Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 38
Capítulo 37 — Balão Dos Desejos


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Tudo bem com vocês? Espero muito que sim.
Dedico o capítulo de hoje a Clarissa Santos que presenteou a história com uma linda recomendação. Obrigada, Clarissa! Espero que goste do capítulo ;)



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Rosalie suspirou, cansada, ao abrir a porta do quarto. Suas malas ficaram no junto à cama do quarto de hotel. Isabella acompanhou até lá, mesmo ouvindo da amiga que não era necessário.

— Já perdi as contas quantas vezes conferiu o horário no celular desde que deixamos a casa de seus pais. Há algo mais acontecendo que eu não sei?

Viu Rosalie pegar o iPad numa das bolsas. Demorando alguns instantes em responder:

— Tenho que fazer uma chamada de vídeo e não pode ser muito tarde. — Sentou na cama apoiando-se aos travesseiros e almofadas alinhados a cabeceira. — Minha pequena está esperando. Não posso falhar com ela, justo na primeira noite longe.

Isabella esboçou um sorrio ao ouvir a amiga falar de Olívia com tanto carinho e preocupação.

— A visão que você tem de vida feliz e completa difere da minha — lembrou Isabella. — Porém, nada disso impede que tenha meu apoio.

Rosalie assentiu enquanto mexia na tela do iPad.

— Obrigada, Bella.

Isabella sinalizou na direção da porta.

— Vou sair para você conversar à vontade com eles.

— Não precisa ir embora.

— Não vou embora. Vou aproveitar e ligar para Edward, também. Vou estar lá embaixo.

Rosalie aguardou a porta fechar com a saída de Isabella. A chamada de vídeo em andamento.

— Oi.

Ouvir a voz de Emmett e poder ver seu rosto novamente, mesmo que não fosse pessoalmente, trouxe saudades de tudo que viveu em Edenton. Reconheceu o cenário do quarto dele; a cama onde algumas vezes fizeram amor. Reparou com mais atenção o cenário no entorno dele e o fato de não encontrar Olívia a deixou apreensiva.

— Como você está? — continuou Emmett, no outro lado da tela.

— Com saudades. — Ela moveu a mão esquerda chegando encostar os dedos na tela do aparelho, levando Emmett a fazer o mesmo. Seus dedos se tocaram com a tela entre eles. — Foi estranho — Rosalie falou ao abaixar a mão. — Não sinto que voltei… Tudo está igual e ao mesmo tempo, diferente.

Emmett balançou a cabeça sem entender.

— Não sinto que pertenço ao lugar que foi meu lar por tanto tempo. Sempre me senti estranha em relação ao modo como minha mãe me tratava. Hoje isso se intensificou.

— Ainda estarei aqui quando voltar… Amando-te.

As palavras fizeram bem ao coração, trazendo um sorriso ao rosto de Rosalie.

— Tentarei ser breve. Farei com que esse tempo seja o menos doloroso possível.

— Não quero te apressar ou mesmo forçá-la a qualquer decisão.

— Quem poderia imaginar que o homem de cara fechada. — Ela fez cara de brava lembrando-se de como Emmett parecia quando o conheceu. — De temperamento difícil — continuou. — Que algumas vezes lembrava um urso selvagem era, na verdade, um ursinho carinhoso.

O rosto de Emmett, na tela, se contorceu com uma careta.

— Carinhoso, sim. Ursinho, não.

— Gosto desse ursinho carinhoso.

— Só falta você dizer que tenho um emblema na barriga.

 Rosalie se divertiu com o modo como ele reagiu. Mas, a preocupação voltou incomodar.

— Como estão às coisas por aí? Onde está a Ollie?

— Estamos bem, apesar de sentirmos muito sua falta. Ollie está aqui. — Rosalie viu quando ele virou as costas para a câmera e mexeu no cobertor de inverno. — Ela acabou cochilando — disse ainda de costas. E Rosalie viu o braço de Olívia enquanto ele tentava acordá-la. — Olívia. Amorzinho, Rose quer falar com você.

Rosalie assistiu à menina levantar a cabeça, sentar na cama empurrando o cobertor pesado de cima do corpo miúdo. Sonolenta, olhou em volta procurando sua presença. Quando não a encontrou no quarto, voltou deitar e um soluço revelou estar chorando.

Viu Emmett tentando confortá-la fazendo carinho em suas costas.

— Ela não está aqui… — Olívia lamentou com voz de choro.

