Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 37
Capítulo 36 — Difícil Despedida


Notas iniciais do capítulo

Graziella Marie e Anna Bomfim, esse capítulo é especialmente para vocês. Espero muito que gostem. Amei a recomendação que ambas fizeram. Obrigdaaaaaaaaaa!!

Desejo a todos uma boa leitura.



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Rosalie saiu pouco depois do café manhã, para se organizar, com a promessa que voltaria mais tarde para colocar Olívia na cama uma última vez antes de seu retorno a Atlanta. Convidou pai e filha a irem à casa de Norman, porém, Emmett recusou o convite, mesmo querendo estar com ela, mantê-la por perto cada segundo restante, para que o avô também tivesse a chance de estar em sua companhia.

Emmett desceu até o porão para transferir o cobertorzinho de uma máquina a outra, e descobriu que seu tom real era um lilás clarinho. Ficou assustado com quanto à cor havia mudado. Ainda estava morno quando subiu a escada do porão para entregar o cobertorzinho a Olívia.

— Advinha só — comentou, chegando perto da menina, que assistia desenho animado na televisão da sala. — Já pode ter o cobertorzinho de volta.

Olívia se animou, ficando de pé no estofado, aguardando. Foi angustiante esperar por todo o processo de limpeza e secagem.

— Cadê? Cadê? — pediu aos pulos. — Onde está?

Emmett estendeu o cobertorzinho em sua direção. O aroma de limpeza e amaciante exalando no ar.

— Aqui está — disse. — Já nem me lembrava de que essa era a cor real dele.

Como duvidasse que fosse o mesmo cobertorzinho, Olívia avaliou todo ele ainda nas mãos do pai.

— Não é ele — concluiu.

— É o mesmo que colocou na máquina de lavar. Esta é a cor verdadeira dele, você não se lembra?

A menina balançou a cabeça, negando.

— Segure para você sentir. Está muito macio e perfumado.

Olívia se mostrou receosa ao estender a mão e segurar aquele que foi, por muito tempo, sua melhor companhia.

— Está macio — avaliou, cheia de desconfianças.

Emmett foi cauteloso ao repetir:

— Muito macio. — Estudou a reação dela. Viu encostar o cobertorzinho ao rosto sentindo sua maciez e o perfume.

Olívia pensou ser cheiroso, ainda assim, não era igual. A textura e perfume tornaram-se outros. Uma enorme sensação de vazio lhe ocorreu. O novo cheiro não significava nada. Não remetia conforto ou segurança. Não o sentia mais seu. Foi como o cobertorzinho que segurava agora pertencesse à outra criança.

Devolveu-o ao pai. Emmett se preocupou ao ver tristeza em seu rosto. Olívia voltou se sentar no canto do sofá com a cabeça baixa. Ele a observou segurando o cobertorzinho que ela não reconhecia como seu.

— Amorzinho — chamou.

Olívia escondeu o rosto entre o encosto e o braço do sofá.

— Esse não é o meu cobertorzinho — choramingou.

Emmett sentou ao seu lado. Ela estava chorando. Afagou seus cabelos, pensando o que poderia dizer para se sentir melhor.

— Olívia. Amorzinho? — ouviu soluçar, e se encolher ainda mais no canto do sofá. — Este é seu cobertorzinho. Está com aparência e cheiro diferente, mas ainda é ele.

— Não — ela se negou aceitar. — Não é assim que ele cheira. Por que você fez isso, papai?

Emmett fez carinho em suas costas.

— Foi sua a decisão de lavá-lo, anjinho. Papai só ajudou.

Ela levantou o rosto molhado de lágrimas para falar com ele:

— Eu queria que a vovó e a Rose ficassem felizes. E você também, papai.

