O Sangue do Mestiço escrita por Júlio Oliveira


Capítulo 27
A verdade sangra


Notas iniciais do capítulo

Uma excelente leitura :)



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Sua barba estava maior do que nunca. Acomodado na confortável cadeira da belissimamente decorada sala, Edward Muller aguardava pela chegada de sua filha. Ao seu lado, Muralha e Joseph se faziam presentes, mas permaneciam em silêncio. O gigante já havia falado mais do que o suficiente, e tudo que o poderoso velho fazia era exprimir sua raiva e decepção através da face. Ficava encarando a parede vermelha como se canalizasse toda aquela carga de sentimentos negativos em decorrência daquela notícia. Ou melhor, daquela repetição.

— Eu não posso acreditar — não conseguiu segurar as palavras dentro de si. — Como ela pode ter feito isso de novo? Eu não entendo. Já conversamos sobre isso.

Joseph permanecia impassível. Preferia não se meter naquele assunto, ainda mais pelo estado emocional em que o seu chefe se encontrava. Muralha, no entanto, parecia um pouco mais à vontade. Apesar do silêncio, não tinha medo de encarar os olhos do homem que desabafava.

— Ela sabe de tudo, simplesmente de tudo! — Edward ergueu uma taça de vinho e deu um longo gole. Torcia para que o álcool acalmasse seus ânimos, mas não estava funcionando. — A Sarah morreu nas mãos dessas pestes e a Jessica simplesmente se relaciona com um deles? Que absurdo! Já falei até com o padre para ele me ajudar nisso, mas ele não me deu ouvidos. Maldito seja!

Sentindo toda aquela carga de raiva na voz de Muller, Joseph ousou emitir uma opinião:

— Senhor — chamou atenção de seu chefe com timidez, mas não sem antes dar um gole em sua bebida preferida. — Ela ainda é jovem. Não é normal que tome algumas decisões ruins? Quer dizer, quando eu era adolescente também não tinha o melhor gosto para mulheres. Não me orgulho disso, mas já aconteceu de eu ter saído com uma moça que não...

Ele não concluiu a frase, sendo interrompido por uma severa gargalhada de Muralha. Ficando sem entender, o ricaço perguntou irritado:

— Que não o quê? Explique isso.

— Ela não era uma moça — Muralha tomou a frente do colega. — Eu nunca me canso dessa história.

O gigante voltou a gargalhar enquanto Joseph estava claramente sem graça. Edward, no entanto, não achou aquela história convincente.

— Eu não me importo com seus erros de julgamento, Joseph. Isso simplesmente não tem graça alguma — ele disse dando logo em seguida um olhar de reprovação para o homem que ria. — É a minha filha, maldição. Minha única filha! Muralha, você tem certeza do que viu? Certeza absoluta?

— Eu estava caçando, chefe — o gigante elaborou sua resposta. — E vi o que vi: sua filha abraçada com um índio. Talvez sendo beijada, isso não posso dizer de certeza. Eu estava me aproximando deles até que o garoto me notou e, após falar algo no ouvido de Sarah, saiu correndo. Um pequeno covarde!

Cobrindo o rosto com as mãos, Muller sentia um misto de preocupação e vergonha. “Só quero que isso acabe logo”, pensava repetidamente. Até que finalmente chegara a hora de encarar os fatos: a porta da sua mansão fora aberta. Do lado de fora, uma belíssima imagem era vista: com longos cabelos negros e grandes olhos castanhos, a pequena e delicada Jessica Muller adentrava a sala. Ela carregava uma leveza dentro de si e qualquer lugar parecia mais iluminado com a sua presença. No entanto, assim que a moça encarou a presença de Muralha, pôs uma expressão de desgosto em seu rosto.

— Pai — ela o cumprimentou como sempre fazia. — Joseph. Muralha.

Para os outros dois, o cumprimento era um tanto quanto frio, mas ainda delicado. Joseph o recebeu com carinho, enquanto o gigante deu um sorriso irônico.

— Minha filha — Edward respondeu. — Como é bom vê-la.

Apesar das doces palavras, o tom de voz do homem entregava toda sua insatisfação. E aquilo não passou despercebido pela garota.

— Pai... — disse com timidez, ao mesmo tempo em que as palavras fugiam de sua mente. — Algum problema?

