Un Maudit Amour escrita por Laurus Nobilis


Capítulo 5
Sete de abril de 1731


Notas iniciais do capítulo

Foi mal, gente. Eu ando meio lerda para responder aos três comentários que faltam. Prometo que de hoje não passa. Cheguei a me perguntar se deveria responder tudo antes de postar esse capítulo, mas acho que se tem capítulo novo, é pra postar logo, né? Espero que gostem.



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Querida Emmeline,

 

Eu caminhava sozinha pelo quintal de casa, inspecionando as plantas e flores após aquela chuva impiedosa de ontem, quando aconteceu. Não sei como não fomos pegos. Suponho que Santa Luzia me abençoou com boa sorte.

Ainda lembro exatamente do que eu estava fazendo. Estava agachada, tentando reunir com minhas próprias mãos a terra esparramada de um dos canteiros e me sujando um pouco no processo, quando ouvi:

"Ei! Clémence! Marie-Clémence!"

Era uma voz masculina e desagradavelmente familiar me chamando das grades. Papai sempre disse que essas grades eram devassadas demais. Eu daria tudo para ter uma cerca-viva me ocultando naquele momento.

Fiquei com tanta raiva que, de alguma maneira, não hesitei em ir até ele, enfiando ainda meu braço por entre as barras para dar-lhe um forte cutucão no peito. Ele pareceu gostar. Ou talvez apenas tivesse o hábito de reagir com uma risada em toda e qualquer ocasião.

"Pensei que estaria livre de você se não saísse de dentro de casa, mas pelo jeito, nem assim!", murmurei furiosa.

"Bem, desculpe. Era muito difícil ver você assim, ao ar livre, e não fazer nada."

Seus olhos brilhavam um tanto enigmáticos.

Na ponta da minha língua, estava um longo discurso sobre como moças respeitáveis não devem, em circunstância alguma, ficar de papo com qualquer homem que encontrem pela rua, e que eu já havia cometido uma estupidez enorme apenas em deixá-lo saber meu nome.

Mas em vez de desperdiçar fôlego com isso, decidi ser mais sucinta:

"Por que, pelo recanto mais fétido do Inferno, você não está ajudando sua família hoje?!"

"Porque não sou pago para isso", respondeu Ignus, aborrecido. "E também porque tenho pensado demais em certa senhorita da alta sociedade. Não serviria de nada, distraído assim."

Imediatamente, tive a impressão de que havia começado a tremer da cabeça aos pés. Não era algo que acontecesse todo dia.

"Sorte sua que não consigo enfiar uma bofetada nessa sua cara através das grades", rosnei.

Ele esboçou um sorriso, calmo como uma pluma.

"Não disse que era você, sua presunçosa."

Cruzei os braços devagar. O que exatamente ele pretendia?

"Não achei graça nenhuma", rebati logo em seguida, adotando um olhar carregado de desprezo. "Como você descobriu onde moro, ladrãozinho?"

"Não me chame assim", disse ele em um tom bastante diferente do antigo. Por um segundo, acho que esqueci como estava falando com um cigano. Muita gente deve chamar a ele e aos seus parentes de ladrões, a todo momento. Foi indelicado.

"Eu te observei voltando para casa naquele dia", prosseguiu Ignus, parecendo bem menos gaiato. "É claro que sei onde mora. E juro que estava apenas de passagem por aqui. Já me arrependi, inclusive. Esqueci do quanto você é chata quando quer. Se sou um ladrãozinho vagabundo, permita-me dizer que você também não parece ser nada além de uma senhorita enojada e sem personalidade, perfeitamente confortável com a vida regrada e triste que leva hoje, sempre levou e sempre levará."

Ergui as sobrancelhas.

"Perdão, Ignus." Encarei fundo aqueles olhos expressivos. "Não penso nada negativo de você. Você me parece um rapaz muito gentil, apesar da petulância toda. Fico apenas contrariada porque não deveria estar falando com homem algum, e você sabe disso."

"Sei, sim", replicou ele, meneando a cabeça. "Na verdade, há uma razão pela qual vim aqui hoje. Uma pequena razão."

E com isso, ele tirou uma flor de trás das costas. Não sei como eu não havia notado. Era um cravo cor-de-rosa. Antes que eu pudesse reagir, ele estendeu aquilo por entre as grades e tive que pegar. Era realmente lindo, de perfume suave e perfeito até a última pétala. Devo ter passado alguns instantes hipnotizada, olhando.

"É realmente encantador, Ignus, mas não posso aceitar", esclareci, já tentando devolver.

"Por quê?", insistiu ele, teimoso. "Não roubei, sabe? Comprei com meu próprio dinheiro."

Soltei um suspiro frustrado.

"Ninguém dá flores à uma moça a não ser que a esteja cortejando, e apesar dessa inconsequência, sei que você não tem nenhum problema na cabeça para considerar algo assim." Lancei um olhar ansioso para o casarão pintado em cores claras e muito bem-cuidado atrás de mim. "Por sinal, esqueceu que estamos na minha casa? Alguém da minha família poderia estar nos observando agora mesmo."

Ignus acompanhou meus olhos.

"Acho que não", disse com segurança. Em seguida ele voltou a olhar para mim, e por alguma razão eu senti nitidamente quando o fez. "Você poderia dizer que é de um admirador secreto. Eu teria deixado aos pés da sua porta se não te encontrasse aqui, e era mesmo isso que todos iriam supor."

Franzi o cenho.

"Mesmo um 'admirador secreto' me traria sérios problemas à essa altura da situação. Todos sabem que estou noiva. Todos."

"Já entendi isso", disse o cigano, finalmente tomando de volta a flor e recuando um passo. "Bem, minha irmã não nutre a mesma opinião sobre flores e cortejo. Posso dar isso a ela. Mas não pense que vou te deixar em paz tão facilmente, senhorita. Ainda vejo algo reluzindo em você."

Então, é claro, ele se virou e foi embora apressado antes que eu tivesse a chance de responder.

Aquela última afirmação me deixou perplexa. Sem perceber direito o que estava fazendo, eu permaneci ali, observando-o em sua camisa de seda estampada e calças desgastadas até que sumisse de vista. Qualquer um que visse aquela cena, sem dúvida teria a impressão errada.

Primeiro ele me chama de senhorita enojada e de várias outras coisas, depois diz que ainda "vê algo reluzindo em mim." Não estou gostando nada disso. É desrespeitoso. Ainda assim, sei que estou permitindo.

Será que meus pais me deserdariam apenas com base nisso? Acho que não, mas meu casamento estaria certamente arruinado. Era esse tipo de pensamento que assolava minha mente enquanto eu voltava a passos rápidos para dentro de casa. Mamãe e papai estavam entretidos tomando chá e conversando na sala de estar. Pareciam estar ali há muito tempo. O único comentário que ouvi foi sobre o quanto eu aparentava estar afobada:

"Clémence, meu bebê, você está se sentindo bem?"

"Estou ótima, mãe! Apenas cansada. O quintal me deu muito trabalho."


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