O Sangue do Mestiço escrita por Júlio Oliveira


Capítulo 15
O sangue que fala


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Ele já estava lá há dias. “Como o tempo passou rápido”, pensou Patwin. Não conseguia processar o tanto que havia aprendido nos últimos tempos. Toda pressão e perigo pelo qual passara fomentou sua transformação. Teve que retomar mentalmente tudo desde o começo. Queria processar e compreender de onde havia criado tanta força para superar os desafios impostos a ele. Não, não pensava na sua chegada a Roanoke, mas bem antes disso: o pedido de seu pai. Pat sempre se lembrava da cena e tentava encaixar as peças para compreender da melhor forma possível. Mas não, ele simplesmente nunca tinha um entendimento completo. No entanto, não custava tentar mais uma vez. E, dessa forma, estava o mestiço mais uma noite pensando sobre sua própria vida sob a luz das estrelas.

Já havia se tornado um hábito: enquanto boa parte da tribo ia dormir, o jornalista saía de sua tenda e encarava a solidão e o frio da noite. Não de uma maneira negativa, mas como um momento de forte introspecção, autoconhecimento. Questionava-se repetidamente sobre o que estava fazendo ali, sempre se lembrando de seus objetivos e tentando traçar um plano para fazer tudo voltar ao normal. “É possível? Acho que já mudei tanto”, refletiu. E então voltou os pensamentos para seu pai. Sim, todo momento de reflexão o fazia viajar, de maneira que temas distintos se misturavam e o mestiço acabava achando respostas para o que não havia perguntado.

Pat lembrou-se do que dizia Platão: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. Questionou se o seu pai, além de nativo-americano, também não era fã de filosofia grega. “Dificilmente”, deu uma risada com o pensamento.

— Conheça seu sangue — seu pai dissera, ou ao menos era assim que o jornalista se lembrava. As palavras sempre se misturavam em sua cabeça.

Mas afinal, qual o ponto de conhecimento que seu pai desejava? “Será que já conheci o suficiente?”, pensou enquanto lembrava dos últimos dias. Sim, aprendera muito no curto tempo passado. O mestiço estava cada vez melhor no uso do arco, além de agora conhecer pontos importantes da cultura dos secotan. Sabia bem do ritual fúnebre, da visão que a tribo tinha em relação à natureza e aos animais. Também aprendera um pouco mais do dialeto local, o que foi facilitado pelas breves aulas que seu pai dera no passado. Era como se cada novo aprendizado puxasse um fio de memórias, o que tornou tudo mais rápido. “Será que isso basta?”, ele questionou.

A grande verdade é que ele mal se conhecia. Como se definia para qualquer um que perguntava? “Jornalista. Uma profissão. É isso que sou?”, refletiu com certo temor. Sentia medo de não passar de poeira cósmica em um universo caótico. Não tinha a pretensão de se ver como alguém especial, mas tinha o desejo inato de encontrar significado na própria existência. Entretanto, o título de “mestiço” também não bastava para saciar esse desejo. Colocando as mãos na cabeça, disse em voz alta:

— Quem você é, Patwin?

Talvez fosse isso o que seu pai tanto queria. Não se tratava de conhecer uma cultura, seu sangue, ou seus costumes. Na verdade, talvez tudo fosse uma jornada em busca de autoconhecimento. Talvez seu pai enxergasse nele esse sentimento de perdição, eterna busca por algo que não era encontrado. Sim, alguém perdido em si mesmo, no mundo e na vida. “Um americano. Um jornalista. Um branco. Um índio. Um mestiço”, refletiu. “Rótulos que não dizem quem sou. Mas o problema é que também não faço ideia do que sou. Eu sou algo, afinal?”. Voltou a encarar as estrelas e toda a imensidão do céu. Riu de seus próprios pensamentos. “Por certo meu pai nem fazia ideia disso tudo que penso. Apenas especulações de um homem sofrendo de crise de identidade. Tão juvenil. Tão idiota”, pensou.