— E agora você está triste — concluiu. — Não queria que ficasse triste, por isso quis que fosse ao seu tempo. — Ele a pegou no colo. — Venha com o papai. — Olívia se encolheu escondendo o rosto no peito dele. — Em alguns dias estará outra vez com o cheiro parecido ao que era antes de a gente lavar. — Devolveu o cobertorzinho a ela. Olívia segurou perto do rosto, mas não parou de chorar.

Emmett permaneceu com ela no colo até que estivesse mais conformada com o novo perfume do cobertorzinho. Mais do que ninguém sabia o que estava sentindo. Nem tudo era fácil se habituar, especialmente se está ligado de forma tão forte ao emocional. Foi um longo tempo de choro ininterrupto. A hora do almoço chegou e passou. Emmett começava sentir fome.

— Olívia — chamou —, o que você acha de sair com o papai para comer um lanche?

— Quero ver a Rose…

Emmett afagou seu rosto manchado de lágrimas secas.

— Rose virá ao entardecer.

Um gemido desgostoso deixou os lábios de Olívia.

— Quer comer hambúrguer?

— Com batatas fritas? — arriscou ela.

Um sorriso se formou nos lábios de Emmett.

— O que você quiser.

— Refrigerante também?

— O que quiser — repetiu ele.

— Depois vamos ao parquinho?

— Vamos, sim.

Braços miúdos envolveram o seu pescoço. Emmett retribuiu o pequeno abraço pensando o quanto a amava. A mão pequena alcançou sua barba e, no rosto delicado, ele encontrou um quase sorriso.

— Te amo! — ele lhe disse. E, propositalmente, esfregou a barba no rostinho dela. Olívia se encolheu, o riso se formando. Havia conseguido, ela estava sorrindo outra vez.

[…]

Sentados à mesa de piquenique no parque pai e filha terminavam as batatas fritas do lanche retirado no drive thru de um fast-food local.

Um casal com duas crianças entre seis e três anos também estavam no parque. O menino mais velho escalava o brinquedo e então descia no escorregador. O segundo ia de um lado a outro, embaixo da estrutura, com os adultos vigiando seus passos.

Olívia levou a última batata frita à boca lambendo os dedos sujos de ketchup ao final. Emmett prestava atenção a tudo, encantado com o que aprendia sobre a filha a cada dia, desde que se permitiu.

— Posso ir ao escorrega agora, papai?

Emmett olhou para ter certeza que podiam usar o brinquedo. A criança menor descia o escorrega, e a mulher, que imaginou ser a mãe, esperava por ela no final.

— Ele ainda está ocupado.

— No balanço então, papai?

Emmett olhou para lá.

— O balanço parece livre.

Olívia se preparou para descer do banco onde estava ajoelhada.

— Antes vamos deixar tudo isso no lixo — ele se referia as embalagens vazias de comida. A menina o ajudou recolher tudo. A caminho do balanço, deixaram na lixeira.

Olívia correu até o balanço, agarrando com as mãos as correntes ao subir.

— Vem, papai! — se agitou a fim de tomar impulso e fazer o balanço voar.

— Espere. Já estou chegando. — Ele apertou o passo chegando mais rápido até ela. Segurou nas correntes bem acima de onde estavam as mãos da menina. — Preparada?

Olívia inclinou o pescoço ao olhar para ele.

— Bem alto, papai — pediu.

— Segure firme — orientou. — Está segurando?

— Sim, papai.

— Lá vai! — Empurrou uma primeira vez. Não pôde conter o riso diante a alegria que ficou a menina.

— Mais alto, papai.

Emmett empurrou uma segunda vez e o balanço foi ainda mais alto.

Olívia sentiu a brisa fria acariciar o rosto. O sorriso se alargando. Inclinou o pescoço para trás, os cabelos soltos soprados pelo vento, as pernas se erguendo no ar. O olhar focado no céu, avaliando as nuvens cinza. Imaginou o céu azul e um lindo arco-íris cruzando todo ele. Pensou na amiga imaginária, lá do alto, acenando para ela. Sentiu-se leve como pudesse verdadeiramente voar.

