O amor abençoado pelo Nilo escrita por kagomechan


Capítulo 21
Um plano idiota genial


Notas iniciais do capítulo

desculpa pela demora para atualizar. eu n tenho estado tão feliz assim esses dias e isso torna difícil escrever aí acabo gastando minhas forças nas outras duas fics. enfim, aqui um breve capítulo para vocês não ficarem sem nada por outubro.



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As risadas de crianças que aproveitavam a praia turística quase fazia o grupo esquecer das preocupações e da conversa importante que teriam ali. Os garçons levavam comidas e bebidas bandejas sem se quer imaginar que naquele estranho grupo de jovens, estavam três deuses. Ou melhor, dois deuses e um que desistiu de sua imortalidade.

— Vamos, conte para eles o que você sabe. - disse Bastet pressionando Ptah que soltou um suspiro de pura desistência.

— Entenda primeiro que minha situação não é tão simples assim. Hórus proibiu qualquer um de ajudar vocês. - disse Ptah.

— Não que eu seja a especialista em egiptologia, mas até onde eu entendo de deuses, você é… ou ao menos era… um bem importante e tudo mais? - disse Sadie olhando seriamente para Ptah.

— Bem… - disse Ptah - não deixa de ser verdade mas…

— “Mas” o que? Tem medo do galinha divina? - provocou Sadie.

— Você não entende… é apenas uma mortal. - disse Ptah soltando outro suspiro - Querendo ou não, Hórus ainda é nosso faraó e, quando se é imortal, não costuma ser muito bom criar inimizades que podem sem dúvida se mostrarem eternas.

— Nenhum desses motivos me impediram de irritar Hórus mais do que algumas vezes através dos séculos. - disse Anúbis passando carinhosamente os braços ao redor das costas de Sadie como se tentasse, de um jeito silencioso, tentar pedir para que ela ficasse calma.

— E, ainda assim, - começou Ptah - Tenho certeza que ao menos uma vez ou outra ele só não aplicou em você a punição por desobediência ao faraó porque seria extremamente incômodo para a fila de mortos do submundo esperar você viver de novo.

No meio da discussão indo de um lado para o outro, Nico e Will apenas acompanhavam com o olhar tudo. Não podiam dizer que saberiam muito bem o que comentar naquela hora embora a língua de Nico estivesse coçando para chamar Ptah de covarde. Do lado dos dois, Emma e Liz pareciam extremamente desconfortáveis no meio daquela situação toda. Tinham plena ciência que eram apenas duas mortais normais sem nada de especial ouvindo conversas que incluíam magia, deuses e acontecimentos milenares. Não sabiam dizer se eram sortudas ou azaradas.

Alguns breves segundos de silêncio foram gastos enquanto Ptah pensava em como começar a contar o que sabia. Carter e Zia aproveitaram esses breves segundos para se juntar ao centro da discussão embora os ali presentes sentissem ainda também os olhares de preocupação de outros à distância, como Percy e Sam.

— Vamos, deixe de enrolar, Ptah. - incentivou Bastet - Quero ouvir o que você me disse saindo da sua boca novamente. Sei bem que o cachorro não vai acreditar em mim se for eu a dizer.

— Se não fosse o fato de eu saber que você se importa de verdade com a Sadie, - disse Anúbis olhando para Bastet - provavelmente seria bem isso que aconteceria.

— Anúbis, lembra de Imhotep? - questionou Ptah.

— Claro que lembro. - respondeu Anúbis tentando imaginar onde essa conversa levaria. Tinha alguns chutes, afinal, Imhotep foi o primeiro semi-deus egípcio até onde ele sabia. E, talvez por nenhuma coincidência, ele era filho de Ptah.

— Imhotep? - perguntou Carter - O arquiteto da primeira pirâmide egípcia?

— Sim. Ele mesmo. - confirmou Ptah - Não é com muito orgulho que digo que ele era meu filho. Quero dizer… não muito orgulho do que fiz. Na época era cas…

A história de Ptah foi interrompida quando, da maneira mais discreta que arranjou, Bastet abriu suas mãos com unhas extremamente afiadas nas costas do deus tocando-lhe a pele azulada ameaçadoramente com a ponta de suas garras. Do ângulo que estavam dos demais, quase ninguém notou isso. O único a notar foi Nico que ergueu as sobrancelhas num misto de curiosidade e surpresa. 

Sentindo muito bem a ameaça dada, Ptah mudou um pouco o rumo de sua narrativa para ir direto ao ponto principal.

— Enfim… ele era um homem realmente genial. - continuou Ptah sentindo a necessidade de ao menos explicar um pouco para os demais sobre quem Imhotep era - Amigo próximo do faraó Djoser e obviamente ninguém gostou nada de perceber que havia um semideus entre nós.

— Tivemos que usar a pena da verdade porque você não teve coragem de falar nas primeiras vezes que Hórus questionou todo mundo. - disse Anúbis e Ptah confirmou vergonhosamente com a cabeça.

