Clipe musical: "Amizade" por Sandy, Janete e Eleanora. 

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Estava cada vez mais difícil para as Chiquititas esconder que haviam sido abandonadas pela tia. A síndica do prédio não parava de pegar no pé delas, por isso, sempre tinham que inventar uma coisa diferente para despistá-la. Já chegaram até a fazer uma boneca pra fingir que era a tia Flora. 

Depois de tanto tempo com armações e desculpas, até Janete havia aprendido a mentir. Pois é, Jante, que era tão certinha e que mal conseguia guardar um segredo, agora mentia com tanta naturalidade, que era quase impossível não acreditar no que ela dizia (talvez as aulas de teatro tenham ajudado nisso também). Mas, por dentro, ela sempre ficava nervosa, e se sentia muito mal quando mentia, bem como suas irmãs. As três estavam mentindo tanto e pra tantas pessoas: no condomínio, na escola, na gravadora, no supermercado ou na farmácia quando alguém perguntava onde estavam seus pais, na TV quando os Cuecas e as Chiquititas participavam de algum programa, no abrigo Cantinho da Harmonia... Era cansativo!

Mas, além disso, Janete e Eleanora também estavam incomodadas com outra coisa: o distanciamento de Joaquim e Sandy. Depois de um mês, os dois continuavam sem se falar direito e, querendo ou não, isso acabava afetando o relacionamento dos Cuecas e das Chiquititas em geral. Por mais que estudassem na mesma escola, ensaiassem na mesma gravadora e participassem dos mesmos eventos, os seis não podiam frequentar a casa uns dos outros ou sair para se divertir juntos, por exemplo. Era meio chato... Janete chegou a pensar que, se seu aniversário fosse naquela época, nunca haveria uma festa surpresa...

Certo dia, as duas Chiquititas mais novas estavam conversando sobre a situação. Eleanora até teve a ideia de falar com Samuca e Téo para darem um jeito na relação de Joaquim e Sandy, mas elas pensaram melhor e viram que, de certa forma, era melhor que as coisas continuassem do jeito que estavam, porque, se voltassem a passar muito tempo com os meninos, teriam que mentir ainda mais ou eles descobririam seu segredo.

Porém, coincidentemente, Samuca e Téo, que também estavam incomodados com o distanciamento de Joaquim e Sandy, haviam tido uma conversa bem parecida com a das Chiquititas. Por isso, no dia seguinte, na escola, chamaram as duas para conversar, dizendo que teriam que bolar um plano para reaproximar aqueles dois.

Apesar de surpresas com a sintonia e tentadas a cooperar com o plano, as meninas começaram a inventar desculpas. Disseram que não podiam forçar as coisas, que eles ficariam bravos e mais um monte de bobice... Até que o sinal tocou, dando a elas a desculpa perfeita para não continuarem aquela conversa.

Mas Samuca e Téo não eram burros: perceberam que as meninas estavam escondendo alguma coisa. Na verdade, ainda lembravam que elas andavam com algum segredo desde o início daquele ano.

— A gente devia fazer alguma coisa... — Disse o mais velho.

— É o que o Joaquim dizia no começo do ano, mas você nunca concordava...

— Eu sei, mas... mesmo que eu odeie admitir isso, eu acho que o Joaquim tava certo. É diferente se intrometer na vida dos outros e querer ajudar quando a gente acha que tem alguma coisa errada...

— É verdade... Mas o que a gente pode fazer?

— Eu não sei... No momento, é melhor irmos pra sala, senão vamos chegar atrasados.

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Chegando na sala, viram que a professora de Geografia havia acabado de entrar. Após todos os alunos se acomodarem, ela  pediu que uma pessoa de cada fileira de carteiras fosse para a frente da sala. Sem saber do que se tratava, os estudantes não tiveram coragem de ir, com exceção de Samuca, sempre muito obediente.

— Eu me lembro de ter dito "um aluno de cada fila", não "um aluno entre todos da turma". — Disse a professora.

— Por acaso a gente vai ter que fazer um teste oral ou alguma coisa assim? — Perguntou Janu, desconfiada.

— Não, Janaina. Mas já que você se manifestou, pode vir aqui na frente.

Então a professora acabou escolhendo os alunos das filas que restavam também, já que mais ninguém se voluntariava. Enfim, o mistério acabou: ela queria que a turma se dividisse em grupos de 6 pessoas para fazer um trabalho muito importante para a nota da matéria e os alunos que estavam lá na frente iriam escolher os grupo, tipo como se escolhe pessoas pro time na Educação Física. Ah, agora fazia sentido... Como foi o primeiro a se voluntariar, Samuca teve o direito de ser o primeiro a escolher alguém para o time, quer dizer, para o grupo. E já sabia exatamente quem:

— Sandy.

Ela achou inesperado, porém, na mesma hora, as outras Chiquititas perceberam que Samuca parecia querer colocar em ação o plano do qual elas não queriam participar.

