Em seu lugar escrita por Aislyn


Capítulo 1
Na pele do inimigo


Notas iniciais do capítulo

História escrita para o Valentines. Boa leitura!



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Hayato espreguiçou longamente, desligando o despertador e saindo da cama com passos lentos e preguiçosos, caminhando em direção ao banheiro mas acabou por dar de cara com a parede. Não havia uma porta ali? Olhou ao redor com espanto, o sono deixando o raciocínio lento, mas de uma coisa ele teve certeza: aquele não era seu quarto.

 

Saiu do cômodo às pressas, procurando o namorado pelo resto da casa, pois ele deveria saber o que estava acontecendo, até que algo passando ao seu lado chamou sua atenção, fazendo-o parar bruscamente. Olhou para trás, notando um espelho pendurado no meio do corredor, voltando até ele e encarando-o fixamente. Cabelos loiros, bem ajeitados para alguém que havia acabado de acordar, pele clara um tanto pálida, rosto fino, olhos de um castanho tão claro que quase podiam ser confundidos com dourado.

 

— Ah, porra! – olhou para baixo, conferindo o resto do corpo. Mãos finas de dedos longos, devia estar uns dez quilos mais magro, os pés também não eram os seus… e que roupa de dormir ridícula era aquela?

 

Ergueu novamente o olhar, conferindo no espelho, apenas para ter certeza: havia se transformado no Mikaru.

 

* * *

 

Mikaru piscou lentamente, duas coisas lhe parecendo estranhas ao acordar: o quarto quase todo na penumbra e aquele peso morno sobre sua cintura. Todas as noites deixava um dos lados da janela exposto, de modo que a luz do sol entrasse ao amanhecer. Katsuya devia ter fechado ao chegar durante a noite, para que pudesse dormir um pouco mais no dia seguinte. O que explicava, em partes, o segundo incômodo: não gostava que dormissem em cima de seu corpo. O namorado não era de abraçá-lo daquela forma durante a noite. Dormiam próximos, mas não grudados.

 

Remexeu-se no colchão, tentando erguer o braço para sair da cama sem acordá-lo, quando foi puxado de uma vez de encontro ao outro corpo, o rosto pousando na curva de seu pescoço, causando-lhe arrepios.

 

— Acordado a essa hora? – Mikaru sentiu o corpo travar ao ouvir o sussurro próximo ao seu ouvido, temendo pela sua segurança. Não era a voz de Katsuya.

 

Empurrou o outro com toda a força que tinha para então sair da cama, notando que havia dormido do lado contrário. Deu a volta na mesma, correndo até o interruptor, sendo impedido por um guarda-roupas que havia sido posto no caminho e que o derrubou no chão.

 

— Ai… droga… – massageou a fronte com cuidado, ouvindo passos ao seu lado e então o quarto se encheu de luz.

 

— Você se machucou? – seu rosto foi erguido com cuidado, seus olhos enfim assimilando a voz com a pessoa à sua frente.

 

—Takeo?

 

— É isso que acontece quando você acorda cedo? Fica desorientado? – a risada zombeteira o ajudou a relaxar, afinal estava com o amigo, mas uma coisa ainda não fazia sentido – Hei, tudo bem?

 

— Sim, tudo bem. – aceitou a ajuda de Takeo para se levantar, encarando-o curioso – O que eu estou fazendo aqui?

 

— Aqui no chão? – outra risada divertida preencheu o quarto e Takeo o encaminhou para a cama.

 

— Não. Aqui na sua casa. – respondeu ao se sentar, recebendo um olhar confuso seguido da mão em sua testa – Não estou com febre.

 

— Você mora aqui, lembra? Dividimos apartamento tem alguns anos. – Takeo sentou ao seu lado, dispensando-lhe um carinho no rosto – Teve algum pesadelo ou algo do tipo? Nunca te vi acordar assim.

 

Mikaru abriu a boca para responder, mas fechou em seguida. O que o amigo dizia não fazia sentido algum! Eles não moravam juntos! Será que era realmente um pesadelo?

 

— Acho que estou dormindo ainda… – era a única explicação plausível. Esfregou o rosto com força, tentando espantar um sono que não sentia, suspirando fundo antes de voltar a deitar. Não sabia que tipo de sonho estranho era aquele, mas esperava encontrar tudo no lugar quando acordasse.

 

Takeo depositou um beijo em sua testa, dizendo que ele podia descansar mais um pouco, pois iria para o café primeiro. Ouviu seus passos se afastarem, possivelmente indo para o banheiro. Teria dormido novamente, não fosse o celular tocando no criado-mudo.

 

Pegou o aparelho apenas para silenciá-lo, mas ao ver o nome que apareceu na tela, a situação alcançou níveis astronômicos no quesito estranheza.

 

* * *

 

Hayato correu novamente para o quarto, apenas para conferir no espelho de corpo inteiro que não havia se enganado. Um grito de desespero estava preso na garganta, impedido de sair por uma bola de incredulidade. Aquilo era… surreal! Como era possível? Mas, se ele estava no corpo de Mikaru, então o loiro estava no seu? Precisava confirmar!

 

Pegou o celular ao lado do travesseiro, pensando em procurar o próprio nome nos contatos e imaginando qual apelido carinhoso o empresário usaria para sua pessoa, mas não sabia a senha de acesso. Praguejou baixinho enquanto saia do quarto novamente, indo até a sala usar o aparelho fixo. Discou o número do seu celular, esperando apenas dois toques antes de ser atendido.

 

— Alô?

 

— Quem está falando? – Hayato tinha quase certeza absoluta que era Mikaru, mesmo que a voz que estivesse ouvindo fosse a sua.

 

— Com quem deseja falar?— não ia passar seu nome para alguém que o ligava de sua própria casa.

 

— Mikaru, eu sei que é você. Aqui é o Hayato. Só queria confirmar. – olhou ao redor em busca de palavras, mas o colega estava na mesma situação, sabia o que ele estava sentindo – O que nós vamos fazer?

 

— Nós? E por que nós deveríamos fazer algo? Que tipo de brincadeira estúpida é essa que está fazendo? Por que está na minha casa e eu estou na sua?— Mikaru voltou a se levantar da cama, andando pelo quarto em círculos, gesticulando conforme sua raiva crescia – Espero que o Shiro não esteja envolvido nisso! Não deixei a chave da minha casa com ele pra fazer trote!

 

— Você ainda não viu? Mikaru, abre a porta do meio do meu guarda-roupa. Tem um espelho grande lá.

 

— O que eu vou querer com espelho? Quero saber o que está fazendo na minha casa!

 

— Pelo menos uma vez na vida faça o que estou te pedindo! Abre logo! – Hayato ouviu vários resmungos, mas pelo demora em uma resposta mais elaborada, imaginou que Mikaru estava atendendo seu pedido.

 

— Pronto, abri. O que eu tenho que ve…

 

O silêncio se instalou nos dois lados da linha, Hayato na expectativa de ouvir Mikaru xingando e gritando com as paredes, mas apenas um eco seco de algo caindo no chão foi ouvido e a ligação se encerrou.


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Notas finais do capítulo

Continua... >3
Nem gosto de fazer minhas crianças sofrerem...



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