Emmett empurrou o balanço mais duas vezes. Então deixou que parasse por si só. Os pés de Olívia tocaram o chão, instantes após o último impulso. O sorriso ainda estampado no rosto.

— Foi muito legal, papai.

— É? — Ele sorriu de volta. Notando o escorrega vazio, avisou: — Já pode ir ao escorrega agora. — A menina saltou do balanço. Imaginou que fosse correr ao brinquedo que queria desde que chegaram, em vez disso, se colocou ao seu lado, segurando sua mão. O rosto inclinado para olhar no seu.

— Vem comigo, papai. É muito mais divertido quando você brinca junto.

O amor incondicional pulsava forte no peito de Emmett. Reconheceu ser capaz de qualquer coisa por Olívia. Por seu sorriso e risadinhas.

Foi de mãos dadas com ela até o escorrega. Pôs ela no alto, poupando da subida. Olívia se colocou na entrada do túnel escolhendo o melhor momento para escorregar.

— Pode vir — o pai gritou. Ela escorregou direto para seus braços. Levou-a outra vez no alto do brinquedo, e ela repetiu a descida parando em seus braços novamente. Fez isso mais três vezes até ela se cansar e decidir brincar com outra coisa.

Saindo do parque não resistiu em passar na rua da casa de Norman.

— Nós vamos à casa do vovô Nor? — perguntou reconhecendo o trajeto.

— Estamos somente de passagem.

— Será que Rose está do lado de fora da casa? — tentou Olívia.

Era o que Emmett também queria, mas não disse isso a ela.

Nas proximidades da casa de Norman, Olívia se inclinou no assento buscando ver melhor o lado de fora. A velocidade do carro foi reduzida. Mesmo assim, avô ou neta não foram vistos. O provável era que estivesse fazendo as malas, pensou Emmett.

— Já está na hora de Rose ir à nossa casa, papai?

— Ainda não.

Ela voltou se sentar com as costas apoiadas corretamente.

— Papai.

— O que foi amorzinho?

— Vamos brincar e passear mesmo quando Rose não estiver mais aqui?

Emmett se concentrou um instante em olhar para ela pelo espelho retrovisor interno.

— Você não precisa se preocupar. Nada vai mudar.

— Estou cansada — contou. — Acho que vou tirar um cochilo agora.

— Tudo bem. Papai avisa quando estivermos em casa. — Virou o rosto a tempo de vê-la fechar os olhos e a cabeça inclinar para lado direito. O cobertorzinho, com perfume de amaciante, nas mãos. — Ei, Olívia? — Ela abriu os olhos de leve. — Papai te ama muito. — Um sorriso preguiçoso marcou o rosto sonolento.

— Amo muito você também, papai — respondeu.

— Nunca mais irei abandonar você — prometeu uma vez mais.

Chegando em casa, retirou Olívia ainda dormindo do carro, a levou até o sofá da sala e colocou a manta sobre ela. Deixou-a tirando o cochilo e foi tomar banho, imaginando que horas Rosalie chegaria.

Foi durante o preparo do jantar que ela chegou. Ouviu a porta da frente abrir e, mesmo antes de Olívia entregar, soube que era Rosalie. Ficou ansioso por vê-la, muito mais que o normal. Talvez por se tratar das últimas horas que teriam juntos, antes de ela voltar a Atlanta.

Olívia foi encontrá-la, carregando o cobertorzinho consigo.

— Rose — chamou.

— Oi, minha pequena. — Rosalie se dobrou ao cumprimentá-la com um beijo no rosto.

— Olha! — Mostrou o cobertorzinho. — Não está mais como antes.

Rosalie percebeu que o cobertorzinho não estar como antes a deixava triste.

— Oh, meu amor. Não fique assim. Em alguns dias terá novamente o cheirinho que você conhecesse.