Jessica sabia bem que havia algo de errado. Ou ao menos era assim que o seu pai enxergava. No entanto, ela tinha esperança de que toda aquela situação passasse despercebida e que aquele momento incômodo na sala logo se extinguisse e desse lugar a um pouco de afeto e descanso.

— Algum problema? — Edward repetiu os dizeres da filha. — O que você acha, minha filha? Acha que há algum problema?

Percebendo um tom de voz cada vez menos paterno, a garota sentiu seus lábios tremerem. Ainda assim, respirou fundo e respondeu:

— Não. Não há problema algum, pai.

— Pois eu digo que há — Muller determinou sombriamente. Ao lado dele, Joseph tentava não encarar os olhos de ninguém, enquanto Muralha dava um sorriso discreto com toda aquela situação. — Muralha me contou tudo que viu, Jessica. Você e um indiozinho. Olhe para meus olhos e diga: ele está mentindo?

Com os olhos se enchendo de lágrimas, a menina teve que fazer um grande esforço para não cair em prantos. Mais uma vez, ela manteve o controle de sua respiração e pensou numa resposta. “Não”, a palavra surgiu em sua mente. Mas não era isso que queria. Ela sabia bem que mentir não melhoraria a situação. Na verdade, uma mentira naquela altura apenas tornaria todo aquele processo pior.

— Sim — foi a palavra que saiu da sua boca. — Eu e o Adaky estamos juntos, pai.

— “Adaky”? Isso é nome de gente? — O pai perguntou com desprezo enquanto fazia uma clara expressão de nojo.

Recuando o corpo, Edward Muller colocou mais vinho em sua taça e logo tratou de beber. Aquele silêncio encheu Jessica de medo. Algo não estava certo. Após encher seu corpo de ainda mais álcool, o homem mais poderoso de Roanoke voltou a falar:

— Por que, Jessica? Por que você faz isso comigo e com a sua família? — Desgosto, decepção e desgraça permeavam a sua voz. — Você foi criada com os melhores livros, com a melhor casa, condições para ser alguém na vida. E então resolve cair nos braços de um nativo? Um maldito nativo dessa ilha no meio do inferno? Por que, Jessica?!

A única resposta da filha foi o cair de lágrimas. Ela soluçava e a coloração de seu rosto já atingira um triste vermelho.

— Eu não te criei para isso — Muller continuou após beber mais uma taça de vinho. Sua voz já estava começando a ficar embolada. — Esses desgraçados deixaram sua mãe morrer. Ela sofreu muito, Jessica!

A voz do homem estava saindo tão forte que até mesmo Muralha havia recuado o seu corpo. Joseph não mais bebia, apenas observando aquela cena com apreensão. Ainda coberta de lágrimas, Jessica perguntou com grande carga de medo em sua voz:

— Pai, o que é isso? Por quê? — A garota começou a encarar a entrada da casa, talvez na esperança de simplesmente correr e sumir dali. — Por favor, eu não fiz nada de errado!

Levantando-se, Muller causou calafrios em sua filha. No entanto, o que ele fez em seguida foi inesperado: acariciou levemente o úmido rosto de Jessica Muller.

— Oh, minha filha — ele disse com um estranho carinho em sua voz. — Você não errou. Eu que errei em como educá-la.

E então, sem aviso algum, acertou um forte tapa no rosto da garota. Com a marca da mão de seu pai em sua face, Jessica simplesmente se jogou ao chão em intenso sofrimento.

— E é assim que será daqui por diante — Edward falou com grande frieza. — Se eu souber que você continua se metendo com esse indiozinho, não espere que eu não reaja, minha querida filha.

Dito aquilo, passou a acariciar a cabeça da trêmula Jessica enquanto a encarava. Tudo que a garota fazia era olhar para o chão úmido de suas lágrimas, ao mesmo tempo em que um belo colar dourado pendia de seu pescoço, colar esse que pertenceu a sua mãe antes da morte.

Toda essa onda de memórias percorreu a alma de Edward Muller no momento em que ele reencontrou tal colar. Após ouvir os sons de confronto, foi fácil despertar e ir averiguar o que estava ocorrendo. Logo chegou no quarto de Muralha e pôde visualizar Patwin caído no chão. O mestiço estava cheio de cortes e seu rosto inchado graças aos violentos socos que sofreu de seu algoz. O gigante, por outro lado, estava com uma das mãos encharcadas de sangue e com um dedo parcialmente decepado.