— Ollie — Rosalie chamou.

— Não é de verdade… — lamentou a menina, chorosa.

— É uma chamada de vídeo, mas é a Rose. Olhe na tela no notebook, vai ver que é ela, sim.

Rosalie se lembrou da canção favorita da menina. E quando começou cantar “Além do Arco-íris”, Olívia levantou a cabeça e olhou para a tela como o pai havia sugerido que fizesse. Rosalie viu seu rosto molhado de lágrimas. Ela se aproximou, rastejando de joelhos, até estar próxima à câmera.

— Rose… — murmurou então seu nome. Devido às lágrimas, viu a imagem de Rosalie embaçada na tela.

— Não chore meu anjo — pediu Rosalie. Ambas se olharam através das telas. Olívia passou a mão nos olhos buscando enxergar melhor sem o excesso de lágrimas.

Emmett chegou perto, colocou Olívia sentada na perna e os dois apareceram juntos na tela para Rosalie.

— Te amo muito, minha pequena. Você sabe disso, não sabe?

Olívia balançou a cabeça que sim.

— Amo aos dois — continuou ela. — Com todo meu coração.

Inclinando o pescoço, Olívia olhou para o pai. Ele limpou suas lágrimas com a mão, e beijou no alto de sua cabeça ruiva. Rosalie olhava aos dois com afeto.

— Quer me contar como foi seu dia hoje? — sugeriu que fizesse a menina.

Olívia tornou olhar o pai, em seguida, saiu de seu colo voltando se enfiar embaixo do cobertor. Emmett e Rosalie olharam seus movimentos sem entender.

— O que aconteceu? — perguntou Rosalie. — Emmett?

— Não a mandei para a escola hoje. Estava muito triste. E foi bom, porque teriam mandado ela de volta. Ficou febril após você partir.

— Acha que foi? — ela se referiu à despedida. Emmett concordou com um balançar de cabeça. — Ollie — falou para a menina — logo, logo, vamos estar juntas de novo, meu amor. Olhe para mim, por favor. Só mais um pouquinho… A mamãe está com saudades.

Olívia voltou a sair de debaixo do cobertor e sentar na perna do pai, de modo que os dois apareceram juntos na tela novamente.

— Pode fazer uma coisa por mim?

Olívia balançou a cabeça que sim.

— Abrace o papai bem apertado. Pense que estou abraçando vocês agora.

Assistiu quando Olívia ficou de joelhos na perna do pai, passando os braços miúdos em volta de seu pescoço. Emmett a abraçou de volta. Olívia sorriu quando ele fez cócegas em seu pescoço com a barba. Deitou-a nos braços fazendo o mesmo na barriga. Rosalie riu com eles. E foi tão gostoso senti-los perto novamente, ainda que por uma chamada de vídeo.

Retomaram a conversa num clima menos doloroso que quando começaram. Em determinado momento, Olívia dormiu nos braços do pai e a conversa voltou ser apenas entre o casal.

[…]

Pela manhã, Emmett acordou com o braço de Olívia em cima do rosto. Ela havia se movido bastante durante toda a noite. Moveu-se cautelosamente para a beirada da cama colocando os pés no chão. Antes de sair, pôs a mão na testa de Olívia verificando sua temperatura. Parecia febril outra vez. Achou melhor pegar o termômetro, e ao retornar colocou embaixo do braço da menina.

Olívia acordou assustada, afastando o termômetro do contato com a pele.

— Papai… Tem um bicho. Tem um bicho aqui.

— É o termômetro.

— Não é um bicho?

Emmett esboçou um sorriso.

— Não, não é um bicho — tranquilizou. — Preciso que não retire o termômetro, é só por alguns minutinhos. Você já sabe como funciona.

— Conferir à febre?

Ele deixou o termômetro embaixo do braço dela outra vez.

— Se diz aferir a temperatura — sorriu para ela. — E é possível que não vá à escola hoje de novo.

— Acho melhor eu não ir à escola hoje. Estou com frio.

Emmett ajeitou o cobertor até a altura de seu queixo.

— Quero dormir mais um pouquinho, papai.

Emmett fez carinho em seu rosto.

— Não mexa no termômetro até o papai voltar.

Os olhos de Olívia se arregalaram como houvesse entendido que a deixaria sozinha em casa.

Emmett afagou o cobertor sobre seu abdômen.

