Os Cuecas e as Chiquititas escrita por SnowShy


Capítulo 53
Impressões


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Eu tive uma semana bem cheia, mas mesmo assim consegui postar no dia certo! Hehe. Espero que os próximos capítulos eu também consiga...
Boa leitura pra vcs! :D



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— Como assim você "acha"? — Perguntou Eleanora. — Ou você deu um fora nele ou não deu...

— É que eu não tenho certeza! — Foi a resposta de Janete.

As irmãs, então, pediram que ela contasse detalhadamente o que aconteceu na casa da árvore e chegaram à conclusão de que, sim, Samuca estava dizendo que gostava dela mais do que como amiga e ela tinha dado um fora nele, ainda que não tivesse sido de propósito.

— O que eu faço agora??? — Perguntou Janete, muito desesperada. 

— Aí depende... — Respondeu Sandy. — Você também gosta dele?

— Eu não sei...

— Como assim você "não sabe"??? — Indagou Eleanora. — Ou você gosta ou você não gosta, ué! Nossa, nem parece que é a mais inteligente falando essas coisas...

— É que eu nunca parei pra pensar nisso... — Janete se defendeu.

— Então trate de começar a pensar! — Recomendou Sandy (parecendo mais que estava dando uma ordem). — Porque se você gostar dele, precisa dizer logo ou senão ele vai continuar achando que levou um fora e que você só quer saber dele como amigo...

Na teoria parecia fácil o que Sandy havia recomendado, Janete só precisava prestar mais atenção, descobrir o que sentia e, dependendo do que descobrisse, contar a Samuca. Mas Janete estava muito apreensiva com tudo isso. Primeiro porque ela sentia que, independente de qual fosse o "resultado", a relação dela com Samuca nunca mais seria a mesma. Se ela não gostasse dele, ia ser estranho estar com ele sabendo que ele gostava dela. Por outro lado, se ela acabasse descobrindo que gostava dele, como contaria isso? Será que teria coragem depois de ele ter feito a mesma coisa e ela ter dado um fora nele? Ou pior, e se suas irmãs estivessem erradas, ele realmente só gostasse dela como amiga e ela fizesse papel de palhaça se declarando pra ele?!

E se ela gostasse mesmo dele, ele gostasse mesmo dela e os dois soubessem disso, o que poderia acontecer depois??? Será que eles iam ter que namorar? Será que ele ia tentar beijá-la?!?! Janete não sabia se estava pronta pra essas coisas... Mas, por hora, o mais difícil para a garota era ter certeza se gostava dele.

No dia seguinte, na escola, tudo parecia como sempre. A não ser pelo fato de que ela estava muito mais tímida do que o normal quando estava perto de Samuca, o que era meio estranho, já que ela o conhecia muito bem e era acostumada a ficar perto dele. Mas então a menina começou a se lembrar que às vezes ficava mesmo um pouco mais tímida quando Samuca lhe fazia algum elogio ou falava olhando diretamente nos olhos dela... e ela também costuma sentir uma energia diferente nesses momentos, uma espécie de nervosismo, arrepio, sei lá... Ih! Parece que alguém estava percebendo que estava apaixonada e não era de hoje...

***

Clipe musical: "Me Passam Coisas" por Janete.

***

Clarinha percebeu que Joaquim era mesmo muito desconcentrado na hora de estudar. Até uma mosca voando parecia mais interessante pra ele do que os conteúdos das provas. Ele sempre começava a falar sobre coisas aleatórias, então a mulher percebeu que teria que deixar os estudos mais divertidos para ele se interessar de verdade.

E descobriu a maneira de fazer isso quando Joaquim, enquanto tagarelava, mencionou que já havia tirado um 10 na escola uma vez. Clarinha perguntou em que matéria e ele disse que foi em Geografia, contou daquele trabalho em grupo em que eles fizeram uma paródia com as Chiquititas. Até na prova de Geografia daquele bimestre ele foi bem, tirou 9 porque ficava lembrando da letra da música enquanto respondia as questões. Era isso: se tinha música, Joaquim se interessava.

Então a mulher começou a ajudá-lo a criar musiquinhas pra todas as matérias. Assim, estudar e fazer provas se tornou bem menos chato para o garoto. Ele só tinha que tomar cuidado pra não ficar cantarolando alto (o que acabou acontecendo mais de uma vez) e atrapalhar os outros colegas. No final, acabou tirando notas acima da média em todas as provas, o que deixou Davi muito impressionado, orgulhoso do filho e grato a Clarinha.

O show de Dia das Crianças aconteceu com todas as bandas completas e foi um sucesso, principalmente porque fazia tempo que eles não faziam shows assim. Cantaram as músicas mais animadas que tinham. Depois disso, ficou combinado que todos iriam ao Vilarejo dos Sonhos no fim de semana seguinte. Não havia mais acontecido nenhum problema entre as Chiquititas e a tia, Joaquim e Sandy passaram mais de uma semana sem brigar (milagre!), estava tudo muito bem com todos. Ou quase...

