Sadie esfregou os olhos se espreguiçando na cama. Algumas poucas semanas haviam se passado desde a breve reunião com os amigos no restaurante mexicano. Nesse meio tempo, Nico e Will haviam voltado para os Estados Unidos e o dia a dia voltou ao seu ciclo normal. Era final de semana, mais especificamente domingo, e Percy e Annabeth tinham convidado algumas pessoas para conhecer o seu pequeno pacotinho de amor. Alguns dos amigos do grupo que moravam nos Estados Unidos já tinham ido conhecer o pequeno Colin, mas alguns, como Sadie e Anúbis, acharam melhor esperar alguns dias já que ele era apenas um recém nascido.

O barulho do chuveiro chegou até os ouvidos de Sadie enquanto Anúbis tomava banho. Ela se sentou na cama não se sentindo muito bem e logo culpando a pizza que havia comido no dia anterior pouco antes de ir para cama. Mas não pode evitar, não era todo dia que conseguia convencer seu noivo egípcio milenar à assistir O Retorno da Múmia. Um acompanhamento gostoso pareceu-lhe bem válido.

A jovem saiu da cama quando Anúbis saiu do banheiro enrolado da cintura pra baixo na toalha e, sem pensar duas vezes, ela foi até ele e o abraçou de olhos fechados ainda bem sonolenta.

— Bom dia - respondeu ele abraçando-a de volta e dando um beijo no topo da sua cabeça.

— Dia.. - resmungou ela sonolenta.

Ele ficou a olhando esperando ela largar ele mas um sorriso leve apareceu em seu rosto quando Sadie não mostrou qualquer intenção de se soltar do abraço. Anúbis passou sua mão direita carinhosamente na cabeça da garota enquanto ela ainda não o soltava.

— Tudo bem? - perguntou ele já estranhando o abraço demorado.

— Aquela pizza de ontem não desceu bem… - resmungou ela.

— Certificarei-me de acertar as contas com a pizza por seu atrevimento - ele disse e ela deu uma leve risada.

— Vou tomar um banho quentinho - disse ela se esticando de leve para beijá-lo rapidamente nos lábios.

Eles se soltaram e Sadie foi para o banheiro enquanto Anúbis foi se vestir. Sendo a tarefa de se vestir bem mais rápida, quando ele terminou, pegou o bolo de papéis que estava jogado sobre a mesa da escrivaninha e passou a vê-los com mais calma novamente. Os papéis eram uma série de panfletos recolhidos em vários lugares diferentes com localidades interessantes para se casar. Ao menos já tinham conseguido separar o bolo em “Não mesmo” e “Lindo” (classificações definidas por Sadie), mas ainda tinham vários no bolo de “Lindo”. Anúbis realmente não fazia ideia de que planejar um casamento era tão complicado assim, mas se Sadie queria que fosse tudo perfeito, o mínimo que ele podia fazer era ajudar para que tudo fosse realmente perfeito.

Quando Sadie saiu do banho, viu que ele estava olhando os panfletos e abriu um sorriso.

— Conseguiu tirar mais algum? Seria bom se a gente conseguisse diminuir um pouco as opções - disse ela.

— Eu não paro de pensar que talvez seja uma boa ideia tirar esses que ficam no continente Americano. Parece fazer mais lógica casar por aqui - disse ele dando de ombros.

— “Aqui” Inglaterra ou “Aqui” Europa? - perguntou ela sentando-se enrolada na toalha ao lado dele.

— “Aqui” Europa ou perto do Mediterrâneo ou na África - disse entregando os panfletos para ela - Afinal você cresceu em Londres e eu no Egito. As redondezas parecem ser bem válidas.

— Seria um meio termo legal. - disse ela passando pelos panfletos - Se casarmos aqui na Inglaterra, quero uma igreja ou um castelo, sem dúvida. Agora, se for no Egito, prefiro numa praia.

— Você tem gostos bem caros - disse ele rindo e ela deu a língua para ele.

— Para de encher meu saco e vamos tomar café. - disse ela indo se vestir rapidamente.

— Seu estômago melhorou? - perguntou ele.

— Deu uma melhoradinha de nada. - ela disse dando de ombros - Eu tomo um efervescente lá na cozinha e termina de melhorar.

Os dois desceram para tomar o café da manhã e encontraram os aprendizes conversando alegremente fazendo uma bela bagunça. Já tinham discutido sobre as opções, continuar morando e cuidando do Nomo ou arrumar uma casa só pra eles. Contudo, Sadie não conseguia abrir mão de toda aquela alegria dos aprendizes e também queria que o Nomo properase e juntasse mais crianças para ensinar magias.

— Sadie! - disse um dos aprendizes - A gente comeu aquele restinho de pizza que tava na geladeira. Tudo bem?

— Não acho que tenha sido uma boa ideia… - disse ela - Não está se sentindo mal né? Melhor tomar um efervescente ou uma coca-cola depois.

Ela botou a mão na barriga sentindo ela embrulhar de novo só de pensar na pobre pizza. Anúbis olhava para ela com o canto do olho, preocupado, enquanto ela ia até o bebedouro e bebia um copo d’água.

