Cheryl.

Emmett ajudou.

— É uma pessoa tão importante para Rose, quanto à vovó Cheryl é para nós.

— É a sua vovó?

— Não, as duas já são falecidas.

— É a sua mamãe?

— É o meu pai — Rosalie respondeu.

— E a sua mamãe?

— Ela ainda não decidiu vir.

— Um dia ela vai querer — acrescentou Olívia. — A vovó Esme também levou muito tempo para decidir.

[…]

Esme carregava nos braços, flores frescas ao túmulo de Sarah, cruzando o cemitério cujo gramado fora aparado recentemente. Em determinado ponto, teve a impressão de estar sendo seguida por alguém. Olhou para trás, para os lados, mas não avistou ninguém. Continuou indo em frente. Olhou para trás uma vez mais, tudo parecia igual.

Parou diante o túmulo de Sarah, olhando novamente para trás. Abaixou-se arrumando as flores ao lado das que Emmett deixou há dois dias. Tocou no nome da filha gravado na lápide, com o coração cheio de saudade. Falou sobre Olívia e o sorriso afetuoso facilmente chegou a seus lábios.

— Ela é um docinho — finalizou, percebendo um ruído perto dali. Olhou à sua volta e novamente a lápide. — Tenho de ir agora — despediu-se. — Continuarei fazendo parte da vida de sua menininha. Não sairei de perto dela, como gostaria que tivesse sido desde o início. — Voltou ouvir o ruído. Colocou-se de pé, olhou para os lados e começou se afastar.

Durante o caminho de volta a saída, pensou ter visto uma pessoa com roupas escuras se escondendo entre uma árvore e uma lápide. Acelerou o passo a caminho da saída. Foi rapidamente ao carro estacionado. Olhou o caminho de onde veio, pela janela do carro. Pegou o celular, encontrou o número de Norman e fez a ligação. Pediu se podia passar para conversar com ele. Sabia que Rosalie e Emmett estavam com Olívia, curtindo o dia na casa nova, não queria incomodá-los. Norman a recebeu como a uma filha. Sentaram-se para tomar um chá na varanda enquanto conversavam.

[…]

Horas mais tarde, quando a campainha tocou, Rosalie deixou Olívia no escritório com Emmett, onde a menina praticava aulas de música no violoncelo.

Ao abrir a porta, encontrou na varanda, carregando um urso de pelúcia cor-de-rosa embaixo do braço, Geoffrey. Sorriu ao vê-lo.

— Papai — disse, saindo para a varanda para abraçá-lo.

— Finalmente, consegui cumprir com minha palavra — disse num tom de alívio enquanto se abraçavam. — Está feliz aqui — confirmou. O abraço chegou ao fim com Rosalie ainda sem acreditar.

— Muito feliz.

— Precisava ter certeza.

— Não sabe como estou feliz que esteja aqui.

Geoffrey mostrou o urso.

— Trouxe para sua garotinha. Eu mesmo escolhi, espero que ela goste.

— Ela vai adorar. Você mesmo pode entregar o presente. — Pegou na mão do pai, levando-o para o lado de dentro. Ele pensou ter ouvido música instrumental ao chegar. — Mamãe, ela sabe que está aqui?

— Sabe.

Rosalie ficou em silêncio, aguardando.

— Me acusou de estar contra ela. Eu decidi que não me importo. Queria te ver novamente, pessoalmente. Conhecer as pessoas que te fazem tanto bem.

Rosalie o abraçou no impulso.

— Papai.

— Espero não estar sendo inconveniente.

— Nem por um segundo. — Se virou, pensando chamar Olívia e Emmett no escritório, mas eles já estavam a caminho.

Olívia segurava na mão do pai. Ela olhou no alto, a tiara de unicórnio na cabeça dele. 

— Unicórnio fofinho — brincou.

Emmett retirou a tiara da cabeça, escondendo atrás das costas, envergonhado.

— Unicórnio fofinho, não mais — lamentou Olívia.

