Arena Mortal escrita por Nyna Mota


Capítulo 15
Capítulo 14 - Volta pro Jogo


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!

Capítulo contém cena de violência e morte, se for um gatilho ou se sentir mal com isso não leia!

Leiam as notas finais.

Boa leitura!



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A primeira morte a gente nunca esquece. A primeira vez que você tira uma vida.

Depois que acontece você tem pesadelos, se sente culpado, se sente ruim. É como tirar um pedaço da sua alma, um pedaço que você nunca vai ter de volta, não importa o que você faça.

Eu tinha recém feito dezoito anos, não tinha tido festa, nem presentes, ninguém sabia, ninguém lembrava.

Estava nas ruas aquela noite, na periferia de Detroit esperando um pequeno carregamento que Charlie ansiava. Naquela época, negócios pequenos assim eram feitos nas ruas. Apenas carregamentos grandes iam para o depósito.

O carregamento estava atrasado, e eu tinha um mau pressentimento sobre essa demora.

Uma gangue rival de Charlie vinha causando pequenos problemas, eles não eram grandes fornecedores, nem tinham muito poder, mas era assim que se começava. E eu achava que eles estavam por perto, a espreita, esperando pra atacar.

Aquela noite estava quente como o inferno, o suor pingava da minha nuca, tinha uma coisa estranha no ar. Talvez fosse apenas meu pressentimento de que algo ia dar errado.

Na rua pouco movimentada apareceram faróis de um carro grande, continuei encostado na parede, enquanto os outros dois homens que estavam comigo, davam o sinal, de que sim, aquele era o carro.

Joguei o cigarro no chão, me preparei para receber o carregamento e dar o fora dali.

Assim que o carro parou, senti mais do que vi.

Alguns homens saíram de uma rua próxima, os reconheci sendo da gangue que vinha rivalizando com Charlie. Eles estavam armados, não estavam para brincadeiras. Mais que a carga eles queriam respeito, e roubar Charlie Swan traria fama e, por conseguinte poder.

Pequei a arma que escondia na cintura, eu sabia atirar, mas nunca havia atirado numa pessoa de verdade, e eu realmente não queria ter que fazer isso.

Os homens foram se aproximando, eram todos mais ou menos da mesma idade que eu, alguns pouco mais velhos. A bile subiu, mas forcei-a de volta. Não dava mais tempo. Ouvi o som do carro com a carga acelerando, não olhei pra trás. Os fodidos covardes nos deixaram pra morrer, ou pra matar.

Ouvi o primeiro disparo, não era direcionado a ninguém em específico. Eu queria tanto que eles recuassem, mas não recuaram, não dava mais, não no nosso mundo.

Hunter atirou de volta, acertando um dos homens que caiu no chão, e então o caos se intensificou. Balas pra todos os lados, alguns homens caídos, outros sagrando, eu não tinha atirado ainda. Eu tremia, minhas mãos suavam, mas a arma continuava empunhada, aguardando. Só tinha mais um homem de pé do outro lado, e ao invés de mirar em Hunter ou no outro cara que eu sequer sabia o nome, ele mirou em mim. Ele tinha percebido que eu estava congelado no lugar.

Ele sorriu. Um sorriso que faltava dois dentes, era irônico. Mas lá no fundo, por um instante eu enxerguei, ele tinha medo. Ele sabia que ia morrer, e ele não queria morrer.

—Te vejo no inferno desgraçado. – Ele falou, e não podia estar mais certo.

Apertei o gatilho. Acertou o meio da testa. Não houve som, exceto o do corpo caindo no chão, observei a cena, o sangue escorrendo, a vida que ali existia, simplesmente havia sumido.

—Nos vemos lá, mas não hoje.

Cai ajoelhado no chãoe vomitei. Continuei vomitando, até sair o ácido, até sentir a garganta queimar e as costelas doerem pelas contrações no estômago. Senti lágrimas caindo.

—Agora você entende o que é ser um homem. –Hunter falou.

Eu não entendi o que ele quis dizer, mas naquela noite percebi o quão baixo minha vida havia chegado.

Sempre via a marca de sangue em minhas mãos, toda vez que tirava uma vida, era um pouco da minha humanidade que ia junto, assim compreendi, que não havia redenção pra mim.

***

Não era muito comum eu me sentir nervoso, mas naquele momento eu me sentia.