— Papai disse isso também.

— O papai está certo. — concordou Rosalie. — Por falar nele, onde está?

— Na cozinha, preparando nosso jantar.

— Por isso esse cheiro tão saboroso? — Olívia sorriu para ela. — Trouxe a sobremesa. — Mostrou a vasilha no aparador onde deixou ao retirar o agasalho.

— O que é? — Olívia avaliou a vasilha à distância. Rosalie foi pegar e entregou nas mãos dela. Olívia pendurou o cobertorzinho no ombro para que as mãos ficassem livres.

— Torta de maçã — disse Rosalie. — Feita especialmente pelo vovô Norman.

— Hummmm… que delícia.

— Eu sabia que iria gostar.

— Vem, Rose! — chamou. — Vamos à cozinha ver o papai.

Rosalie a seguiu de perto.

— O que vocês fizeram depois que eu saí?

— A gente foi no parque. — Olhou para trás buscando sua presença. — E comemos um lanche muito delícia que o papai comprou.

— Ah, é?

— Também passeamos de carro. Até passamos na frente da casa do vovô Norman. — Ela dizia essa parte bem quando chegavam à cozinha.  O olhar de Rosalie cruzou com o de Emmett. Ele retirou o assado do forno, sorrindo sem graça.

— Por que não pararam? — perguntou a menina, porém, avaliando a expressão no rosto do pai. Olívia deu de ombros e foi deixar a sobremesa em cima da mesa.

— Janta com a gente? — Emmett convidou, levando o assado ao centro da mesma.

— O aroma está maravilhoso — avaliou Rosalie. — Não tem como recusar.

Ao retornar, parou um instante, beijando nos lábios dela. Como sempre acontecia, Olívia ficou sorrindo vendo os dois juntos.

— Quer ajuda? — ofereceu imediatamente se movimentando entorno da ilha.

— Eu agradeço. Mas, quero que fique quietinha aí. As duas — completou de olho na criança.

Rosalie sentou em uma das banquetas.

— Não vamos discutir.

Olívia chegou pertinho, então a colocou no colo. Beijou o ombro da menina, e, com ela se contorcendo, fez cócegas.

Emmett parou observando a cena. Imaginando como seria a partir de amanhã, quando Rosalie não estivesse mais na mesma cidade, tão pertinho deles. Sentiu medo. Não por ele, mas, pela criança. Mãe e filha escolhidas pela vida, e que o destino fez questão de unir.

Terminou de arrumar a mesa, ouvindo as duas riram.

Após o jantar, os três foram para a sala e deram início a um jogo de mímicas. Rosalie fez o possível para a última noite com eles ser o mais agradável possível. Podia dizer que estava conseguindo, porque, o corpo grande de Emmett sacudiu com gargalhadas ao tentar adivinhar as mímicas feitas por Olívia. O brilho nos olhos da criança e as risadinhas constantes. Ainda que, algumas vezes, o aperto no peito insistisse aparecer lembrando que em algumas horas iria deixá-los.

Ao primeiro sinal de Olívia estar cansada, a levou para cama. Pegou o livro para aquela que seria a última leitura antes de se despedir. Como quisesse adiar o amanhã, Olívia insistiu que continuasse lendo, por isso, ao deixar o quarto, a menina estava dormindo e Emmett não conseguiu dar continuidade a leitura.

— Ela aguentou até onde pôde — comentou Rosalie encontrando com ele no corredor, recostado à parede. Chegou mais perto envolvendo a cintura dele com os braços. Sentiu quando beijou no alto de sua cabeça.

— Estava adiando que amanhã chegue — ele foi quem falou.

— Eu sei — aceitou Rosalie num tom de melancolia.