— Só vou até o banheiro. Não irei sair de asa sem você. Pode voltar a dormir tranquila.

Quando se afastou, Olívia chamou:

— Papai.

— Sim?

— Eu nunca vou te abandonar.

As palavras aqueceram o coração do pai. Ele voltou para perto da cama, segurou sua mão pequena fazendo um afago.

— Sei que já te disse isso, mas preciso dizer novamente. Papai nunca mais irá se distanciar de você.

Ele a deixou por alguns instantes enquanto se preparava para começar o dia. Ao retornar ao quarto a encontrou dormindo. Retirou o termômetro de debaixo do braço para confirmar que estava com febre. Deixou que dormisse mais um pouco e foi telefonar para o consultório de pediatria, do telefone fixo na sala. Logo depois, telefonou para a escola avisando que Olívia novamente faltaria.

Preparou mingau de aveia para Olívia. Picou mirtilos e acrescentou ao mingau com um pouco de mel. Deixou a tigela em cima da mesma e voltou ao quarto para pegá-la.

Ajudou a menina se trocar. Penteou seus cabelos e os prendeu em um rabo de cavalo perfeito, usou um laço de fita lilás para finalizar.

— Eu vou ter de ir à escola, papai? — pediu assim que o pai terminou de pôr o laço em seus cabelos.

Por cima da legging rosa, vestiu uma saia de tule com as cores do arco-íris. A blusa de mangas compridas na cor branca tinha um unicórnio estampado na frente. Os tênis brancos com fechamento por fecho de contato.

— Vamos ao consultório do pediatra. Preciso ter certeza que não está doente.

A expressão no rosto da menina se mostrou preocupada.

— Jesus cura, papai.

— Às vezes é necessária a ajuda dos médicos. Precisamos fazer nossa parte, também.

— Não quero tomar injeção, papai. Não quero.

— Talvez não seja necessário.

— Você promete que não vai ser?

— Papai não tem como prometer, filha.

A expressão triste em seu rosto veio seguida de um beicinho que chegou a tremer.

— O que posso prometer é estar ao seu lado todo o tempo, segurando sua mão.

— Me leva para a escola?

Ele sabia que o pedido era apenas para fugir de ir ao médico.

— Voltaria para casa, por estar com febre. De nada adiantaria.

— Tenho saudades de Rose… meu coração tem saudades — revelou, com os olhos cheios de lágrimas.

— Eu sei… — Ele a pegou no colo. — Papai também sente falta dela. Em breve estaremos juntos de novo — tentou tranquilizá-la, ainda que ele próprio sentisse medo de Rosalie mudar de ideia e desistisse de voltar.

— E se Rose não voltar? — a pergunta, de repente, foi como soubesse o que ele pensava.

— Ainda teremos um ao outro — respondeu. Olívia deitou a cabeça em seu ombro. Ele beijou sua bochecha e a levou no colo até a cozinha. Deixou-a na cadeira de frente a tigela de mingau que preparou antes de ir buscá-la. — Está uma delícia — garantiu ao perceber que olhava o mingau na tigela. — Papai experimentou.

Olívia pegou um pedaço de mirtilo com os dedos e levou à boca. Depois, uma colherada do mingau.

Emmett aguardou.

— Você gostou? — pediu.

Ela balançou a cabeça.

— Obrigada, papai.

— Por nada, meu anjinho.

Emmett serviu o próprio café da manhã. E os dois comeram, na maior parte do tempo, em silêncio.

[…]

As mãos ao volante a caminho do consultório médico. Olhou Olívia pelo espelho retrovisor interno algumas vezes.  O tempo inteiro ela esteve distraída olhando o lado de fora da janela, abraçada ao cobertorzinho, confortável em sua cadeira. Desejou saber em que estava pensando.

No estacionamento da clínica, ele a retirou da cadeira. Como não estava muito interessada em ir à consulta, precisou carregá-la no colo.

Aguardou na sala de espera, após passar pela recepção. Na sala colorida, que ambos conheciam bem, Olívia não quis saber dos brinquedos, das canetinhas, papel e giz de cera disponível na mezinha. Ou mesmo do desenho que passava na televisão presa à parede pelo suporte. Não saiu do colo do pai. O mesmo aconteceu no consultório, ela ficou o tempo todo grudada ao pai.

Olívia foi examinada. E Emmett voltou responder algumas perguntas. Assim como em outra ocasião, a febre era de cunho emocional. Ela foi medicada e ganhou um pote de massa de modelar na cor que escolheu. Emmett foi aconselhado a voltar com ela, caso apresentasse mais sintomas.