Enquanto Janete estava ocupada descobrindo seus novos (ou velhos) sentimentos por Samuca, o garoto, obviamente, percebeu que ela estava diferente com ele e nem passou por sua cabeça que era porque ela gostava dele, na verdade, ele achou que fosse justamente o contrário. Depois que ele tentou se declarar pra ela, seus irmãos até chegaram a dizer que talvez a menina não tivesse entendido que era uma declaração e ele ficou com esperança de que fosse esse o caso e as coisas continuassem normais entre eles. Mas depois de ver como ela estava agindo estranho, o garoto desconsiderou essa possibilidade.

Pensando bem, não fazia sentido mesmo. 

Janete era muito inteligente pra não entender uma coisa dessas, e mesmo que fosse um ano mais nova, estudos dizem que as meninas amadurecem antes dos meninos, então definitivamente ela tinha entendido (foi o que Samuca pensou). Mas o pior de tudo é que ela parecia tão distante que ele achou que ela não queria nem ser amiga dele mais... E ficou muito triste com isso. Então resolveu desistir dela. E não pensar mais em meninas, só nos seus estudos, experimentos científicos e na música. Era o que Samuca queria, até que uma certa menina começou a se aproximar dele.

Foi na sexta-feira daquela semana. O garoto estava sozinho sentado num banco do pátio da escola, pesquisando na internet como poderia criar seu próprio aplicativo para o celular, quando Bel apareceu e perguntou o que ele estava fazendo. Samuca explicou e ela achou muito interessante, se sentou no banco com ele e perguntou que tipo de aplicativo ele queria criar. Ele disse que estava pensando num aplicativo de música que fosse diferente dos que já existiam, mas ainda tinha que desenvolver melhor a ideia.

Samuca parecia meio sem jeito e a menina pensou que ele devia estar achando estranho ela ter ido falar com ele do nada, já que eles nunca tinham conversado assim antes, mas ele só estava tímido, mesmo. Tinha achado legal ela ir falar com ele sem ser só pra perguntar alguma coisa sobre alguma matéria ou perguntar onde estava Joaquim, que eram os únicos motivos pelos quais as pessoas que não eram seus irmãos ou as Chiquititas costumavam falar com ele na escola.

Bel, então, disse que tinha lido um livro muito interessante, mas que não tinha com quem conversar a respeito, já que as pessoas com quem ela andava não liam muito. Samuca ficou impressionado quando ela disse que o tal livro era Cosmos, do Carl Sagan, um de seus autores preferidos. Os dois ficaram o recreio todo conversando sobre o livro.

Janete viu de longe aquela cena e sentiu algo muito estranho. Ficou incomodada. Se perguntou sobre o que eles estariam conversando. Ela poderia simplesmente ir lá perguntar pra eles e participar da conversa (o que seria ótimo, já que ela também conhecia o livro), mas por algum motivo achou que não seria certo. E então pensou numa coisa que a deixou muito apreensiva: e se Samuca gostasse de outra menina??? Janete preferiu afastar esse pensamento e acreditar que era só uma conversa qualquer entre dois colegas de classe. Mas por que eles sorriam tanto e Samuca parecia tão animado? Ah, não, era melhor ela sair de lá, não queria mais presenciar aquilo, estava começando a se sentir muito mal...

***

Davi foi com os Cuecas para o Vilarejo dos Sonhos no fim da tarde do mesmo dia. Clarinha iria com Flora e as Chiquititas no dia seguinte. Téo estava muito animado durante a viagem, não via a hora de ter uma família ainda maior. Já os outros não estavam tão animados assim. É claro que Joaquim e Samuca queriam conhecer os avós, mas o primeiro estava pensando se teria alguma coisa interessante pra se fazer num fim de semana inteiro no interior e o segundo ainda estava meio mal por sentir que Janete o ignorava, não sabia como ia ser passar o fim de semana com ela. Davi, por sua vez, estava ansioso. Mesmo que já tivesse falado com os pais pelo telefone, seria muito diferente vê-los pessoalmente. Ainda não havia chegado a pedir desculpa a seu pai e tinha tanto medo de que as coisas acabassem não dando certo!

Ele queria que o fim de semana fosse perfeito, que não houvesse nenhum problema, nenhum conflito entre ninguém. Então, por precaução, sugeriu aos meninos que eles não cantassem na frente do pai dele, já que a música era meio que o motivo pelo qual eles haviam ficado tanto tempo separados. Joaquim, que já estava achando que a viagem podia ser entediante, agora tinha certeza disso. Ele achou que não tinha nada ver Davi inventar essa regra, afinal, o pai dele já sabia que eles trabalhavam com música, então qual era o problema? Samuca e Téo, por outro lado, entenderam os motivos de Davi e conseguiram convencer o irmão.

— Não precisa ficar nervoso, pai — disse Téo, por fim. — Vai dar tudo certo!

Davi sorriu e conseguiu ficar um pouco mais calmo. Até que chegaram à fazenda. Avistaram dona Nina, que estava muito emocionada. Davi e os meninos saíram do carro e o primeiro foi abraçar a mãe, que chorava muito. Depois do abraço, ela disse:

— Vocês devem ser o Samuca, o Joaquim e o Téo — apontando para cada um, respectivamente.