Desde que havia percebido que Bella era sim minha kriptonita e que por ela eu havia nos deixado vulnerável passei a tomar mais cuidado. Não a via publicamente, encontrava ela no meu apartamento ou na casa de Rose, e ainda sim tentava evitar encontra-la com muita frequência.

Estava em busca de outro lugar, mais seguro, mas ainda não havia encontrado o que eu queria.

Passei a mão nos cabelos.

Estava sentado na cafeteria esperando Emmett. Havíamos marcado de nos encontrar ali, mas ele estava atrasado. Depois de conversarmos iríamos buscar as meninas. Eu tinha a impressão que Rose não iria ficar muito feliz com a visita a qual seria obrigada a ver.

O celular vibrando na mesa me sobressaltou. Emmett iria atrasar. Pedi mais um café e continuei pensando em como agir.

Eram tantas coisas a se fazer, tantos riscos. Suspirei frustrado.

Vi algumas garotas me olhando a distância e odiei Emmett e sua demora pra chegar.

Passados quinze minutos já estava desistindo quando o moreno chegou.

— Desculpe cara. – Emmett esfregou os olhos. – As coisas só estão fodidas.

O observei com atenção. O policial estava abatido, olheiras embaixo dos olhos, seus ombros estavam tensos. Ele não tinha mais aquela energia e alegria contagiantes que eram sua marca registrada.

— Você está uma merda. – Disse com um sorriso.

— Estou não é. – Ele riu. – Tem tanta coisa acontecendo Edward.

E então se calou. Eu entendi.

A investigação estava a todo vapor.

Resolvi mudar de assunto, por ora.

— Como vão as coisas com Rosalie? – Era um terreno mais seguro.

— Ah cara, não sei qual parte está mais fodida, mas bem, ela não quer me ver. Disse que sou um filho da puta mentiroso, e que posso enfiar tudo que eu alego sentir no...você sabe onde.

O cara estava desolado.

— Você vai desistir? – Perguntei realmente intrigado.

— Não. Não quero desistir mas é complicado cara. – Ele chamou a garçonete. – Ela não quer entender. E tem toda a investigação. Eu não sei o que fazer. Meus planos nunca foram me apaixonar por ela, sequer queria ter me envolvido com ela, mas quando aquela mulher quer algo, ninguém a consegue parar.

Tomei um gole do meu café enquanto eu o observava. Seu olhar agoniado.

— Eu não quero desistir Edward, mas não posso obrigar Rose a ficar comigo. Eu só foquei na carreira policial, e então aquele furacão apareceu, e quando vi, eu era dela. Eu tinha virado seu amigo, e foda-se cara.

— Não desista. Quando tudo isso acabar, ela vai te perdoar eu sei. Ela só está magoada com as mentiras. Rose é uma pessoa muito honesta.

Ele assentiu.

Seu café chegou nessa pausa. E então foi a vez de Emmett me observar.

— O que está acontecendo Edward? Por que estamos aqui? Por que não ter essa conversa junto da Bella ou em qualquer outro lugar?

— Você tem um bom faro policial. – Admiti.

— Sim, eu tenho. – Ele me olhou profundamente. – Diga-me, por que me chamou aqui hoje?

Suspirei pesadamente. Não haveria volta. A primeira peça seria lançada. O primeiro passo pra liberdade. E eu precisava de Emmett.

— Quero um acordo. Eu vou delatar.

***

Emmett estava sombrio enquanto esperávamos Rosalie e Bella saírem da aula. Ambos pensando, a mente em círculos. Eram tantas possibilidades a partir da minha busca por um acordo.

Ainda analisando as vi caminhando em nossas direções. Ambas sorriam, era um contraste enorme levando em consideração que Emmett e eu tínhamos carrancas nos rostos.

Assim que Rose viu Emmett fechou a cara.

— Oi Ed, tchau traíra! – Não pude me impedir de rir.

Emmett me mostrou o dedo do meio.

— Você sabe que uma hora vamos conversar Rose, não adianta evitar. – Ele resmungou.

Foi a vez dela de mostrar o dedo pra ele.

Ela entrou em seu carro, passou nós, acenou e saiu.

Bella entrou no carro com Emmett, e eu voltei pro apartamento pequeno sozinho.

Eu não era idiota, podia não ter estudos ou alguém que me protegesse, mas aprendi muito cedo como era a vida no crime. Assim, havia anos que eu juntava provas.