— Gostaria poder fazer isso por ela. Fique aqui essa noite — ele pediu. — É nossa última noite juntos. — Levou a mão ao queixo dela sugerindo que olhasse em seus olhos. Percebendo que, mesmo sendo uma decisão dela, a despedida, estava infeliz. Rosalie inclinou o rosto esperando por seu beijo. Aproximou o rosto devagar, unindo seus lábios de um jeito cuidadoso. Permitindo os sentidos aflorarem. O desejo ao nível de explodir, tomando o ar dos pulmões. Ele a queria tanto quanto ela a ele. E ele lhe daria uma noite de despedida pela qual se lembrar. Tomou-a em seus braços seguindo pelo corredor, desaparecendo na suíte ao fechar a porta com o pé.

[…]

Acordou com o vazio na cama e um bilhete em cima do travesseiro. O cheiro do perfume dela estava no papel da mesma forma que nos lençóis e em cada centímetro de sua pele.

Leu o bilhete para descobrir que foi buscar as malas na casa do avô e voltaria para se despedir.

Encontrou uma pulseira de brilhantes perdida sob o emaranhado de lençóis quando arrumava a cama. Guardou no bolso para devolver depois. Após ter tomado banho, devidamente apresentável, foi ver como estava Olívia. A primeira coisa que fez ao abrir os olhos foi lançar os braços ao redor de seu pescoço. Sabia que estava triste por ser o dia de Rosalie voltar à cidade de origem. E ele também estava.

Ajudou se trocar. E trançou seus cabelos ruivos. Depois de se olhar no espelho, a menina o agradeceu com o costumeiro abraço. Mas faltou empolgação e o sorriso que já estava habituado a receber todas as manhãs.

— Quando a Rose vai chegar?

— A qualquer momento.

— Vou ter de ir à escola hoje?

— Talvez um pouco mais tarde. Vamos tomar café agora?

— Não tenho fome, papai.

— Tente comer mesmo que um pouquinho.

— Papai.

— Oi, amorzinho?

— Me pega no colo?

Assim que Emmett a pegou, ela deitou a cabeça em seu ombro. Ele afagou suas costas ao sair para o corredor. O cobertorzinho foi com ela. Já na cozinha, deixou a menina sentada na banqueta e, mesmo dizendo não querer, se dedicou preparar mingau de aveia. Sentiu falta da alegria que vinha transmitindo recentemente. Até fez um rosto feliz com morangos e mel em cima do mingau. Pôs o prato diante dela, e aguardou sua reação.

— Um mingau sorridente, papai.

Emmett sorriu ao ver que conseguiu um singelo sorrido seu, mesmo estando tão triste com a partida de Rosalie.

— Você gostou?

Ela balançou a cabeça, se preparando para pegar a colher. Emmett ficou ali, no outro lado da ilha, comendo torrada e ovos mexidos. Às vezes, olhando Olívia levar a colher de mingau à boca.

Enquanto arrumava as coisas na cozinha, Olívia foi esperar por Rosalie na sala, espiando o tempo todo pela janela através do vidro manchado.

[…]

Norman ajudou levar as malas até o carro. Rosalie parou diante o avô, após fechar o porta-malas.

— Então é isso — disse.

— Tem certeza? — tentou Norman.

— Preciso fazer isso, vovô.

— O que significa que não é o que quer.

Ela se apressou em abraçar o avô.

— Te amo — disse. — Fica bem.

Norman balançou a cabeça, disfarçando a emoção.

— Não é para chorar vovô. Não é uma despedida definitiva.

Norman lhe beijou o rosto.

— Foi muito bom ter você aqui durante esse tempo, minha neta querida.

— Adorei sua companhia, vovô. Adorei estar na sua casa.

— Volte sempre que quiser, está bem?— Então foi a vez de Rosalie sacudir a cabeça tentando disfarçar as emoções. — Não permita ninguém ameaçar sua felicidade. Se sentir que não está em Atlanta, faça as malas. Sabe o caminho de volta.

Deram-se mais um abraço antes de Rosalie entrar no carro.

