No dia seguinte, Tinker Bell dividiu um pouco de seu pozinho mágico com Laranjinha e a levou até o Vale da Primavera para pedir a ajuda de Berry Bitty. Chegando lá, Rosetta as recebeu com simpatia.

— Então você é a Menina Perdida, que fofa!

— Obrigada. E o meu nome é Laranjinha.

— É um prazer conhecê-la. Que nome lindo! Parece de fada jardineira.

— Parece, mas não é — interrompeu Tink. — Eu tenho certeza que se a Laranjinha fosse uma fada, ela seria artesã. Não é, Laranjinha?

— Não sei... Eu gostei muito de trabalhar com as fadas artesãs ontem, mas também gosto de jardinagem... Ah e eu também gostei de ajudar o Terence nos negócios de guardião do pozinho mágico...

— Bom, então você é uma fada de múltiplos talentos! — Afirmou Rosetta.

As três riram e Tinker Bell, por fim, resolveu explicar a Rosetta o que faziam ali. Enquanto a fadinha explicava, Laranjinha olhava em volta, admirando o Vale. De repente, deparou-se com algo muito familiar e que, até aquele momento, não havia visto no Refúgio das Fadas: Tutti Brilhos. Algumas frutas de lá estavam cobertas deles, a garota ficou praticamente hipnotizada.

Após Rosetta ficar a par da situação, olhou para Laranjinha, e, em seguida, para onde a menina olhava.

— Ah, não são lindas? — Perguntou com um ar de admiração enquanto voava em direção às bagas cobertas de brilho. — Foi a Berry Bitty quem plantou.

— Nossa, eu nunca vi frutas assim! — Exclamou Tinker Bell, após chegar perto das bagas.

— Pois é, nem eu!

— São Tutti Brilhos... — Informou Laranjinha.

— Sim, elas têm muito brilho, florzinha!

— Não, o que eu quero dizer é que tem Tutti Brilhos nelas. Eles são do meu mundo, o suco de Tutti Brilhos é o que faz a Cidade Tutti Frutti funcionar.

— Esses brilhos são mágicos? — Perguntou Tink.

— Ahm... de certa forma, pode-se dizer que sim.

— Rosetta, cadê ela? — Perguntou Tinker Bell, referindo-se à nova fada.

— Bom, eu não tenho certeza, mas, se seguirmos a trilha de Bagas Brilhantes — Rosetta nomeou as frutinhas assim —, tenho certeza de que a encontraremos.

Elas, então, seguiram a "trilha" e encontraram a nova fada plantando mais Bagas Brilhantes. Ela estava com Lilac, outra fada jardineira, que admirava muito as novas frutinhas.

— Berry — Rosetta chamou —, tem alguém querendo ver você!

A fadinha parou o que estava fazendo e virou-se. Tinha cabelos encaracolados e ruivos na altura do ombro, rosto sardento com bochechas grandes e olhos verdes, a mesma estatura de Lilac (ou seja, era um pouco menor que Tink e Rosetta) e, assim como as outras fadas jardineiras, usava um vestido cor-de-rosa feito de pétalas.

— Estas são Tinker Bell e Laranjinha — disse Rosetta quando Berry Bitty se aproximou.

— Olá! — Falou a fadinha enquanto sorria e acenava. Depois, olhou com mais atenção para Laranjinha e perguntou: — Eu conheço você?

— É... mais ou menos... Bom, foi você quem me trouxe aqui.

— Sério? Eu não me lembro disso... Como foi?

— Foi um acidente, na verdade. Eu achei que você fosse uma semente de dente-de-leão comum, nunca imaginei que se transformaria numa fada... Enfim, é uma longa história, mas o ponto é: nós duas viemos da Cidade Tutti Frutti, mas eu não devia estar aqui, e agora preciso voltar. Será que você pode me ajudar?

— Desculpe, mas eu não me lembro de nada desse lugar — Berry Bitty soava realmente arrependida. — Gostaria mesmo de poder ajudar, mas...

— É claro que lembra! — Interrompeu Laranjinha, então apontou para as Bagas Brilhantes: — E esta é a prova.

— Por quê?

— Você é a única fada que planta bagas com Tutti Brilhos, eles não existem por aqui, mas são comuns no meu mundo.

— Eu não sabia... — a fadinha estava pensativa. — Só comecei a plantar essas frutas do nada e todo mundo gostou...

— Você as plantou porque você é da Cidade Tutti Frutti. Por que acha que o seu nome é Berry Bitty?

— Mas, mesmo assim, eu não faço ideia de como voltar pra lá...