Foi à farmácia buscar o remédio prescrito pelo médico assim que deixou o consultório. Só de sair da clínica, Olívia pareceu mais disposta. Não precisou tomar injeção, o que foi muito bom.

Estavam perto do mercado, quando Emmett resolveu parar para pegar algumas coisas que estavam faltando na despensa.

Olívia ficou sentada no interior do carrinho de compras enquanto o pai empurrava pelos corredores. Ele pegava as coisas na prateleira e Olívia arrumava no carrinho. Deixou que escolhesse o iogurte, cereal e os biscoitos.

Passando em frente à seção de brinquedos, Olívia avistou um balão metalizado com desenhos de unicórnio, rosa.

— Papai — se animou pronta para sair do carrinho de compras. — Posso ter aquele balão? — Estava de pé quando pediu.

Emmett a tirou de dentro do carro de compras. Olívia correu para a seção de brinquedos do mercado, e o pai foi atrás.

— Qual deles você quer?

— De unicórnio. — Pulou com a mão para cima. — Unicórnio, papai. — Ela estava sorrindo outra vez. Naquele momento, o pai pensou ser capaz de levar todos os balões que quisesse só para ver o seu sorriso.

Pegou o balão escolhido por ela e entregou em sua mão. Sorrindo, Olívia agradeceu ao pai:

— Obrigada, papai.

Emmett sorriu de volta. Ela voltou para perto do carrinho de compras saltitante com seu balão novo. Emmett avistou algumas tiaras para crianças com design de unicórnio, e acabou escolhendo uma.

— Ei, Olívia. — A menina olhou para trás. — Olhe o que o papai encontrou.

Olívia voltou interessada no que mostrava.

— Que linda! Eu posso ter esse também?

— Pode, sim. Combina com suas roupas.

Olhou a si mesma. — É mesmo — concordou. Girou sem sair do lugar, rodando a saia de tule. Pôs a mão no unicórnio da blusa embaixo do agasalho branco. — Combina mesmo, papai.

Emmett pôs a tiara em sua cabeça. Olhinhos cheios de amor observaram seu rosto.

— Fiquei bonita?

— Linda! Uma princesa. — Olívia abraçou suas pernas. Ele retribuiu ao abraço como pôde.

— A princesa dos unicórnios — disse ela.

Voltaram para junto do carrinho de compras, e Emmett empurrou até o caixa. Olívia sempre ao lado, acompanhando seus passos. Até ajudou passar as compras pelo caixa.

A levou para casa. Guardou as compras e serviu o almoço. Aferiu a temperatura dela novamente e descobriu que estava normal. Prometeu levá-la ao parque se não tivesse mais com febre, depois de ela pedir, porque se lembrou de Megan ter dito que podia soltar o balão no parque e fazer um pedido.

[…]

Certificou-se de que o agasalho dela estava fechado ao sair do carro. Olívia segurava o balão comprado no mercado. A tiara de unicórnio ainda estava na cabeça, porém, agora os cabelos estavam soltos. Ventava um pouco e isso fazia os fios ruivos se agitarem em volta de seu rosto.

— Pronta? — pediu Emmett.

Ela olhou o balão flutuando preso a haste.

— Pronta — disse.

— Certo. Vá lá e faça o que tem para fazer.

Emmett ficou olhando ela correr até o campo aberto ao lado do playground. Então também foi para lá. Olívia olhou o céu encoberto por nuvens cinza um instante.

— Não vai ficar triste, por soltar seu balão de unicórnio? — perguntou. — Você queria tanto. Podemos comprar outro e voltar aqui outro dia.

— Não, papai. Ele vai flutuar bem alto! Vai levar com ele o meu desejo.

— O que você deseja?

— Um unicórnio fofinho. — Emmett achou graça. Então, ela completou: — E a mamãe Rose de volta, para sempre.

O coração apertou diante a ingenuidade de seu desejo.

Olívia soltou o balão que facilmente foi levado pela corrente de ar frio para longe e cada vez mais alto.

— Desejo um unicórnio fofinho — voltou dizer. — E a mamãe Rose de volta. — Ficou observando o balão até sumir de vista. Voltou para perto do pai, que a pegou no colo.

— O que você quer fazer agora? — perguntou, olhando de perto seu rosto esperançoso.