Mas daí a entregar era outra história.

Eu também cairia, junto com todos aqueles que eu entregaria. Só precisava de um acordo decente para então poder falar com Bella. Tirar ela daqui, e então quando eu fosse livre, ir de encontro a ela, e ficarmos juntos.

Era utópico eu sabia. Infelizmente não seria tão fácil. Mas não havia muitas opções, e eu queria dar a Bella a liberdade que ela tanto merecia.

Eu queria ser livre, mas eu já não merecia. Não havia redenção depois de tudo que eu havia feito.

Sentei no sofá e fechei os olhos. Deixei minha mente vagar pro nada, até me encontrar no meu oásis. Bella, nos meus braços, naquele mesmo sofá.

Abri os olhos. Eu estava sozinho. Fui pra cozinha arrumar a bagunça que havíamos deixado lá na noite anterior.

Dois copos, dois pratos. Tudo me levava a Bella, ela fez daquele lugar humilde seu lar.

Meu celular tocou.

Enxuguei as mãos. Era Charlie.

Há quanto tempo garoto. Você anda sumido.

— Estive cuidando de algumas coisas Charlie.

— Sim, sei, ouvi sobre o carregamento do outro dia. Muito bom.

— Do que você precisa? – Pergunto direto.

— Quero você na Arena hoje.

Eu tremo de pensar em lutar.

—Estarei lá.

—Sem surpresas essa noite garoto.

Sem Bella parando a luta, sem interrupções. Apenas lutar, ganhar.

—Como quiser Charlie.

Desliguei apreensivo. Eu não queria mais lutar, mas precisava.

Voltei minha atenção para a louça. Alguns minutos depois meu celular tocou novamente.

Meu coração acelerou. Eu queria que fosse Emmett, mas também sabia o que uma ligação dele significava.

Peguei aparelho e olhei no visor antes de atender. Era Bella.

—Você vai lutar.

Suspirei.

—Eu preciso lutar.

—Não quero que você lute.

—Não queria ter que lutar, mas isso é o que sou Bella. – Falei ríspido.

O cerco se fechava ao meu redor.

Apertei e ponte do meu nariz.

—Você vai hoje? –Perguntei tentando me controlar.

—Não. Não quero te ver lutar.

—Bella eu...eu não gosto de você lá, e você sempre acaba no ringue. Eu preciso que você fique segura. Preciso que não esteja ali. Preciso que esteja bem.

Encostei a cabeça na parede me sentindo esgotado.

—Eu vou ficar na Rose essa noite. Se precisar me liga.

Bella desligou.

Tive vontade de jogar o celular na parede. Mas controlei.

Respirei fundo uma, duas, três vezes. Então o fodido aparelho tocou.

O nome de Emmett brilhou na tela, um lembrete do porque eu estava agindo como um idiota.

—Edward consegui um encontro com o promotor.

Engoli em seco, era o que eu queria, o que eu precisava fazer. Mas sempre havia um preço a ser pago.

—Quando?

Ouvi enquanto Emmett me passava os detalhes do meu encontro secreto com o promotor de justiça.

—Estarei lá.

Resmunguei e desliguei o celular.

Eu fazia isso por nós. Bella entenderia. Ela compreenderia que era importante nos manter afastados, e que eu precisava me entregar. Era a única forma de proteger ela e termos alguma chance de futuro.

Usando toda minha força de vontade, terminei de lavar a louça e segui pro banheiro. Tirei a roupa e liguei o chuveiro, deixei a água quente escorrer pelo meu corpo, pelos meus ombros, relaxando os músculos tensos. Desejando que com a água indo pelo ralo fosse todos os problemas, toda a sujeira na qual eu vivia.

Sai do banho e esperei, pacientemente a hora que iria pra Arena.

***

Eu havia lutado, havia ganhado. Pela primeira vez em algum tempo sem interrupção. Sorri amargurado. Eu esperei que em algum momento Bella surgisse, mas ela não surgiu.

Me esperando após a luta estava Alice. Seus longos cabelos negros. Seus olhos escuros como a noite mais escura, aquela profundeza que escondia mistério, dor, e amizade.

Acenei com a cabeça. Ela acenou de volta. Segui pro meu carro, Alice seguiu pro dela. Não encontrei Charlie ou Liam diretamente após a luta, o que agradeci.