— O que houve aqui? — O ricaço questionou, ainda que a resposta fosse óbvia.

— O desgraçado invadiu a mansão — Muralha respondeu com uma ponta de orgulho na voz. — Vinha armado, inclusive. Porém, não foi capaz de usar seu revólver. Ainda assim, não é totalmente inofensivo.

Ao dizer aquilo, o homem olhou mais uma vez para seu horrendo ferimento na mão.

— Você fez um bom trabalho — Edward falou com certo espanto. Era inacreditável aquilo: pensava que o jornalista estava morto, afinal. — Leve-o para sala e amarre-o. Quero ter uma conversinha com ele.

Muralha prontamente ergueu Patwin e o tirou dali. Estando sozinho no quarto de seu guarda, Muller voltou a encarar o colar que jazia no chão. Estava quase oculto embaixo da cama, sendo perceptível apenas uma parcela dele, ainda que continuasse plenamente reconhecível. “O que isso faz aqui?”, o ricaço questionou mentalmente. Ao lado da joia, havia outros itens jogados pelo lugar. “Muralha?”, um frio congelante atravessou sua espinha enquanto diversas ideias invadiam sua mente.

Na sala, Patwin era amarrado a uma das variadas cadeiras. Ainda desacordado, o mestiço estava com uma aparência deveras danificada e aquela imagem divertia o seu algoz. “Parece que fiz um bom trabalho”, Muralha pensou com maldade. Passaram-se alguns minutos para que o jornalista finalmente despertasse.

— Parece que a bela adormecida acordou — o gigante disse jocosamente. — Muller, venha ver.

Caminhando com a ajuda de suas inseparáveis muletas, Edward apareceu com seu típico rosto sombrio. Encarava fixamente a imagem do mestiço amarrado, enquanto também visualizava Muralha ao lado do homem. Patwin, por outro lado, parecia confuso e sem entender bem o que acontecia.

— Pensei que não fosse mais despertar, garoto — o ricaço disse enquanto se sentava. — Pensei que tivesse desistido de viver.

Então o mestiço logo se lembrou de seus momentos mais recentes: da decisão de matar Edward Muller e do fracasso do plano. Ele sentia seu corpo todo doer, além de sua visão estar prejudicada pelo inchaço de diferentes regiões do rosto.

— Edward... — Patwin disse com dificuldade, respirando fundo antes de cada palavra. — Seu monstro!

— Admira-me o esforço que faça para me atacar — Edward respondeu com a voz cínica. — Eu não consigo acreditar que você esteja vivo. O próprio Muralha me disse que deu um tiro em você. Disse que o viu cair no chão, ao mesmo tempo em que era tomado pelo sangue.

— Ele não atirou em mim! — O mestiço demonstrou ter uma força até então desconhecida. — Eu pulei em direção da bala! Essa é a verdade. Seu covarde!

Muralha deu uma risada enquanto ouvia aquilo. Pegou o revólver jogado no chão e entregou a seu chefe.

— Ele estava com esse — disse para o ricaço.

— Covarde? — Muller falou encarando o jornalista e apontando o revólver para ele. Destravou a arma e aproveitou cada segundo que pôde enquanto observava a expressão de dor e desprezo do homem. Não deixou de notar o prazer que via nos olhos do gigante ao seu lado. — Você entra na minha casa armado no meio da madrugada, mas o covarde sou eu? Você queria me matar enquanto eu dormia, isso parece um ato de coragem? O que você tem na cabeça, mestiço?

Respirando pesadamente, Patwin deixou que o silêncio permeasse o momento. Não satisfeito com aquilo, Edward aproximou sua cadeira da de seu inimigo e, erguendo a cabeça do homem, ordenou:

— Responda!

— Justiça! — O mestiço respondeu em um grito. Mais do que isso: encarou fixamente os olhos do demônio de Roanoke e cuspiu-lhe no rosto. Ele não tinha mais nada a perder, ou ao menos pensou assim naquele momento.

— Justiça? Engraçado — Muller deu uma risada com aquilo e Muralha o acompanhou. Após limpar o seu rosto, prosseguiu. — Justiça é algo que eu venho perseguindo a minha vida inteira. E quer saber a verdade, Patwin? Eu nunca a encontrei.