Ela passou as mãos no rosto, afastando os cabelos que o vento insistia em soprar. Emmett ajudou segurando os fios atrás de sua cabeça.

— Quero ir… — Ela olhou os brinquedos, avaliando. — Quero ir ao escorrega.

Emmett a levou para lá. Deixou-a na escada e ela terminou de subir. Passou pelo túnel chegando ao topo, no minuto seguinte, escorregou. Deu a volta, subiu a escada novamente e voltou escorregar. Emmett esperou se cansar do escorrega e decidir por outro brinquedo. Balançou algumas vezes quando optou pelo balanço.

Por fim, acabou brincando com ela de pega-pega. Eles riam quando sentaram no chão, cansados. Olívia tropeçou ao levantar, e o pai a segurou pela cintura antes que caísse.

— Papai, você fica mais bonito quando sorrir — disse, pondo as mãos no rosto dele, cutucando a barba nas pontas dos dedos.

— Você acha?

— Acho, sim.

— É você quem me faz feliz, sabia?

Olívia sorriu, satisfeita. Juntaram os narizes em um beijinho de esquimó. Olívia voltou a sentar na perna dele. Olhando o horizonte, encostou a cabeça no peito do pai.

— Acho que o balão já está bem longe — avaliou.

Emmett beijou no alto de sua cabeça.

— Muito longe — concordou.

— Podemos ir para casa agora, papai?

— Já brincou bastante?

Ela ergueu a mão para trás cutucando a barba.

— Uhun.

Emmett fingiu morder sua mão, e ela sorriu.

A colocou de pé. E juntos começaram caminhar de volta para o carro. A mão pequena alcançou a sua. Olívia ajeitou a tiara na cabeça. Depois mostrou ao pai o esquilo em cima da mesa de piquenique.

[…]

As roupas sujas foram colocadas no cesto ao lado da porta. Olívia soprava bolinhas de sabão na banheira, enquanto Emmett lavava seus cabelos. Fechou os olhos durante o enxágue para protegê-los.

— Você pode brincar mais um pouco. Papai vai tomar banho agora. — Ela pediu a Barbie sereia, em cima da bancada da pia, e Emmett lhe entregou antes de sair.

Tomou banho na suíte. Quando voltou ao banheiro no corredor, Olívia ainda brincava na banheira.

— Precisa sair agora, filha.

— Papai, minhas mãos estão enrugadas. Olha! — Ela ergueu as mãos para ele ver.

— Tem muito tempo que está aí. — A enrolou na toalha e tirou da banheira, deixando que ficasse em cima do tapete. Olívia enxugou os pés. E o pai esvaziou a banheira. — Vá se vestir. Depois o papai seca seus cabelos.

— Tá bom. — Esfregou a ponta da toalha no rosto e saiu do banheiro.

[…]

Emmett organizava a cozinha após o jantar, com Olívia sentada na ilha, brincando com algumas peças de lego. Uma delas caiu no chão. Ela olhou para baixo, para ver onde tinha ido parar.

— Esse chão está brilhando, papai — comentou.

Emmett parou com o esfregão para recolher a peça que deixou cair.

— Obrigada, papai! — Pegou a peça juntando as demais.

— Cuidado, não chegue tão perto da beirada.

— Rose vai telefonar hoje, papai?

— Acredito que sim.

— Vai demorar?

— Em uma hora, talvez um pouco mais.

Ele recolheu o balde e o esfregão e foi ao porão. Olívia guardou em cima da ilha até ele voltar.

— Me pega, papai?

Emmett chegou ao lado da ilha, e Olívia se pendurou em suas costas. Ele a segurou firme. Fazendo-a gargalhar ao correr enquanto fingia ser um cavalo. O som da gargalhada dela era um dos sons de que ele mais gostava. Entrou no banheiro deixando ela na escadinha diante a pia. Olívia se segurou em seu braço ainda gargalhando.

— Cavalo doido — disse entre risos.

— Vamos escovar os dentes agora.

Olívia pôs sua tiara na cabeça do pai.

— Agora você é um unicórnio, papai.

Emmett se olhou no espelho.

— É meu unicórnio fofinho — completou.

— Preferia ser um urso, mas é de unicórnios que você gosta.

— Unicórnio fofinho — repetiu Olívia.

Os dois escovaram os dentes diante o espelho. A tiara de unicórnio na cabeça de Emmett, arrancando olhares divertidos de Olívia.