Dentro do carro olhei o celular a espera de uma mensagem, um contato, uma ligação, um sinal divino. Não havia nada.

Segui pro pequeno apartamento, saudoso do pequeno corpo que me aquecia sempre que estava lá, saudoso do cheiro, do calor, do carinho. Mas era melhor assim. Era menos arriscado.

Entrei sem me atentar pra detalhes.

Se eu tivesse prestado um pouco mais de atenção, teria visto o sapato ao lado da porta, o casaco jogado na cadeira, e a mulher adormecida no sofá, usando apenas uma camiseta minha.

Parei abruptamente olhando a cena na minha frente.

Bella dormia serenamente, os cabelos espalhados pelo sofá, a TV ligado. Andei lentamente até a morena, acariciei seu rosto delicadamente, sentindo um amor tão profundo que me faltou o ar.

Com cuidado peguei Bella nos braços, deitei-a em nossa cama, corri pro banheiro pra tirar o suor da luta.

Apenas de box me deitei ao lado dela. Passei os braços ao seu redor, puxando-a pra mim.

Aspirei seu cheiro doce, que me acalmava, me trazia tanta paz.

— Eu te amo tanto Bella, amo tanto que chega a doer. –Sussurrei baixinho. –Queria que houvesse outro meio amor, mas é só nesse que consigo pensar. Espero que me perdoe meu anjo.

Beijei sua testa e a observei dormir, aproveitando aquele pequeno momento de paz em meio a tempestade que vivíamos.

***

—Maldição Emmett! Você tem certeza que ele virá. –Resmunguei pela milionésima vez.

—Sim Edward. Ele vem.

Estava no apartamento do Emmett. Era um lugar neutro que eu já frequentava há tempos. Não chamaria a atenção, era privado, e seria fácil do promotor entrar e sair sem ser visto tão facilmente.

—Acho que ele desistiu.

— Caralho Tiger ele está atrasado dez minutos. Espera porra!

Emmett estava mais nervoso que eu.

— O que há de errado? – Perguntei curioso e evitando pensar nos meus problemas.

— Rosalie continua me evitando. Na verdade ele se recusa a falar ou ter qualquer contato comigo.

Abri um sorriso grande pra cara emburrado do grandalhão.

—A loira é fogo não é.

—Ah se é Edward! Eu só queria que ela me ouvisse, que me deixasse explicar.

A campainha soou interrompendo nosso diálogo.

Emmett abriu após olhar pelo olho mágico.

Um loiro jovem entrou. Ele era mais velho que eu, mas não muita coisa.

Seus cabelos eram loiros, cacheados, um pouco maiores que o usual. Seus olhos eram de um azul gelo, nariz fino e postura ereta.

—Boa tarde! Sou Jasper Halle, o promotor. – Ele deu um sorriso leve e estendeu sua mão.

— Edward Masen.  – Retribui o aperto de mão.

Um aperto de mão diz muito sobre a pessoa, ao menos eu pensava assim. Jasper tinha um aperto firme, que passava segurança, ele não tentava parecer ser mais do que era, ele simplesmente era.

—Vamos sentar. Eu vou trazer uns petiscos e refrigerante.

Pela careta do loiro ele preferia uma cerveja. Abri um sorriso. Eu tinha gostado dele. Emmett deu um sorriso amarelo pedindo desculpas.

— Primeiro negócios Jazz, depois diversão.

—Então vamos nessa! – Seu olhar se virou pra mim. – Ouvi dizer que tem algo interessante pra mim Senhor Masen, gostaria de ouvir.

—Edward, apenas Edward Doutor. – Falei educadamente.

— Apenas Jasper então.

Ele abriu o notebook que havia trago numa bolsa.

— Se importa se eu for fazendo algumas anotações?

Dei de ombros. Era pra isso que ele havia vindo, e era por isso que eu estava ali.

Duas horas depois e ainda estávamos no início de tudo.

— Porra! Você tem muito o que falar Edward.

Sorri amargurado.

— Tenho muito pra provar.

—Estamos falando de que tipos de provas? – Ele questionou intrigado.

— Todo tipo. Documentos, fotos, vídeos, gravações, nomes, locais.

Ele coçou o queixo me encarando.

— E em troca você quer liberdade?

Ri com escárnio. Eu não era burro.

— Sei que é impossível Jasper. Quero o melhor acordo que puder me arrumar.

— Você está resignado. – Ele apontou.