Sempre preocupado e atento, Anúbis não tirava o olhar dela mesmo enquanto ele pegava um pote de iogurte. Ela se sentou na mesa e até aproximou a mão do cesto de frutas em seu centro ousando pegar uma maçã, mas seus planos mudaram repentinamente quando seu estômago embrulhou mais do que antes e ela deu as costas para a cozinha saindo correndo. Os aprendizes na mesa seguiram-na assustados com o olhar enquanto Sadie corria para o banheiro mais próximo e começava a botar para fora tudo que tinha em seu estômago.

Quase no mesmo segundo, Anúbis surgiu ao lado dela saindo literalmente da névoa e se abaixou ao lado dela segurando os cabelos dourados da amada para que não atrapalhassem.

— Não queria falar o óbvio, mas você não me parece nada bem… - disse Anúbis.

Ela ia abrir a boca para responder mas teve que parar para vomitar novamente. Ele a olhava preocupado enquanto uma ideia nascia na cabeça dele. Seria possível? Com sua magia, Anúbis poderia simplesmente olhar para o Duat para checar se uma outra alma não acompanhava a alma de sua querida esposa. Alguma segunda alma pequena e na altura da barriga. Mas achou que não seria muito bom fazer isso sem a permissão dela. Então deixou ela tomar um ar antes de sugerir a ideia. Contando até três, ela conseguiu arrumar fôlego o suficiente para falar alguma coisa.

— N-Não acho uma boa ideia… visitar o Colin doente… e se… - disse ela tendo que parar novamente para vomitar.

— Ahm.... Depois você fala. Respire um pouco - disse ele.

Ele olhou ao redor procurando algo para amarrar os cabelos dela para que pudesse abanar ela ou coisa do tipo, mas não encontrou nada. Até que olhou para o corredor e viu Hannah meio receosa entre se aproximar ou deixar ele cuidar da situação.

— P-Precisa de alguma coisa? - perguntou Hannah ao notar o olhar dele para si.

— Algo para amarrar o cabelo dela. E um copo d’água. - disse ele.

— Sim, senhor! - disse Hannah batendo continência e então saindo correndo de volta para pegar as coisas que foram pedidas.

Nos breves instantes que Hannah demorou para voltar, Sadie se afastou do vaso e encostou as costas na parede fria fechando os olhos levemente.

— Acho que estou melhor - disse ela numa voz cansada.

— Certeza? - perguntou Hannah chegando logo em seguida segurando o copo d’água enquanto Anúbis amarrava o cabelo de Sadie num coque super mal feito mas ao menos eficiente para que o cabelo não entrasse no meio da rota do vômito.

— Você não está exatamente com a melhor aparência - disse Anúbis pegando o copo d´água das mãos de Hannah e entregando para Sadie que deu um único tímido gole.

— Obrigada. Pela água e pelo elogio - disse ela com uma leve risada.

— Tem mais alguma coisa que eu possa ajudar? - perguntou Hannah.

— Não obrigada Hannah - disse Sadie com um sorriso mas logo a expressão dela mudou como se lembrasse de algo -  Não. Espere. Na verdade, tem sim.

— Só falar - disse Hannah abrindo um sorriso.

— No meu quarto, do lado do computador em cima da escrivaninha carregando, está meu celular - explicou Sadie - Tem como você pegar pra mim?

— Claro - disse Hannah antes de sair correndo.

— Está melhor mesmo? - perguntou Anúbis depois que Hannah saiu.

— Estou sim, verdade - disse Sadie bebendo mais dois goles do copo d’água mas sem o fitar enquanto mantinha uma expressão pensativa no rosto - Acho que agora só preciso dar uma boa escovada nos dentes pra tirar esse gosto horrível da boca.

Não convencido pela resposta dela, ele se sentou no chão do banheiro ao seu lado visto que ela não parecia muito à fim de levantar no momento. Provavelmente uma prova da mesma precaução que ele sentia ao querer ainda ficar de olho nela.

— Aqui - disse Hannah entregando o celular para Sadie.

— Obrigada - respondeu a loira.

Sadie mexeu rapidamente nas tela de seu celular olhando rapidamente com o canto do olho quando Hannah saiu de perto do banheiro. Sentia o olhar curioso de Anúbis que já pensava em como parecia um momento não muito propício para mexer no celular. Entretanto, Sadie sabia que a pergunta que tinha nascido em sua cabeça seria parcialmente respondida exatamente pelo celular.

Seus dedos encontraram facilmente o aplicativo cor de rosa com uma pena branca desenhada. As maravilhas da tecnologia permitiam que ela deixasse para o aplicativo, que geralmente acertava nas costas, fazer as contas mensais por ela. Assim, seu coração mudou de compasso quando o aplicativo abriu e a primeira mensagem que ele exibiu em letras grandes foi:

“Atraso de 15 dias”

— Sadie? - disse Anúbis sem saber ainda o que ela via no celular e preocupado com o silêncio dela..

— Antes de prosseguir com o café, será que podemos dar um pulinho na farmácia? - perguntou ela.