E o resto da equipe vocês já sabem, né? Deu certinho, porque os Cuecas e as Chiquititas eram exatamente 6 pessoas. Mas Joaquim e as meninas estavam bem desconfortáveis em relação àquela situação...

A professora colocou cada equipe para trabalhar um tema diferente. Eles teriam que fazer uma apresentação oral e cantar uma música, que deveria ser uma paródia escrita pelo grupo, ou seja, eles deveriam usar a melodia de uma música que já existe e escrever uma letra sobre o tema de Geografia do grupo deles. Apesar de alguns não estarem muito animados, os Cuecas e as Chiquititas gostaram bastante dessa parte! Era a oportunidade perfeita para Joaquim levar o violão pra escola...

O tema do grupo 1 (o de Samuca) era a globalização. A professora deixou o resto da aula para as equipes se reunirem e decidirem onde iriam fazer o trabalho, que música iriam escolher etc. Joaquim, Samuca, Téo, Sandy, Janete e Eleanora juntaram suas carteiras e foram resolver esses assuntos. Mas foi o maior climão. Sandy e Joaquim, como sempre, nem olhavam um pra cara do outro. Janete e Eleanora estavam com um pouquinho de raiva de Samuca, que, por sua vez, percebeu, então também ficou sem jeito. Sendo assim, Téo era o único que não estava, digamos, "de mal" com alguém no momento.

Apesar de quase ninguém falar nada, eles decidiram que fariam o trabalho na casa dos meninos, num fim de semana à tarde. Samuca estava em dúvida se havia sido uma boa ideia formar essa equipe, mas... não ia perder a oportunidade de tentar reaproximar Joaquim e Sandy e descobrir o que as meninas estavam escondendo. E Téo estava totalmente de acordo com ele.

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Clarinha não havia falado com Davi a respeito do que pensava sobre o fato dele esconder o passado dos filhos. Assim como o assunto da viagem, preferiu esperar que em algum momento ele falasse quando se sentisse à vontade. Davi, por sua vez, depois de pensar muuuito, resolveu que diria a namorada que estava cogitando viajar com ela em julho. Clarinha realmente não esperava ouvir isso e foi um choque (um choque bom) quando aconteceu. Porém, após ficar muito feliz com a notícia, Davi falou:

— Mas eu ainda não tenho certeza. Tenho que resolver o que fazer em relação aos meninos...

— Ah, eu pensei que eles fossem com a gente...

— Eu até pensei nisso, mas não acho uma opção muito boa... Eles iam ter que ver os meus pais e... — Davi não continuou a frase.

Tá bom, esse não era o melhor momento, mas Clarinha não aguentava mais, tinha que entrar naquele assunto:

— Então você vai continuar escondendo o seu passado dos seus filhos?

Davi ficou um tempo calado e disse:

— Tem coisas que eles não precisam saber...

— Desculpa, Davi, mas eu discordo. Você prefere que eles nunca tenham contato com a sua família? Prefere fingir que é uma pessoa diferente? Que existe um Davi no Vilarejo dos Sonhos e outro Davi em São Paulo?

— Eu só quero ser um bom pai! Eu não quero ter com os meus filhos uma relação igual à que eu tenho com os meus pais, não quero dar um mau exemplo pra eles! O Joaquim já decidiu que vai levar o violão pra escola pelo pouco que você falou, imagina se ele descobre que eu abandonei a escola???

— Eu entendo que você não tenha orgulho de todo o seu passado, mas, sinceramente, acho que você daria um exemplo muito melhor pros seus filhos se parasse de mentir pra eles! — Disse Clarinha, com uma voz bastante firme.

Eita! Será que ela havia exagerado? É o que acontece quando se guarda uma coisa por tanto tempo... Davi ficou com muita raiva ao ouvi-la falando daquele jeito, Clarinha, por sua vez, percebeu que devia ter pensado melhor antes de falar...

— Por que você acha que tem o direito de me dizer como criar os meus filhos? Eu sei que você é professora, mas não precisa me ensinar, eu sei o que eu tô fazendo!

— Desculpa, eu só tentei ajudar... Mas acho melhor não me meter em assunto de família...

Apesar de não terem resolvido nada com aquela conversa, havia ficado implícito que, no momento, Davi não queria mais fazer a viagem. Os dois estavam com raiva um do outro, mas também se sentindo um pouco culpados. 

Clarinha não sabia se estava errada por não ter dito antes o que pensava, por estar sendo intrometida ou pela maneira como havia falado o que pensava, mas sabia que estava errada. Sabia que esses assuntos eram complicados para Davi, que tinha que falar com mais delicadeza, com mais paciência...

Já Davi, se sentia culpado porque, no fundo, sabia que Clarinha estava certa, que ele devia contar aos meninos sobre seu passado, bem como voltar a falar com os pais, mas estava sendo orgulhoso demais para admitir!