Seattle, 2017.

“Finalmente em Seattle.”

Havia me mudado para a grande Seattle, -mais precisamente para o apartamento de Rosalie-, tinha três semanas, viera de Forks, uma pequena cidade situada no estado de Washington, o clima era oceanico, com níveis de precipitação muito elevados, ou seja, dias de sol eram raros. Eu havia morado durante seis anos com Charlie em Forks. Por muitos dias eu quis realmente fugir de minha cidade, mas eu sentia que tinha a obrigação de cuidar do meu pai, até que ele tivesse capacidade o suficiente para ficar sozinho novamente. Porém, o que me motivou a finalmente me mudar de cidade foi o sonho de uma carreira própria, e se eu continuasse naquela pequena cidade eu não conseguiria.

Rosalie, minha melhor amiga morava em Seattle já há um ano e trabalhava em uma empresa de jornalismo.  Havia conhecido Rosalie em Phoenix, no colégio, e a partir de então nos tornamos inseparáveis. Até hoje eu tinha certeza que para sempre eu agradeceria a ela por ter estado ao meu lado nos momentos mais difíceis, se não fosse por ela eu certamente não estaria seguindo meu coração, se não fosse por ela eu provavelmente teria morrido, junto com todos os sonhos. Rosalie foi a pessoa que me ajudou a passar os dias, meses e anos após a morte da minha mãe, já que Charlie vivia em uma profunda depressão. Quando me mudei para Forks, ela se mudou para Chicago, para cursar jornalismo, e mesmo diante de toda distancia, nós nunca paramos de nos falar. Lembro das férias de verão que eu passava com ela, e algumas férias que ela foi até Forks, nós falávamos frequentemente por Skype, e mesmo longe era a melhor pessoa que eu poderia ter na vida. Rosalie insistira persistentemente comigo sobre eu me mudar de cidade, sobre começar uma vida nova, ela sabia de todos meus sonhos e sacrifícios.  Nunca me julgou, talvez seja por isso que eu confiava minha vida a ela. Porém, ela sabia, assim como eu, que não poderia simplesmente deixar Charlie depois de tudo o que havíamos passado, eu devia aquilo a ele. Ele precisava de mim, assim como eu um dia fui totalmente dependente dele.

 Lembro quando a ideia de me mudar, começou a fluir na minha cabeça, contei a Charlie, para minha surpresa ele me apoiou, disse que há um bom tempo percebera que eu já não era mais feliz. Não me leve a mal, eu não era tão ruim assim, eu tinha amigos, saia com eles, mas as vezes tudo aquilo parecia pouco demais para mim, a cidade pequena demais, eu não via probabilidade nenhuma em viver além da monotonia de todos os dias.

Minha vida em Forks era uma rotina, todos os dias eu me levantava pelas manhas, vestia roupas leves e saia fazer uma corrida, voltava para tomar o café que sempre era feito por Charlie e depois tomava um banho. Charlie e eu saiamos juntos para o trabalho. Ele ia para o posto policial de Forks e eu ia para a única loja de equipamentos de camping da cidade. A loja era nomeada como somente para acampamento, mas havia de tudo lá e era a mais conhecida pelos turistas que iam ate Forks.

Nos primeiros meses em Forks eu não fazia nada além de ficar em casa, quando chegava do trabalho. Saia para jantar fora com Charlie quando queríamos comer algo diferente. Algumas pessoas se aproximaram de mim com o decorrer do tempo, a cidade era pequena e eu era a forasteira nova. Eu fiz alguns amigos na cidade e aquilo tornou meus dias mais suportáveis. Não tinha muita coisa para se fazer em Forks, muitas vezes íamos até a hamburgueria e ao pub nas noites de quinta e sexta, nos finais de semana íamos para uma cidade maior que ficava ao redor, Portland. Mas, nunca passava disso, e então tudo acabou quando eles foram para a universidade.

Foi ai que eu tive a ideia de explorar a cidade, quando percebi que não conhecia nada sobre Forks, nos finais de semana, eu dirigia por vários lugares e ficava fora por horas.

Eu sempre fui uma amante de livros, então sempre carregava um comigo, e quando eu achava um lugar tranquilo e aconchegante eu era capaz de passar horas e horas lendo. Eu escrevia também, sempre que sentia algo eu tinha uma vontade incontrolável que colocar para fora e a única maneira que eu conseguia era através da escrita. Escrevia qualquer coisa que se possa imaginar, desde pequenos contos, até textos de autoajuda.

A clareira havia se tornado meu lugar favorito, ela ficava no meio da reserva, e as pessoas nunca paravam para aprecia-la. No outono ela era marrom e sem graça, mas na primavera ela simplesmente era o lugar mais lindo que eu já havia visto, com uma diversidade incrível de flores, mais ao sul era possível observar o rio e as montanhas.