Dei de ombros.

— Eu sempre soube que esse dia chegaria. Ou eu iria pra prisão, ou pra um caixão. Agora? – Ele arqueou a sobrancelha. –Tudo que quero é acabar com isso, e quando puder, ser livre.

Jasper assentiu.

— Você me deu muitas informações Edward. E algumas prova irrefutáveis. Preciso pensar na melhor forma de agir, e preciso ver o melhor acordo junto do magistrado. Não vai desistir, vai?

Neguei com a cabeça veementemente.

— Nesse mundo Jasper, não existe opção de voltar atrás.

— Porra, eu sempre fui louco pra prender esses caras. Esse pode ser o caso da minha vida.

E o fim da minha, pensei comigo mesmo.

Despedi do promotor, com a promessa de uma ligação futura.

Ele era minha última esperança.

***

Esconder da Bella que eu estava entregando seu pai, bem como que estava entregando minha cabeça de bandeja não era algo fácil. Rasgava um pedaço de mim, fora que eu estava com medo de ser rejeitado no final.

Ver o exemplo de Rose e Emmett não andava ajudando. O policial estava irrevogavelmente apaixonado pela loira, que após descobrir a verdade continuava a rejeitar ele.

Era engraçado ver de fora, aquele homem enorme cercando ela de todas as formas e ela o rejeitando.

Rose tinha temperamento, e sua amiga não era tão diferente.

— Já acordado? – Bella questionou sonolenta.

— Sim, volta a dormir. – Pedi acariciando seu pescoço.

—Fala comigo Edward, o que está acontecendo? – Bella perguntou me encarando com aqueles lindos olhos.

Eu queria falar, mas não podia, não ainda. Depois eu contaria.

— Está tudo bem, só descanse Bella.

Beijei sua testa e a aconcheguei em meus braços.

Bella bufou, se remexeu em meus braços e adormeceu.

Dormir vinha sendo difícil nos últimos dias, assim como comer e fazer qualquer coisa.

Demorei a adormecer, e assim que peguei no sono, o dia amanheceu e era hora de Bella ir pra aula.

Eu admirava muito a garra da minha garota em estudar, e fazer o que amava. Queria eu amar algo assim com tanta dedicação como ela amava a medicina, e eu sabia o quanto exigia dela.

E era por isso que eu precisava dar o melhor do mundo pra ela.

***

Bella e Rosalie chegaram logo após Emmett, com elas vieram Carlisle e Esme. Fiquei envergonhado do meu pequeno apartamento em comparação com a enorme mansão deles, mas como em tudo, aqueles dois me surpreenderam, ignorando o tamanho, e simplesmente indo pra sala ver o jogo, como nos acostumamos a fazer.

Eu andava evitando a mansão, evitando correr riscos, evitando que me vissem com pessoas que poderiam ser feridas. Que poderiam ser usadas contra mim, mas se as meninas tinham personalidade forte, Carlisle e Esme detinham um autoridade que era impossível de explicar.

Ainda sim, havia um nó na minha garganta de medo. Medo do risco em que os estava colocando ao se associarem a mim. Medo do que poderia acontecer com cada uma daquelas pessoas que estavam ali, medo de acontecer o que já havia acontecido com Hannah.

A morte era algo com que tive de lidar desde cedo, mas nunca havia sentido medo de perder alguém como estava naquele momento olhando para aquelas pessoas sentadas na sala da minha humilde casa.

— Hey cara, tudo bem? – Emmett perguntou ao voltar da cozinha com uma garrafa de cerveja na mão.

Arqueei a sobrancelha irônico. Ele deu um sorriso amargo.

— Relaxa cara, não tem como fazer nada hoje.

Bufei e ignorei. Não dava pra simplesmente relaxar.

Ele coçou a cabeça.

— Eu não entendo ok, nem sei como deve ser pra você, mas agora, nesse momento, você precisa tirar essa marra da cara e dar atenção pros seus convidados. – Emmett sussurrou baixinho.

Que não foram convidados eu queria falar, mas não podia. Eu realmente adorava aquelas pessoas.

— Ei traíra, aproveita que está ai e pega uma cerveja pra mim. – Rose pediu docemente ao moreno, docemente demais.

— Filha, não fale assim! – Esme repreendeu.

Rose deu de ombros, Emmett sorriu e pegou a cerveja.

—Essa mulher ainda me mata cara.