Talvez fosse melhor pensar no presente. Tanta coisa acontecia ao seu redor. Ainda deveria se preocupar com David. Como estaria o garoto? Seus pensamentos foram além: como estaria sua cidade, Nova York? Como o receberiam no escritório? Que história contaria? “Fui preso por acidente, acabei fugindo e sendo abrigado por uma tribo indígena. Cacei um javali e outros animais ao longo desse tempo. Depois...”, teria ainda que escrever o restante da história. Em sua cabeça, começava a lentamente traçar planos de retornar à cidade e dar o fora dali. Mas o medo ainda o impedia. Edward Muller e Muralha eram duas figuras que habitavam os cantos mais sombrios de sua mente. “Eu bem que poderia acertar uma flecha neles”, riu estupidamente com a ideia.

— Isso é tempo? — Uma voz cortou seu riso.

Normalmente, Patwin apostaria que o dono da voz seria seu amigo, Adaky. Entretanto, o som ali presente era puramente feminino. Não só isso, o inglês tinha um sotaque muito presente. Olhando para trás, o mestiço se surpreendeu a ver a valente guerreira Eyanosa diante de si. Ela estava linda como de costume, mas menos assustadora sem todo o armamento que quase sempre levava consigo.

— Eyanosa — Pat disse com calma. — Não esperava você aqui.

Os dias não foram de aprendizado apenas para o jornalista: os índios ganharam algum conhecimento maior do inglês com a convivência. Adaky foi essencial na aceitação e na facilitação do processo de aprendizado. No caso da nativa, ela já tinha algum conhecimento (ainda que precário), o que tornou tudo mais fácil. Desde então, a relação entre ela e o mestiço tornara-se menos agressiva.

— Eu estaria sendo uma má caçadora caso você já esperasse — ela brincou. — Mas então, o que faz por aqui?

Suas frases acabavam misturando um pouco do inglês e do dialeto secotan, mas Pat conseguia entender relativamente bem.

— Você quer a resposta longa ou a curta? — O mestiço deu um sorriso triste.

— A que seu espírito quiser.

Eyanosa lentamente sentou-se ao lado do mestiço e passou a encarar as estrelas junto dele enquanto aguardava por uma resposta. Para ele, entretanto, aquela era uma ocasião estranha. Não estava acostumado a conversar com a nativa em um momento de paz, longe de caçadas ou qualquer outro ritual da tribo. No entanto, resolveu se abrir.

— Eu tenho medo — não escolhia palavras, simplesmente dizia o que vinha a mente. — Medo de toda essa jornada não ter significado nenhum. De eu ter cometido um erro. E se todo esse tempo eu tiver entendido tudo errado? Penso que estou completamente enganado, sabe?

A índia escutava com calma, sem fazer qualquer menção de interromper. Além disso, encarava os olhos de Patwin, como se pudesse enxergar sua alma daquela forma. Ele prosseguiu:

— A verdade é que não sei onde é o meu lugar. Eu pensava que amava Nova York, a minha cidade. Mas quer saber a verdade? Eu só amava o fato de não ter que tomar decisões. O fato de ser apenas um robô vivendo no modo automático...

— Robô? — Eyanosa interrompeu sem entender o termo.

— É como um escravo. Um ser sem vontade, sem decisão — Pat tentou explicar. — Eu simplesmente seguia a corrente, entende? Como um peixe perdido em um rio, sem decisão, sem poder algum. Mas também sem responsabilidade. Quando se é uma simples gota no oceano, você não tem o porquê de se preocupar com suas ações. Mas também acontece de você simplesmente deixar de ser... você.

— Aqui aprendemos que cada espírito é único. Vivemos num oceano de outros espíritos, mas todos são diferentes — as palavras da índia viajavam até os ouvidos de Pat de maneira tranquila, suave. — Acredito que você apenas se confundia. Você é único, Patwin.

O jornalista deu um sorriso sincero e ficou levemente corado. “Existe um coração aí?”, pensou com bom-humor.

— Obrigado, Eyanosa — sussurrou. — Já está fazendo meus dias aqui melhores.