— O que exatamente pensa em comprar? Se suas suspeitas forem as mesmas que as minhas eu... poderia ver pelo Duat se... não tem algo mais aqui. - disse ele delicadamente tocando com leveza sobre a barriga dela.

— Quem precisa de ultrassom não é mesmo? - disse ela nervosa e respirando fundo - Que tal se olharmos juntos? No 3?

Ele afirmou com a cabeça e ela respirou fundo.

— Um... - disse ela depois de uns segundos.

— Dois - disse ele.

Ela passou, respirou fundo mais uma vez antes de soltar um trêmulo "Três". Com alguma concentração extra, num piscar de olhos eles estavam olhando para o Duat. Podiam ver as próprias almas, que muito diziam sobre si mesmos, mas também uma pequenina alma, do tamanho de um morango, que pura, delicada e cheia de vida, brilhava na altura do ventre de Sadie. Os olhos de ambos se encheram de lágrimas ao olhar para aquela pequena bolinha de luz que ainda teria muito para crescer e que a vida iria moldar enquanto crescia e se desenvolvia.

Logo, ela não conseguia mais segurar o sorriso. Chorando altamente, ela se jogou nos braços dele fazendo ele sorrir também enquanto o abraçava fortemente. Ele abraçou de volta sentindo as lágrimas descerem pelo seu rosto quando as palavras dela chegaram em seus ouvidos.

— Vamos ser pais - disse ela.

Seus braços a envolveram mais forte, mas não forte demais. Os dois se abraçaram enquanto choravam e logo seus lábios estavam se tocando num doce e caloroso beijo. Os dois começavam a rir enquanto choravam e se beijavam. Ainda sentiam-se incrédulos, tentando processar aquela mensagem. Por isso, Sadie repediu.

— Vamos ser pais - disse ela.

— Vamos ser pais - repetiu Anúbis também fazendo ela rir mais ainda.

Ela abraçou ele forte e ele correspondeu o abraço mais forte ainda, chegando até a tremer um pouco. Os dois choravam copiosamente Quando se soltaram, ela fez menção de se levantar mas ele, já ativando o modo superprotetor, ajudou-a a fazer tal simples ação que, uma vez completa, ele aproveitou para que pudesse se ajoelhar e abraçá-la de modo que a cabeça ficasse na altura de sua barriga ainda retinha.

— Eu te amo... - disse Anúbis - Amo vocês dois... 

— Eu também amo vocês dois. - disse Sadie rindo com a ideia de serem "dois".

— Certeza que daqui a pouco eu vou acordar ainda ali na cama e tudo não vai ter passado de um sonho - disse Anúbis fazendo Sadie dar uma risada.

— Por favor, que não seja isso! Tudo ser um sonho é o pior plot twist possível numa história! - reclamou Sadie limpando as lágrimas do rosto.

— Não quero que seja isso também - disse ele fungando levemente e logo botando a testa levemente sobre a barriga dela.

— Que bebê sortudo, já vai nascer com um papai coruja - zombou ela.

— E a melhor mãe do mundo - disse ele deixando ela vermelha.

— N-Nem é…mas vai ter o melhor pai. N-nem tenho prática nisso… ao contrário de… - disse ela deixando no ar o resto da frase olhando para ele com o olhar apologético - Foi mal…

— Tudo bem - disse ele negando com a cabeça - Só espero que dessa v...

— Vai dar tudo certo dessa vez - disse ela firme apertando a cara dele entre suas mãos pela bochecha - Não vai ser que nem a Kebechet.

Ele a abraçou mais apertado, mas ainda de leve, ao redor da cintura pousando a bochecha em sua barriga. Anúbis fechou os olhos aproveitando o momento querendo poder ouvir já alguma coisa de seu futuro filho ou filha mas sabia que estava pedindo demais para pouco tempo de gravidez. Kebechet. Fazia tempo que ele não falava nem ouvia aquele nome. Tinha contado parcialmente a história para ela algum tempo atrás. A história da filha que um dia teve com a deusa Anput. Afinal, 5 mil anos é tempo demais e ele não tinha feito voto de castidade. Anúbis soltou um suspiro, querendo mudar levemente de assunto.

— O dia mal começou e já começou com surpresas - disse Sadie fazendo carinho nos cabelos dele -E ainda temos que ir até a casa da Annabeth e tal…

— E você tem que descansar - disse ele se levantando e abraçando-a.

— Já vai entrar em modo superprotetor? - perguntou ela dando uma risada.

— Achei que sempre tivesse sido superprotetor. - disse ele brincando - Já vai aproveitar e contar para os outros?

— Não - disse ela dando uma risada - Tem uma superstição aqui no Reino Unido que diz que não é bom anunciar a gravidez antes do 3º mês. Pode ser uma grande besteira, verdade, mas é melhor não brincar com a sorte né?

— Vai ser nosso segredinho até lá então? - perguntou ele e ela afirmou com a cabeça.

— Sim. E...isso me lembra… ainda bem que eu não escolhi o vestido ainda - disse ela dando uma gostosa risada - Assim eu posso escolher um que eu talvez ainda entre até o casamento.