A parte de explorar a cidade sempre era minha favorita, mas a cidade era tão pequena que em poucos dias eu já havia conhecido tudo. Então eu comecei a ir pela vizinhança também e conheci umas pessoas novas. Um dia quando eu andava pela praia de La Push, vi um grupo sentado em volta de uma fogueira, eles me olharam de longe, mas não fizeram menção em me chamar. Na outra semana, em La Push novamente eu conheci um deles, Jacob, e então nos tornamos grandes amigos. Jacob me apresentou a seus amigos, e me convidou a participar da roda em volta da fogueira que o grupo dele fazia.

Jacob era um rapaz muito bonito, ele tinha a pele morena, cabelos pretos e olhos castanhos escuros, tinha o corpo malhado e eu duvidava que ele sabia o quanto era atraente, porque sempre que íamos em algum lugar e as meninas o encaravam ele não percebia. Jacob tinha um sorriso que aquecia os dias de inverno, os dias que eu me sentia sozinha. Ele tinha um abraço reconfortante e parecia que quando me abraçava, eu era a única pessoa que importava para ele.

Meus dias em Forks ficaram um pouco mais coloridos depois que conheci eles. Jacob me explicara que eles eram descendentes da tribo indígena Quileutes, por isso possuíam alguns costumes diferentes. Conheci seus anciões e o lugar onde eles moravam, era uma casa perto da outra. Havia muita cumplicidade neles e foi aquilo que me impressionou.

Com o passar do tempo, Jacob preenchia meus dias cada vez mais e me fazia gostar dele cada vez mais também. Jacob quis mais, eu sabia que ele era diferente de James e de todos outros homens que se aproximaram de mim e foi só por isso que eu comecei algum relacionamento com ele. Jacob e eu era muito fácil, nós saímos juntos, algumas vezes era apenas nós dois e outra era com os amigos. Por muitas vezes eu ficava apenas vendo o trabalhar na oficina. Com o decorrer do tempo eu dizia a mim mesma que acabaria me apaixonando por ele, mas isso não aconteceu. Eu não sabia o que havia de errado comigo. Toda vez que ele me beijava e fazíamos amor, ele demonstrava uma paixão absurda e eu não conseguia corresponder a ele. Passei noites chorando, pensando que nada daquilo estava certo, eu não o amava da mesma forma que ele e por mais que eu quisesse permanecer pelo resto da vida ali, eu sentia que não era mais meu lugar.

O meu amor pela escritura foi se intensificando e eu passei a me dedicar a ela, era como se eu conseguisse colocar tudo de mim em algum lugar. Eu escrevia quando me sentia sozinha, ou quando uma inspiração de repente vinha. A primeira pessoa que eu mostrei foi Rosalie, ela ficou boquiaberta e disse que eu tinha muito talento, foi ai que surgiu a ideia de ir ate Seattle atrás de oportunidades.

Jacob lia algumas coisas também e dizia que eu tinha muito potencial e era muito talentosa, ele tinha certeza que eu poderia lançar um livro.

Forks fora o melhor lugar naquela época para ficar longe do que acontecera em Phoenix. Eu precisava ficar longe de todo meu passado que por muitos anos foi a minha tortura, mas que finalmente eu conseguira me libertar.

Quando Rosalie me convidou para morar com ela em Seattle, eu sabia que aquilo geraria uma certa expectativa em mim e poderia acabar com muita coisa. Charlie me apoiou, Jacob também em certo ponto, mas ele disse que era melhor nós nos separarmos, porque ele sentia que talvez aquilo não tivesse o mesmo valor para mim, do que tinha para ele.

Eu me lembro quando me senti a pior pessoa do mundo vendo o seu rosto contorcido pela dor.

—Vai ser melhor assim. –ele dissera.

—Eu te amo, Jacob.

—Eu sei, Bella. E eu queria muito que fosse o suficiente.

Jacob enxugou minhas lagrimas e me beijou com a mesma profundidade de sempre.

—Eu também te amo, eu realmente te amo muito e espero que você encontre o que deseja.

.

Semanas depois eu estava me mudando para Seattle e deixando meu conforto para trás. Jacob era uma peça essencial na minha vida, e foi ele que me ajudou a sair da escuridão. Em Phoenix, eu havia namorado um cara chamado James, mas, posso dizer que foi a pior escolha da minha vida. Foram dois anos de escuridão. No começo, ele parecia ser o homem perfeito, era carinhoso, romântico, me mandava flores e sempre me levava ate em casa. Rosalie nunca havia gostado dele, mas eu gostava. E muito. Ate o dia que ele começou a ser abusivo e possessivo demais, eu quis acreditar que ele mudaria, mas não mudou. Sua alma era negra e submergida na escuridão e eu quase fui com ele. Quase. Eu com o que me restava das forças consegui me livrar dele.

