Os Cuecas estavam ficando cada vez mais famosos. Eles já tinham vários fãs (principalmente menininhas com menos de 12 anos). Um dia, uma menininha de 3 anos fez a mãe pará-los na rua só para dizer que estava apaixonada por Joaquim. Ele, apesar de ser sempre muito convencido, não soube como reagir no momento, e os irmãos ficaram rindo da cara dele. 

Davi ajudava os meninos a conciliar a música e os estudos. Além de técnicas de canto, estava ensinando Samuca a tocar teclado e Joaquim a tocar violão (o menino queria guitarra, mas Davi disse que era melhor aprender a tocar violão primeiro e depois passar para a guitarra). Nos estudos, ajudava Téo e Joaquim (principalmente Joaquim) nos deveres de casa; Samuca, ele não precisava ajudar, pois o garoto sempre prestava atenção nas aulas e gostava muito de ler. Como os meninos já estudavam quando moravam no orfanato, não atrasaram nenhuma série, continuaram no 6° ano, apenas pegaram os assuntos do início do bimestre com outros alunos.

Estava tudo incrivelmente bem, a não ser pelo probleminha de dinheiro da gravadora. É verdade que eles estavam ganhando dinheiro com os Cuecas, mas Davi ainda achava que alguém andava desviando parte do dinheiro de lá e continuava sem saber quem. Enfim, apesar disso, até Ian estava bonzinho. Aliás, Davi estava achando que ele andava bonzinho até demais!

Às vezes, ele aparecia do nada na casa de Davi com um monte de presentes para os Cuecas. Era estranho como ele conseguia tanto dinheiro para comprar esses presentes, mas tá, né?

— Obrigado, Ian! — Agradeçeram os meninos em uma dessas visitas surpresa.

— Podem me chamar de Tio Ian. E não precisam agradecer, vocês merecem isso e muito mais!

Estranho, não é? Para alguém que odiava crianças e até chamava os meninos de "sem-teto"...

***

Pela primeira vez na vida, Tia Flora havia tido um pingo de compaixão pelas meninas. Foi num certo dia quando ela chegou tarde da noite em casa e viu as três ainda acordadas limpando o forno. Quando a tia chegou, as Chiquititas olharam para ela assustadas, tinham medo de levar bronca por ainda não terem terminado suas tarefas do dia. Ela via as meninas limpando toda hora, mas, naquela vez, teve uma epifania e percebeu como estava explorando as pobrezinhas. Imediatamente, Tia Flora pediu que parassem e fossem dormir. Depois daquele dia, as tarefas domésticas passaram a ser divididas de forma justa, as Chiquititas não ficavam mais exaustas e tinham tempo para ensaios e lazer.

Em um de seus momentos de lazer, as meninas assistiam ao programa da Eliana, quando viram a banda dos Cuecas pela primeira vez.

— Cuecas? Que nome mais deselegante... — foi a reação de Sandy.

— Ah eu achei legal! — Disse Eleanora. — Me lembra o nome da nossa banda.

— Ah tá, porque o nome da nossa banda é Calcinhas...

— Não é isso! O que eu quero dizer, é que, pelo nome da banda deles, já dá pra perceber que só tem meninos, assim como, pelo nome da nossa, dá pra perceber que só tem meninas. Entendeu?

— Nossa, é verdade! — Concordou Janete. — Eu acho que eles lembram muito a gente, são até três!

Os Cuecas cantaram uma música intitulada "Bom, Bom, Bom". As Chiquititas nunca tinham ouvido na vida, já que era composição de Davi, mas gostaram muito. Assim que a participação deles no programa acabou, elas foram pesquisar sobre os meninos na internet. Descobriram que tinham mais coisas ainda em comum com elas: os três eram órfãos. Elas gostaram de se identificar com os Cuecas, ficaram muito fãs deles e queriam muito conhecê-los pessoalmente.

Um dia, elas fizeram um clipe de "Bom, Bom, Bom", só que no estilo das Chiquititas, com danças de menina e cada uma usando uma peruca colorida (Sandy usava uma cor-de-rosa, Janete, uma roxa e Eleanora, uma verde, suas respectivas cores preferidas). Ninguém filmou nem nada, elas não estavam ensaiando para se prepararem para sua carreira musical, estavam apenas se divertindo, brincando como crianças, algo que não faziam desde a morte dos pais. 