[…]

Rosalie chegou ao bar do hotel onde está hospedada procurando pelo pai. Algumas horas atrás ele telefonou marcando de se encontrarem lá. O avistou de costas, na banqueta, com um copo de bebida na mão. Aproximou-se imaginando o que tinha para dizer.

— Oi, papai — falou. Geoffrey se virou deixando o copo no balcão. — Desculpe a demora — pediu Rosalie. — Estou encerrando algumas questões. Estava na rua quando me ligou.

— Você tem um tempo agora?

— Sim. — Ela sentou na banqueta ao lado da dele. E pediu ao bartender água com gás e limão.

— Como você está? — Geoffrey demonstrou interesse.

— Um pouco surpresa. — Olhou para o lado, tomou um gole da água com limão e continuou: — Minha mãe sabe que está aqui?

— Não falei com ela. A verdade é que me sinto mal com toda essa situação que tem passado…

Rosalie ficou olhando no rosto dele aguardando o que diria a seguir.

— Não quis te pressionar. Dei o tempo que precisava… Só que você voltou e não quis ficar na sua casa.

Rosalie sentiu o nó na garganta ao dizer:

— Não me sinto em casa… Talvez nunca tenha me sentido, de fato.

 Geoffrey segurou sua mão.

— Sei que não fui o pai que merece. Cometi muitos erros. Permiti que sua mãe estivesse no controle de tudo. Talvez por causa disso a nossa família tenha chegado ao ponto que estamos.

Rosalie meneou a cabeça.

— Você é minha filha, e eu te amo. Não posso ver você por aí tentando se restabelecer e não fazer nada para ajudar.

Os olhos de Rosalie marejaram.

— Dorothy foi sempre muito exigente. Especialmente com você. Não deveria ter sido tão omisso. Teria evitado muita coisa de acontecer. Dediquei-me demais ao trabalho. Falhei com você e sua irmã. Eu entendo que não queira voltar a se submeter aos caprichos de sua mãe. Mas também não posso aceitar que fique em um quarto de hotel. — Apalpou os bolsos do paletó, até encontrar o que procurava. — Quero que fique em um lugar que seja seu.

Rosalie olhou as chaves, esperando terminar o que dizia.

— É a chave de seu apartamento.

— Não tenho um apartamento.

— Agora tem. Só preciso que vá ao escritório para assinar os documentos.

— Eu agradeço muito — começou Rosalie. — Mas não tenho planos de ficar na cidade por muito tempo.

Geoffrey a olhou como não entendesse.

— Minha felicidade não está aqui.

— O que quer dizer?

Rosalie segurou as mãos do pai.

— Em Edenton eu me encontrei. Descobri meu lar. Fui muito feliz enquanto estive por lá.

— Você se apaixonou — Geoffrey sorriu.

Rosalie sorriu de volta. Soltou as mãos dele e limpou os olhos.

— Me apaixonei por uma garotinha órfã de mãe, depois pelo pai dela. Olívia entrou em meu coração ao primeiro olhar. Não sei mais viver longe deles.

— Apoiarei qualquer decisão sua. Se acha que sua felicidade está em Edenton, então é para lá que deve voltar. Só não aceito que recuse o apartamento. Mesmo que não fique em Atlanta, ele ainda é seu. Use como e quando quiser.

Rosalie o abraçou meio sem jeito. Enquanto se afastava, ele completou:

— Espero ser bem-vindo a sua nova vida.

Ela voltou abraçá-lo.

— Obrigada, papai.

Geoffrey beijou seu rosto.

— Essa garotinha e o pai dela tem muita sorte. É possível que eu nunca tenha dito o que vou dizer agora. Tenho muito orgulho da mulher que se tornou. Seu avô não é o único.

Rosalie apertou sua mão. Geoffrey sorriu.

— O que foi? — Rosalie pediu.

— Sua mãe vai enlouquecer. Está fazendo o caminho reverso ao que um dia ela fez.

Rosalie se virou para o balcão, pegou o copo e encostou aos lábios tomando um pouco mais da água com limão.

— Mamãe teve a chance dela. Fez as próprias escolhas. Não vou mais permitir que domine minha vida. Que dite cada passo meu. Isso acabou. — Ela deixou o copo no balcão. Olhou o pai ao lado.

Geoffrey pegou a bebida que tomava quando chegou ao bar mostrando-se satisfeito com o que ouviu dizer. 

 


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