— Emmett, Ollie. — Ela moveu a mão, mostrando o homem de aparência elegante ao seu lado. — Esse é Geoffrey, o meu pai. Papai, eles são o motivo pelo qual voltei a Edenton; meu marido e minha filha.

Olívia lhe sorriu, com puro amor. Uma nova janelinha no sorriso.

Emmett olhou Rosalie com cumplicidade, antes de oferecer a mão a Geoffrey.

— É um prazer conhecê-lo — disse.

— Estava curioso para conhecer homem que está fazendo minha filha feliz.

Emmett sorriu ao olhar outra vez Rosalie.

— Olívia — começou Geoffrey —, este urso é para você.

A menina não se moveu.

— Pode pegar, Ollie.

— Pegue o urso, filha — Emmett descansou a mão em seus ombros pequenos.

— Não gosta de pelúcias? — tentou Geoffrey.

— Gosto, sim. — Deu alguns passos com insegurança. Teve dificuldade em segurar o urso inicialmente. Levou a pelúcia ao sofá e o amassou com um abraço carinhoso.

Geoffrey olhou brevemente à sua volta.

— Estou feliz que tenha conseguido se reerguer depois do que aconteceu — comentou.

— Tivemos muita ajuda — lembrou Emmett. — Soube por Rose que também contribuiu. Obrigado.

Geoffrey meneou a cabeça, aceitando suas palavras.

[…]

Pouco antes de o jantar, Olívia deixou Rosalie na cozinha, Emmett arrumando a mesa na sala de jantar, para espiar Geoffrey de detrás do sofá.

O pai de Rosalie deixou o celular de lado ao perceber sua presença.

— Aí está você — disse.

Olívia permaneceu olhando com desconfiança.

— Não quer sair de seu esconderijo?

— Você é malvado com a mamãe Rose? — a pergunta o pegou de surpresa.

— Não, eu não sou malvado. Por que está me fazendo essa pergunta?

— Porque a mamãe dela é.

Geoffrey balançou a cabeça, demostrando entender.

— Dorothy é um pouco difícil.

— Malvada — pontuou Olívia. — Ela chama Dorothy, mas não é como a Dorothy de “O Mágico de Oz”. Ela é mais para bruxa má.

Geoffrey não resistiu a uma risada.

— Conhece a história de “O Mágico de Oz”?

— Sim. — Olívia saiu do esconderijo, porém, não se aproximou. — Eu fui a Dorothy na apresentação de teatro da minha turma, na escola.

— Aposto que se saiu muito bem.

— É o que dizem.

O sorriso voltou ao rosto de Geoffrey.

— Estava quase todo mundo lá, menos a vovó Cheryl. Ela viu por chamada de vídeo.

— Ah, isso também é legal.

Olívia concordou.

— Sim.

Houve uns poucos segundos de silêncio antes de ela voltar a perguntar:

— Você vai levar minha mamãe Rose embora?

— Não, Rose é uma mulher adulta. Além disso, é feliz aqui.

— Ela é minha mamãe agora.

— Sim.

Finalmente, ela chegou alguns passos à frente.

— Eu amo muito minha mamãe Rose.

— Eu sei.

Um sorriso curvou os lábios de Olívia.

— Pode me chamar de vovô, se você quiser.

— Eu não sei…

— Não?

— Não tenho certeza.

— Vou adorar ser chamado de vovô.

— Antes era eu e o papai — contou. — Agora somos uma família bem grande. — Sentou ao lado de Geoffrey no sofá. — Você sabe jogar damas?

— Eu jogo xadrez. Você sabe jogar xadrez?

— Não.

— Posso te ensinar. Não gostaria de aprender?

— É muito difícil?

— Você é bem esperta. Vai aprender rápido.

A campainha soou avisando dos novos visitantes.

— É a vovó Esme e o vovô Nor. Eles vieram jantar aqui, a mamãe chamou. Você vai gostar de conhecê-los.

— Norman, eu conheço. É o pai da minha esposa.

— A malvada — insistiu Olívia.

Emmett passou para atender a porta. Rosalie veio logo depois dele. Ela segurou na mão de Olívia, enquanto todos se cumprimentavam.

 


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