— A rainha Clarion disse — Tink interveio — que se você veio de lá, talvez saiba o caminho de volta. Pra mim, essas bagas são a prova de que você sabe. Me diz, você sabia que podia plantar algo tão bonito e brilhante?

— Na verdade, não...

— Então? Mesmo sem saber que sabia, você sabia. Entendeu?

— Tink, eu acho que ficou meio confuso... — disse Rosetta.

— Não, não, eu entendi — afirmou Berry Bitty. — Ela quis dizer que eu sei o caminho para a Cidade Tutti Frutti, mesmo que eu ache que não.

— É isso aí! — Confirmou Tinker Bell.

**

Na Cidade Tutti Frutti o tempo não havia passado tanto: as meninas, Mirtilo (que chegara atrasado, mas a tempo para a reunião) e todos os cãezinhos estavam no Café, como Moranguinho havia pedido na mensagem, e tinham acabado de ouvir da ruiva toda a história do sumiço de Laranjinha. Obviamente, todo mundo achou muito estranho.

— A ideia da viagem no tempo não parece mais tão doida assim agora, né? — Ameixinha cochichou para Amora Linda, que balançou a cabeça concordando.

— Eu achei que era só quando acampávamos que tínhamos que contar histórias bizarras... — disse Uvinha, que estava muito confusa. — Gente, eu tô preocupada de verdade com a Laranjinha!

— Eu não tô inventando nada, Uvinha — respondeu Moranguinho. — Essa história, por mais que pareça bizarra, é real.

— Então ela saiu voando mesmo...

— Bom, não seria a primeira vez — disse Gotinha de Limão. — Já voamos em cima de flores, lembram?

— Espera aí, a gente vai mesmo acreditar nisso só porque o cachorro falou? — Perguntou Azedinha, sarcástica.

— A Marmelada é a única testemunha, temos que acreditar nela — respondeu Moranguinho.

— Mas cachorro nem pensa — vários cachorros latiram protestando quando a menina azeda disse isso. — Como a gente não vai saber se a Maçãzinha não gravou isso aí pra fazer todo mundo de bobo?

— Você tá me chamando de mentirosa? — Protestou Maçãzinha. Em seguida, tirou a coleira de Marmelada e a colocou no pescoço de Azedinha.

— O que você tá fazendo? — Reclamou a menina. — Todo mundo fica achando que essa pirralha é uma geniazinha e ela se aproveita pra pregar peças e... — a máquina dizia. — Ei, eu não disse isso! — Falou Azedinha.

— Não, mas você pensou. Ou não era o que estava pensando? — Disse Maçãzinha, tirando a coleira do pescoço de Azedinha. — Pois é, funciona em qualquer animal. E antes que você reclame, pessoas também são animais, caso não saiba.

— Okay, já temos provas de que a Maçãzinha não é uma mentirosa, então podemos voltar ao problema da Laranjinha? — Interrompeu Moranguinho.

— Eu acho que posso tentar calcular os lugares onde ela pode estar — disse Amora. — A gente só precisa saber para onde o vento estava soprando ontem à noite... Ela com certeza caiu em algum lugar, é óbvio que não ficou no céu pra sempre.

— Vocês não acham isso muito estranho? — Perguntou Mirtilo. — Uma ventania assim tão forte pra levar a Laranjinha teria que ser uma tempestade de vento, um tornado, um furacão... Pelo menos uma parte da Cidade Tutti Frutti estaria destruída.

— Verdade, isso é um mistério...

— Concordo. Eu acho que esse vento não era como os outros... Devia ter alguma magia nisso ou sei lá... — Palpitou Ameixinha.

Apesar de todos terem achado estranho, ninguém chegou a descartar a hipótese da menina, afinal, à medida que pensavam no sumiço de Laranjinha, mais estranho ele parecia.

— E eu também acho — a dançarina complementou — que aquela máquina do tempo tem alguma coisa a ver com isso... — Ao perceber os olhares intrigados de todos (com exceção de Amora), Ameixinha lembrou: — Ah é! Eu não falei pra vocês, né?

A garota, então, contou tudo sobre o Laboratório Secreto de Laranjinha e a máquina do tempo.

Assim, ficou decidido que Amora Linda faria as pesquisas sobre a ventania da noite anterior e os cálculos necessários;  Cerejinha, que tinha muitos contatos, conversaria com pessoas que morassem nos lugares onde Laranjinha poderia ter "caído"; Ameixinha levaria Maçãzinha ao laboratório para a pequena analisar a máquina do tempo; e os demais, seguindo um conselho de Mirtilo, pesquisariam tudo o que pudessem em livros.

— É uma ótima ideia! — Disse Amora. — Os livros têm resposta para tudo. Podem usar a minha biblioteca, se quiserem. O Bosley Traça pode ajudar vocês.