— Eu sei… - disse Ptah - Mas… nunca estranharam que levaram muito tempo para perceber que havia um semideus andando por aí? Imhotep já tinha mais de 40 anos.

— Na época achei um pouco estranho mas não dei muita atenção… - disse Anúbis pensando sobre isso mais um pouco.

— Sim! - disse Bastet - Era o primeiro semi-deus, não sabíamos direito ainda o quão óbvio ele seria. Imhotep levou 40 anos para ser descoberto. O de vocês nem nasceu ainda, nem temos certeza se conta como semideus, e já tá toda essa bagunça!

— Você fez algo! - disse Sadie ao perceber detalhe importante da conversa.

Uma luz de esperança começou a encher o peito de Sadie. Talvez tinha uma chance de seu bebê ter uma vida normal ou o máximo perto disso que era possível ter no meio de tantos magos, semideuses e coisas do tipo. Como sempre, sem ligar para o mero detalhe de estar falando com um deus, Sadie apontou seu indicador ameaçadoramente para o rosto de Ptah.

— Eu não estou com paciência hoje. Dormi mal preocupada com essas coisas. - disse ela - Então melhor compartilhar o que você fez.

— Nada muito complicado e ao mesmo tempo algo extremamente complicado. - disse Ptah - Antes dele nascer, presenteei sua mãe com uma pulseira de ouro e pedi, implorei, para que ela usasse sempre e, quando o bebê nascesse, que ela passasse para ele. 

— Tinha mágica na tal pulseira? - perguntou Zia.

— Uma mágica para esconder um semideus por tanto tempo? - estranhou Anúbis - Isso está bem longe de ser qualquer mágica minimamente simples.

— Sim. Essa é a parte complicada. - disse Ptah - Foi uma magia extremamente difícil e profunda. Não fui eu que a fiz e não consegui a reproduzir depois que Imhotep perdeu a pulseira.  

— Ele a perdeu? - perguntou Sadie - Foi assim que descobriram sobre ele então?

— Não tentei descobrir muitos detalhes… ele pode ter perdido, ter sido roubado, ou simplesmente decidiu parar de usar ou dar para outra pessoa. - disse Ptah dando de ombros.

— Bastet… me diz que seu plano genial por acaso não é ir atrás de uma pulseira de mais de 4 mil anos que pode estar em qualquer lugar. - disse Anúbis olhando para a deusa gata com olhos julgadores.

Diante da fala dele, Bastet se acanhou levemente e trocou o peso do corpo de um pé para o outro enquanto Sam e Amir se aproximavam do grupo movidos pela curiosidade e Sadie encarava a deusa gata na esperança de ouvir algo que acalmasse seus temores.

— Você falando assim realmente soa idiota. - disse Bastet e, com a decepção, Sadie soltou um pesado suspiro e se sentou novamente enterrando o rosto nas mãos.

— Soa idiota de qualquer jeito. - disse Anúbis  cruzando os braços.

— Não… pensa… - disse Bastet - Se ele tiver estado com a pulseira no final de sua vida, ela pode estar em sua tumba. Se não estiver lá, ao menos tentamos e temos uma confirmação de que existe algo para ser feito.

A oportunidade de procurar na tumba de Imhotep pela tal pulseira mágica parecia ser algo até interessante. Sadie se levantou mais uma vez e trocou um olhar longo com Anúbis como se os dois se perguntassem se aquilo realmente daria certo. Contudo, outras ideias estavam na cabeça de Nico.

— Se fez uma vez, não tem como simplesmente fazer outra? - perguntou o filho de Hades.

— Não fui eu que fiz. - disse Ptah - E não posso revelar quem foi. Não deixa de ser impossível.

— Vamos tentar a tumba primeiro. - sugeriu Sadie.

— Só tem um problema… - disse Carter - Ninguém nunca achou a tumba de Imhotep.

— Felizmente temos entre nós um ex-deus que sabe onde cada egípcio está enterrado… - disse Bastet olhando para Anúbis - Você ainda sabe onde Imhotep está né? Não me diga que a mortalidade tirou de você toda a quantidade monstruosa de informação fúnebre.

Por um milésimo de segundo Anúbis ficou realmente preocupado que tivesse perdido essa informação. Apesar de já fazer alguns anos desde que havia virado mortal, frequentemente ele se surpreendia com alguma coisa que havia perdido ou que não conseguia mais fazer com tanta frequência ou intensidade.

Com olhos preocupados, Sadie entrelaçou seus dedos com os dele como se quisesse ajudar ele a encontrar onde estava enterrada essa informação. Gentilmente, ele acariciou a mão dela enquanto abria um pequeno sorriso ao lembrar onde estava a tumba de Imhotep.

— Eu lembro onde está a tumba dele. - disse Anúbis.