— Mas afinal, como que são as coisas lá? — Ela tinha muita curiosidade. — Digo, na sua terra? Como que você chama mesmo? Nova York?

A verdade era que a nativa não conhecia nada além das fronteiras da ilha de Roanoke. Patwin era um forasteiro quase que completo, tendo como única ligação parte de seu sangue. Ainda assim, ele trazia uma carga de informações do mundo exterior, e isso atiçava a curiosidade da moça.

— Sim, Nova York — Pat sorriu com a curiosidade dela. —  É um lugar enorme. Existem estruturas gigantes por todo lado. Centenas de pessoas podem morar num mesmo lugar, é algo fantástico. Tem também os carros. São como cavalos, só que metálicos e barulhentos. Eu tenho que te mostrar um dia. Quer dizer, se eu vim para cá, por que você não poderia visitar a cidade?

O mestiço riu ao perceber as palavras que soltava. Não costumava ter uma conversa tão leve com Eyanosa, mas ao mesmo tempo ele se sentia muito bem com tudo aquilo. Sim, estava dando algum descanso ao seu tão conturbado coração.

— Cavalos metálicos? Isso não faz sentido — a nativa respondeu com incredulidade.

— Como eu disse, você tem que ver. É como se fosse outro mundo — ele justificou e fitou mais uma vez o céu. — Provavelmente seja, afinal.

Um silêncio tomou conta do ambiente. Mas não era um silêncio incômodo, ou constrangedor. Era como se a simples presença de Eyanosa e Patwin fosse o bastante para o momento. E isso deu paz à cabeça do mestiço. Não pensava mais no significado de sua existência, em motivos para estar ou sair da tribo e muito menos nos demônios Edward e Muralha. Apenas vivia.

Eyanosa também aproveitava o momento. Apesar de toda a dureza que apresentava nas caçadas, a grande verdade é que a moça sentia falta de um descanso. Sim, uma simples parada para apreciar a natureza, o silêncio e a paz. Sendo Mahpee seu pai, desde cedo ela fora treinada para a guerra. O pensamento de batalha movia as engrenagens da sua mente, e era uma experiência única encontrar alguém de fora daquele contexto. Mesmo com um aparente desentendimento a princípio, a nativa podia dizer que o mestiço a fazia bem. E isso era estranho.

— Ainda não pedi desculpas — ela disse.

— Desculpas pelo o quê? — Pat questionou.

— Pela flechada. Agi sem pensar, fui estúpida — deu uma risada envergonhada. — Fico feliz que tenha se recuperado tão bem.

— Você estava pensando nos seus, eu consigo entender. Eu vi e vivi tudo o que os poderosos de lá podem fazer — apontava em direção da vila. — É compreensível sua atitude.

— Mas claramente nem todos são uns monstros.

Dessa vez, o silêncio constrangedor que tomou conta. Até que a índia tornou a falar.

— Digo, o tal do Richard é só estranho — disse sem jeito.

— Sim, exato — Pat não sabia bem o que dizer. — E, olhando bem, eu não sou daqui mesmo. Não que isso mude nada.

Os dois então gargalharam diante daquela situação estranha. Entreolhavam-se, mas apenas riam, não havia qualquer palavra dita. Os risos cessaram e continuaram a se encarar frente a frente. Eyanosa sentia-se leve como nunca. Tudo aquilo era como uma aventura para ela. “Será que Adaky também sentia isso?”, pensou. Se por um lado ela sentia toda essa leveza, por outro lembrava-se de seu pai. Provavelmente condenaria aquele tipo de aproximação. “Dane-se”, ela refletiu. Não estava fazendo nada de errado e, afinal de contas, Patwin estava contribuindo para a tribo. Tinha o sangue deles.

— O que pensa em fazer quando sair daqui? — Ela finalmente quebrou o silêncio.

— Eu não sei — ainda encarava os olhos de Eyanosa. — Na verdade, não sei de nada. Provavelmente vou voltar ao meu trabalho, a minha rotina e a tudo mais.

Ele se deitou. Ela acompanhou sua postura.

— E é isso que você quer? — Eyanosa perguntou.

