Reencarnado escrita por Filippi Araújo


Capítulo 4
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Oi, tudo bem?
Como prometido, aqui está o terceiro capítulo de Reencarnado. Gostaria de agradecer à NathGomes pelo comentário no capítulo II. Queria pedir um pouco mais de interação, que seja com um comentário pequeno. Me ajuda muito a continuar escrevendo.
Sem mais delongas, vamos ao capítulo.



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Um silêncio constrangedor paira sobre o carro enquanto voltamos ao apartamento de Raiden. Depois de um dia de chuva, as nuvens carregadas finalmente se dissipam e as gotas começam a parar.
— Então... como é essa coisa de ser um deus? – Haru finalmente pergunta, quebrando o silêncio.
— Bom...ainda estou tentando descobrir. Mas isso já me trouxe muitos problemas. – Respondo. Ainda fico um pouco apreensivo na presença dele, depois do que aconteceu no elevador.
— Entendo... – Ele responde. – Sobre aquele episódio do elevador: eu queria me desculpar. Eu não fiz aquilo por mal, eu estava apenas seguindo ordens.
— Tudo bem. Eu vou superar. – Respondo.
Observo discretamente o jovem: seus cabelos são castanhos e seus olhos são cor-de-mel. Seu rosto é fino, com traços bem marcados, e seu olhar parece cansado. Imagino que esteja mesmo, afinal, a rotina de treinos do dojo é bastante cansativa.
— Eu não me lembro de você nas reuniões da família. – Comento.
— Eu não sou da família. Pelo menos não de sangue. – Ele explica. – Eu perdi meus pais quando era muito jovem, não tive família por um bom tempo e acabei fazendo coisas erradas. Takashima me encontrou um dia e me adotou. Como forma de gratidão, entrei para o dojo.
— Entendi. Sinto muito, eu não sabia. – Respondo. O silêncio volta a pairar no carro.

[...]

Quando por fim chegamos ao prédio onde Raiden mora, a garota ruiva nos recepciona. Seu cabelo curto está preso em um coque alto, e ela usa roupas casuais. Ela parece um pouco desconfiada com a presença do meu pai e de Haru, então me apresso em explicar:
— Esse é o meu pai. O outro é Haru, um samurai da família. Ele vai me acompanhar por enquanto.
— Entendi. Vamos subindo, Susano está à sua espera. Temos muito o que conversar. – Ela afirma, e vai andando em direção ao elevador.
— Mizuki, eu preciso voltar ao dojo. Tenho algumas coisas pra discutir com os anciãos. Se precisar de alguma coisa, me ligue. – Ele fala, e nos abraçamos. Em seguida, ele volta para o carro e vai embora.
O trajeto de elevador é ainda mais constrangedor que no carro. Me lembro da sensação da agulha penetrando meu pescoço e um arrepio corre pela minha espinha. Ao perceber meu desconforto, Haru aperta suavemente meu ombro e esboça um sorriso. Talvez eu pudesse mesmo me dar bem com ele.
Quando entramos no apartamento, Raiden está na cozinha, preparando um chá.
— Mizuki! Como é bom te ver. – Ele diz. Apresento Haru para ele, e todos nos sentamos na mesa da sala.
— É bom te ver também. Eu tive alguns problemas depois que saí daqui, mas está tudo resolvido agora, pelo menos, por enquanto. – Digo, e começo a explicar o que aconteceu. Ele ouve atentamente, tateando os dedos sobre a mesa de mármore.
— Que bom que está tudo bem agora. – Ele diz. – Essa espada... é sua arma de nascença? – Ele pergunta, apontando para a katana ao lado da minha mochila.
— Bom, meu pai disse que ela apareceu no meu berço, quando eu nasci. Então acho que sim. – Explico. – Vocês dois também receberam algo assim?
— Sim, todos os reencarnados recebem. – Ele fala. – É uma forma de reconhecimento que o mundo tem pela nossa existência.
— Então... existem mais deuses, além de vocês três? – Haru pergunta.
— Bom, existem vários outros, mas Mizuki foi o único que conseguimos contatar por enquanto. Nós precisamos ser extremamente cautelosos com cada movimento que fazemos, para atrair o mínimo de atenção possível do caos. – Ele explica. – Tivemos muita sorte de achar Mizuki a tempo. A partir do momento em que um reencarnado desperta, fica extremamente fácil para o caos nos encontrar.
Ele continua explicando sobre a eterna guerra do equilíbrio, a ordem, o caos e outras coisas. Ele explica o quanto é perigoso um reencarnado que despertou não controlar seus poderes, pois a divindade pode assumir controle total do corpo, ou o reencarnado pode perder o controle dos seus poderes e causar uma grande destruição.
A conversa continua por cerca de uma hora, e o sono começa a fazer efeito no meu corpo. Raiden mostra um quarto onde eu e Haru ficaremos; deixo minhas coisas perto da cama e vou para o chuveiro. A água quente relaxa meus músculos de forma quase mágica, e só então percebo a tensão que meu corpo sentia. Dado aos acontecimentos dos últimos dois dias, não fico surpreso.
Quando vou para o quarto, Haru já está em sua cama. Seus cabelos castanhos estão levemente molhados, e seu cansaço parece ter se aliviado um pouco. Ele estava usando apenas um par de calças de moletom, deixando o tronco a mostra. O treinamento no dojo parecia ter surtido efeito, visto que seus músculos eram bem definidos.
— Você fica incomodado de eu dormir aqui? – Ele pergunta ao perceber que eu estava olhando—o. Sinto meu rosto se avermelhar.
— N—não, nem um pouco. – Percebo como as palavras soaram, e meu rosto se esquenta mais ainda. – Quer dizer, eu já nem ligo mais pro episódio do elevador.
— Entendi. Que bom, eu detesto dormir em sofá – Ele diz, um pouco constrangido.
Apago as luzes e me deito na cama. Ela fica a apenas alguns centímetros da cama de Haru.
— Seu cabelo... ficou legal desse jeito. – Ele diz.
Não consigo disfarçar o sorriso. Sinto uma sensação estranha na presença dele, mas estranha de um jeito bom.
— Obrigado. Boa noite, Haru.

