Un Maudit Amour escrita por Laurus Nobilis


Capítulo 2
Quatro de abril de 1731


Notas iniciais do capítulo

Eu tô realmente MUITO inspirada.

Essa é a primeira vez que posto um capítulo pelo celular. Não deve ter nenhum defeito, mas desculpe qualquer coisa, amanhã reviso e conserto.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753075/chapter/2

Querida Emmeline,

 

Foi uma aventura e tanto! E novamente, Deus me perdoe. Sabe qual desculpa eu e Marianne usamos? Dissemos para nossas respectivas mães que estávamos indo nos confessar na igreja, além de beijar os pés da Santíssima Virgem e nos voluntariar para ajudar os pobres e doentes da paróquia. Coisas que levariam um bom tempo. Uma série de mentiras deslavadas, é claro.

Isso me remete a um livro no qual a protagonista usava a igreja como pretexto para realizar todas as suas vontades ilícitas. Qual era mesmo o título? Acho que Romeu e Julieta. Exato. Romeu e Julieta. Tudo o que sei é que foi muito errado de nossa parte e certamente precisaremos de uma confissão de verdade depois. Mas valeu a pena. Como valeu.

Eu levei algum dinheiro comigo; algumas moedas num saco de veludo. Isso poderia ter despertado a desconfiança de mamãe, mas... Acho que, no fundo, ela nem se importava tanto. Sei que ela tem um pouco de medo de ciganos. Pareceu-me mais fácil mentir. Sou uma mentirosa compulsiva e vou direto para o inferno.

Quanto à praça, enfim: é exatamente como eu imaginava! Ainda mais bonito, porque minha imaginação não é das melhores. Sem dúvida, o que mais atraía olhares eram a música e a dança. Francês algum poderia ter inventado aqueles movimentos ousados; elegantes; cheios de vida. A saia da moça parecia um borrão colorido enquanto ela rodopiava sem parar diante de uma pequena multidão de olhos atentos. Ao fundo, uma dupla tocava uma melodia animada em violão e pandeiro. Acredita que eu não sabia o que era um pandeiro? Muito menos Marianne. Tivemos de perguntar a alguém.

Havia também as barraquinhas oferecendo lindas joias, além de muitos brinquedos: bonecas exóticas e peões dourados. Marianne comprou para si um delicado anel de prata com uma pedra azul-escura no centro que o vendedor jurava ser lápis-lazúli de verdade. Certamente, o preço valia por isso. Embora muitas coisas tenham me encantado, preferi salvar meu dinheiro para algo especial.

E há um fato que não consegui ignorar. Você vai rir de mim, Emmeline. Mas eu nunca tinha reparado no quanto ciganos são bonitos, talvez por nunca tê-los visto de muito perto. Digamos que no meio de centenas de franceses comuns, pálidos e sem atrativos, um único cigano se destacaria de primeira. Todos, dos mais novos aos mais velhos, têm o mesmo espesso cabelo negro, pele cor de cobre, rosto afilado, lábios delineados e vermelhos e um par de enormes e lindos olhos emoldurados por cílios compridos, sempre muito intensos e penetrantes. Não tenho ideia de onde eles vêm; não conheço sua cultura, mas agora sei que sua beleza hereditária nunca passa despercebida.

Por sinal... Um deles ficou me encarando. De todas as muitas pessoas que circulavam por ali, um deles decidiu olhar especificamente para mim. Era um rapaz que estava sentado preguiçosamente na beirada da fonte, esvaziando uma garrafa. Não demorei a perceber e encarei de volta, como faço com todos esses bêbados. Em vez de desviar o olhar, ele esboçou um sorriso. Franzi o cenho e ele enfim baixou a cabeça. Eu estaria mentindo se dissesse que me incomodei de verdade, mas acho que esse povo deveria ter um pouco mais de respeito pelas pessoas locais.

Acredite ou não, ainda não contei a melhor parte. Consegui que lessem minha sorte. Não foi sem esforço, pois a tenda da vidente ficava um pouco isolada. Precisei pedir informação, arrastando Marianne praça afora. Quando finalmente encontrei o tal lugar, percebi que o tecido circense que o envolvia era um pouco mais escuro, privativo e maior que os das demais atrações. Inspirava um pouco de medo, de fato. Marianne fez questão de observar isso, mas eu não me impressiono fácil, então logo a convenci a entrar.