— Não — Pat respondeu.

— Então por que não muda?

O jornalista encarava os olhos da índia. Ela retribuía, mas estava evidente que o sono estava chegando para a moça.

— Eu vou — ele sussurrou. — Não sei como, mas vou. Obrigado por me fazer acreditar nisso.

E, após aquelas palavras, Patwin viu Eyanosa fechar os olhos enquanto dava um singelo, mas lindo sorriso. Ele se levantou e carregou a nativa em seus braços até a tenda da moça. Deixando-a lá, decidiu voltar para dormir onde deveria. A sua “cama” parecia mais confortável que o comum, e o sono veio rápido aquela noite.

O dia chegou, mas para Richard o sono não fora tão bom. O artista estava sofrendo há dias na tribo. Suas mãos estavam cheias de bolhas, sua cabeça latejava e suas costas doíam. Sentia-se como um velho, e há tempos não sabia o que era o sabor de uma boa comida. Sofria com enjoos frequentes e o sono era sempre incompleto, tendo pesadelos ou simplesmente não conseguindo adormecer propriamente. No entanto, como se tudo isso não fosse o bastante, o garoto ainda sofria nas mãos dos outros índios. Não era sempre que Macawi ou Adaky se faziam presentes para protegê-lo. Então já estava se tornando comum conviver com xingamentos e outras espécies de provocações. Entretanto, a cosia subiu de nível naquele dia.

Após trabalhar por dias nas novas tendas da vila, o artista se viu pela primeira vez com tempo livre. Dessa maneira, não tardou para colher algumas plantas para a fabricação de tintas e largas folhas para elaborar suas pinturas. Certamente não eram os materiais certos para a elaboração da sua arte. Mas também não era o lugar certo, as pessoas certas e nem as condições certas. Ainda assim, nada disso importava para ele. Tudo que conseguia pensar era que finalmente poderia colocar para fora as imagens de seu imaginário. Não tinha pincel, mas tinha seus dedos. Já podia prever que o resultado não seria lá grande coisa, mas qualquer coisa já seria melhor do que nada. Com isso em mente, começou a pintar.

Na sua cabeça, imagens de seus dias passados transitavam de um lado para outro. Lembrou-se da longa caminhada até a tribo, dos animais mortos trazidos das caçadas de Eyanosa, dos próprios índios, da tribo e da floresta. Estranhamente, aquilo que mais o atraía era a imagem dos animais mortos, ainda que não tivesse a mesma força que outra visão do artista: a de Jessica Muller morta. Sim, o fantasma da garota ainda se fazia presente em suas memórias. O sangue, a frieza, o quão visceral aquilo era! Richard sentia como se isso o completasse. “Não faz sentido”, ele refletiu. “Mas de que importa o sentido das coisas? Cada coisa simplesmente é o que é!”.

Começou então a pintar mais uma vez o corpo da garota. Alguns índios que caminhavam pela tribo paravam para observar. O artista sonhava com a imagem pronta, entretanto, nada saiu como planejado. A falta de material, local e preparação surtiram o efeito esperado, mas não desejado. A folha não era feita para receber toda aquela tinta. Dedos não eram pincéis e o calor daquela manhã fazia o suor escorrer pelas mãos e pelo protótipo de trabalho. Não, não estava só ruim. Estava terrível! Irritado, Richard amassou a folha entre as mãos e depois rasgou-a como se tivesse ódio daquilo.

— Lugar miserável — disse em voz alta.

Uma dupla de nativos que observava a cena começou a rir da reação do jovem.

— Mais inútil que um aleijado — um deles falou.

Como de costume, o artista pouco entendia do que eles falavam, mas a entonação de voz e as risadas deixavam claro que eram palavras jocosas contra ele. Respondeu ferozmente:

— Vocês são malditos animais descivilizados. São só selvagens! — Richard estava ficando vermelho de raiva. Já havia deixado passar provocações de mais antes dessa, que foi apenas um estopim. — São tão fracos que, se antes tinham a ilha inteira, agora tem apenas uma fração minúscula. O meu povo esmaga o de vocês!