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Clipe musical: "Bom, Bom, Bom" por Sandy, Janete e Eleanora.

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Tio Ian sempre ia na casa de Davi, mas, um dia, decidiu fazer diferente: convidou os Cuecas para irem à sua casa. Naquele dia, eles haviam levado bronca de Davi por terem bagunçado a casa (para variar), então o convite veio bem a calhar. A casa de Ian era grande e tinha três seguranças (Sandro, Navarro e Vargas). Os meninos até que gostaram deles, principalmente de Sandro. O mais legal de ficar lá, era que os Cuecas podiam fazer o que quisessem e não levavam bronca, pelo contrário, ganhavam presentes e doces.

Ian teve uma conversinha com os meninos e descobriu que Davi tinha brigado com eles.

— Vocês são estrelas da música, não merecem ser tratados assim!

Os meninos, com exceção de Samuca, concordaram. Samuca era o mais maduro dos três, portanto tinha consciência de que Davi tinha o direito de dar bronca neles se eles fizessem coisa errada. Afinal, foi ele quem cuidou deles depois de passarem uma semana morando na rua.

Aproveitando-se da situação, Tio Ian começou a tentar os meninos, um por um, para que decidissem morar com ele. Por que ele queria isso? Bem, porque, se os meninos fossem seus, ele teria todo o controle sobre a banda e isso era o que mais queria. A primeira vítima foi Téo, o mais novinho e mais fácil de manipular. Como o caçula adorava doces, Ian ofereceu-lhe vários chocolates, jujubas, marshmallows, balinhas etc.

— Hmmmm eu amo brigadeiro!!! — Exclamou Téo enquanto degustava um brigadeiro.

— Engraçado, pelo jeito você não come muito brigadeiro, né? — Perguntou Tio Ian.

— Eu como, mas só de vez em quando. O Davi não deixa comer doce antes do almoço e, mesmo depois do almoço, eu não posso comer muito. Ele diz que dá cáries e dor de barriga.

— Mas você tá gostando de comer, né? Então não tem problema. Eu sempre comi brigadeiro e nunca tive cárie. E quanto à dor de barriga, é só você parar quando estiver cheio, então não tem problema. Ah e pode comer a hora que quiser!

Téo ficou muito feliz e começou a repensar sua primeira impressão. Antes, ele achava que Tio Ian era chato, mas agora, ele parecia ser bem mais legal que Davi!

O próximo foi Joaquim. Ian já tinha notado que o garoto era um tanto preguiçoso, então decidiu usar isso a seu favor. Começou a conversar sobre escola com ele e o menino acabou deixando escapar que achava a escola muito chata, mas que era obrigado a ir.

— Ninguém devia te obrigar a ir à escola!

— Eu sei, eu disse ao Davi que não queria ir, mas ele falou que, se eu não fosse, eu e meus irmãos seríamos separados, iríamos para orfanatos em lugares diferentes do Brasil.

— Ele ameaçou vocês?

— Sim.

Não tinha sido exatamente assim, vocês sabem, mas Joaquim conseguia ser muito dramático quando queria. Pelo jeito que falava, Davi parecia um vilão, mas o garoto não achava que ele era... ou achava? Ele nem sabia mais... Ficar na casa de Tio Ian estava sendo tão legal que, assim como Téo, ele começava a pensar se ele não era muito mais legal que Davi. Até que ele decidiu: tio Ian era mais legal! Simplesmente porque disse que se Joaquim morasse com ele, não teria mais que ir à escola, poderia apenas brincar e ensaiar.

Samuca ficou indignado quando soube dessa história de não ir à escola. Em sua defesa, Tio Ian disse que, se o menino quisesse, poderia continuar indo, só Joaquim não iria mais, porque ele não queria. Definitivamente, Samuca seria o mais difícil de convencer! Mas Tio Ian deu seu jeito: comprou vários livros de ciência avançada para o garoto. Ele ficou muito feliz, pois nunca tinha lido livros como aqueles fora de uma biblioteca, e, agora, podia ler em casa, na hora em que quisesse!

Enfim, os três meninos foram convencidos. Decidiram morar com Tio Ian.