— Tchau, vovô — acenou pela janela. — Amo muito você.

[…]

Olívia avistou o carro se aproximando na entrada de veículos.

— Rose chegou! — Se apressou indo até à porta. Lutando em abrir, na agonia de ver Rosalie antes de ela partir. Emmett se colocou atrás de suas costas ajudando vestir o agasalho.

Rosalie saía do carro bem quando abriu a porta. Olívia não correu para os braços dela como pensou que faria. Em vez disso, caminhou ao seu lado. Em alguns momentos, precisou incentivá-la ir em frente. Estava agindo como temesse o momento.

— Ollie — Rosalie chamou. Acabou com a distância entre elas indo à sua direção. A um passo uma da outra, se abaixou ficando na mesma altura da menina. — Não vai me dar um abraço?

Receosa, Olívia a abraçou. Rosalie abraçou apertado, guardando seu cheirinho na memória.

— Te amo, minha pequena. Vai ficar tudo bem. Confie em mim. — O abraço foi desfeito restando a Olívia o aconchego somente do cobertorzinho. Os olhos cheios de lágrimas. Rosalie se colocou de pé, olhando então onde Emmett estava. Parecia triste, mas, firme na promessa de ser para a filha o pai que ela merecia e precisava. Tomou a iniciativa em abraçar ele. — Isso não é um adeus — murmurou.

Emmett encostou os lábios em sua têmpora.

— Vou sentir sua falta — desabafou.— Meus Deus, e como vou sentir.

— Cuide bem dela.

— Pode deixar. Ah! — lembrou, pondo a mão no bolso — Esqueceu na minha cama. — A mão dela encostou-se à sua, fechando seus dedos ao redor da pulseira.

— Guarde com você para quando eu voltar.

Ele levou a outra mão a cobrir a mão que envolvia a sua. Beijou seus dedos, meneando a cabeça ao se afastar, guardando outra vez a pulseira no bolso.

Rosalie se virou novamente para a menina. O coração apertado.

O rosto de Olívia úmido de lágrimas. As palavras a seguir deixaram os lábios, prejudicadas pelos soluços.

— Não quer ser minha mamãe?

As lágrimas no rosto da menina tornaram-se suas lágrimas.

Pegou Olívia no colo.

— No meu coração, sou sua mamãe. Nada vai mudar o que eu sinto. Te amo, para sempre.

— Então não vá embora!

— Vamos nos encontrar de novo, amorzinho. — As duas permaneceram abraçadas um instante antes de Rosalie colocá-la de volta no chão. — Te amo — voltou dizer. — Irei te ligar à noite, antes de você dormir. Seu pai vai usar o notebook para a chamada de vídeo. Disse que o celular dele não serve para essas coisas. Que é ultrapassado — brincou. Passou a mão no rosto da menina, limpando as lágrimas.

Emmett se aproximou, pegando a filha no colo. Rosalie abraçou os dois ao mesmo tempo. Beijou de leve os lábios de Emmett, depois a bochecha da menina.

Resistindo ao impulso de ficar, se apressou ir até o carro.

— Amo muito vocês — se despediu com as mãos ao volante, olhando pai e filha pela janela do carro. No minuto seguinte, ficava cada vez mais distante da pequena família que o coração acolheu.

Olívia deitou a cabeça no ombro do pai. Tão triste quanto ao dia que Rosalie chegou a Edenton. Quando ainda não tinham conhecimento uma da outra.

— De novo eu fiquei sozinha — sussurrou. — Sem a minha mamãe. — Suas lágrimas molharam a camisa de Emmett.

A mão grande dele afagou suas costas.

— Não ficou não. Papai está aqui. Vou estar ao seu lado, para sempre. Pode confiar no que eu digo.