O mestiço não esperava ouvir aquilo. Mantendo o silêncio, prestou muita atenção nas palavras seguintes de seu grande algoz.

— Quer saber a verdade? — Edward continuou com suas longas falas enquanto seu guarda passou a observar aquilo com certa estranheza. — Eu nunca encontrei a resposta. Nunca soube quem realmente matou Jessica Muller, a minha amada filha. Quando prendi aquele Richard Olsen pela segunda vez, até que fiz minhas perguntas. Queria saber por onde ele tinha estado, por onde havia andado. Queria saber da tribo. Mas não perguntei pela Jessica. Irônico isso, não? Eu poderia estar com o assassino da minha filha na minha frente, mas simplesmente deixei isso para lá. Preferi descobrir onde estavam os nativos. Talvez mais do que justiça, eu só quisesse me divertir. E quer saber? Não acredito que Richard tenha matado a minha filha.

Patwin engoliu em seco com aquilo, enquanto Muralha começava a sentir suas mãos úmidas de suor. Muller questionou:

— Mas eu quero saber, Patwin: você matou a Jessica? Eu quero a verdade, independente do quanto ela sangre.

E, falando com coragem e convicção, o mestiço respondeu:

— Não. Eu nunca nem vi Jessica Muller.

— Então devo crer que também nunca tenha visto este colar — Edward ergueu a joia que sua filha usava naquele dia em que brigara com ela.

— Nem sabia da sua existência — o jornalista apresentou uma serenidade que ele próprio desconhecia.

O demônio de Roanoke leu claramente os sinais de que Patwin Winslow estava falando a mais sincera verdade. No entanto, também leu os sinais apresentados pelo seu guarda. Acanhado, Muralha parecia querer se afastar de tudo aquilo, ao mesmo tempo em que coçava o pescoço e mordia seus lábios secos.

— Mas você sabe — Muller afirmou encarando o homem de grande estatura. — Não é?

Dando um passo para trás, o gigante manteve-se em silêncio enquanto encarava aquela joia e apresentava uma típica expressão de medo.

— Nem mais um passo! — O seu chefe ordenou e, logo após destravar o revólver, apontou a arma em sua direção. — Eu sei usar isso melhor que o mestiço, homem.

Tomado pelo medo, Muralha desfez os passos que havia dado e disse:

— Muller, eu não sei de nada.

Patwin estava impressionado com toda a situação. Não pensava ser possível ver o gigante em uma posição de submissão e fraqueza. Estava até mesmo tendo algum deleite com a situação, tinha que admitir.

— A verdade! — A voz de Muller parecia um trovão de tão forte. — Eu encontrei o colar da minha esposa em seu quarto, o mesmo que a Jessica usava com frequência. Além do mais, você sabe que eu não tenho medo de sujar minhas mãos de sangue.

— Eu... — Muralha tentava inventar qualquer história em sua cabeça, mas aquela era uma posição a qual ele não estava acostumado. Estar do outro lado de uma arma não era nada confortável. Ele sabia bem que sua vida estava por um fio. — Não foi minha culpa!

— Fale! — Impaciente, Edward disparou contra a perna de seu próprio guarda. — Sem meias verdades. Fale tudo que aconteceu!

Caído e com sangue em abundância saindo de sua perna, o gigante parecia o menor e mais indefeso dos seres. Podia-se ver a formação de lágrimas em seu rosto. Ele ainda tentou encarar Muller, como se buscasse clemência. No entanto, ao ver a expressão de puro ódio no rosto de seu chefe, resolveu fazer o que lhe foi ordenado.

— Eu estava lá... — sua fala era interrompida por soluços de desespero. — Estava no dia em que você bateu nela, Edward. Vi o desespero dela em seus olhos, mas também vi o colar que ela carregava. Não só ele, mas todos as outras joias que ela tinha acesso. E você quer saber? Eu queria tudo aquilo. Eu queria sua riqueza, Edward.

O demônio de Roanoke arregalou os olhos, mas não interrompeu o seu traidor. Queria ouvir cada detalhe da história.

— Aconteceu de novo — Muralha prosseguiu. — Eu estava caçando na floresta como na maioria dos dias. Até que encontrei Jessica com aquele índio. Ele fugiu desesperado, como sempre, mas ela resolveu me enfrentar. Disse que não era justo tudo aquilo, que não era certo. Disse ainda que temia a sua reação ao descobrir que ela havia o desobedecido novamente.