Deu um cuspe no chão após suas palavras. Aquele ato, além da intensidade da sua voz, fez que mais índios olhassem para o ocorrido.

— O que estão olhando? — O jovem estava definitivamente desequilibrado. — Não estão acostumados com alguém um pouco mais inteligente?

Ainda que não compreendesse tudo que fora dito, um dos índios se aproximou de Richard e, com o peito inflado e o queixo levantado, disse em um inglês razoável:

— Você deveria ter mais respeito, branco.

— Respeito? — Richard aproximou-se do nativo. — Seria bom vocês começarem me respeitando, antes de tudo!

O tom de voz, a aproximação, ou um pouco de cada coisa. O nativo com quem o artista discutia acabou se irritando profundamente e, sem qualquer aviso, desferiu um soco contra o rosto do garoto. Afastando-se, Richard colocou a mão sobre o olho que fora acertado. Sangue do seu supercílio caía, atrapalhando sua visão.

— Como ousa?! — Ele avançou contra o nativo.

O garoto, no entanto, não tinha prática alguma de luta ou outras atividades físicas. O índio desviou com facilidade da investida do branco e, logo em seguida, derrubou-o de maneira humilhante. Com o artista no chão, o nativo começou a acertar pontapés e a xingá-lo das mais variadas formas.

— Chega! — Uma voz firme cortou o momento.

Nativos estavam acompanhando a briga, que logo foi interrompida com aquela ordem. Quando olharam, ficaram surpresos ao ver a figura de Adaky.

— Acabamos por aqui — falou em inglês.

Richard, do chão, observou e agradeceu mentalmente pela intervenção do nativo. O artista estava agora ainda mais sujo, e pior: sangrava e sentia seu olho arder.

— Sempre estragando a diversão — o agressor reclamou com Adaky e se afastou.

— Você está bem? — Adaky perguntou para Richard enquanto o ajudava a se levantar.

— O que você acha? — O artista tremia de ódio. — Não aguento mais essa desgraça de lugar!

Aos poucos, o calor do momento começou a se dissipar e as pessoas saíram, restando apenas alguns passantes, além de Richard e Adaky. O garoto branco não sentia qualquer afeição pelo lugar. Como se não bastasse toda a saudade de seu lar, agora tinha que aturar agressões físicas ali? Que diferença fazia estar com os selvagens ou com Edward Muller? Sua saída daquele inferno era inevitável.

— Não aguento mais esse lugar, Adaky — explicou ao nativo. — Isso é um adeus.

— Como assim? Está falando em voltar para a sua vila? — Adaky pareceu surpreso.

— Ao menos lá eles me entendem, índio.

— Mas e o Edward? E aquele grandão? Você não tem medo?

Richard ficou pensativo. Sim, várias vezes pensara em voltar para casa, mas nunca tivera a coragem de executar o que passava por sua mente. Entretanto, seu olho voltou a latejar e o sangue quente tornou a escorrer.

— Medo de quê? — Limpou o vermelho em seu rosto. — Já sou agredido e pisado aqui. Passo fome, sinto dores e tenho vontade de sumir. Acha mesmo que valeu a pena fugir para mim, Adaky?

O nativo ficou pensativo. Não podia julgar o garoto. Afinal de contas, lembrava-se bem de sua curta estadia na cidade. Mesmo quando estava abrigado na confortável estalagem de Elizabeth Olsen, tudo aquilo parecia caótico e infernal para o índio. Sim, ele compreendia os sentimentos de Richard.

— Entendo você, Richard — disse com pesar. — Queria te ajudar, de verdade. Mas não posso. Voltar para a cidade seria um risco para mim.

— Eu agradeço — o próprio artista estranhou suas palavras. — Mas eu sei como voltar. Não teve um dia aqui em que eu não pensasse nisso. Nos veremos de novo futuramente, Adaky. Ou não.


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Notas finais do capítulo

Fico muito grato por ter lido mais este capítulo :D
O que achou?
Quais as expectativas para a história?

Ainda tem muita coisa para acontecer ;)



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