— Eu juro que ainda vou entender o que houve com vocês crianças. – Carliisle falou já um pouco alterado.

Carlile era o melhor bêbado. Uma pena que naquele dia eu não apreciaria aquilo com a mesma diversão de sempre.

Segui pra sala, sentei ao chão, Bella se aninhou entre minhas pernas. Assim assistimos ao jogo.

Eu assistia aquelas pessoas, podia ser a última vez que estaria assim, reunido com eles, livre, vivo.

***

Eu secava a louça que Bella lavava. Ela havia ficado, mais uma vez.

— Você está distante, de novo.

Olhei pra ela surpreso.

— O que está havendo Edward? – Ela perguntou preocupada.

— Nada...

— Não fala nada porra! – Ela gritou fechando a torneira com força e se virando pra mim furiosa. – Eu sei que está acontecendo algo, e você não me fala! Eu estou cansada de dizer que estamos nessa juntos! Estou cansada. Parece que apenas eu quero estar aqui, que quero isso!

Ela sofria. Eu sabia que ela sofria, e sabia que eu era o causador da sua dor, da sua mágoa.

Mas ali só havia duas opções, magoá-la e protege-la afastando-a de mim, ou esperar que eu fosse preso e acontecer sabe-se lá o quê comigo. Delatores não costumam viver muito tempo eu havia ouvido.

Encarei Bella sem resposta, pois não havia.

Eu estava numa encruzilhada, com a cruz e a espada na mão.

— Fala alguma coisa! – Ela gritou novamente. Fiquei calado.

 – Tudo bem, entendi.

Bella saiu em direção ao quarto, ouvi seus passos bruscos, suas imprecações alteradas.

Ela estava indo embora.

Doeria menos levar um tiro, eu sabia. Me faltava o ar. Me faltava o chão, eu ainda estava congelado no mesmo lugar.

Me obriguei a me manter ali, no fundo, eu sabia que se ela fosse, não teria mais volta.

Ouvi quando seus passos chegaram na sala. Bella parou, me olhou e então eu agi.

Eu era um fodido filho da puta que não tinha nada, e que não conseguia sequer proteger Bella, era  egoísta demais, e por isso a manteria na minha vida enquanto pudesse.

Me aproximei cauteloso, sabendo a fúria que ela sentia naquele momento, e pela primeira vez na minha vida, dividi meu fardo com alguém.

— Eu vou delatar Bella.

Seus olhos se arregalaram, o ar ficou preso na garganta, a bolsa e a blusa de frio caíram de suas mãos. As lágrimas encheram seus belos olhos, e caíram por suas faces.

Esse era o peso do meu fardo, uma sensação de impotência, de desolamento que eu não queria infringir a ela, mas Bella queria tudo de mim, cada pedaço, o bom e o ruim, e não aceitava menos que tudo.

E agora, eu era todo dela.

Os dados foram lançados, agora não havia volta, ninguém mais me pegaria desprevenido, eu agora estava voltando com tudo pra jogar.


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Notas finais do capítulo

Oi, alguém vivo aqui?
Prometi que voltaria logo, não consegui cumprir, e dessa vez irei me justificar.
Arena mortal tem um caráter mais pesado, com cenas de violência, principalmente nesse capítulo. Onde Tiger mata alguém pela primeira vez.
Logo após eu postar o último capítulo, poucos dias após, um amigo foi assassinado. Então eu travei com a história, porque havia certa similaridade. Se tornou um gatilho emocional. Enquanto digito agora e me recordo, sinto vontade de chorar, foi algo que eu não esperava, na verdade ninguém espera. Então esse foi um dos motivos que me levaram a sumir de AM dessa vez.
Repito mais uma vez, não irei abandonar a história. Podem confiar.
Tentarei voltar o mais rápido possível, mas tenham em mente que tenho uma rotina extramente puxada que não vem ao caso agora.
Não me abandonem sim?
Desculpem pela demora, e pelos erros de português que porventura vierem a encontrar.

Aproveito pra dizer que postei uma one que eu particularmente achei muito fofinha, quem quiser ler. E digo que provavelmente vou continuar ela porque amei muito. https://fanfiction.com.br/historia/783783/Travessuras/

No mais, espero que tenham gostado, assim que conseguir irei responder aos comentários. Juro que leio todos, e que tenho carinho por cada um detalhes.
Até breve meninas.
Beijinhos.



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