— Obrigado, Amora. Tenho certeza que muitos livros falam sobre desaparecimentos misteriosos como o da Laranjinha.

— É, só não inventem de escrever um mistério inspirado nisso agora — disse Cachinho de Framboesa, de um jeito brincalhão. Todos sabiam como Amora e Mirtilo gostavam de escrever histórias de mistério juntos.

Todos riram e Amora respondeu:

— Não se preocupe, nosso foco é encontrar a Laranjinha.

Então cada um partiu para sua respectiva tarefa.

**

Berry Bitty fez o que pode para tentar lembrar o caminho de volta para a Cidade Tutti Frutti. Ela voou bem alto, a ponto de sua vista poder enxergar toda a ilha da Terra do Nunca, foi em direção às duas estrelas, mas nada. Depois dali, ela realmente não sabia que caminho tomar. Pelo visto, Tinker Bell estava errada.

A fada ruivinha ficou muito, mas muito triste mesmo por não ter podido ajudar, porém Laranjinha ficou "tutti" feliz por seu esforço e agradeceu de coração. Já a considerava uma amiga.

Devido às circunstâncias, Laranjinha teve que passar outra noite na casa de Tink. Na noite anterior, a fada artesã havia feito um saco de dormir e um pijama para sua nova amiguinha, que os usaria novamente.

— É uma pena você não ter conseguido voltar para casa — disse a fada quando as duas já estavam prontas para dormir. — Quer dizer, eu não acho ruim que você fique aqui comigo, mas eu sei que você sente saudade de casa, então...

Laranjinha sorriu e respondeu:

— Sabe, eu nunca tinha ficado assim tão longe da Cidade Tutti Frutti.

— Eu imagino...

— O lugar mais longe em que eu estive foi a Cidade Grande, e, tipo, nem é tão longe assim. Tem um menino, o Mirtilo, que mora lá e ele vive indo nos visitar na Cidade Tutti Frutti. Ele geralmente se perde no caminho e acaba demorando um pouco, dando a impressão de que as duas cidades são tutti longes uma da outra, mas na verdade elas não são.

As duas riram um pouco confusão do amigo de Laranjinha, depois ela continuou:

— Mas, pra mim, a Cidade Grande parecia outro mundo. Eu não queria ir pra lá de jeito nenhum!

— Mas por que você precisava ir pra lá?

— É que a nossa banda ia tocar na abertura de um evento.

— Você faz parte de uma banda?!

— É, mas não somos muito famosas, só a Cerejinha. Enfim, eu quase não saí da cidade naquele dia, fiquei inventando um monte de desculpas pra gente não ir... Mas conseguiram me convencer.

— Ainda bem! Se você não tivesse conseguido ir pra lá, o que ia acontecer quando você realmente fosse pra "outro mundo"?

— Pois é. Eu levei um globo de neve com uma miniatura da Cidade Tutti Frutti, eu olhava para ele sempre que sentia saudade. Na verdade, era tipo um globo de neve, mas tinha umas coisinhas brilhantes ao invés do que geralmente tem nesses globos pra representar neve, pareciam mais vagalumes.

— Que fofo! Acho que eu não tenho nenhum globo de neve na minha coleção de objetos perdidos... muito menos globo de vagalume! Que pena que você não tá com ele agora...

— É, eu acho que você ia adorar. Sabe, apesar de eu estar perdida, confesso que tô gostando de ficar aqui.

— Que bom!

— Eu tô com muita saudade dos meus amigos, claro, mas, por outro lado, estou fazendo novos aqui.

— Eu sei como é, faço amigos em todos os lugares pra onde eu vou hahaha.

— Pois é. O Terence foi o meu primeiro amigo aqui, ele me ajudou tanto! Agora você também é minha amiga, a Berry Bitty... Tô louca pra voltar à Cidade Tutti Frutti é contar sobre todos os meus novos amigos!

— Ei, falando nisso, você ainda não conheceu as minhas outras melhores amigas, nem a minha irmã... Você ainda não conheceu nada!

— É verdade. Dos seus amigos, eu só conheci o Terence, o Clank, o Bobble e a Rosetta; e dos lugares, só a Árvore do Pozinho Mágico, a das fadas artesãs e o Vale da Primavera...

— Então, se prepare, porque amanhã você vai conhecer todo o Refúgio das Fadas e, se possível, outras partes da Terra do Nunca!

Laranjinha ficou animada e mal podia esperar para o dia seguinte. No fundo, ela ainda estava um pouco triste por estar longe de casa, mas, de alguma forma, tinha certeza de que voltaria, o que a deixava mais tranquila. Talvez as Bagas Brilhantes lhe tivessem dado essa certeza...