— E você? — Um grande sentimento de culpa começou a se apossar do homem mais poderoso da ilha.

— Eu? Eu disse para ela que poderia manter o segredo, mas desde que ela me desse as joias da família. Ela prontamente recusou aquela oferta. A garota parecia ter um grande respeito pela memória da mãe e até mesmo por você — parou por um instante enquanto apertava a perna, tentando assim estancar o sangramento que se fazia intenso. — Eu respondi dizendo que você saberia de toda a verdade e que a punição viria para ela. Edward, eu nunca vi uma mulher mais assustada do que sua filha. Os olhos dela praticamente saltaram, provavelmente imaginando o que sofreria nas suas mãos. Ela enlouqueceu. E depois tudo aconteceu com muita velocidade.

— O quê?! — Muller mal podia suportar aquelas pausas.

— Ela sacou a faca que eu carregava em meu bolso e tentou me acertar. Juro que não queria machucá-la, foi apenas reflexo. Mas acabou que a lâmina penetrou o seu peito. O sangue dela espirrou em minhas mãos, Edward. Ela me encarou com uma angústia de dar pena, ao mesmo tempo em que suas mãos tremiam. Caindo no chão, vi que ela ainda estava viva. Mas isso não poderia ser descoberto. Não, eu sabia que a vila iria querer cortar a minha cabeça! — O demônio de Roanoke segurava o revólver com força enquanto ouvia tudo aquilo. — Então eu acabei com o sofrimento dela ali mesmo. Mas sabia que ainda assim não seria suficiente! O corpo dela seria encontrado e eu seria o principal suspeito, ou ao menos assim que pensei. E então estraçalhei o seu corpo, cortei as suas vísceras e transformei aquela bela garota em um resto de nada.

Patwin Winslow sentiu seu estômago se revirar enquanto ouvia aquela história. Era de uma justificativa tão absurda e ultrajante, que ele apoiaria Edward em qualquer punição que ele quisesse aplicar ao seu guarda traidor. Muller, por outro lado, mantinha um olhar que misturava ceticismo e ódio.

— Você fez isso mesmo? — Ele perguntou desejando que toda aquela história não passasse de um conto de horror.

— Eu fiz — Muralha começou a chorar. — Mas não me mate, Edward! Eu não queria isso! Não foi minha culpa!

— Não, não foi — Edward Muller falou com uma estranha calma, atirando logo em seguida na cabeça do traidor. — Foi minha.

O mestiço observou toda aquela cena com um sentimento estranho dentro de si. Assustou-se quando viu Muller aproximar-se desajeitadamente de si, mas sentiu um alívio quando notou que o homem apenas desamarrou suas mãos da cadeira, libertando-o.

— O diabo estava o tempo inteiro ao meu lado e eu não vi — o poderoso de Roanoke disse enquanto deixava lágrimas caírem e entregando o revólver para Patwin. — Faça-me um favor e acabe com isso logo.

O jornalista segurou a arma com insegurança. A sua frente, tudo que via era um Edward Muller desesperado em busca de uma paz que só a morte poderia lhe conceder.

— Faça! Faça! — Ele repetia incessantemente.

Patwin apontou o revólver para a testa do homem. “Sim, ele merece”, uma voz na mente do mestiço falou. A arma estava quente e pronta para tirar mais uma vida. Aquele era o momento. Mas, como de costume, ele hesitou.

— O que está esperando? Acabe logo com isso! — O desespero na voz e nos olhos do demônio de Roanoke era visível.

Então o jornalista respirou e pensou. Após breves segundos, guardou o revólver e disse com convicção:

— Matá-lo seria um favor para você. Eu não estou aqui para te ajudar.

E, retirando-se do local, Patwin Winslow deixou um Edward Muller abandonado e em prantos ao lado de um cadáver.


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Notas finais do capítulo

Galera, esse foi o capítulo que eu mais gostei de escrever (e ler) até então. Sei que muita gente estava esperando pela solução desse mistério e foi um dos desafios que eu mais gostei de fazer. Espero que tenham gostado tanto quanto eu. E, agora, começamos a reta final da história. Obrigado por lerem "O Sangue do Mestiço" ♥

Até breve :)



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