No interior, sob o brilho de muitas velas pretas, nos deparamos com uma senhora de idade avançada que parecia estar tirando um breve cochilo em sua cadeira. Na mesa rústica diante dela, não havia nada além de um incenso aceso com aroma de jasmim e de um livrinho surrado aberto ao meio. Ao notar nossa presença, ela subitamente abriu os olhos e quase nos arrancou um suspiro de susto.

"Boa tarde, meninas!", disse a mulher, já totalmente desperta. "Eu sou Lydia, a famosa vidente. Vieram ter um vislumbre de seu futuro?"

Fiz que sim com a cabeça. Eu não soltava o braço de Marianne; tinha a impressão de que ela sairia correndo se eu desse a menor chance.

"Muito bom. Não há nada no mundo que me alegre mais do que a visita de duas belas jovens. É importante, porém, que cada uma tenha sua sorte lida individualmente."

"Entendo", respondi. "Acho que vou primeiro."

Minha amiga se retirou da tenda e foi esperar do lado de fora sem grandes objeções. Enquanto isso, a vidente Lydia sorria para mim e, com um gesto, me convidava a chegar mais perto. Havia uma outra cadeira ali diante dela e me acomodei.

"Qual é o preço?", lembrei de perguntar.

A senhora informou-me que era apenas uma moeda de latão. Estranhei um pouco.

"Se eu lucrar demais com meu dom, ele se enfraquece", esclareceu ela com voz suave.

"Seu... dom? Achei que fosse apenas ler minha mão."

"Ah, não. Não preciso disso."

Ela estendeu ambas as mãos espalmadas sobre a mesa e eu logo compreendi o que deveria fazer, apoiando as minhas por cima. Sua pele era macia. De repente, ela comprimiu meus punhos e fechou os olhos, transparecendo extrema concentração. Eu conseguia ouvir meus próprios batimentos, tamanha a expectativa e temor.

Senti algo estranho. Um formigamento. Tive a impressão de ouvir... sussurros? Tudo o que era sólido parecia distante. Achei que fosse desmaiar. Até que Lydia rompeu contato comigo e abriu os olhos, atordoada por um breve momento.

"Pressinto agitação. Vejo um homem", anunciou ela em tom rouco.

Por um segundo, não consegui dizer nada. Então murmurei:

"Bem, faz sentido. Estou prestes a me casar. Minha vida vai mudar completamente e há um homem envolvido."

"Não...", acrescentou ela, "Vejo mais de um homem. Não se trata de um marido. Vejo um sedutor. Um ladrão de corações."

"Isso é ofensivo!", tratei de dizer, recolhendo os braços.

"Seu futuro não é culpa minha, querida", afirmou a mulher, um tanto impaciente. Sua voz já estava de volta ao normal.

"Essa história daria uma ótima ficção", provoquei.

"É verdade. Mas eu vi com tanta clareza que posso dar descrições, se você estiver duvidando."

Senti um arrepio.

"Não precisa", respondi apressadamente, estendendo-lhe a moeda. "Aqui está seu pagamento. Muito obrigada!"

Saí sem olhar para trás e fui ao encontro de Marianne do lado de fora. Ela estava mais tranquila, mordiscando um figo açucarado que acabara de comprar de um outro cigano.

"Sua vez!", informei, um pouco sem fôlego.

Como ela continuava um pouco medrosa, eu ainda encorajei, dizendo que era divertido; apenas um monte de blefes. Finalmente, ela entrou. Sua sessão não durou muito. Quando ela saiu, logo notei como estava reprimindo as lágrimas.

"Só quero voltar para casa...", soluçou depois de um tempo.

A festa definitivamente encontrara seu fim. Acompanhei Marianne até sua residência, contando-lhe tudo sobre minha previsão e também sobre o incidente do rapaz, em uma tentativa falha de levantar seu estado de espírito. Não ousei perguntar o que a deixou assim, mas sei que foi algo funesto.

Sendo bem sincera, me arrependo um pouco de ter procurado aquela vidente. Sem dúvida, não foi a melhor ideia que já tive. O futuro, caso realmente possa ser previsto, talvez deva ser mantido em segredo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Achei que seria bom explicar: eu não costumo escrever diálogos usando aspas, mas isso faz parte do formato de diário. Como eu já disse, não é uma narrativa e sim uma garota relatando em um caderno as coisas que lhe acontecem. Não passa de um relato. Espero que não incomode. Se bem que, falando por mim: eu leio muitos livros em inglês, são sempre assim e me habituo rápido ao ponto de nem reparar mais.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Un Maudit Amour" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.