Eles ficaram surpresos e felizes por ela saber quem era quem, mas além de Davi falar deles, ela havia pedido fotos, então não tinha como não saber. Ela abriu os braços e Téo foi o primeiro a abraçá-la. Em seguida, Joaquim disse:

— Faz um cafuné, minha querida! — E se juntou ao abraço.

— Eu não sou muito de abraçar... — Disse Samuca.

— Ah, não! Eu acabei de conhecer os meus netos, quero um abraço de todos!

Então o menino, timidamente, juntou-se aos irmãos. Davi assistia à cena muito emocionado, mas então perguntou:

— Onde tá o...

— O Zé estava comigo, Eu achei que ele tivesse vindo junto aqui pra fora — dona Nina respondeu, sabendo de quem Davi falava. Então olhou para trás e disse: — Ah, ele está ali!

Seu Zé estava na varanda da casa, em frente à porta. Devia estar ainda mais nervoso do que Davi, por isso não tivera coragem de acompanhar sua mulher quando o carro chegou. Mas nessa hora, pai e filho começaram a andar um em direção ao outro e se abraçaram, ambos chorando. Davi pediu desculpa por ter fugido e passado tantos anos sem entrar em contato e o pai também se desculpou por ter sido tão duro com ele durante a infância.

Dona Nina conseguiu ficar ainda mais emocionada do que antes e os meninos também ficaram. Téo estava chorando e não fazia a menor questão de esconder isso, enquanto Joaquim dizia, passando a mão nos olhos:

— Eu não tô chorando. Tem poeira no meu olho...

Só após esse momento entre pai e filho foi que seu Zé prestou mais atenção nos netos. Ficou um pouco surpreso. Ao contrário da esposa, ele não sabia muito sobre os meninos, já que passou um tempo resistente à ideia de seu filho ter começado a criar crianças que não eram de seu sangue. Agora ele não estava mais com esse preconceito, mas esperava encontrar meninos mais novos, de 7 ou 8 anos aproximadamente, mas aqueles garotos em sua frente já eram quase adolescentes! E a adolescência era a fase mais complicada dos filhos...

Os meninos perceberam que o avô parecia surpreso demais, então não correram para abraçá-lo como fizeram com a avó, apenas se apresentaram e apertaram sua mão, educadamente.

Como as notícias corriam rápido no Vilarejo, todos os moradores estavam a espera de Davi e dos meninos. Diziam que seria "a volta do filho pródigo". Assim, dona Nina e seu Zé levaram o filho e os netos até à praça, onde quase toda a cidade se reuniu para vê-los. Davi reviu todos os amigos de infância que ainda moravam lá e os meninos foram tietados pelas crianças, que queriam fotos e autógrafos. Os três acharam meio estranha essa coisa de ser apresentados pra uma cidade inteira, não sabiam direito como cidades pequenas funcionavam, mas acabaram gostando. As pessoas de lá pareciam muito alegres e simpáticas (mas também deviam ser bem fofoqueiras, né? Hahaha).

Apesar de toda a animação, eles acabaram não passando tanto tempo na praça, pois já era noite e a cidade dormia cedo, então logo todos foram para suas respectivas casas e Davi e os Cuecas voltaram para a fazenda com os pais do primeiro. Quando foram jantar, seu Zé ficou ainda mais chocado com os meninos do que havia ficado antes ao ouvir as histórias deles. Quem mais o incomodava era Joaquim, que parecia ser um menino bem rebelde. E pelo jeito como falava da escola e contava sua história de fuga do orfanato... parecia ao senhor que Davi tinha virado adolescente de novo e estava lá na frente dele. Era péssimo para seu Zé lembrar dessa época logo agora que tinha acabado de resolver tudo com o filho! Por isso, acabou saindo da mesa antes de todo mundo. 

— É impressão minha ou o vovô não gosta muito da gente? — Perguntou Téo, tristemente, assim que seu Zé se ausentou.

— Acho melhor não chamar ele de "vovô"... — Respondeu Joaquim.

Samuca concordou com a cabeça. É claro que o jeito estranho do avô não tinha passado despercebido. Dona Nina tentou amenizar as coisas, dizendo que não era nada disso, que seu Zé era apenas um homem muito introvertido, por isso não havia falado muito durante o jantar e foi ficar um tempo sozinho, não era nada pessoal. Mas na verdade ela estava preocupada, não sabia por que o marido agia daquele jeito. Mas depois falaria com ele sobre isso, queria continuar conhecendo melhor seus netos e mostrar toda a fazenda a eles.

Davi não sabia o que pensar. Os meninos não tinham nem falado sobre música, muito menos cantado alguma, por que seu pai parecia tão incomodado? Era melhor acreditar em sua mãe, não queria ficar triste e muito menos que seus filhos ficassem. Acabou dizendo a eles para não se preocuparem porque o avô ainda não os conhecia bem, mas que com certeza acabaria gostando muito deles, não tinha como não gostar. E ficou torcendo para que as coisas melhorassem no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? O final foi meio tristinho, né? Tadinhos dos meus personagens, não têm um minuto de paz...



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