Sadie abriu um enorme sorriso e imediatamente deu um beijo na bochecha dele. Ao lado deles, Bastet abria um sorriso aliviado que era copiado por Carter. Contudo, o sorriso de Carter logo sumiu e foi trocado por uma expressão que mostrava que havia nascido uma ideia em sua cabeça.

— Pera… - disse Carter - Se você sabe onde está toda tumba, você então sabe onde estão enterrados a Cleópatra e o Alexandre, o grande.

— Sei… - disse Anúbis depois de alguns segundos caçando em sua mente aqueles dois pedaços de informação.

— Você… bem que podia compartilhar né? - tentou pedir Carter - São provavelmente as tumbas que os egiptólogos e historiadores mais estão atrás… 

— E deixar eles pararem em museus? Não. - disse Anúbis.

— Pera… não entendi… - disse Nico interrompendo brevemente a discussão - Alexandre não era grego?

— Cleópatra também… - complementou Sam.

— Sim. - concordou Zia - Mas a maioria das teorias botam as tumbas deles em solo egípcio. Sem falar que, por mais grega que fosse, Cleópatra ainda foi a última rainha do Egito.

— Podem, por favor, deixar esse papo de história para depois? - pediu Sadie - Temos coisas mais importantes a tratar.

Não era como se a localização da tumba de Imhotep fosse um segredo que nenhum outro deus além de Anúbis soubesse, só era algo que nenhum outro deus tinha se importado tanto assim além de alguns como ele, Osíris e Hórus. Não, nem mesmo Ptah. 

Eles tinham vários voluntários para ajudar a procurar pela pulseira na tumba de Imhotep mas, antes, eles tinham que abrir um portal ligando a tumba e aquele pedaço de praia banhado pelas águas do Mar Vermelho. 

Apesar de doer muito no coração de Anúbis levar tanta gente para uma tumba, que, assim como as demais tumbas egípcias, deveriam permanecer seladas, o ex-deus da morte e protetor das tumbas se deixou levar. Afinal, percebeu não muito surpreso que se importava mais com a segurança do bebê do que com uma invasão de tumba que deveria ser um de seus trabalhos evitar que acontecesse.

Anúbis e Ptah foram primeiro para a tumba desaparecendo em névoa negra enquanto Anúbis mostrava para o deus a localização dela e, de lá, Ptah abriu um portal que ligava a tumba com a praia. O medo de os reles mortais perceberem foi sanado já que, não só todos os amigos do casal começaram a se aglomerar ao redor do portal para que ele não ficasse tão evidente, como também Hazel aproveitou a chance para usar a névoa grega em favor dos egípcios.

Boquiabertos, o grupo se aglomerava para ver uma autêntica tumba egípcia intocada cujo única luz que entrava era a do portal na praia. O portal também era o único ponto por onde entrava ar na tumba que por tantos séculos permaneceu selada. O coração amante de história de Carter tentava controlar a empolgação assim como todos tentavam controlar a necessidade de pegar o celular para tirar fotos por respeito ao pobre Anúbis que parecia sofrer muito internamente para mostrar aquele lugar para tantos olhos mortais, o abrir e entrar nele sem a permissão de Imhotep.

— Por favor… deixem tudo do jeito que está. - disse Anúbis sentindo peso na consciência por revelar aquele lugar - A pulseira e nada mais.

— Que coisa… - disse Bastet - Alcançamos o ponto em que o protetor de tumbas virou um ladrão de tumbas.

— Já estou me martirizando o suficiente. Não preciso de sua ajuda pra me sentir pior ainda, Bastet. - reclamou Anúbis.

Sentido pena por ele, Sadie o abraçou e acariciou-lhe a bochecha gentilmente. O doce gesto foi respondido por um pequeno sorriso que Anúbis abriu enquanto pegava carinhosamente a mão que Sadie usava para acariciar sua bochecha e ali depositava um breve beijo.

— Obrigada por abrir uma exceção. - disse Sadie.

— É uma exceção que vale a pena. - disse Anúbis.

— Bem… podemos começar a busca? - perguntou Will.

— Olha só o tanto de ouro… e o tanto de papiros! - disse Annabeth surpresa com o conteúdo da tumba.

De fato, a tumba brilhava com o tanto de ouro espalhado no formato de joias, moedas e móveis adornados com ouro. Tanto ouro era acompanhado por pilhas e mais pilhas de pergaminhos e alguns vasos ricamente decorados com padrões comuns da época. 

Apesar de cheia de artefatos históricos, ainda era a tumba de um sacerdote, não de um faraó. Assim, havia apenas dois cômodos principais. Ambos com as paredes pintadas com hieróglifos que contavam a história da vida de Imhotep e invocavam feitiços de proteção à tumba e ao seu morador. Falando em morador, no cômodo mais afastado do portal estava o que mais parecia uma grande caixa feita de granito. O tamanho dela passava a certeza de um importante detalhe, era ali que o corpo de Imhotep descansava para a eternidade.


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