Mesmo após voltarem para dentro de casa, Olívia permaneceu chorando. Emmett ficou um tempo com ela no colo cuidando para que não se sentisse sozinha. Exausta, depois de muito chorar, acabou dormindo. Não teve como mandá-la à escola depois de como ficou. Pelo mesmo motivo, não conseguiu ir trabalhar. O almoço foi servido no meio da tarde, ainda assim, Olívia não levantou para comer.

[…]

Mesmo tendo dirigido por mais de sete horas, Rosalie foi direto ao local de trabalho adiando o momento de encontrar a família. Isabella telefonou mais de uma vez, querendo saber quando poderia encontrá-la.

Sentia como houvesse se passado uma vida desde que fez as malas e saiu da cidade fugindo da bola de neve que se tornou sua vida, após descobrir a traição.

Era começo de noite quando chegou. A amiga estava na frente da casa aguardando. Só foi perceber no momento que Isabella se pôs na frente do carro. Pisou firme no freio, o corpo foi impulsionado à frente e puxado para trás pelo cinto de segurança.

— O que é isso? — se precipitou, sem entender o que aconteceu realmente. Isabella foi até a janela, batendo no vidro pedindo para abrir. — Você perdeu o juízo? — questionou ao fazer o que pedia.

— Você por acaso está fugindo de mim? — Isabella acusou.

— Por que eu faria isso?

— Me diga você.

— Não tenho nada a dizer.

— É brincadeira, não é? Quero saber tudo que aconteceu. Tudo sobre você e o viúvo gostosão com quem estava vivendo um romance.

— Você já sabe.

— Recusou minha chamada de vídeo. Foi para eu não ver que estava arrasada.

— Estava cuidando de assuntos de trabalho.

— Entendo que é importante resolver essas questões. Agora, voltar a essa casa. Tudo bem que é a casa onde cresceu, mas…

— Senti falta desse seu jeito doido e agoniado.

A amiga sorriu.

— Senti falta de minha amiga. Mas, é importante que saiba, chuto seu traseiro para voltar aos braços da família que realmente te ama, se preciso for.

— Não vou ficar nessa casa. Vou para um hotel até resolver minha vida aqui em Atlanta.

— Você pode ficar no meu apartamento.

— Não quero atrapalhar.

— Você sabe que seu lugar não é aqui.

— Não, não é.

— Não estou me referindo a esta casa. Atlanta, não é onde você quer estar. Consigo ver nos seus olhos que não está feliz em voltar.

— Foi muito difícil deixá-los. Especialmente a minha menina.

— Abra a porta desse carro, para eu poder chutar seu traseiro agora mesmo.

Rosalie meneou a cabeça.

— Vou estacionar e sair do carro, mas não para fazer isso aí que está dizendo. É para você entrar na casa comigo.

— Não sei se estou a fim de olhar na cara de sua mãe. Ela me dar nos nervos. Mas já que é para te ajudar.

No interior da casa de ambientes amplos, em tons claros, subindo a sinuosa escadaria com design em caracol, degraus brancos com os guarda-corpos vazados em aço se destacavam. No alto, o lustre com linhas igualmente sinuosas e elementos que se assemelhavam cristais complementa um conjunto de puro luxo.

Rosalie ouviu o pai chamar seu nome.

— Rose? — surpreso em vê-la. Não fazia ideia que estava voltando para casa.

Rosalie olhou para baixo, mantendo as mãos no guarda-corpo, com Isabella alguns degraus abaixo.

— Oi, pai.

Ouviu a voz da mãe, vindo de algum lugar.

— Rose? Você disse Rose?

Rosalie avistou a figura da mãe ao entrar no cômodo. Sempre impecável em seus trajes de grife, e gestos calculados. Dorothy avistou Rosalie no alto da escada.

— Resolveu aparecer — lançou num tom de acusação. — Se cansou de brincar de netinha favorita e daquela casa horrível?

— Aquela casa foi onde você cresceu.

— Infelizmente — retrucou Dorothy.

— Não deveria se referir a casa onde cresceu dessa forma.