[...]

No outro dia, Raiden e Akane nos levam para um pequeno dojo afastado da cidade. Quando perguntei o que faríamos lá, ele disse que eu aprenderia a controlar a divindade dentro de mim. Ele explica que nós, reencarnados, temos duas essências, basicamente: a nossa essência humana e a essência divina. Quanto mais poder divino nós usamos, mais a essência humana se afasta, até que chegue em um ponto onde não é mais possível alcançá-la.
— Agora, Mizuki, eu quero que você medite, entre no âmago do seu ser. Você precisa encontrar a parte divina, e controlá-la. É como laçar um cavalo selvagem, então você deve tomar muito cuidado. – Ele diz.
Eu olho ao meu redor: Akane está com um olhar de curiosidade, e Haru assiste apreensivamente. Fecho meus olhos e foco na minha respiração.
Após alguns minutos, a imagem de uma lua, extremamente brilhante, começa a se formar na minha mente. Quando me aproximo dela, sinto meu corpo formigar, como se ela estivesse me chamando. De repente, sinto a necessidade de alcança—la. Começo a acelerar meus passos para ficar mais próximo daquela lua, até que começo a correr. De repente, sinto um choque percorrendo todo o meu corpo, e desabo no chão. Quando abro os olhos, estou de volta no dojo. Quando olho ao meu redor, o desespero toma conta de mime tenho vontade de gritar: As paredes e janelas estão destruídas, o chão de madeiras está em pedaços, e Akane, Raiden e Haru estão ofegantes.
— O que aconteceu? – Pergunto.
— O poder de Tsukuyomi causou isso, Mizuki. – Raiden responde, com a voz um pouco mais calma. – O que você viu enquanto meditava?
— Uma lua muito brilhante. Ela me chamava, e eu sentia a necessidade extrema de ir em sua direção. – Respondo. O Olhar de Raiden fica sério.
— Aquilo foi a essência divina te atraindo, Mizuki. Você deve resistir. Você não pode ir de encontro a ela; ela deve vir de encontro a você. – Ele explica.
Meus olhos encontram os de Haru, e seu olhar está aterrorizado. “Eu não consigo controlar isso”, penso. Imagino a essência de Tsukuyomi assumindo o controle do meu corpo, enquanto eu desapareço no esquecimento.
— Me desculpe, mas eu não consigo fazer isso. – Digo, e saio rapidamente do dojo, com os braços cruzados, com medo do meu próprio poder.
Ando alguns metros e me sento no toco de uma árvore próxima. De repente, sinto um calafrio percorrer minha espinha. Começo a sentir uma sensação terrível, até que ouço passos se aproximando de mim. Quando me viro para trás, duas figuras sinistras estão a poucos metros de mim. Eu os reconheço imediatamente como youkais.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam! O próximo capítulo sai dia 7 de março, espero vocês lá.



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