Me apaixonar de novo estava em último plano da lista de coisas a se fazer em Seattle. E a primeira era conseguir um emprego, onde me desse estabilidade para então começar minha carreira.

Rosalie estava muito bem de vida, morava em um apartamento não tão luxuoso, mas ainda assim era de se admirar, namorava com Emmett, um cara gigante bobalhão que eu simplesmente adorava, e era um executivo altamente qualificado que trabalhava em uma das mais importantes empresas de advocacia do pais.

—Rose, o que você acha desse apartamento? –disse para ela que fazia um lanche da tarde para nós. Era um sábado à tarde.

—Eu sinceramente acho que você deve sossegar e parar de procurar apartamentos, Bella. Você mal chegou não tem um emprego ainda...

—Farei entrevista semana que vem. –disse lhe cortando.

—Que seja, mas mesmo assim você ainda não tem como se sustentar e ainda pagar um apartamento Bella.  

Rose colocou os lanches e suco em cima da mesa e se sentou à minha frente.

—Eu sei que você quer logo uma casa, mas tenha calma Bella, já te disse que pode ficar o tempo que precisar aqui, você nem sabe se irá gostar realmente daqui... –Rose disse seria. –E acho que você deve se preocupar primeiro com seu emprego.

—É acho que você tem razão, vou esperar mais um pouco. –meu tom saiu perceptivelmente desapontado.

—Ei, eu te convidei para morar comigo porque odiava ficar sozinha, não quero que vá embora. –ela fez beicinho.

Levantei os olhos para ela e sorri.

—Você querendo ir embora tão logo me deixa até abalada, e penso que meu apartamento e suas estadias não são bons para você. –ela mudou de tom de repente.

—Ora Rose, deixe de falar besteira, você sabe que te amo, mas não quero viver para sempre de favor. E sabe o quanto estou grata por estar aqui também, eu sempre senti sua falta.

Rose mordeu um pedaço do seu lanche, bebericou o suco e engoliu tudo para depois voltar a falar.

—Você não está de favor Isabella, e mesmo se estivesse não há problema algum.

—Eu sei Rose, e te agradeço muito por isso, mas...

—Sem mas, você fica o tempo que precisar aqui, certo? E eu não quero que você fale mais que esta de favor.

—Certo. –cedi por fim.

—Então Bells, estava falando com Emmett desde que você chegou, se talvez ele conseguisse um emprego para você na Cullen’s Advocacia.

Cullen...Já ouvira aquele sobrenome, ele era muito familiar, mas aonde? Forcei minha mente para se lembrar de quem era... Não era ninguém em Forks se não eu me lembraria, poderia ser de Phoenix, já era uma cidade com uma população maior.

Cullen... Meu coração misteriosamente deu um pulo com o sobrenome, mas eu realmente não me lembrava.

—Isabella?! –Rose gritou me tirando do transe.

—Sim?

—Estava aonde? Quer saber isso não importa. –A loira se levantou da mesa recolhendo os pratos. –Enfim, Emmett conversou com o Cullen, eu realmente não lembro o primeiro nome dele agora, acho que o vi umas duas vezes, mas Emmett é próximo a ele.

—Rose, quem é o Cullen que você estava falando?

—Ele é o CEO* da empresa, um homem totalmente sexy, eu diria um molhador de calcinhas... Bella aquele homem é quente, se eu não amasse Emmett certamente jogaria um charme nele. –nós rimos. –Mas, voltando ao ponto onde eu estava falando de um emprego para você...

*CEO: Chefe executivo da empresa

—Sim, claro desculpe, é que Cullen e um nome familiar para mim. E você me fale do emprego e não do molhador de calcinhas. –ela riu.

—Sim, Bella, A família Cullen é a mais conhecida no ramo da advocacia deve ser por isso... e eu acho que tenho uma notícia boa para você.

—Sério?! Diz logo Rose. –eu disse impaciente e tive que esperar ela pegar a salada de frutas na geladeira e sentar à minha frente de volta.

—Emmett tem um cargo muito importante e é amigo do CEO, então teve uma conversa com ele e disse que você precisava muito de um emprego....

—E?

—Bom, ele disse para marcar uma entrevista com você na segunda, e o Cullen aceitou.

—AH meu Deus, isso é sério?

—SIM. –ela disse tão animada quanto eu. –Mas, o cargo não e nada de espantoso, foi difícil por conta de sua formação e tal, mas te garanto que lá não tem nada de ruim.

—Qualquer coisa para mim serve, eu só quero poder ter minha renda novamente. Muito obrigada Rose, eu te devo mais uma.

—Não precisa agradecer meu amor, amigos são para isso.