— E você? Não te criei para se esconder naquela casa.

— Naquela casa, como gosta de se referir, descobri que posso ser feliz.

— Bobagem. Tudo isso é bobagem. Deveria estar aqui para o casamento de sua irmã. Ingrata, isso que você é.

O comentário fez Rosalie jogar a cabeça para trás, completamente indignada.

— Não comece com isso — disparou Isabella, que até então apenas ouvia calada. — Ninguém aguenta mais.

— Insolente. — Dorothy se queixou. — Espero que essa seja a última vez que tenho o desprazer de sua presença em minha casa.

— Não se preocupe — Rosalie foi quem respondeu. Tomou a mão da amiga na sua, puxando escada acima.

— Não merece a filha que tem — Isabella respondeu de volta.

Uma vez no quarto, Rosalie lembrou:

— Está provocando a fera.

Isabella riu como não importasse. Rosalie acabou rindo com ela.

— Você me faz rir nos piores momentos.

— Amiga é para essas coisas.

Rosalie foi pegando algumas coisas que precisava e pondo em malas que retirou do closet, mesmo enquanto conversavam.

— O que pensa que está fazendo? — Era Dorothy na porta do quarto.

— Vou embora de vez dessa casa — Rosalie comunicou.

— Não vai fazer isso — Dorothy quase gritou.

— É claro que vou. — Rosalie pôs mais coisas na mala. — A partir de agora decido o que é melhor para mim. Não permitirei que continue controlando minha vida. Não sou mais criança há muito tempo. Experimentei viver por mim mesma nas últimas semanas e foi a melhor coisa. Descobri que posso ser feliz.

— Não diga bobagens.

— Não são bobagens.

— Você não vai sair dessa casa.

Rosalie fechou a primeira mala.

— Me desculpe mamãe, mas eu vou sim.

— Se sair por essa porta…

— Dorothy — Rosalie ouviu o pai alertar. — Não termine o que está pensando em dizer. — Era a primeira vez que ia contra a esposa.

— Ficar naquela casa, cheirando a mofo, com meu pai caduco, fez você perder o juízo.

Rosalie pegou uma mala, e Isabella, outra.

— Estou dizendo para não sair dessa casa, Rosalie. Ainda sou sua mãe.

— Tchau, mamãe. — Saindo para o corredor, encontrou o pai. — Tchau, papai.

— Pode sempre voltar. Essa ainda é sua casa.

Rosalie sentiu os olhos arderem acumulando lágrimas. Pela primeira vez, Geoffrey estava apoiando que tomasse as próprias decisões. Não conseguiu evitar o abraço que deu nele.

— Obrigada por me apoiar.

— Não sei o que fez em Edenton. Mas, uma coisa eu posso afirmar, ficar lá durante esse tempo fez muito bem a você — disse ele. — Não importa o que sua mãe diga, seja você mesma. Avise-me quando se instalar para eu poder te visitar.

— Claro que sim.

[…]

Durante o jantar, Olívia esteve quieta e mal se alimentou. Norman ligou mais cedo para saber como estavam.

Acabando de organizar a cozinha, Emmett subiu a escada e foi encontrar Olívia chorando dentro do closet, onde também estava o violoncelo.

Agachou-se pegando a menina no colo.

— Arco-íris não quer voltar, papai — choramingou. — Não quer voltar.

— Está tudo bem, amorzinho. Papai está aqui. — Sentiu ela febril. Imaginou que fosse de cunho emocional, como aconteceu outras vezes, em ocasiões que se sentiu muito triste. Deitou-a na cama. — Vai dormir aqui com o papai essa noite — disse. Puxou o cobertor encobrindo-a para não sentir frio.

Buscou o medicamento para baixar a febre.

Deitou junto a ela na cama, com o notebook ao lado, aguardando o momento de falar com Rosalie por chamada de vídeo.

 


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Notas finais do capítulo

;)